Projeto digitaliza mais de 2.500 itens do acervo do compositor, como
partituras e fotos
Táia Rocha
O baiano que cantou o mar em todos os tons vai ganhar uma homenagem
tamanho família hoje à noite. A partir das 19h, a Casa do Acervo, no Espaço
Tom Jobim do Jardim Botânico, recebe uma pequena amostra do acervo de obras
e itens pessoais que foram digitalizados desde 2008 pelo projeto Acervo
Digital Dorival Caymmi para o site do cantor e compositor.
A iniciativa é do Instituto Tom Jobim, que realizou o mesmo trabalho
detalhado de pesquisa e digitalização do acervo de Tom e, no início do ano,
dos documentos e projetos do arquiteto Lúcio Costa.
– O processo levou um ano e oito meses para se concretizar – conta
Gabriel Caymmi, neto de Dorival e designer responsável pela viabilização do
acervo online. – O público terá acesso a documentos como agendas pessoais,
fotos, partituras, desenhos, telas a óleo, fitas, discos e recortes de
jornais, entre outros.
O número de 2.500 itens que já foram digitalizados, no entanto, não vai
parar de crescer:
– Como vamos continuar pesquisando e o acervo é online, vamos atualizar
frequentemente e provavelmente esse número vai aumentar bastante – aposta o
neto.
Apesar de demorado, o processo de classificação e catalogação dos
guardados foi facilitado pelo compositor.
– Ele tinha uma secretária que organizava todo o seu acervo e o que era
publicado. E ainda pedia que separasse tudo com etiquetas por ano – conta
Danilo Caymmi, que estrelará com os irmãos Nana e Dori um show em homenagem
ao pai, às 20h30.
Raridades e telas
A faceta menos conhecida de Caymmi, como pintor e desenhista, será
abordada na mostra com seis pinturas a óleo e diversos desenhos e esboços.
– Pouca gente sabe, mas ele gostava tanto de pintar que houve uma época,
nos anos 50, em que chegou a pensar em largar a música pelas telas – conta
Danilo.
O público também poderá conferir raridades da carreira do cantor. Entre
os achados, a gravação original do sucesso Dora, em um vinil de 78 rotações.
– Outro item curioso é a partitura de João Valentão, que ele levou sete
anos para terminar. Essa história é até um pouco conhecida, mas de um jeito
meio torto. As pessoas pensam que ele demorou sete anos para compor mas, na
realidade, ele começou, parou em um certo ponto e com o tempo se esqueceu da
música. Sete anos depois, ele teve um insight e se lembrou de que tinha uma
música a finalizar – esclarece Gabriel. – Esse caso ajudou a criar o mito de
preguiçoso, mas foi esquecimento mesmo.
Longe do estereótipo, Caymmi soube levar a vida como só um bom
soteropolitano sabe: sem pressa. Com canções que traduzem perfeitamente a
capital baiana, tornou-se um dos mais importantes compositores da música
brasileira.
– Ele tem uma importância inquestionável em nossa cultura. Caymmi
inventou a Bahia para o Brasil e para o mundo – exalta Paulo Jobim,
presidente do Instituto Tom Jobim. – É muito importante que público conheça
ainda mais sua obra e sua vida.
O site www.dorivalcaymmi.com.br, que entra em funcionamento com o acervo
a partir de hoje, terá uma página voltada a pesquisadores, Acervo digital,
com descrições sobre os documentos, e uma área para fãs e curiosos, Site
biográfico, com itens como músicas e fotografias antigas.
Desde que Dorival Caymmi deixou a música popular brasileira menos doce,
em 16 de agosto de 2008, os filhos Danilo, Dori e Nana não subiam a um palco
juntos para cantar. O momento escolhido para o reencontro foi uma homenagem
na abertura da exposição do acervo digitalizado.
– Para nós o projeto tem um significado muito forte – afirma Danilo. –
Além de ser nosso pai, ele tem uma importância muito grande na construção da
cultura nacional. Hoje, é parte essencial da memória cultural brasileira.
Foi de Danilo, inclusive, a idéia de propor a Paulo Jobim, presidente do
Instituto Tom Jobim, a realização o projeto.
– Eu já tinha visto o resultado da exposição do Tom e fiquei muito
animado. Nosso projeto participou de uma seleção com outros cinco e
conseguimos o patrocínio para montá-la, ainda no fim dos anos 90 – lembra o
cantor.
No palco, os três vão lembrar sucessos inesquecíveis do repertório do
pai, contando com o piano de Cristovão Bastos, além do violão de Dori e a
flauta de Danilo.
O repertório foi dividido por estilos: Danilo entoa os sambas, Dori fica
com as canções sobre o mar e Nana empresta sua interpretação inconfundível a
canções de amor e baladas.
Entre os sambas, o público se deleita com de Acontece que eu sou baiano
até Milagre, passando por Vatapá, O que é que a baiana tem? e a pouco
conhecida Severo do pão. Entram também no repertório os sambas sacudidos,
como o compositor gostava de chamar: A vizinha do lado, O dengo e Requebre
que eu dou um doce; e os sambas com temáticas baianas, como Você já foi à
Bahia?, Saudade da Bahia e Trezentas e sessenta e cinco igrejas. Dori
entoará, entre outras, Promessa de pescador, O bem do mar e Morena do mar,
enquanto Nana apresenta Marina e Adeus, entre outras baladas.
– Em alguns momentos estaremos juntos, em outros, faremos interpretações
solo – explica Danilo. – Não vai haver grandes surpresas, mas o público pode
esperar muita emoção. É um evento muito importante para a obra do papai, e
hoje estaremos lá comemorando essa conquista em família.
Show e exposição reúnem Dori, Nana e
Danilo Caymmi
AE - Agencia Estado
RIO DE JANEIRO - Faz tempo que Nana, Danilo e Dori Caymmi não se
encontram num palco. Hoje à noite, os filhos de Dorival Caymmi cantarão
no Teatro Tom Jobim, no Jardim Botânico, no Rio, pela abertura da
exposição Caymmi Acervo Digital, na qual serão exibidos fotos, desenhos
e documentos do compositor baiano que o público nunca viu. Será, também,
uma homenagem póstuma ao pai - trata-se do primeiro show dos três depois
de sua morte, que faz um ano em agosto.
Nana ficará com os sambas-canções, como Só Louco, Não Tem
Solução e Nem Eu, que interpreta como ninguém. A Danilo, que também
tocará flauta, caberão os chamados 'sambas sacudidos' Acontece Que Eu
Sou Baiano, Vatapá e O Que É Que a Baiana Tem?; Dori,
ao violão, ficou com as canções praieiras: O Bem do Mar,
Morena do Mar, É Doce Morrer no Mar... No piano, estará
Cristovão Bastos, o parceiro de longa data de Nana. Ao fim, os três
irmãos cantam juntos.
É Danilo quem está supervisionando o trabalho, realizado já há um ano,
de digitalização do acervo musical de Caymmi, que será celebrado nesta
noite. O projeto, patrocinado pela Natura Musical, é tocado pelo
Instituto Antônio Carlos Jobim, que criou o portal www.jobim.com.br, no
qual é possível encontrar partituras, letras e fotografias, além de
notícias relacionadas à sua obra e à de Tom e dados biográficos
detalhados.
'A ideia é que seja nos mesmos moldes, para pesquisadores do mundo
inteiro poderem acessar. Foi uma escolha minha, até pela amizade das
duas famílias', conta Danilo. Estão sendo convertidos para mídias
digitais fitas, cartas, recortes de jornais e agendas de trabalho de
Caymmi, além de músicas, fotos e capas de discos. O público poderá ainda
ouvir suas composições. O instituto, que também trabalhou com os
guardados do arquiteto Lucio Costa, no momento se ocupa ainda do acervo
de Chico Buarque.
O show com Nana, Danilo e Dori Caymmi começa às 20h30 no Teatro Tom
Jobim (Rua Jardim Botânico, 1.008, no Jardim Botânico (ingressos R$ 50;
R$ 25 para estudantes e idosos). A exposição Caymmi Acervo Digital,
realizada no mesmo endereço, ficará aberta até o dia 12 de agosto, com
entrada franca, de segunda a sexta-feira das 10 às 17 horas. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.