Foto: Ranulpho Galeria de Arte
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Jovens chorando com bandeira.
Óleo sobre tela colada em eucatex,
1985, medindo 30x40cm.
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Em memória
dos 80 anos de nascimento do pintor Wellington Virgolino, o seu irmão,
Wilton de Souza, que
também é artista plástico, lança livro sobre a trajetória do
"cangaceiro
das flores"
Eugênia Bezerra
ebezerra@jc.com.brCom seu
colorido marcante, a simplicidade das formas e o lirismo impresso em seus
personagens a obra de Wellington Virgolino (1929 – 1988) entrou para a
história da arte brasileira, dosando influências populares e modernistas ao
configurar um estilo próprio. A trajetória pessoal e artística deste pintor
pernambucano pode ser encontrada no livro Virgolino, o cangaceiro das
flores, escrito pelo seu irmão, o escritor, gravador e desenhista Wilton
Souza. O seu lançamento marcou o
início das homenagens aos 80 anos do pintor (que seriam completados em
setembro deste ano).
A publicação
é um desdobramento de um ensaio escrito por Wilton de Souza, O cangaceiro
das flores, que foi premiado pelo 45º Salão de Artes Plásticas de
Pernambuco. O livro, por sua vez, tem apoio do Fundo Pernambucano de
Incentivo à Cultura (Funcultura). “Wellington era mais velho do que eu
quatro anos, acho que aprendi a desenhar com ele. Estávamos sempre juntos,
acompanhei toda a trajetória artística dele. Fui convidado pela direção do
Museu do Estado de Pernambuco para escrever um texto de apresentação da
exposição que ele participou em 86, uma retrospectiva durante o 44º Salão de
Artes Plásticas de Pernambuco, que terminou sendo sua última mostra. Quando
ele faleceu em 1988, comecei a fazer uma anotações sobre ele e a pesquisa
terminou nessa brincandeira que estou publicando agora”, resume Wilton
Souza, que planeja realizar mais ações este ano. Entre as ideias estão outra
publicação e uma exposição retrospectiva.
Para fazer o
livro, ele pesquisou em seus arquivos, nos escritos deixados pelo irmão e em
análises e comentários de escritores, poetas e críticos como Walmir Ayala,
Gilberto Freyre, Frederico Morais, Jacob Klintowitz, Ladjane Bandeira, João
Câmara, Celso Marconi e Hermilo Borba Filho. O resultado está nas cerca de
150 páginas com informações sobre as fases da carreira dele, exposições
marcantes e reproduções de suas obras e trechos de catálogos – além de
depoimentos de críticos e artistas plásticos.
O prefácio é
assinado pelo pintor e escritor Marcos Cordeiro e o título foi escolhido
graças a uma alcunha dada pelo jornalista Ronildo Maia Leite em artigos para
o Jornal do Commercio (“cangaceiro das flores” brinca com a junção do nome
do pintor e a poesia de sua pintura).
O autor
afirmou que “queria apresentar (Virgolino) como ele realmente foi, um
artista que personalizou sua forma de pintar e procurou em sua última fase
memorizar tudo o que foi a infância dele”. Wilton recorda da época em que o
irmão criava seus próprios brinquedos, “revólveres com balas de feijão ou de
milho, flechas, espadas de madeira, que não feriam, não destruíam, não
matavam”, e outros inventos que mais tarde surgiram em suas telas.
Ao detalhar
momentos assim, ele dá ao livro uma ar quase autobiográfico, como no
seguinte trecho: “Tive o privilégio de ter sido seu companheiro e irmão de
arte, a quem sempre reconheci como mestre, tendo-o tão perto e, em todos os
momentos, vivenciei as mesmas emoções, as mesmas alegrias e algumas
decepções, quando geralmente Wellington achava soluções das mais criativas
para superá-las. Era brincalhão, alegre e agia com diplomacia em todos os
momentos de sua vida”.
Também há
espaço para as palavras do próprio Virgolino, com uma entrevista concedida
ao jornalista e poeta Alberto Cunha Melo (publicada neste JC, em 1983), no
qual ele apresenta uma “receita” para os artistas serem selecionados nos
salões oficiais. Assim, de certa maneira, o livro também registra uma
geração de artistas, por retratar parte da própria história da arte entre os
anos 20 e 80 do século passado.