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Embolada vai no ritmo do mundo contemporâneo

10/06/2009

 

 

Fotos: Divulgação

 
Caju e Castanha mantêm oito programas de rádio e um de TV na Grande São Paulo e são divulgadores da música do Nordeste

José Teles
teles@jc.com.br
Áudio
» O relógio
» O patrão e o puxa saco

 

Há 35 anos, no tempo em que a Praça da República, no coração do Recife, era palco para coquistas, vendedores de folhetos e repentistas, a maior atração do local, não apenas pelo talento, mas pela idade, sete e nove anos, eram os irmãos José Albertino da Silva e José Roberto da Silva. Logo ficaram conhecidos como Caju e Castanha, garotos pobres, nascidos em Matriz da Luz, distrito São Lourenço da Mata, que começaram a cantar embolada para ajudar nas despesas de casa. José Albertino, dois anos mais velho do que José Roberto, faleceu em 2001, vítima de um câncer. O sobrinho Ricardo Alves da Silva, ou Cajuzinho continuou a dupla com o tio Castanha.

Os dois estão lançando mais um disco (onze com Caju, e nove com o sobrinho), Sorria você está sendo filmado, que sai por um pequeno selo paulistano, o Nanny CDs. “Na verdade, o Nanny é mais um distribuidor do nosso disco. Atualmente, a maioria dos artistas produz seus próprios discos e repassa para alguma empresa fazer a distribuição,” diz Castanha, em entrevista por telefone, de São Paulo, onde mora há 22 anos.

Pouco nele lembra o garotinho tímido que aos dez anos foi personagem (com Caju, então com 12 anos) do celebrado documentário Cordel, repente, canção, de Tânia Quaresma. Castanha não é só um embolador, mas um pequeno e próspero empresário na área de comunicação. Mantêm oito programas de rádio na Grande São Paulo, um programa de TV no canal NGT (transmitido em UHF) e um bem aparelhado estúdio. Os dois irmãos, quando chegaram na capital paulista, dormiram até embaixo de viaduto. Hoje moram no luxuoso bairro de Higienópolis. “Mas pelo amor de Deus não vá escrever que estou rico não, porque senão vai chover telefonema. Digamos que estou remediado”, brinca Castanha.

Na capa do CD ele e Cajuzinho aparecem sorridentes, com mais jeito de pagodeiros do que de emboladores. “Estamos bonitos que só dois tatus”, diz Castanha. O repertório do disco também tem pouco do que Castanha cantou com Caju durante oito anos nas praças públicas do Grande Recife. As emboladas ainda são o forte da dupla, mas agora ela canta também vaneirões, xotes, e outros ritmos dançantes. “Eu chamaria de embolada de forró, ou embolada urbanizada. Quando viemos para o Sul a gente cantava só com o pandeiro, mas quando começaram os shows profissionais, em clubes, TV, o contratador não quer só pandeiro, porque o público quer dançar. Mas continuamos com o humor, o duplo sentido saudável, nada da baixaria destas bandas aí. Antigamente Caju e Castanha eram chamados para programas de TV, rádio, mas não era nada como hoje, que fazemos uma média de 16 shows por mês, mais aqui pelo Sul. De Pernambuco, é mais saudade da terra, porque de nordestino acho que aqui tem mais do que no Nordeste”, continua Castanha.

A plateia deles não é mais a de traseuntes de pracinhas e feiras públicas. A dupla, com banda, se apresenta muito nas casas de forrós espalhadas pela Grande São Paulo. “Mas dá também bastante rodeio, e aí precisa ter guitarra, bateria, baixo, sanfona, para animar o pessoal, o pandeiro e as nossas vozes não iam ser suficiente”, explica o embolador, que continua ganhando admiradores pela rapidez nas rimas: “Temos feito muita coisa com a turma do rap, Rapping Hood, Mano Brown. Zé Brown do Faces do Subúrbio foi convidado no programa da gente na TV. Eles consideram o embolador o pai do rapper”.

(© JC Online)


Dupla segue trilha de Gonzaga

Há quem vá achar que Caju e Castanha renegaram as origens para se tornarem comerciais (como se eles não tivessem começado na embolada para ganhar dinheiro). Há vários CDs, eles incorporam novos elementos à sua embolada. Porém, apesar de guitarras estridentes em O relógio, levada caribenha no CD Sorria você está sendo filmado, a embolada é atávica em Caju e Castanha. A maneira como dividem frase, o ritmo, seja lá qual for o gênero, ela está sempre presente, principalmente nos temas: O patrão e o puxa saco é um xote, Tome mão no pé do ouvido, um vaneirão, mas as letras são puras emboladas.

Há semelhanças entre o que Caju e Castanha estão fazendo hoje e o que Luiz Gonzaga fez no passado. Ambos não perderam o sotaque nordestino, e os ritmos que levaram consigo para o Sudeste foram incrementados com novas ferramentas. Gonzagão abre O fole roncou (Nelson Valença) com uma guitarra pesada. Neste CD, Caju & Castanha abrem a embolada A sogra boa e a sogra ruim da mesma forma. Com acompanhamento de guitarra e bateria, a embolada presta-se para ouvir e também para dançar.

Algo parecido aconteceu com os blueseiros do Sul dos EUA. Ao emigrarem para Chicago, não podiam mais ganhar a vida cantando apenas com um violão. Nos grandes clubes da cidade, só com guitarras e amplificadores. Assim surgiu o blues elétrico.

A embolada elétrica não é uma deturpação, por deixar de ter como acompanhamento apenas dois pandeiros, e sim uma evolução acontecida graças a uma necessidade, não apenas financeira, mas de continuar a fazer embolada numa metrópole. A dupla foi obrigada a se adaptar ao novo ambiente.(JT)

(© JC Online)


VÍDEO:

Caju e Castanha - DVD ao vivo no CTN - "Futebol No Inferno"

 

 

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