Foto: João Carvalho/Realejo
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No
disco Vou voltar andando, banda se livra dos cânones do manguebeat e
incorpora novas sonoridades ao perfil
José Teles
teles@jc.com.br
A cantora e
compositora Karina Buhr, única integrante da formação original da Comadre
Fulozinha, não é mineira, mas trabalha, aparentemente, na surdina. Quando
muita gente em Pernambuco achava que o grupo havia terminado, eis que a
Comadre Fulozinha, feito o personagem do folclore nordestino, do qual tirou
seu nome, misteriosamente aparece quando menos se espera. Desta vez foi com
o disco Vou voltar andando (Independente). Além de Karina Buhr (voz,
percussão e rabeca), a atual formação do grupo é a seguinte: Mairah Rocha
(do grupo Barbatuques, na voz e percussão), Flávia Maia (também da
Barbatuques, voz e percussão), Letícia Coura (do Teatro Oficina, voz,
cavaquinho, violão e percussão), Marcelo Monteiro (no saxofone, flauta e
pífano). “Por causa do meu trabalho com o grupo Oficina, fiquei sem tempo
para a Comadre Fulozinha e até pensei em acabar a banda. Só que rolou uma
sequência grande de shows com o grupo e continuamos fazendo apresentações
com a banda. Mas tocamos pouco fora de São Paulo. No Recife, fizemos apenas
uma apresentação, em 2007, no aniversário de dez anos da banda”, conta
Karina, por telefone, de São Paulo, onde mora há cinco anos.
Se, nos
primeiros discos, a banda, que existe desde 1997, ainda se guiava pelos
cânones do manguebeat e tinha nos ritmos regionais e na percussão sua linha
mestra, neste Vou voltar andando, a percussão ainda está presente, mas a
música está bem diferente do que se esperava ouvir de Karina Buhr & cia. Não
apenas a música, como também a instrumentação: “Pois é, antes era só voz e
percussão. Agora tem violão, cavaquinho e até sax, coisa que a gente nunca
imaginava colocar no Comadre Fulozinha. O grupo deu uma mudada grande no
som, agora tem muito mais melodia. O tempo foi passando a gente foi ouvindo
outras coisas, as mudanças foram chegando”, explica Karina Buhr. Presta
atenção, por exemplo, a melodiosa canção que abre o repertório, tem uma
sonoridade caribenha, meio Original Olinda style, com a voz de Karina
cerzida por um saxofone e os metais da Orquestra Contemporânea de Olinda, do
maestro Ivan do Espírito Santo. Quem conheceu os primeiros disco da banda
jamais acharia que está escutando a Comadre Fulozinha.
Karina Buhr
está administrando duas carreiras, uma com a banda e outra solo. Esta última
bastante elogiada, tanto que, no dia 20, ela volta ao palco do Sesc Pompéia,
que está apresentando uma série de seis shows considerados os melhores do
ano passado: “No Carnaval, cantei em Olinda e no Recife, mas somente o
repertório do meu trabalho, que não tem nada a ver com este que faço com a
Comadre Fulozinha, tanto na música quanto na instrumentação. Cantando solo,
uso piano, baixo, são coisas bem diferentes mesmo”, diz ela, que não sabe
quando chega ao Recife com Vou voltar andando: “Na verdade, o disco saiu
antes do que a gente esperava, porque fizemos no formato SMD (iniciais de
semi metal disc, que barateia os custos do CD, que será vendido a R$ 5). Eu
mesma encomendei em meu nome, os caras aprovaram a capa e prensaram. Se bem
que o disco começou a ser gravado no ano passado, mas foi uma gravação bem
picotada, aos poucos”. Será um disco para ser vendido em shows: “É mais
lucrativo para a banda. Não dá para colocar um CD assim tão barato em
grandes lojas. No Recife, acho que só vai ser colocado na Passa Discos,
vamos usar também a Internet”.
(©
JC Online)
Teia étnica
dá colorido muito especial ao CD
Embora a
Comadre Fulozinha não tenha se afastado completamente da música de
raízes folclóricas, este é um disco de canções, mais para a MPB da
excelente cantora mineira Ceumar ou até mesmo da mais pop Vanessa da
Mata, por conta das suaves vozes femininas, os violões, a percussão
sutil. Uma das faixas feito Rosa alvarinha (inspirada em cantigas de
rezadeiras do Porto, no Norte de Portugal) poderia estar num
trabalho de Vanessa da Mata, e fazer sucesso. Vou voltar andando é
um disco que surpreende pela variedade de timbres, arranjos, levadas
de suas dez músicas (todas assinadas por Karina Buhr).
Falta
de sorte, uma das melhores do disco, é a canção que menos tem a ver
com a Comadre Fulozinha do passado. É urbana, na letra coloquial e
bem construída, e na música, que tem um pouco de hip hop, meio
embolada, com acompanhamento de pandeiro. Efeitos vocais, e um sax
cerzindo tudo. Caminho de fulô é a que faz lembrar das origens da
banda, com percussão e rabeca, misturando as lendas da Comadre
Fulozinha e da história de João e Maria : “Fulozinha tá no caminho/e
vai levar você”. A faixa que fecha o disco, Palo santo, tem tambores
em destaque, rabeca, foi inspirada na música que Karina ouvia quando
acompanhava procissões com a avó, no bairro da Iputinga: “Lembra até
um canto do daime”, ressalta o release. Lembra também tambores das
percussões de cidadezinhas do interior da Espanha.
(©
JC Online)
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