Foto: Divulgação Cacau
Mangabeira
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Ivete Sangalo com Maria Bethânia no DVD
'Multishow registro - Pode entrar'
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Ivete Sangalo põe 100 jornalistas em Salvador para
vender novo peixe: um DVD entre amigos com 100 mil cópias
André Cananéia
Cem jornalistas estão à frente de Ivete Sangalo no Yatch
Clube da Bahia, em Salvador. Boa parte bancada pela gravadora da cantora, a
Universal. O expediente, usado de forma extrema no auge da indústria
fonográfica, no começo dos anos 90, é desaconselhável diante da decadência
do mercado. Ivete está na pequena lista das exceções. Na concorrida
entrevista coletiva, para falar de Pode entrar, não havia
nenhum sinal de crise do disco. Seu DVD chega às lojas com uma tiragem de
100 mil cópias, metade para atender à demanda de pré-venda. Somada, a
comercialização de músicas da cantora dá mais tijolo para a gastança. Pelas
contas da Universal, Ivete já vendeu 5 milhões de álbuns desde sua estreia
solo, há 10 anos. Conta-se aí CDs, DVDs e faixas em MP3 vendidas por celular
e internet. Pode entrar já é esperado também em Portugal.
Pode entrar é o trabalho mais intimista da cantora baiana.
Produzido inteiramente pela produtora Caco de Telha, coube à Universal Music
apenas a distribuição e divulgação. Nele, Ivete Sangalo registra encontros
ao longo do ano passado em seu apartamento em Campo Grande, bairro classe
média alta de Salvador. Conjugado à sala de estar, ergueu um estúdio
profissional de 36 canais e abriu as portas do apê a ídolos e amigos, como
Maria Bethânia, Lulu Santos, Marcelo Camelo e o conterrâneo Carlinhos Brown.
Em tom documental, as imagens dirigidas por Joana
Mazzuchelli registram Ivete não como a rainha do showbusiness, mas a dona de
casa, a cidadã baiana e a irmã querida. A câmera a acompanha por sua sala de
estar, mostra um aparador com um pé de arruda e sal grosso ("Para espantar o
mal olhado", diz) e a foto da família na parede. Passeia com ela e com a
dupla Alexandre e Solange, do Aviões do Forró (com quem ela gravou Sintonia
e desejo), embarca no conversível de Carlinhos Brown e vai tomar sorvete com
o conterrâneo Saulo Fernandes (que está na faixa Vale mais).
– A ideia era fazer um reality show sobre música, mostrar
para os fãs como um disco é feito – diz Ivete. – O áudio foi o mais
importante nesse projeto e as imagens foram apenas consequência. A gente
procurou fazer da forma mais natural possível. Claro que foram feitos vários
takes para a gente tirar a melhor gravação, mas ali está o registro de como
o processo foi executado.
O tom do projeto se opõe à energia de seus discos
anteriores. Há muitas cordas e metais, arranjos orquestrais que dão um freio
nos arroubos foliões de Ivete – que está até cantando mais baixinho.
– São os hormônios que tive que tomar por conta da
gravidez – brinca. – Deixou a voz mais porosa, mais rouca.
Ivete escalou para o projeto uma de suas irmãs, a também
cantora Mônica San Galo. Mônica canta com o Ivete em Completo (de Ivete com
Gigi), música que, no DVD, é precedida por um papo na varanda do apartamento
entre Ivete, Mônica e uma terceira irmã, Cíntia:
– Sempre quis ter Moniquinha num projeto meu, mas ela
nunca topava subir no palco com toda aquela agitação e sempre falava:
"Quando você fizer uma coisa mais calma eu entro". Então esta foi a
oportunidade de ter esse meu momento família.
Ao todo, tanto o CD quanto o DVD trazem 17 canções. Ivete
gravou 10 músicas solo – entre elas o hit do carnaval baiano deste ano, Cadê
Dalila, de Carlinhos Brown e Alain Tavares – e sete duetos. O resultado é
tão díspar que vai da excelência de Bethânia, recebida com toda deferência
por Ivete, até o forró de plástico do Aviões, bastante popular no Nordeste.
No meio, Ivete enxerta a MPB sofisticada de Camelo (Teus olhos), o balanço
de Lulu Santos (Brumário, um hit de 1989 do cantor/compositor), reggae (Vale
mais, de Ivete com Ramon Cruz, cantada por ela e Saulo) e, claro, axé
(Balakbak, de Esquisito, Pururu, Binho Nunes e Sand Vidal).
– Era fazer como o playlist que a gente cria para o iPod –
define a cantora baiana.
Carlinhos Brown comparece com três músicas e a voz em
Quanto ao tempo, balada composta por ele e Michael Sullivan.
– Queria mostrar um outro lado do Carlinhos Brown. Eu,
como pesquisadora da obra dele, sei da capacidade de Brown e que ele não é
só aquela euforia toda, que é muito boa, mas tem outras coisas também –
defendeu a cantora.
Brown é autor do melhor momento do projeto: Muito obrigado
axé leva Bethânia a dividir os vocais com Ivete, sob um solene quarteto de
cordas e uma levada baiana irresistível.
– Desde meninha sou fã de Bethânia. Já pequena, fazíamos
duetos. Eu botava um disco dela, da capinha amarela, e ia para o chuveiro.
Aí eu cantava de lá, Bethânia cantava de cá, e nós cantávamos juntas –
diverte-se Ivete, destacando o encontro como o ponto alto do DVD e revelando
que, por conta da gravidez, para tudo até o fim de setembro, voltando apenas
no réveillon de Salvador. – Bethânia é uma mulher para ser aplaudida e
admirada, e deve ser colocada em um espaço diferenciado. Ter Bethânia em um
disco é um sonho para qualquer artista.
(©
JB Online)
Ambiente doméstico marca o novo
CD/DVD da grávida Ivete Sangalo
SALVADOR - Recostada no sofá, Ivete Sangalo diz que costuma ficar assim
quando está à espera de alguém. Imediatamente, toca a campainha, e é Lulu
Santos quem adentra a sala do apartamento da baiana. Ela apresenta seu
recém-construído estúdio, e os dois cantam "Brumário", música de
"Popsambalanço e outras levadas", LP de Lulu de 1989.
- Todos nós somos influenciados por você - diz Ivete.
Nesse ritmo, recebendo amigos e trocando figurinhas em seu "lar, doce
estúdio", Ivete conduz as gravações do CD "Multishow registro - Pode
entrar", cujos bastidores serão exibidos pelo canal Multishow nesta
quinta-feira, às 21h30. Dirigido por Joana Mazzucchelli, o filme reúne cenas
que nenhuma revista de celebridades conseguiu capturar: o despertar da
baiana, o banho, os passeios de carro, os cachorros, a empregada, o síndico
do prédio... está tudo lá. Surpreendente é assistir, pela primeira vez, a
uma Ivete moderada no exibicionismo:
- Contratei um pessoal de Minas Gerais para fazer um estúdio na minha
casa. Quando ficou pronto, achei que ficou tão bonito que disse: "Vou fazer
um DVD, e ele vai se chamar 'Pode entrar'".
Saindo, em um ano assolado pela crise, com tiragem inicial de cem mil
cópias ("Zii e zie", de Caetano Veloso, foi lançado com apenas dez mil), o
CD e o DVD trazem uma Ivete de voz mais suave, que nada teria a ver com seu
projeto de gravar músicas de João Gilberto. A "culpa" seria do bebê que ela
espera para outubro.
- É por causa da gravidez. A progesterona tem uma função relaxante que
deixa minha voz mais porosa. Gostei de cantar desse jeito mais João Gilberto
- brincou, acrescentando que o CD em homenagem ao conterrâneo não tem
previsão e que o sonho de gravar um DVD em Nova York ficou para 2010: -
Estava tudo certo para este ano, mas Barack veio e disse: "Gente, temos um
probleminha: a crise".
"Multishow registro - Pode entrar" tem grandes chances de levar Ivete a
lugares pouco navegados. Entre uma música de carnaval e outra (trunfos de
Ivete, "Dalila", "Oba oba" e "Na base do beijo", no setor clichê do CD/DVD),
a cantora testa o rock em "Viver com amor" e brinca de ser intimista ao
fazer dueto com a irmã mais velha, Mônica San Galo, em "Completo":
- Nosso sonho era cantar juntas, mas ela nunca topava nas situações em
que eu propunha. Eu sou uma cantora de explosão. Ela, não.
Com os vocalistas do Aviões do Forró, Alexandre e Solange, tenta se
inserir com mais veemencia no espaço conquistado por grupos do tipo, que são
fenômenos em muitas cidades do Nordeste.
- Aviões é a banda de forró de que mais gosto. Fazendo um paralelo, a
maneira como esses meninos cantam lembra Jackson do Pandeiro na sua época.
Acho que a gente precisa ter olhos abertos para o que é contemporâneo e que
vai nos causar saudades no futuro, nas próximas gerações. Eu ouço Aviões do
Forró no meu iPOD - disse Ivete.
A chegada de Maria Bethânia é o ponto alto do DVD. Quando a Abelha-Rainha
entra no apartamento-estúdio, a "San Galo" caçula (a cantora é a única entre
os irmãos que teve os sobrenomes unidos na certidão de nascimento) entrega
seu pequeno, porém notório, teor de insegurança:
- Antes de ser cantora, eu já fazia dueto com Bethânia no banheiro.
Fiquei muito nervosa, esperando na janela para ver se ela vinha mesmo. Todos
os convidados me ligaram perguntando se ela ia participar. É um
comportamento da nação, porque Bethânia é uma mulher a ser aplaudida e
colocada em um espaço diferenciado. Quando ela chegou, todo mundo ficou
tenso, porque a banda toda é fã, e metade queria tirar foto, pedir
autógrafo...
O agitado Brown aparece em música suave
Marcelo Camelo, Carlinhos Brown e Saulo Fernandes foram resgatados por Ivete
fora do apartamento. Camelo, que gravou a intimista "Teus olhos", esbarra
com ela na banca de jornal da esquina. O encontro com Brown se dá no Museu
du Ritmo, no bairro de Comércio:
- Quis mostrar Brown cantando uma música mais calma, por isso escolhi
"Quanto ao tempo" - conta Ivete.
Fernandes, da Banda Eva, toma sorvete com Ivete e faz dueto com ela em
"Vale mais".
- Na Bahia, faço de tudo: vou à praia, tomo sorvete, como acarajé, levo
meu sobrinho no colégio, vou ver meu time jogar (o Vitória da Bahia)...
Óbvio que tudo tem limite, tem hora... Se você me perguntar se tem assédio,
aí é outra história. Mas acho maravilhoso. Acho uma loucura cobrar um
comportamento do público sendo você uma pessoa nacionalmente conhecida.
Comigo, a pegada é outra. Saio de casa preparada - contou.
É para eles que Ivete dedica a música "Fã", presente nos extras do DVD.
(©
O Globo)
Atualização em 08.06.2009:
"Público sabe o que absorver", diz Ivete
Cantora que mais ganha dinheiro no
Brasil lança CD e DVD "Pode Entrar"
Baiana faz entre dez e 12 shows mensais, com cachês que chegam a R$ 500 mil,
único do país comparável ao de Roberto Carlos
MARCUS PRETO
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
É proibido ficar triste no reino vitorioso de Ivete Sangalo, 37. Na semana
passada, cerca de 50 jornalistas estiveram com a cantora, em Salvador, para
a entrevista de divulgação de seu novo trabalho, o pacote de CD e DVD "Pode
Entrar". Fizeram muitas perguntas, mas todas as respostas desviaram de
qualquer traço menos sorridente de sua personalidade.
E é assim que Ivete quer que seja. Aprendeu muito rapidamente a usar os
meios de comunicação, alimentando-os somente com sua fatia mais
interessante, sua alegria, seu carisma. Para que, de frente para seu
sorriso, ninguém investigue suas sombras.
Em entrevista exclusiva à Folha, a cantora diz que seu principal desejo é
se tornar algo que realmente interfira na vida das pessoas. Tem conseguido,
e em grande escala. Mas garante que não fica deslumbrada com as multidões
que conquista.
"Não sinto nem quero sentir o [deslumbramento] que artista sente", diz.
"Não interessa se são 2 ou 3 milhões [de fãs]. O importante é que cada um
que foi alcançado se sinta bem com aquilo junto comigo."
A pergunta que mais tem sido feita a ela nos últimos anos diz respeito
àquela equação, tão comum no mundo pop, que considera o tamanho do sucesso
de uma obra inversamente proporcional ao da sanidade do respectivo artista.
Ivete garante que nunca caiu nessa.
"Quando comecei a fazer música, minha piração foi canalizada para um
objetivo que me desse mais frutos do que essa viagem pessoal do tipo "eu sou
foda, eu me amo'", diz.
De sua relação com a imprensa, teme apenas a velocidade com que a
informação é levantada e esquecida. "Quando alguém fica chateado com uma
notícia que saiu sobre ele, digo que notícia ruim as pessoas esquecem logo.
Só que também esquecem a notícia boa, aí é que está", constata. "Então, é
bom fabricar coisas boas o tempo todo. E deixar as ruins passarem."
Para que notícias boas sejam fabricadas o tempo todo, Ivete não para de
trabalhar. Os dados oficiais dão conta de que, desde que deixou a Banda Eva
e partiu para a carreira solo, há dez anos, já vendeu mais de 5 milhões de
discos. Mesmo grávida, pretende seguir com seus compromissos até dois meses
antes do parto, em outubro.
Gado e avião
Sua agenda agora é mais tranquila. Faz entre dez e 12 shows mensais,
contra os quase 30 do passado (sim, ela fazia um por dia). Seus cachês, em
compensação, são os únicos do país comparáveis aos de Roberto Carlos
-podendo chegar aos R$ 500 mil por um único show.
Investe todo esse dinheiro em ações, empreendimentos imobiliários, gado e
na manutenção de seu avião, um Citation 4, com capacidade para oito pessoas.
"Não sou muito consumista nem tenho essa coisa de mulher que vai na loja e
pira em dez bolsas de grife", brinca. "Gasto mesmo é comprando disco e
instrumentos."
Sua empresa, a Caco de Telha, se expandiu rapidamente.
Além de cuidar de sua estrela principal, vende shows de outros artistas,
promove festas corporativas, organiza bailes de formatura e produz discos.
Só em Salvador, o escritório conta com mais de cem funcionários.
Ivete é a cantora que mais ganha dinheiro no país. Talvez mais por isso
do que por música, ela tem sido fonte de inspiração para outras mulheres,
algumas das quais chegam à beira de cloná-la. Com seu sorriso
intransponível, Ivete fala do assunto sem citar nomes.
"Se sou mencionada no timbre da voz ou a cada gesto de alguém, significa
que virei referência. E isso é muito bom para mim", diz. E garante que não
teme a concorrência: "Lembro da aula de biologia em que aprendi uma coisa
chamada permeabilidade seletiva. Está tudo ali no líquido. A esponjinha só
absorve o que ela quiser, o que ela precisa. É assim que eu vejo o público.
Ele sabe o que precisa absorver".
O jornalista MARCUS
PRETO viajou a convite da Universal Music
PODE ENTRAR
Artista: Ivete Sangalo
Distribuidora: Universal; R$ 32,90 (CD) e R$ 39,90 (DVD)
Classificação: não informada
Frases
Não quero ninguém atrás de mim com
uvas dizendo como sou maravilhosa
IVETE SANGALO, cantora
"Não sou muito consumista nem
tenho essa coisa de mulher que vai na loja e pira em dez bolsas de grife.
Gasto mesmo é comprando disco e instrumentos"
"A esponjinha só absorve o que ela quiser. É assim que eu vejo o público"
IDEM
(©
Folha de S. Paulo)
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