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Caetano Veloso lança novo disco e diz que blog mudou sua relação com fãs

16/04/2009

 

 

Fotos: Divulgação/O Globo
 

Ricardo Calazans

Entre as restrições da velhice e as vastas possibilidades da internet, Caetano Veloso não faz escolhas. No início da noite desta terça-feira, o compositor arrebanhou seu "power trio" particular e partiu para a entrevista coletiva sobre seu novo disco, "Zii e zie" (Universal). Como uma banda de rock típica, o quarteto adentrou o agradável Bar D'Hotel, no Leblon, onde jornalistas de 25 veículos (de sites, jornais e TVs) de diversos estados esperavam já há uma hora. Fez, então, uma observação "de idoso":

- 'Tá' um frio horrível aqui, dá para diminuir este ar-condicionado? - pediu.

Ao lado de Ricardo Dias Gomes (baixo, 28 anos), Pedro Sá (guitarra, 35 anos) e Marcelo Callado (bateria, 29 anos), o músico de 66 anos falou por uma hora sobre o novo disco, noturno e melancólico, e da mudança radical em seu relacionamento com o público causado pelo blog "Obra em progresso", criado justamente para registrar o passo-a-passo de composição de "Zii e Zie" - e que encerrou suas atividades justamente nesta terça-feira (14/04), data em que o CD chegou às lojas.

- Apresentar músicas, escrever no blog, ler os comentários, isso muda o ânimo da gente, o que sai daí vem contaminado dessa convivência. Nesse diálogo permanente, tive notícias de reações ao que faço de que não tinha ideia - afirmou Caetano, caetanamente.

Na internet, Caetano recebeu elogios e críticas abertamente ("Quem fazia a moderação era o Hermano Vianna. Não sei se alguém escreveu coisas horríveis e ele não publicou. Alguns chegavam agredindo, mas os próprios comentaristas reagiam", contou). O artista, porém, não pretende dar prosseguimento ao blog:

- Blog? Não, agora eu tenho que ensaiar com esses caras que estão aqui para fazer os shows.

A turnê de "Zii e zie", sucessor estético de "Cê" (2006), começa dia 8 de maio pelo Canecão. Apesar disso, e de seu disco ter o Rio como fonte inspiradora, o baiano sonha acordado com São Paulo.

- "Tô" com muita vontade de ficar mais em São Paulo. Os assuntos do disco são todos ligados ao Rio e isso é coerente com a minha biografia, assim como a saudade de São Paulo.

Caetano admitiu que a capa - uma foto do Leblon numa tarde de chuva, feita por Pedro Sá - lembra obras anteriores de seu "cordial desafeto" Lobão, radicado há algum tempo em São Paulo e homenageado no disco com "Lobão tem razão".

- Lobão é um dinossauro e estou seguindo seus passos - brincou - Troquei todas as musas do "Cê" por ele.

(© O Globo)


Caetano admite velhice e a tristeza das letras de 'Zii e Zie'

Ricardo Calazans

No texto de apresentação de "Zii e Zie", Caetano Veloso escreveu: "entro na velhice". Na coletiva, o tema foi mencionado diversas vezes. Questionado, o músico não se esquivou:

- "Entro na velhice" quer dizer exatamente isso. É uma constatação: tenho 66 anos. Meu cabelo, em sua maioria, é branco - disse, bem-humorado.

A diferença de idade, porém, não impediu o perfeito entrosamento com a agora nomeada bandaCê. Caetano, inclusive, deu uma divertida explicação para sua amizade com Pedro Sá, com quem divide muitas afinidades musicais.

- Pedro Sá conheço desde pequenininho. E desde menino ele era meu amigo. Depois, ele cresceu e continuou meu amigo. E é amigo de meu filho Moreno, que também é muito meu amigo.

Ricardo Dias Gomes e Marcelo Callado também eram amigos de Pedro Sá. Hoje, todos amigos, saíram em defesa da juventude do membro mais velho da banda

- Caetano é velho, mas não tem nada de senil nisso. A gente se diverte muito tocando. E ele nunca pediu pra gente abaixar o volume da guitarra - contou Dias Gomes.

- Ao contrário. Às vezes ele pede para aumentar - completou Pedro Sá.

- E sabe muito mais de bandas de hoje em dia do que eu - constatou Callado.

- É verdade - sorriu Caetano, orgulhoso - Eu digo: Animal Collective (banda americana)...

- ... E eu não conheço - admitiu Callado.

Sobre o tom melancólico do disco, Caetano usou a idade para defender a tristeza de letras como "Perdeu" ou "Sem cais":

- Eu, como sou velho, lembro que o Brasil se considerava um país triste. A tradição da música brasileira é de músicas tristes, 99,9% fala de amores fracassados. Nos carnavais dos anos 40, 50 e 60 a gente cantava marchinhas assim: "tenha pena de mim / não posso mais...". Nem os Los Hermanos fazem letras tão tristes quanto as daquela época. 

(© O Globo)


Caetano diz que queria 'título absurdo' para novo CD

 

Ricardo Calazans

O nome "Zii e Zie" (tio e tia em italiano) é mais uma indicação da postura "roqueira" de Caetano Veloso no novo CD - ou "transrock", como ele prefere.

- Queria um título meio absurdo, que não explicasse nada aparentemente, como nos discos de rock. Mas hoje não somos todos tios e tias dos meninos que fazem malabares nos sinais e nos chamam assim?

A tiragem inicial de "Zii e Zie" é de 10 mil cópias. O número, modesto, não impressionou o compositor.

- Hoje as companhias de disco não sentem-se seguras quanto às tiragens. Pensam que vão sempre vender pouco. A música caminha na internet, e tem a pirataria. Eu nunca fui grande vendedor de discos, a não ser esporadicamente. Minha média sempre foi de 150 mil, 200 mil. E agora que ninguém vende muito não sei se 10 mil é muito, pouco ou está na média - assumiu a dúvida. 

(© O Globo)


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Caetano Veloso - Sampa

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Caetano Veloso Show Cê - Nao Me Arrependo

 

 

 

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