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Cartaz de A filha do advogado
(1926), de Jota Soares. |
História de Ugo
Falangola, publicitário italiano responsável pelo filme
Veneza americana, é resgatada no curta Janela molhada,
de Marcos Enrique Lopes
André Dib
Adriana Falangola Benjamin, de 90 anos, era a
estrela dos filmes do pai. Foto: Ines Campelo/DP/D.A Press |
Um dos pioneiros do cinema pernambucano está prestes a retornar às telas.
Trata-se de Ugo Falangola, jornalista
e publicitário italiano responsável pelo filme Veneza americana (1924), um
dos primeiros documentários realizados no estado. Essa história, repleta de
lacunas e mistérios será contada pelo curta-metragem Janela molhada, do
cineasta Marcos Enrique Lopes.
O título do filme, viabilizado pelo concurso de roteiros Rucker Vieira da
Fundação Joaquim Nabuco, faz referência ao processo químico de restauro
aplicado pela Cinemateca Brasileira em duas obras da Pernambuco-film,
produtora fundada no bairro de São José por Falangola e seu conterrâneo,
J.Cambieri: Veneza americana e Recife no centenário da Confederação do
Equador.
Farangola e Cambieri faziam parte do chamado cinema de "cavação", ou
naturalista, em que filmes eram rodados sob encomenda de políticos e
coronéis. O termo foi uma forma de desvalorizar essa prática cuja regra era
"cavar" oportunidades financeiras. "A diferença é que eles tiveram um apuro
técnico singular entre os documentários daquela época", diz a pesquisadora
pernambucana Luciana Corrêa de Araújo, que atua como consultora no curta de
Lopes. "Com a restauração, dá pra perceber a qualidade desses trabalhos".
A figura de J. Cambieri permanece um mistério a ser desvendado por
estudiosos desse obscuro período. Diferente de Falangola, cuja memória foi
preservada tanto pela família quanto pelas instituições que guardam o que
restou de seus filmes. Nascido em 1879, o patriarca desembarcou no Porto de
Santos em 1904. Ele veio ao Brasil como contratado do jornal La Setimanna
del Fanfulla, jornal de imigrantes italianos que circulava em São Paulo.
"Como ele veio parar no Recife, ele nunca contou", diz sua filha, Adriana
Falangola Benjamin, hoje com 90 anos. Dona Didi, como é conhecida, era a
estrela dos filmes do pai. Com apenas seis anos de idade, ela figurava de
vestido e laço na cabeça, em vinhetas que abriam e encerravam cada produção.
"Sabe aquele leão da Metro?", brinca Dona Didi, que recebeu a equipe de
filmagem na casa herdada pelo pai, no bairro da Torre.
A família descreve Ugo Falangola como intelectual da burguesia romana, o que
deve explicar a precisão técnica e a inclinação artística de seus
fotogramas. "Ele sabia filmar, enquadrar, expor. Fazia planos muito bonitos,
próprios de quem tem conhecimento técnico prévio. Mais ainda, ele soube
adaptar o olho a uma luz tropical, contrastada", diz o veterano Carlos
Ebert, fotógrafo do clássico do cinema marginal O bandido da luz vermelha e
que assina a direção de fotografia de Janela molhada.
Esse domínio técnico permitia a Falangola experimentar uma gama de cores
obtidas a partir de minerais diretamente aplicados na película de nitrato,
agora recuperadas pela Cinemateca. O processo de janela molhada é anterior a
esse, e consiste em banhar cada fotograma deteriorado numa solução que
preenche imperfeições e permite a passagem uniforme de luz pela película.
Inquieto, Falangola desistiu da carreira nocinema em prol da atividade
publicitária. Ainda em 1925, repassou o equipamento e a sede da
Pernambuco-film para a nascente Aurora-film, que nos meses seguintes
produziu Aitaré da praia, de Gentil Roiz e A filha do advogado, de Jota
Soares.
(©
Diário de Pernambuco)
Após 20 anos, o reconhecimento
Festival de cinema ambiental premia filme sobre massacre de índios
Braulio Lorentz,
CIDADE DE GOIÁS (GO)
Principal vencedor do 11º Festival de Cinema e Vídeo Ambiental (Fica), o
documentário pernambucano Corumbiara, dirigido por Vincent Carelli, demorou
mais de 20 anos para ser concebido. Na cerimônia realizada sábado em Goiás
(GO), o longa-metragem levou o Prêmio Cora Coralina, destinado à melhor
produção de todo o evento. Ele relata o massacre de índios na gleba
Corumbiara, no sul de Rondônia, durante a construção de uma estrada, em
1985.
– O público tem recebido o filme de uma maneira profunda e apaixonada –
conta o diretor Vicent Carelli, que abre espaço para análise das estratégias
indigenistas no Brasil. – Só o cinema pode resgatar um crime de genocídio
como esse e conseguir recuperar uma face oculta da história do Brasil.
Velhos pescadores
A estatueta de Melhor Longa ficou com o americano Uma mudança no mar, que
traz como tema a acidificação oceânica. O melhor curta foi o paulista Mar de
dentro. O diretor Paschoal Samora dedicou o prêmio "aos velhos e novos
pescadores que mantêm viva a pesca artesanal". O documentário A árvore da
música levou o Trófeu Imprensa ao ser eleito o melhor na opinião dos
jornalista que cobriram o festival. Ele traça um paralelo entre a extinção
do pau brasil e seu efeito na música. Arcos de qualidade são feitos a partir
desta espécie de madeira.
Ao abordar as vítimas do progresso industrial italiano, o estreante
Andrea di Nardo chamou a atenção por não expor personagens ou optar por um
caminho fácil. Arrakis foi escolhido o melhor média-metragem. Ao registrar
imagens dos fábricas, hoje abandonadas, e a voz do operário Silvestro
Capetti, submetido a uma laringectomia por causa de um tumor originado pela
exposição ao pó de amianto, chamou a atenção dos jurados.
– Queria que o público lidasse direto com a doença, mas o problema é
invisível, as consequências vêm só 15 a 20 anos depois – relata Di Nardo.
Como é comum no Fica, uma produção goiana recebeu a estatueta destinado
ao preferido do júri popular. Kalunga conta a história da comunidade
calunga. O maior quilombo remanescente brasileiro ainda espera a demarcação
definitiva.
Nas premiações destinadas aos filmes locais, os vencedores foram A
próxima mordida, sobre ataques de tubarões em Recife; e Ressiginificar,
sobre lixo tecnológico. Os homenageados da noite foram o professor e crítico
de cinema Ismail Xavier e o ambientalista Washington Novaes. Durante a
cerimônia, foram anunciados um edital do Governo de Goiás que distribuirá R$
400 mil para produção de cinco curtas locais e edições do Fica, ainda este
ano, em Goiânia, Campinas (SP), Canela (RS), São Paulo, Florianópolis,
Trancoso (BA), Cuiabá e Vitória.
(©
JB Online)
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