Rock mais light e sincrético no último dia do APR 2009
18/04/2009
Ilustração: JC Online
As duas atrações principais da noite são Mundo Livre S/A e
Marcelo Camelo
Priscila MunizDo JC Online
O som pesado da sexta-feira dará lugar a um rock
n’roll mais light e sincrético, que tomará conta do Festival
Abril Pro Rock neste sábado (18). Nesse dia o público presente
no Chevrolet Hall passará por uma maratona de dez shows. As duas
atrações principais da noite são Mundo Livre S/A e Marcelo
Camelo.
A Mundo Livre, uma das
principais bandas pernambucanas e ícone do movimento mangue
beat, não toca no festival desde 2001, o que faz crescer a
expectativa em cima da apresentação de Fred Zeroquatro e
companhia. Já Marcelo Camelo, ídolo de grande parte do público
alternativo de Recife, volta à cidade sem o Los Hermanos. Ele
apresenta o show de seu álbum solo “Sou”. Os fãs dos Hermanos,
que esse ano já puderam conferir o trabalho de Rodrigo Amarante
com o Little Joy, agora prometem lotar o Chevrolet Hall.
Também subirão ao palco o grupo pernambucano
The Keith, a banda Candeias Rock City, vencedora do concurso
Microfonia (promovido pela faculdade Aeso em parceria com o
festival), os grupos baianos Vivendo do Ócio e Retrofoguetes,
além da pernambucana Volver.
Outra atração que promete fazer barulho no
festival é a banda mato-grossense Vanguart (que, curiosamente,
conta apenas com um integrante desse Estado. Há ainda três
paranaenses e um canadense). O grupo, que faz um folk rock
contagiante, vem ganhando espaço na cena pop brasileira. Em
março, eles lançaram o CD e o DVD Multishow Registro, gravado ao
vivo. As letras do Vanguart – compostas pelo vocalista Helio
Flanders – são interpretadas em três línguas: português, inglês
e espanhol. Não será nenhuma surpresa se os fãs da banda
entoarem coros de canções como Semáforo, Cachaça ou Cosmonauta.
Sai a Vanguart, entra a americana Heavy Trash,
que é resultado da parceria entre os músicos John Spencer e Matt
Verta-Ray. Aliás, os veteranos do Abril pro Rock certamente
recordam do show memorável que esse primeiro músico trouxe ao
festival em 2001, quando se apresentou com a Jonh Spencer Blues
Explosion. No projeto Heavy Trash, a dupla resgata o rockabilly,
um dos primeiros estilos de rock n’ roll, misturando a ele
elementos do blues e do punk rock.
Móveis Coloniais de Acaju, que segue a
programação do festival, é um conjunto do Distrito Federal que
já conquistou vários fãs aqui em Recife, Cidade em que eles já
se apresentaram em algumas oportunidades. É difícil classificar
a banda, que mistura diversos ritmos (rock, ska, música do leste
europeu...). O som é bem preenchido devido à grande quantidade
de instrumentos usados (trombone, saxofones, flauta, gaita,
teclados, bandolim, guitarras, baixo e bateria). Destaque também
para as letras bem humoradas e informais do grupo.
Serviço
Abril Pro Rock 2009 Sábado (18), no Chevrolet Hall Ingressos: R$ 50 inteira / R$ 25 meia e R$ 30 + 1kg de alimentos não
perecível para o ingresso social Mais informações: (81) 3427.7500
Organizador do Abril Pro Rock, que abre
hoje, diz que Recife está "enfartando de novo"
Braulio Lorentz
Ao descrever a atual cena recifense,
que por anos foi diretamente conectada ao festival Abril Pro Rock, cuja
17ª edição se inicia hoje, o organizador Paulo André Pires toma
emprestada a imagem dos caranguejos, tão usada pelos artífices do mangue
beat nos anos 90. Para ele, Recife andou para trás. Mesmo sem rádios
tocando artistas locais como mundo livre s/a, Nação Zumbi e Cordel do
Fogo Encantado, o Abril Pro Rock continua de pé. O baque maior veio com
a perda do patrocínio da Petrobras nesta edição. O corte não impediu que
o APR bancasse o maior cachê já pago em sua história, o do Motörhead. O
grupo inglês de heavy metal fecha a primeira noite. Amanhã, o cantor
Marcelo Camelo é o último a se apresentar.
Em entrevista recente ao ‘Caderno B’
você disse que o festival só existe porque soube se adaptar. O que o
faria interrompê-lo?
Sou um inconformado nato. Não vou
deixar de fazer mesmo que tenha que readaptar. Recife andou para trás.
Não existem casas noturnas, não há nenhum bar para bandas. Aqui só tem
gambiarra. Vou morrer falando isso. Poderia ter transformado o Abril Pro
Rock no Festival de Verão de Salvador ou no Ceará Music, com as mesmas
bandas todos os anos. Mas não o criei para ganhar dinheiro. Quero espaço
para bandas do Nordeste e conexões com o Brasil. Usando uma metáfora do
manifesto mangue, Recife está enfartando de novo.
Como a crise e a diminuição de
investimentos de patrocinadores de peso estão afetando os festivais
independentes?
Entre 2006 e 2008, éramos convidados da
Petrobras sem ter que passar por edital. Para 2010, com a crise,
passamos a concorrer via edital. Os resultados só vêm em julho, o que
prejudicou os projetos do primeiro semestre. Já entramos concorrendo
para 2010. Nosso maior patrocinador é o governo de Pernambuco. Vários
festivais da Abrafin (Associação Brasileira de Festivais Independentes)
no ano passado tomaram prejuízo. Nunca abrimos as portas com tudo pago.
Sempre fechamos as contas com dinheiro da bilheteria.
Você fala sobre a falta de bons palcos
no Recife. E as rádios voltadas para o pop-rock?
Não temos. A Universitária FM não é nem
feita por universitários e nem para universitários. Não se ouve mundo
livre ou Cordel do Fogo Encantado. Fico feliz em saber que o Bruno
Levinson (produtor carioca) assumiu a direção artística da MPB FM. É meu
sonho. DJ Dolores (sergipano radicado no Recife) e 3naMassa tocam em
rádios americanas e europeias, mas não aqui. É deprimente. Quero gerir
rádio e ter casa notuna.
No que a Abrafin ajuda para a
organização do calendário, e no que ainda precisa melhorar? Por que você
saiu da vice-presidência da associação no começo do ano?
Saí do cargo porque me faltava tempo.
Tenho dois filhos. A Abrafin foi uma brutal evolução do mercado
independente.
Na edição do ano passado houve a
mudança do Centro de Convenções para o Chevrolet Hall, onde o festival
continua. O fato de ter se tornado mais enxuto fez muita gente chiar?
Passamos 11 edições lá e ele ficou
muito grande para o festival. Abril é mês de chuva no Recife e não
podemos fazer no ar livre. As avenidas alagam e seria uma tragédia para
o festival. Aconteceu isso em 1996. Vimos que não tínhamos condições de
correr mais esses riscos. Nesse ponto, o Chevrolet é ideal, com acústica
perfeita. Não é por custo, isso não mudou quando trocamos de espaço.
Ninguém chiou.
Qual a importância de ter um Motörhead?
Quais bandas mais fizeram valer o investimento?
O Motörhead é muita areia para o
caminhão do Abril Pro Rock. É a atração mais cara da história do
festival. As bandas caras valem quanto pesam. Este ano teremos caravanas
de várias cidades, porque esse tipo de show não rola pelo Nordeste. A
resposta do Placebo, em 2005, foi maravilhosa. Outro exemplo foi o Asian
Dub Foundation, em 2001, com 12 mil pagantes. O Sepultura em 1999, no
primeiro show no Nordeste após a fama internacional, foi um dos melhores
financeiramente falando.
Há uma ligação do Abril Pro Rock com o
mangue beat. Como é ver o mundo livre s/a voltando ao palco do festival?
O mundo livre é conhecido aqui, mas não
como merecia. A banda passou a ter clássicos muito mais por causa dos
clipes na MTV do que por tocar em rádios. Há alguns anos que essas
bandas não estavam no festival, porque tocam de graça meses antes. Não é
isso que o público quer ver no Abril Pro Rock. Convidamos o mundo livre
porque estamos nas bodas de prata deles. Eles são um exemplo de banda
que mantém a dignidade há 25 anos. Está sempre produzindo. Triste seria
dizer "Lembra como foi legal?". Olho isso positivamente.
Depois de ter revelado bandas como Los
Hermanos e Chico Science & Nação Zumbi, agora você reconhece que o
esquema é outro e dificilmente uma banda fará sucesso a partir de uma
apresentação no evento? Os parâmetros são outros?
Vivi os últimos anos da bonança das
gravadoras. Não tenho saudades disso. É melhor muitos vendendo pouco do
que poucos vendendo muito. A música mudou mais nos últimos 15 anos do
que nos 50 anteriores. Os parâmetros e os caminhos hoje são outros. A
internet passou a ter uma propagação muito grande.
Você já elegeu a banda americana Jon
Spencer Blues Explosion como um dos melhores shows já feitos no
festival. O que espera da volta do Spencer este ano? Já viu o show do
Heavy Trash (projeto dele)?
Peguei o Heavy Trash no escuro, pelo
histórico do cara. Trouxe o Jon Spencer em 2001 e empresário é o mesmo,
o Marcos Boffa, mineiro que mora em São Paulo. Botei de olhos fechados.
As bandas de rock formadas no Recife disseram que foi uma aula de rock.
Tentamos o Wilco, mas o Brasil não é um mercado preferencial. Por muito
pouco nós não fechamos.
Com 16
bandas em sua programação, o festival Abril pro Rock acontece hoje e
amanhã mesclando medalhões como Motörhead a novatos como The Keith
Schneider Carpeggiani carpeggiani@gmail.com
O Abril
pro Rock parece estar aí há tanto tempo que já virou uma espécie de
consequência natural da passagem dos meses, como o Carnaval, a
Semana Santa e a chegada da temporada de chuvas. É fato: você sempre
pode contar com ele. A resistência possibilitou testemunhar a
validade do mandamento marxista de que tudo que é sólido se
desmancha, seja no ar, em seu aparelho de som ou na maneira de você
consumir o mundo. Dá para imaginar que, quando o festival começou
(esta é a 17ª edição, faça as contas...), as bandas se preocupavam
em descolar uma gravadora, tocar na rádio e ainda tinha gente que
fazia festas homéricas para lançar um clipe e depois rezava que a
MTV lembrasse dele em alguma madrugada perdida? Nem parece que foi
ontem, mas foi.
O
susto do “como as coisas estão diferentes” nem é porque o tempo
agora passa mais rápido, é que nossa (digitalizada) fome de consumo
é infinita enquanto dura. O festival retoma suas atividades hoje,
com duas datas no Chevrolet Hall, quando já não é mais possível
separar os então irreconciliáveis underground e mainstream (para o
bem e para mal). A função do APR em 2009 não é mais ser um
Nostradamus e apontar os caminhos futuros da música (como um dia
quis, alardeou ser e até foi), e sim ser o mais fiel possível a essa
entidade chamada Presente.
É por
isso que faz muito sentido contar com um show do Mundo Livre S/A,
que comemora 25 anos, banda que assim como o APR é testemunha e
agente social de si mesma. Tanto que o título do seu próximo disco
bem que poderia servir de epígrafe para ambos (atração e festival):
Durar é viver.
Em
2009, o APR coloca, enfim, foco principal em sua noite mais
lotada/badalada/comentada, a dos camisas pretas. Ela é o carro
abre-alas com show da Motörhead, segunda maior atração de (perdão
pelo termo jurássico) rock pesado a passar pelo Recife este ano (a
primeira foi aquela que nem vale mais a pena dizer o nome...).
Teremos ainda Matanza e a instituição heavy recifense, a Decomposed
God. Amanhã, o festival continua do rock, porém menos heavy, menos
hard, com a bossa nova histérica de Marcelo Camelo, com novos indies
(The Keith, Móveis Coloniais), novos glitters (o Candeias Rock City)
e velhos em novo formato (o Jon Spencer travestido de Heavy Trash).
Enfim, esperamos que esse seja mais um Abril pro Agora.
Formado em 2007 e com o primeiro disco a ser lançado na próxima semana, é
de se estranhar o entrosamento e o fato de o quarteto recifense AMP ter sido
– nos últimos meses – um dos mais comentados no circuito roqueiro de
festivais independentes. Não é bem assim. Há uma história anterior ao AMP
que deu calos nas mãos e uma rede de contatos à metade do time: o
guitarrista e vocalista Djalma Rodriguez e o baixista Dudu Sat já estiveram
na banda local Astronautas. Ainda em atividade, o grupo pôs no mercado três
discos. Pelo segundo ano consecutivo, o AMP abre o Abril Pro Rock fazendo
(muito) barulho. A banda de stoner rock foi a primeira a tocar na 17ª edição
do evento, na noite de anteontem.
– Ter estado no Astronautas fez muita diferença – reconhece Sat, logo
após o show, muito aplaudido. – Foi mais questão de criar uma rede de
contatos. Agora, temos noção de como agendar show e já conhecíamos mais ou
menos o mercado independente. Começamos de novo, mas sabendo quais são os
caminhos.
O primeiro disco foi produzido pelo gaúcho Iuri Freiberger, membro da
banda Tom Bloch e um dos nomes do ramo mais versados em rock sujo e mal
educado. A mixagem e masterização do trabalho de estreia foram feitas na
Toca do Bandido, estúdio carioca de Tom Capone (produtor, guitarrista, morto
em 2004).
– Gravamos tudo num casarão abandonado no Recife mesmo – explica o
baixista. – Captamos lá, com a ajuda do Iuri. Depois fomos para o Rio.
Uma das faixas do CD leva o nome de Ensurdecedor. Não há melhor forma de
descrever o som da banda, que propõe um passeio pelo punk e rockabilly sem
tempo para pose ou firula. No show, em não mais do que meia hora e ainda
atrapalhados por problemas de som, aquecem o ainda pequeno público (a
maioria de camisas pretas, óbvio) sedento pela inédita apresentação dos
ingleses do Motörhead em Recife. Assim como os fãs recifenses, o AMP também
faz juras de amor ao combo liderado por Lemmy Kilmister:
– Amamos a banda. Tem tudo a ver com o nosso som. Quando soubemos que
abriríamos para eles, ficamos até com medo por ser o Motörhead. Era um
sonho. Depois caiu a ficha e resolvemos deixar o show bem azeitado. Tivemos
que segurar a onda. Tentamos cantar e tocar o mais alto possível. Foi nosso
máximo.
Em vários festivais
Antes das duas participações, os integrantes (mesmo com o Astronautas)
nunca haviam pisado o palco do Abril Pro Rock. A partir do show no evento
recifense veio o giro por outros festivais como Bananada (GO), Porão do Rock
(DF), Calango (MT) e DoSol (RN). O percurso apressado é resumido pelo relato
de Sat:
– No ano passado era uma votação e tivemos mais votos num concurso.
Mobilizamos todos os nossos amigos e pessoas conhecidas. Acabou acontecendo
e foi ótimo: a partir daí entramos no embalo de fazer vários festivais no
ano. O mais impressionante é ter feito tantos eventos sem termos o CD.