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Renata Rosa, dos rojões e torés

23/04/2009

 

 

Foto: Divulgação  ©Renato Rocha Miranda
 
Cantora, que é conhecida na tribo kariri-xocó como a Gaita dos Sonhos, mostra no novo disco a influência herdada dos cantos indígenas

Michelle de Assumpção
michelleassumpcao.pe@diariosassociados.com.br

O contexto poético musical da Zona da Mata pernambucana e do baixo São Francisco alagoano é o território cultural dominado pela cantora, compositora e rabequeira Renata Rosa.


Em Manto dos sonhos, Renata também faz referência a outros ritmos, como o coco, cavalo-marinho e música ibérica. Foto: Stephane Rodier /Divulgação
Mas a primeira de todas as brincadeiras que ela realizou foi na aldeia Kariri-xoco, localizada no município de Porto Real do Colégio, em Alagoas, aonde Renata ia passar férias desde os dezesseis anos. Uma sociedade, segundo conta, onde o canto está diretamente relacionado ao cotidiano e aos ritos. Renata e as índias criaram até um grupo para cantar os rojões (considerados cantos de trabalho), torés e as músicas próprias, que iam surgindo daquele experimento sobre o cancioneiro oral e tradicional da tribo. Até hoje o grupo se reúne. Foi para lá que Renata voltou quando estava na fase de pré-produção do seu segundo disco, Manto dos sonhos.

"Meu trabalho é caracterizado pelo cruzamento de elementos do coco, do cavalo-marinho, da ciranda, dos xangôs, de ritmos indígenas, damúsica moura, cigana e ibérica, não necessariamente modernizados ou tornados mais eruditos, mas desenvolvidos e desdobrados a partir de suas estruturas essenciais", explica Renata Rosa. O patrocínio da Petrobras para o disco incluiu algumas idas à aldeia alagoana. A interação com índias cantoras foi tão produtiva nos ensaios que ficou decidido que elas cantariam em todas as músicas que tivessem coro, e não somente naquelas inicialmente programadas: os dois torés do disco, sem acompanhamento instrumental.

Ao mesmo tempo em que Manto dos sonhos era finalizado, o produtor de Renata Rosa no exterior, Marc Regnier (o mesmo que cuida da carreira estrangeira de Silvério Pessoa), começava a preparar a turnê da artista na França. A articulação começou no final de 2004 e vai ser realizada entre novembro e dezembro deste ano, incluindo uma apresentação no Theatre de la Ville de Paris, um dos mais importantes da Europa, que recebe artistas do mundo inteiro. A expectativa é de que Manto dos sonhos alcance uma repercussãoigual ou maior ao primeiro disco de Renata, Zunido da mata (2003), que ganhou prêmios na França e teve show gravado para um especial da BBC inglesa.

Desde 2003, Renata estreitou seus laços com a cultura occitana (assim como Silvério, que primeiro divulgou a conexão entre a música occitana e nordestina). No caso de Renata, o intercâmbio se dará através do grupo Le Cor de la Plana, de Marselha, que trabalha com polifonia e percussão. Aproveitando a programação do Ano da França no Brasil, Renata Rosa irá desenvolver uma residência de criação em maio, com o Le Cor, em Marselha. Em seguida, eles vêm fazer o mesmo, em São Paulo. Depois, serão sete apresentações da banda de Renata com o Le Cor por cidades do interior paulista. Ainda não há previsão de shows no Nordeste.

A "gaita dos sonhos", como Renata passou a ser chamada pelos kariris-xocós, também transformou em cantores todos os músicos que estão com ela nessa jornada: Lucas dos Prazeres, Ana Araújo, Hugo Lins e Pepê. "A gente tem uma prática de cantar junto.Eles começaram a conviver com os índios também", encerra Renata.

(© Diário de Pernambuco)


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