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De volta à independência

21/05/2009

 

 

Foto: Divulgação

 

Braulio Lorentz

Após tentarem vários editais com o objetivo de conseguirem recursos para seu terceiro disco, os cinco integrantes da banda pernambucana Mombojó cansaram das reprovações e se mudaram para a casa do baixista Samuel, no Recife, no fim do ano passado. Um mês depois, entre ensaios e partidas de futebol, com todos dormindo no mesmo quarto, o grupo saiu com a amizade fortalecida e 11 canções azeitadas. Era o que bastava para se trancarem em estúdio próprio onde, em janeiro, o esperado novo trabalho foi gravado. Amigo do tempo está previsto para sair em junho.

– Nunca tínhamos passado por isso como banda – explica o guitarrista Marcelo Machado. – Este disco vem de forma muito mais colaborativa do que os outros. Quando começamos a gravar, estávamos com o sentimento que iríamos fazer nós mesmos. Os produtores vêm muito mais para acrescentar do que para mudar. O material gravado estava bem sólido.

Relação de longa data

Os responsáveis pela produção são velhos conhecidos. Pupillo, baterista da conterrânea Nação Zumbi, já começou a aparar cinco músicas; e Kassin (Orquestra Imperial, Los Hermanos, Vanessa da Matta) fica com três. As restantes serão finalizadas pela própria banda.

– É uma relação de longa data, todo mundo se conhece e troca ideia – resume Pupillo. – Sempre estivemos perto dos meninos e trocamos figurinhas. Já fiz remix de demo, e eles iam lá em casa ouvir som. É uma relação amistosa independente da música.

Amigo do tempo é o primeiro disco do grupo como um quinteto. No início do ano passado, o multi-instrumentista Marcelo Campello saiu do Mombojó. Em julho de 2007, a banda já havia perdido o flautista O Rafa, vítima de infarto aos 24 anos.

– Por causa da mudança da formação, procuramos outros instrumentistas. Trabalhamos num esquema de cooperativa, a galera se mobiliza para viabilizar – diz Pupillo.

Com esse pensamento, o trompetista paulistano Guilherme Mendonça foi convocado para dar uma mão (e uns sopros) no trabalho. Conhecido como Guizado, ele já registrou sua participação.

– Toquei só trompete. Fiquei fazendo várias camadas, fomos criando. Conheço o Mombojó há um tempo, mas gravei primeiro com o pessoal da Nação. Pensamos música da mesma maneira – explica Mendonça.

O público já conhece várias das novas canções. Triste demais e Justamente foram reveladas no programa Sessões MTV. Amigo do tempo e Papapa ganharam uma vaga no especial MTV apresenta: Sintonizando Recife. Essas quatro e mais Casa caiada foram tocadas em shows no ano passado, incluindo apresentação no Circo Voador, na Lapa.

– Depois resolvemos dar uma segurada – explica o guitarrista. – Queríamos muito tocar e ver o que as pessoas achavam, como era recebida pelo público. Esse disco todo mundo já está conhecendo aos poucos. Tocamos uma música no show e ela aparece no YouTube. Vira uma estratégia e cria uma expectativa.

Para Machado, as novas composições estão mais encorpadas, um pouco pelo fato de o vocalista Felipe S. tocar guitarra junto a ele.

– Você pode ouvir as melodias da mesma forma. Sempre prezamos por fazer uma música que você ouça e te remeta a algum sentimento: da felicidade à tristeza profunda – exemplifica o músico.

O terceiro CD é o sucessor de Homem-espuma, que saiu em 2006 pela gravadora paulista Trama. O álbum, aclamado pela crítica, vendeu 2 mil cópias. O desempenho da estreia independente Nadadenovo (2004), encartada na revista Outra Coisa e realizada com recursos do Sistema de Incentivo à Cultura de Recife, foi bem melhor: 10 mil cópias adquiridas pelos fãs.

– No número de produtos vendidos, Homem-espuma não foi tão bem mesmo – lamenta Machado. – A forma de divulgar os dois foi a mesma, com os discos para baixar no nosso site. O Homem-espuma chegou às lojas muito caro. Não tinha a distribuição do primeiro. Aprendemos muito com isso.

No novo trabalho, a banda segue os passos dos anteriores, opina o guitarrista. Uma música é muito diferente da outra. A primeira do disco é Antimonotonia. Para o músico, é a mais pesada:

– Ela lembra muito surf music. Não que seja um estilo que nunca tivéssemos gravado, mas a estrutura não parece com Mombojó. Teve gente que viu no YouTube e comentou. Fico feliz com isso. Fazer algo que não parece a gente. Surpreender é o que prezamos, queremos fazer uma coisa nada óbvia. Seria triste ser assim. As músicas estão vindo nessa pegada. Amigo do tempo remete a uma disco music.

No período em que ficaram sem lançar discos, aproveitaram para dar um tempo nas músicas do Mombojó. Em 2004, formaram o Del Rey, que relê a obra de Roberto Carlos com reforço do vocalista China (ex-Sheik Tosado).

– Foi nessa época que passamos por mudanças. O Del Rey segurou muito a nossa onda – reconhece Machado, satisfeito com a agenda abarrotada de shows. – É uma grande curtição. No dia que começar a dar "aperreio", não tem sentido continuar com ele. Não notamos o peso de tocar nesse projeto. Quando estou com o Mombojó, é um peso enorme.

O quinteto deve promover um lançamento virtual antes de mandar os novos disquinhos para as lojas. Quando isso for feito, no entanto, exigem um preço mais acessível que os R$ 30 do segundo álbum.

– Penso para o terceiro disco uma divulgação muito por internet – conta Machado. – Estamos entrando com um site mais interativo. Pretendemos ter várias ações no Twitter, MySpace. Chamar quem acessa nosso site. Estamos com uma experiência legal do DVD gravado em 2004, vendendo a R$ 5. Recebemos uma doação do Itaú (cerca de 4 mil discos), que realizou o projeto. Vemos que as pessoas querem comprar, principalmente em show.

Para o CD chegar mais barato aos fãs, cogitam lançar em SMD, o disco semimetálico inventado pelo cantor Ralf, que faz dupla com Christian.

– Um dos nossos focos é esse mesmo – adianta o guitarrista. – Dependendo do que role no investimento e das parcerias, pensamos numa tiragem em vinil. Para algumas pessoas, faz muito sentido ter. Vamos nessas duas mídias.

(© JB Online)


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