Foto: Divulgação
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Braulio Lorentz
Após tentarem vários editais com o objetivo de conseguirem recursos para
seu terceiro disco, os cinco integrantes da banda pernambucana Mombojó
cansaram das reprovações e se mudaram para a casa do baixista Samuel, no
Recife, no fim do ano passado. Um mês depois, entre ensaios e partidas de
futebol, com todos dormindo no mesmo quarto, o grupo saiu com a amizade
fortalecida e 11 canções azeitadas. Era o que bastava para se trancarem em
estúdio próprio onde, em janeiro, o esperado novo trabalho foi gravado.
Amigo do tempo está previsto para sair em junho.
– Nunca tínhamos passado por isso como banda – explica o guitarrista
Marcelo Machado. – Este disco vem de forma muito mais colaborativa do que os
outros. Quando começamos a gravar, estávamos com o sentimento que iríamos
fazer nós mesmos. Os produtores vêm muito mais para acrescentar do que para
mudar. O material gravado estava bem sólido.
Relação de longa data
Os responsáveis pela produção são velhos conhecidos. Pupillo, baterista
da conterrânea Nação Zumbi, já começou a aparar cinco músicas; e Kassin
(Orquestra Imperial, Los Hermanos, Vanessa da Matta) fica com três. As
restantes serão finalizadas pela própria banda.
– É uma relação de longa data, todo mundo se conhece e troca ideia –
resume Pupillo. – Sempre estivemos perto dos meninos e trocamos figurinhas.
Já fiz remix de demo, e eles iam lá em casa ouvir som. É uma relação
amistosa independente da música.
Amigo do tempo é o primeiro disco do grupo como um quinteto. No início do
ano passado, o multi-instrumentista Marcelo Campello saiu do Mombojó. Em
julho de 2007, a banda já havia perdido o flautista O Rafa, vítima de
infarto aos 24 anos.
– Por causa da mudança da formação, procuramos outros instrumentistas.
Trabalhamos num esquema de cooperativa, a galera se mobiliza para viabilizar
– diz Pupillo.
Com esse pensamento, o trompetista paulistano Guilherme Mendonça foi
convocado para dar uma mão (e uns sopros) no trabalho. Conhecido como
Guizado, ele já registrou sua participação.
– Toquei só trompete. Fiquei fazendo várias camadas, fomos criando.
Conheço o Mombojó há um tempo, mas gravei primeiro com o pessoal da Nação.
Pensamos música da mesma maneira – explica Mendonça.
O público já conhece várias das novas canções. Triste demais e Justamente
foram reveladas no programa Sessões MTV. Amigo do tempo e Papapa ganharam
uma vaga no especial MTV apresenta: Sintonizando Recife. Essas quatro e mais
Casa caiada foram tocadas em shows no ano passado, incluindo apresentação no
Circo Voador, na Lapa.
– Depois resolvemos dar uma segurada – explica o guitarrista. – Queríamos
muito tocar e ver o que as pessoas achavam, como era recebida pelo público.
Esse disco todo mundo já está conhecendo aos poucos. Tocamos uma música no
show e ela aparece no YouTube. Vira uma estratégia e cria uma expectativa.
Para Machado, as novas composições estão mais encorpadas, um pouco pelo
fato de o vocalista Felipe S. tocar guitarra junto a ele.
– Você pode ouvir as melodias da mesma forma. Sempre prezamos por fazer
uma música que você ouça e te remeta a algum sentimento: da felicidade à
tristeza profunda – exemplifica o músico.
O terceiro CD é o sucessor de Homem-espuma, que saiu em 2006 pela
gravadora paulista Trama. O álbum, aclamado pela crítica, vendeu 2 mil
cópias. O desempenho da estreia independente Nadadenovo (2004), encartada na
revista Outra Coisa e realizada com recursos do Sistema de Incentivo à
Cultura de Recife, foi bem melhor: 10 mil cópias adquiridas pelos fãs.
– No número de produtos vendidos, Homem-espuma não foi tão bem mesmo –
lamenta Machado. – A forma de divulgar os dois foi a mesma, com os discos
para baixar no nosso site. O Homem-espuma chegou às lojas muito caro. Não
tinha a distribuição do primeiro. Aprendemos muito com isso.
No novo trabalho, a banda segue os passos dos anteriores, opina o
guitarrista. Uma música é muito diferente da outra. A primeira do disco é
Antimonotonia. Para o músico, é a mais pesada:
– Ela lembra muito surf music. Não que seja um estilo que nunca
tivéssemos gravado, mas a estrutura não parece com Mombojó. Teve gente que
viu no YouTube e comentou. Fico feliz com isso. Fazer algo que não parece a
gente. Surpreender é o que prezamos, queremos fazer uma coisa nada óbvia.
Seria triste ser assim. As músicas estão vindo nessa pegada. Amigo do tempo
remete a uma disco music.
No período em que ficaram sem lançar discos, aproveitaram para dar um
tempo nas músicas do Mombojó. Em 2004, formaram o Del Rey, que relê a obra
de Roberto Carlos com reforço do vocalista China (ex-Sheik Tosado).
– Foi nessa época que passamos por mudanças. O Del Rey segurou muito a
nossa onda – reconhece Machado, satisfeito com a agenda abarrotada de shows.
– É uma grande curtição. No dia que começar a dar "aperreio", não tem
sentido continuar com ele. Não notamos o peso de tocar nesse projeto. Quando
estou com o Mombojó, é um peso enorme.
O quinteto deve promover um lançamento virtual antes de mandar os novos
disquinhos para as lojas. Quando isso for feito, no entanto, exigem um preço
mais acessível que os R$ 30 do segundo álbum.
– Penso para o terceiro disco uma divulgação muito por internet – conta
Machado. – Estamos entrando com um site mais interativo. Pretendemos ter
várias ações no Twitter, MySpace. Chamar quem acessa nosso site. Estamos com
uma experiência legal do DVD gravado em 2004, vendendo a R$ 5. Recebemos uma
doação do Itaú (cerca de 4 mil discos), que realizou o projeto. Vemos que as
pessoas querem comprar, principalmente em show.
Para o CD chegar mais barato aos fãs, cogitam lançar em SMD, o disco
semimetálico inventado pelo cantor Ralf, que faz dupla com Christian.
– Um dos nossos focos é esse mesmo – adianta o guitarrista. – Dependendo
do que role no investimento e das parcerias, pensamos numa tiragem em vinil.
Para algumas pessoas, faz muito sentido ter. Vamos nessas duas mídias.