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Olodum: ''caruruzada'' de aniversário

26/04/2009

 

 

Foto: André Penna
 
Grupo festeja 30 anos e inicia tour internacional em 14 de julho, passando por Itália, Portugal e Holanda, entre outros países

Jotabê Medeiros

Com um prosaico caruru, às 15 h, e um show na rua, às 19 h, o grupo baiano Olodum festejou, na sua sede no Pelourinho, 30 anos de existência. Como diz João Jorge, presidente da instituição, a festa consagra "três décadas de tecnologia Olodum", que é como ele chama o tripé que fez sua fama: música, ação social e política "de afirmação do orgulho negro".

A música do Olodum está sacramentada em 11 discos no Brasil e 5 no exterior, além de gravações e jam sessions com Paul Simon, Linton Kwesi Johnson, Inner Circle, The Wailers, Ziggy Marley e Rappin? Hood, entre outros. Do Bando de Teatro Olodum saiu gente como o ator Lázaro Ramos. A ação social por meio da integração musical virou parâmetro em todo o País, gerando filhotes como o Afroreggae (Rio), o Meninos do Morumbi (São Paulo), o Régua e Compasso (Curitiba) e o próprio Candeal Ghetto Square, de Carlinhos Brown.

No carnaval, 4 mil integrantes tingem Salvador com as cores do Olodum - o verde, o vermelho, o amarelo, o preto e o branco, símbolos do pan-africanismo. Diariamente, seus ensaios, na Rua Gregório de Matos e aos domingos no Largo Pedro Arcanjo, são acompanhados por centenas de turistas. O grupo tem sido um elemento fundamental na revitalização do Pelourinho.

O Olodum é também criticado por ter "industrializado" suas atividades, mas é inegável a solidez de sua organização. Sua Boutique Olodum vende bonés, bottons, sapatilhas, mochilas, discos e livros. A Fábrica de Carnaval emprega 35 pessoas. Faz ainda o Festival de Música e Arte do Olodum que, nos últimos 29 anos, reuniu cerca de 100 mil pessoas.

"É uma crítica improcedente. Nós jamais nos afastamos dos nossos objetivos e nunca deixamos de fazer a parte social. Como é natural, o Olodum se multiplicou, adquiriu contornos mais abrangentes. Não é mais apenas um bloco de carnaval. Cresceu, como crescem os partidos políticos, as religiões. E nós, para não ficarmos dependentes das verbas públicas e privadas, fazemos um trabalho para dar autosustentação ao Olodum. Que não pode ser uma manifestação tímida, acanhada".

Do total das receitas da Banda Olodum, 30% retornam como investimentos para as atividades educativas e sociais e os 70% restantes, para seus componentes. Como os outros blocos afro da Bahia, o Olodum também foi fundado por um grupo comunitário, os remanescentes do bairro do Maciel/Pelourinho. A partir da década de 80, já organizado, o Olodum tornou-se uma Organização Não Governamental (ONG) do movimento negro.

O imóvel que hoje abriga A Casa do Olodum, na Rua Gregório de Matos, 22, no Pelourinho, foi construído entre os anos de 1790 e 1798. "Ano da deflagração da Revolta dos Búzios na Bahia", lembra Jorge. "Primeiro movimento político a pregar o fim da escravidão no Brasil e a República como forma de governo."

Foi abandonado na década de 50 e comprado pelo Olodum em 1985. A arquiteta Lina Bo Bardi fez o projeto de reforma e restauro. A palavra Olodum é de origem iorubana, idioma falado pelos iorubás vindos da Nigéria e do Benin para a Bahia. A palavra completa é Olodumaré, Deus criador, o Senhor do universo, e representa no candomblé um princípio vital. O bando do Olodum tinha como madrinha a ialorixá d. Alice dos Santos Silva, morta em 2005, que dava orientação e proteção espiritual ao grupo. A percussão do Olodum, segundo João Jorge, funde ritmos como o ijexá, o samba, o alujá, o reggae, o forró, o samba reggae... entre outros.

(© Estadão)


Olodum: Por uma cultura africana não colonizada

Marcela Rocha

Em 1979, o bloco-afro Olodum nasceu no coração do centro histórico de Salvador, o Pelourinho. Segundo Nelson Mendes, diretor cultural, o objetivo era celebrar a cultura africana no carnaval baiano. "Isto significou o renascimento do Pelourinho, que estava completamente abandonado pelos órgãos públicos".

- O Olodum foi o principal divulgador do Pelourinho, não só internacionalmente, com pressões para a restauração do bairro, mas também por atrair as atenções regionais para o bairro.

Ilê Aiyê é o primeiro bloco afro do Brasil. Surgiu em 1974 com o mesmo propósito: discutir a cultura africana e racial. "Esta é a semelhança entre nós", diz Nelson. E acrescenta que "grandes blocos afros valorizam a cultura africana e lutam contra o preconceito racial".

Pós-carnaval, Olodum desenvolveu seminários e exibições de filmes. As ações eram voltadas para a comunidade afro-descendente. Isto fez com que o Olodum se aproximasse do movimento negro e se transformasse em uma ONG.

"Nos denominamos afro-brasileiros por sermos descendentes africanos nascidos no Brasil", explica o diretor cultural. E acrescenta, mais do que depressa, que "queremos mostrar uma cultura africana não colonizada".

O grupo criador do samba-regae, adotado por vários compositores, faz um trabalho basilado em três pilares: "música, cultura e educação". Nelson pede para atentarmos ao fato de os trabalhos serem feitos sempre com jovens de baixa renda que "podem encontrar no Olodum uma saída", acrescenta.

Como nem tudo são batuques, "temos problemas financeiros", lamenta o diretor. "O dinheiro oscila, ora temos apoio do governo, ora não. Vendemos camisetas e outras coisas, mas a arrecadação flutua. Mas vamos administrando...".

As comemorações pelos 30 anos do Olodum começaram faz tempo. Desde turnê, que tem como nome provisório "Samba-Reggae" até debates e palestras com personalidades negras de todo o mundo.

Como presente, o Olodum ganhou o direito de posse do prédio por ele ocupado na Rua Laranjeiras no Pelourinho desde 1990, mediante Termo de Permissão de Uso, para atividades de cunho social. Dia 27 de abril, a Câmara Municipal promoverá sessão especial, às 9h, no Plenário Cosme de Farias, para comemorar os 30 anos do Olodum.


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Olodum - percussão

 

 

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