Cantor e
compositor Maciel Melo festeja um quarto de século de forró autêntico
José Teles
Maciel Melo, sem
dúvida, o mais festejado compositor de uma geração de forrozeiros que
renovou o gênero, completa 25 anos de carreira com mais um disco, Sem ouro e
sem mágoa. A apresentação, capa dupla, encarte luxuoso, é o que mais
diferencia o CD da grande maioria dos lançamentos congêneres: “O forró ainda
sofre preconceito, por ser a música feita pelo povo. É mais ou menos como o
brega. Se José Augusto grava é brega, mas se Caetano Veloso grava vira MPB.
Então a gente tem que parar com este negócio de produto barato. Neste disco
tentei o melhor que pude, e nem fui procurar lei de incentivo, essas coisas.
Banquei do meu bolso, e depois saí em busca de apoio, mas já com um produto
de qualidade na mão”, conta Maciel Melo.
Ele sabe que
o CD chegará às lojas custando bem mais do que grande parte dos lançamentos
concorrentes: “O forró só será visto com outro olhos, se fizermos assim, até
porque agora, que está na moda, todo dia aparece forrozeiro. Todo mundo pode
gravar disco em casa num computador. Enquanto um trabalho como este custa
uns R$ 25, vem outro cara e bota para vender a R$ 5. Não se pode também
competir com estas bandas. Algumas delas mandam produzir 200 mil discos,
colocam numa capa-envelope e distribuem de graça”, critica o autor de
Caboclo sonhador, confessando que chegou a cogitar de nem gravar este ano:
“As gravadoras estão fechando, lojas atualmente são muito poucas.
Sinceramente, é melhor colocar as músicas gratuitamente na internet. Não
tenho ilusão, sei que o CD está acabando, mas quis deixar um registro
decente para marcar meus 25 anos de carreira”, comenta Maciel Melo que,
repetindo o que fez quando gravou o álbum de estréia, trouxe vários
convidados especiais para Sem ouro e sem mágoa. Entre outros, Geraldo
Azevedo, Xangai, Geraldo Maia, Josildo Sá, Spok, Naná Vasconcelos, e
Silvério Pessoa.
Desafio das
léguas, foi o marco inicial da carreira do pernambucano de Iguaraci, no
Sertão do Pajeú – um LP feito na raça. Primeiro foi prensado o disco, depois
ele peregrinou para conseguir a capa. Sua estréia contou com participações
de Dominguinhos, Décio Marques e Vital Farias. Não aconteceu, mas levou
muita gente a apostar em Maciel Melo, que poderia ter engordado a conta
bancária quando foi contratado pela SomZoom, de Fortaleza, onde o empresário
Emanoel Gurgel forjou a fuleiragem music. Ele poderia ter composto por
encomenda para as bandas que teimam em dizer que fazem forró, mas foi
consagrado por dois sucessos, tocados de Norte a Sul, Caboclo sonhador e Que
nem vem-vem (gravadas por vários artistas, entre estes Fagner e Elba
Ramalho).
Como quase
todo músico nordestino, Maciel Melo já tentou a sorte no Sudeste. Morou
algum tempo em São Paulo (onde o banzo o levou a compor sua música mais
conhecida, a citada Caboclo sonhador). “Antigamente, para acontecer,
precisava ir lá, isto não é mais necessário. Hoje sou conhecido no Brasil
inteiro, sem aparecer no Faustão. Também não tenho interesse em ir para a
Europa nos meses em que mais acontecem festivais por lá, em junho e julho
que, para nós, é o período em que a gente mais fatura”.
Embora seja
membro da Sociedade dos Forrozeiros Pé-de-Serra e Ai e tenha bom
relacionamento com os que querem o forró acompanhado pelo tradicional tripé,
sanfona, triângulo e zabumba, Maciel Melo não dispensa instrumentos
elétricos (o que Luiz Gonzaga fazia no início dos anos 70), e tem a internet
como aliado mais forte para divulgar seu trabalho: “De uns dois anos para cá
tenho usado muito internet, tem várias comunidades de admiradores meus.
Então vou ao orkut e digo que estou com uma música nova, a notícia circula
rapidinho. Tem um amigo meu, em Pesqueira, Jajá, para quem eu mando a música
e ele divulga para 150 emissoras AM. As FM não me interessam porque não
tocam sem jabá. Fiz um show em Teresina, nunca tinha ido lá, estava até
temeroso. Bombou, vendi todos os CDs e DVD que levei. O pessoal conhecia o
meu trabalho pela internet”.
Variações do forró são
exploradas em ótimos 65 minutos
Se Maciel Melo foi divisor de águas no forró, nos anos 90, com melodias
engenhosas, às vezes duas, três, em uma mesma canção, e novas temáticas para
as letras, neste trabalho ele volta a inovar, empregando músicos da
Spokfrevo Orquestra, com baixo, guitarra, e o tripé básico do forró:
zabumba, triângulo, sanfona. O CD contém parte do disco acústico, de
cantoria, que Maciel pretendia lançar (e chegou a gravar), com canções mais
recentes. De certa forma, ele está levando o gênero à mesma mudança que
empreendeu Spok e sua orquestra com o frevo. Aqui, o forró se presta à
dança, mas também é música que pode ser apresentada em um teatro, com a
platéia apreciando da poltrona. É assim que acontece com Pelos cantos da
casa (dele e Xico Bizerra) , que abre o repertório do álbum.
A sanfona de
Genaro está presente na música inteira, mas ela é iniciada com Ananias
Junior solando na guitarra, sem que isto descaracterize o arrasta-pé. Aliás,
Genaro é um sanfoneiro que extrai timbres do instrumento como só os grandes
músicos conseguem. É o que ele faz no xote É só triscar que sai faísca. Este
é um dos poucos discos no qual o termo forró é bem aplicado, já que os
forrozeiros atuais, com honrosas exceções, insistem em compor e cantar só
xotes (com letras de um romantismo repetitivo). No disco de Maciel Melo tem
quase todos os ritmos embutidos no coletivo forró (com um forte tempero de
cantoria de viola). Algumas faixas já nascem clássicas, são os casos do
baião Roubando a cena, que ele canta com Josildo Sá, ou a toada Bolero de
Isabel (Jessier Quirino), um dueto com Silvério Pessoa. Um disco com 17
faixas, mas que não cansa em momento algum em seus 65 minutos de ótima
música.
Pout porri Mulher de mané amaro, Coco do
M, Meu Pião (Deo do Baião / Zé do Brejo e Jacinto Silva / Zé do Norte)
Participação especial de Silvério Pessoa - DVD Isso Vale um Abraço
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