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Matingueiros faz das suas no Sertão

04/04/2009

 

 

 

José Teles
teles@jc.com.br

O circuito Barra-Ondina, principal vitrine do Carnaval de Salvador este ano, teve também frevo e maracatu, num trio elétrico sem cordão de isolamento. E o responsável por este feito foi um grupo pernambucano que não atua distante da cena musical da Região Metropolitana, Os Matingueiros. Nascido em Petrolina há uma década, está acostumado a quebrar regras. Foi o primeiro a levar a música pernambucana até a China, em 2002, onde fizeram 40 apresentações. De lá trouxeram, além da experiência, alguns instrumentos que incorporaram aos que já tocavam, o ou luo zlê (cujo som se assemelha ao da rabeca), o are hoo (mais ou menos um violino chinês), e o cheng (um ancestral da sanfona, tocado com a boca).

Os Matingueiros planejam comemorar os dez anos de carreira com shows, disco e um longa-metragem. Quem conta os planos do grupo é seu fundador o recifense Wagner Miranda, um ex-professor de literatura e redação, que trocou as praias do litoral pelo Rio São Francisco em 1999: “Quando cheguei a Petrolina, a cidade culturalmente estava muito parada. Então a gente começou a reunir artistas que trabalhavam com linguagens diferentes e fundamos Os Matingueiros, que une música, à dança e artes visuais. A influência maior veio do manguebeat, já que Wagner vivia na capital quando Chico Science e sua turma engrenaram o movimento de renascença da cultura pernambucana. O Maracatu Nação Pernambuco também serviu de linha-mestra para o trabalho do grupo: “Foi com o pessoal do Nação Pernambuco que conseguimos realizar a turnê para a China. O nosso trabalho tem a ver com o que eles fazem, porque não somos apenas uma banda, temos cenários, coreografias, somos também o Maracatu Nação Matingueiros, que este ano tocou pela primeira vez no carnaval do Recife e em Olinda Hoje vamos além do grupo, nos tornamos um Ponto de Cultura, o maracatu é o nosso lado social.”,

Wagner concedeu a entrevista, durante o 1º Festival Internacional da Sanfona, no Grande Hotel de Juazeiro, na Bahia, cidade com a qual ele tem tanta afinidade quanto com a vizinha Petrolina, que fica na outra margem do rio: “Na verdade eu considero o Matingueiros não um grupo de Petrolina, mas da região. Infelizmente, ou felizmente, quem segura mais a nossa onda é a Bahia. Tocamos no Carnaval de Salvador com apoio da TV-E e do governo baiano. E foi o que impressionou o pessoal que brincava o Carnaval em Salvador. A princípio eles olhavam meio assustados porque a música não era a que estavam acostumados a dançar, e depois porque o trio era livre, sem cordões de isolamentos. Mas a situação da cultura em Pernambuco está mudando. Com esta interiorização que está sendo promovida pela Fundarpe, as coisas passaram a acontecer mais fora da capital”.

O Matingueiros é composto por 20 integrantes, entre músicos, bailarinos, cenógrafos (estes comando pela mulher de Wagner, a designer Gicla Wazda). Mantém uma sede na parte antiga de Petrolina (cedida em comodato pela prefeitura, tendo como contrapartida o trabalho social que fazem) e é um exemplo para outros grupos que atuam muito longe das capitais. Mas não foi fácil se manter atuante todo este tempo: “Até aqui foi muita peleja, raça, eu, minha mulher, os integrantes. Mas está valendo a pena, porque fazemos o que gostamos e contribuímos para mudar uma realidade cultural. Até o surgimento do Matingueiros não se falava neste tipo de música que fazemos, coco, maracatu. Hoje, em Petrolina, já existem outros grupos que surgiram depois da gente, e procuramos diversificar sempre o nosso trabalho. Temos espetáculos específicos para o Carnaval e para o São João, mas uma coisa não exclui a outra. No que já estamos ensaiando para o São João tem também coisas do Carnaval.

O grupo está atualmente divulgando o disco que lançou no ano passado, Pluri (independente, distribuído pela Trattore). Um CD que conta com mais convidados especiais do que a quantidade de músicos da banda Matingueiros. Entre outros deram uma canja aos petrolinenses: Geraldo Azevedo, Naná Vasconcelos, Toinho Alves, Sérgio Campelo, Siba, Genaro, Dominguinhos, Genival Lacerda, Fred Andrade, maestro Forró (que viajou com o grupo na excursão à China) e Jessier Quirino: “Fizemos o disco com o patrocínio da Chesf e aproveitamos o tempo de estúdio para gravar músicas para mais de um disco”, conta Wagner Miranda. Este segundo disco deve ser lançado em maio, coincidindo com os dez anos de fundação do grupo. Além do disco tem o longa-metragem Na quadrada das águas perdidas, mesmo nome de um álbum de Elomar Figueira: “Não é baseado no disco de Elomar, mas é inspirado no universo da obra dele dele. Tem muito dos elementos que se encontram na música e na poesia de Elomar, bodes, onças, cobras, e a caatinga como cenário”, continua Wagner, que pode estar criando um novo rótulo para o cinema brasileiro, o caatinga movie, que está sendo rodado com recursos próprios: “Só a infraestrutura foi uma enorme colaboração que recebremos do Exército Brasileiro”.

O filme, que deve ser lançado no próximo ano, tem apenas um personagem humano, o ator Mateus Nachtergaele, no mais, só animais e a paisagem inóspita do Sertão baiano: “E Mateus não diz uma única palavra durante o filme, que é a história de um cara que caminha pela caatinga levando numa carroça dois bodes para vender. No caminho, enfrenta cobras, onças, e por aí vai”, diz Wagner, também diretor do filme, cuja trilha sonora tem a música do Matingueiros, de Geraldo Azevedo e Elomar. Do que o mais Matingueiros se ressente é da falta de um produtor: “Precisamos disso, de uma produção que nos dê suporte, porque fazemos tudo, do figurino à contratação de shows”. Talvez com um produtor eles tivessem continuado no circuito internacional, lamenta Wagner Miranda: “Depois da China recebemos convites do Kwait, mas aí veio Bush e começou aquela guerra no Oriente Médio e os shows foram cancelados. Recebemos também convite para shows na Grécia, quem iria ceder as passagens era o governo brasileiro, mas demoraram muito, e a turnê não rolou”.

(© JC Online)


Baiano Paquito lança disco de "canções nuas"

Músico interpreta solidão e saudade em formato enxuto

LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO


Mal começa a entrevista por telefone, o baiano Paquito pede licença para pegar os óculos: "Falo melhor de óculos". Fica claro que, voluntário ou não, há humor neste autor das canções permeadas de saudade e solidão que predominam em seu segundo CD, "Bossa Trash". "Canção nasce de conflito.

Não que não se possa fazer canções enaltecendo algo, mas calhou de ser assim. O "Baião [de Anna]" é a última do disco por isso, porque é a que se livra [dos tons tristes]", diz, referindo-se à música feita para sua mulher. Apesar dos 45 anos de vida e 26 de carreira -já foi cantor da banda de rock Flores do Mal, produtor de discos de Batatinha e Riachão, além de ter uma canção gravada por Maria Bethânia-, Paquito ainda é pouco conhecido fora da Bahia. Quer alterar a situação lançando "Bossa Trash" em shows pelo país, o que deverá ser possível graças ao formato enxutíssimo do CD, quase todo voz e violão.

"São as canções bem nuas. Eu apostei na qualidade delas", diz ele, nascido Antônio José Moura Ferreira em Jequié e que adotou o apelido dado por um amigo em 1979 -logo, nada a ver com Xuxa. Os versos têm palavras simples, mas engenhosamente coladas: "Apesar do que passei/ E do tempo que passou/ Me falta a medida exata/ Do tamanho do amor" ("A Medida Exata"); "Eu amo as mulheres e como/ E amo como uma mulher/ O meu desejo não domo/ Ou domo se você quiser" ("Segredos"). "Isso é a lição de [Dorival] Caymmi.

Sem querer me comparar, é claro. A simplicidade é uma lição dos caras de que eu gosto", diz, citando João Gilberto e gravações de Johnny Cash e John Lennon. Apenas na faixa-título Paquito tem um parceiro: Arto Lindsay.

BOSSA TRASH

Artista: Paquito
Gravadora: independente
Quanto: R$ 15 em anjopaq@gmail.com; ainda não está em lojas
 

(© Folha de S. Paulo)


VÍDEO

Matingueiros - Carnaval 2008

 

 

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