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Elenco de "A Farsa da
Boa Preguiça", de Suassuna
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Escrita em 1960, Farsa da Boa
Preguiça fala de casamento aberto, ócio criativo,
além de criticar a corrupção e a ganância
Ubiratan Brasil
Há uma preguiça de Deus, outra do diabo - feita a
distinção, que determina a primeira como ócio criativo e a segunda como
um dos sete vícios capitais, a peça Farsa da Boa Preguiça, que estreia
hoje no Sesc Vila Mariana, celebra a fidalga ociosidade do povo
brasileiro. Escrita por Ariano Suassuna em 1960, foi mal compreendida na
época, quando o autor foi acusado de encaminhar o povo brasileiro ao
conformismo.
"Os marxistas, principalmente, se incomodaram", conta Ariano. "O que não
é verdade, pois a Farsa festeja a cultura popular brasileira", completa
João das Neves, que dirige a montagem. Trata-se da
história de Joaquim Simão (Guilherme Piva), poeta de cordel que só pensa
em dormir, casado com Nevinha (Daniela Fontan), mulher religiosa. Eles
são assediados por Aderaldo Catacão (Ernani Moraes) e Clarabela (Bianca
Byington), que possuem um relacionamento aberto e vivem tentando o outro
casal a cair no pecado. Três demônios fazem de tudo para que eles se
rendam à tentação, enquanto dois santos tentam intervir. Jesus observa e
avalia tudo.
"Suassuna foi feliz, pois a peça mergulha nas raízes, no teatro medieval
brasileiro", comenta Neves, que incentivou o elenco a criar e manipular
mamulengos utilizados em cena. Buscou também inspiração no teatro de
cordel. "Isso facilitou nossas falas, pois a peça é inteiramente em
forma de versos", conta Bianca Byington. "João criou um grande
caldeirão, que permitiu ao elenco se familiarizar com o texto."
Os atores, aliás, se surpreenderam com a modernidade da trama. "Afinal,
fala de casamento aberto e do ócio criativo, além de criticar a
corrupção e a ganância", observou Guilherme Piva. "É uma espécie de
vaudeville moderno."
Serviço
Farsa da Boa Preguiça. 120 min. Livre. Sesc Vila Mariana (608 lug.). R.
Pelotas, 141, telefone 5080-3000. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 5 a
R$ 20. Até 19/7
(©
Estadão)
"Farsa" de Suassuna é montada em SP
João das Neves, cofundador do Grupo
Opinião, dirige a encenação da peça "A Farsa da Boa Preguiça"
DA REPORTAGEM LOCAL
O homem brasileiro, em suas várias máscaras, nunca sai de cena no teatro
do diretor e dramaturgo João das Neves, 75, nome à frente da montagem de "A
Farsa da Boa Preguiça" que estreia em São Paulo hoje, depois de boa acolhida
no Rio.
No Grupo Opinião, ícone da resistência à ditadura militar que Neves
ajudou a fundar, o protagonista era o sujeito às voltas com a repressão. No
fim da década de 80, o diretor encenou a vida e morte de Chico Mendes e,
pouco depois, a história dos índios Kaxinawá. Em 92, visitou o sertanejo
melancólico de "Primeiras Estórias", e, três anos atrás, em "Besouro Cordão
de Ouro", o universo da capoeira e suas raízes africanas.
Agora, Neves chega ao nordestino folgazão de Ariano Suassuna. "Tento
refletir esse cadinho de possibilidades culturais que é o Brasil. Mas sei
que apenas toquei a ponta do iceberg", diz.
Na peça, Joaquim Simão é um poeta de cordel que, refestelado em sua rede,
brande a bandeira do ócio criativo.
Sua mulher, Nevinha, desperta o
interesse do workaholic Aderaldo, que mantém um casamento aberto com
Clarabela -esta, de olho em Simão. A montagem lança mão de mamulengos para
multiplicar os personagens e reverenciar a fonte da história de Suassuna.
(LUCAS NEVES)
A FARSA DA BOA PREGUIÇA
Quando: estreia hoje; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 19/7
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: R$ 20
Classificação: livre
(©
Folha de S. Paulo)
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