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Fulozinha reinventa o som

04/04/2009

 

 

Foto: João Carvalho/Realejo
 

No disco Vou voltar andando, banda se livra dos cânones do manguebeat e incorpora novas sonoridades ao perfil

José Teles
teles@jc.com.br

A cantora e compositora Karina Buhr, única integrante da formação original da Comadre Fulozinha, não é mineira, mas trabalha, aparentemente, na surdina. Quando muita gente em Pernambuco achava que o grupo havia terminado, eis que a Comadre Fulozinha, feito o personagem do folclore nordestino, do qual tirou seu nome, misteriosamente aparece quando menos se espera. Desta vez foi com o disco Vou voltar andando (Independente). Além de Karina Buhr (voz, percussão e rabeca), a atual formação do grupo é a seguinte: Mairah Rocha (do grupo Barbatuques, na voz e percussão), Flávia Maia (também da Barbatuques, voz e percussão), Letícia Coura (do Teatro Oficina, voz, cavaquinho, violão e percussão), Marcelo Monteiro (no saxofone, flauta e pífano). “Por causa do meu trabalho com o grupo Oficina, fiquei sem tempo para a Comadre Fulozinha e até pensei em acabar a banda. Só que rolou uma sequência grande de shows com o grupo e continuamos fazendo apresentações com a banda. Mas tocamos pouco fora de São Paulo. No Recife, fizemos apenas uma apresentação, em 2007, no aniversário de dez anos da banda”, conta Karina, por telefone, de São Paulo, onde mora há cinco anos.

Se, nos primeiros discos, a banda, que existe desde 1997, ainda se guiava pelos cânones do manguebeat e tinha nos ritmos regionais e na percussão sua linha mestra, neste Vou voltar andando, a percussão ainda está presente, mas a música está bem diferente do que se esperava ouvir de Karina Buhr & cia. Não apenas a música, como também a instrumentação: “Pois é, antes era só voz e percussão. Agora tem violão, cavaquinho e até sax, coisa que a gente nunca imaginava colocar no Comadre Fulozinha. O grupo deu uma mudada grande no som, agora tem muito mais melodia. O tempo foi passando a gente foi ouvindo outras coisas, as mudanças foram chegando”, explica Karina Buhr. Presta atenção, por exemplo, a melodiosa canção que abre o repertório, tem uma sonoridade caribenha, meio Original Olinda style, com a voz de Karina cerzida por um saxofone e os metais da Orquestra Contemporânea de Olinda, do maestro Ivan do Espírito Santo. Quem conheceu os primeiros disco da banda jamais acharia que está escutando a Comadre Fulozinha.

Karina Buhr está administrando duas carreiras, uma com a banda e outra solo. Esta última bastante elogiada, tanto que, no dia 20, ela volta ao palco do Sesc Pompéia, que está apresentando uma série de seis shows considerados os melhores do ano passado: “No Carnaval, cantei em Olinda e no Recife, mas somente o repertório do meu trabalho, que não tem nada a ver com este que faço com a Comadre Fulozinha, tanto na música quanto na instrumentação. Cantando solo, uso piano, baixo, são coisas bem diferentes mesmo”, diz ela, que não sabe quando chega ao Recife com Vou voltar andando: “Na verdade, o disco saiu antes do que a gente esperava, porque fizemos no formato SMD (iniciais de semi metal disc, que barateia os custos do CD, que será vendido a R$ 5). Eu mesma encomendei em meu nome, os caras aprovaram a capa e prensaram. Se bem que o disco começou a ser gravado no ano passado, mas foi uma gravação bem picotada, aos poucos”. Será um disco para ser vendido em shows: “É mais lucrativo para a banda. Não dá para colocar um CD assim tão barato em grandes lojas. No Recife, acho que só vai ser colocado na Passa Discos, vamos usar também a Internet”.

(© JC Online)


Teia étnica dá colorido muito especial ao CD

 

Embora a Comadre Fulozinha não tenha se afastado completamente da música de raízes folclóricas, este é um disco de canções, mais para a MPB da excelente cantora mineira Ceumar ou até mesmo da mais pop Vanessa da Mata, por conta das suaves vozes femininas, os violões, a percussão sutil. Uma das faixas feito Rosa alvarinha (inspirada em cantigas de rezadeiras do Porto, no Norte de Portugal) poderia estar num trabalho de Vanessa da Mata, e fazer sucesso. Vou voltar andando é um disco que surpreende pela variedade de timbres, arranjos, levadas de suas dez músicas (todas assinadas por Karina Buhr).

Falta de sorte, uma das melhores do disco, é a canção que menos tem a ver com a Comadre Fulozinha do passado. É urbana, na letra coloquial e bem construída, e na música, que tem um pouco de hip hop, meio embolada, com acompanhamento de pandeiro. Efeitos vocais, e um sax cerzindo tudo. Caminho de fulô é a que faz lembrar das origens da banda, com percussão e rabeca, misturando as lendas da Comadre Fulozinha e da história de João e Maria : “Fulozinha tá no caminho/e vai levar você”. A faixa que fecha o disco, Palo santo, tem tambores em destaque, rabeca, foi inspirada na música que Karina ouvia quando acompanhava procissões com a avó, no bairro da Iputinga: “Lembra até um canto do daime”, ressalta o release. Lembra também tambores das percussões de cidadezinhas do interior da Espanha.

(© JC Online)


SITE

Comadre Fulorzinha (Wikipédia)


VÍDEO

Humaitá pra Peixe 2009 | Comadre Fulorzinha

 

 

 

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