O forró passa de pai
para filho
Cantor
Josildo Sá engrena parceria com o pai biológico, Agostinho do Acordeom, de
quem foi separado pouco tempo depois de nascer
José Teles
teles@jc.com.brA
apresentação que Josildo Sá faz hoje, com acesso gratuito, no Sítio da
Trindade terá para ele um sabor especial. Será o início de uma parceria com
o seu pai Agostinho do Acordeom, que deverá chegar ao disco no ano que vem.
O “especial” está no fato de que Agostinho é o pai biológico de Josildo, que
só soube que havia sido adotado aos onze anos. “Eu tinha uma semana de
nascido quando me entregaram a uma família de Tacaratu. minha cidade natal é
Floresta. Fui criado por seu Zé de Chiconé, hoje com 84, e Dona Inês, que já
faleceu. Era uma família bem conceituada, que me passou uma boa educação, e
minha formação musical deve muito ao lugar onde morei. Cresci na fazenda
Beldroega, onde se faziam bastante festas, e com muito samba de latada”,
conta Josildo. Ele deve sua adoção ao fato de o seu avô não admitir uma mãe
solteira em casa.
Agostinho do
Acordeom, por sua vez, tem uma história de meio século com o forró. Sua
vida, aliás, é daquelas que daria um bom folheto de feira. Filhos, ele teve
21. Passou 23 anos fora de Pernambuco. “Ele tocou naquelas casas de forró
todas de São Paulo, com forrozeiros famosos, feito Pedro Sertanejo, mas até
agora só gravou um LP e um CD”, diz Josildo Sá, que começou tocando com o
pai. “Agostinho aparecia para me visitar e fomos nos aproximando. Comecei a
acompanhar ele nos forrós, tocando triângulo. Foi minha iniciação em tocar
em público”.
Josildo acha
que esta reunião pai e filho, de certa forma, lembra o que aconteceu nos
anos 70 com Gonzagão e Gonzaguinha, que se reconciliaram naquela década e
passaram a viajar pelo País fazendo shows. “No repertório com canto com meu
pai tem várias músicas que Gonzagão e Gonzaguinha gravaram, como Vida de
viajante. É quase feito uma brincadeira, a gente vai tocando músicas bem
conhecidas, como Sala de reboco, Hora do adeus, e algumas do disco de sambas
de latada, feito Nega buliçosa”, diz Josildo.
Ele ainda não
sabe o que gravará com Agostinho do Acordeom: “Eu estou com tantos projetos
ao mesmo tempo, que tive até que deixar de lado um projeto de fazer um CD só
com composições de João Silva. Na frente, tem o DVD que gravei com Paulo
Moura, que foi um trabalho que me rendeu muitos frutos e ainda está
rendendo, tanto que continuo fazendo o show do disco de sambas de latada.
Como Paulo Moura é muito solicitado, e é difícil encontrar brecha na agenda
para a gente tocar juntos, quem está no clarinete comigo é Ozéas, um músico
muito bom, daqui mesmo”.
Outro projeto
que Josildo Sá tem engatilhado foi testado no Carnaval, e este é diferente
de tudo que já fez até agora: a Orquestra de Repente: “A resposta da platéia
foi muito positiva, para este projeto que faço com Zé Brown (Faces do
Subúrbio), em que entram o rap, o forró, o samba de latada, com um DJ. A
gente vai retomar a Orquestra de Repente, que deve render um disco também,
porque já entramos com o projeto na Prefeitura do Recife para captação de
recursos. Sou um cara que gosta de fazer parceria”.
As parcerias
vão ter que aguardar terminar o período junino. Josildo Sá tem 18 shows pela
frente. “Poderia até estar com mais, mas não dá para fazer tudo para sou
convidado. E nem é porque o corpo não aguente, estou com um filho
recém-nascido, e quero ficar mais tempo em casa”. Ele continuará tocando com
Agostinho do Acordeom ao longo das festividades de São João. “A gente vai
fazendo apresentações especiais um com o outro, mas cada qual viaja com seu
próprio show”.
Josildo
adotou de vez o gênero samba de latada, uma variação do samba, com um pé no
forró, cuja instrumentação é mistura de trio pé de serra com conjunto
regional. O show de Josildo Sá e Agostinho do Acordeom no Sítio da Trindade
começa às 23h. Pela manhã, às 10h, na Torre Malakoff, Josildo apresenta-se
na abertura oficial do São do João de Pernambuco.
(©
JC Online, 11.06.2009)