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O vaudeville moderno de Ariano Suassuna

30/06/2009

 

 

Elenco de "A Farsa da Boa Preguiça", de Suassuna
 
Escrita em 1960, Farsa da Boa Preguiça fala de casamento aberto, ócio criativo, além de criticar a corrupção e a ganância

Ubiratan Brasil

Há uma preguiça de Deus, outra do diabo - feita a distinção, que determina a primeira como ócio criativo e a segunda como um dos sete vícios capitais, a peça Farsa da Boa Preguiça, que estreia hoje no Sesc Vila Mariana, celebra a fidalga ociosidade do povo brasileiro. Escrita por Ariano Suassuna em 1960, foi mal compreendida na época, quando o autor foi acusado de encaminhar o povo brasileiro ao conformismo.

"Os marxistas, principalmente, se incomodaram", conta Ariano. "O que não é verdade, pois a Farsa festeja a cultura popular brasileira", completa João das Neves, que dirige a montagem. Trata-se da história de Joaquim Simão (Guilherme Piva), poeta de cordel que só pensa em dormir, casado com Nevinha (Daniela Fontan), mulher religiosa. Eles são assediados por Aderaldo Catacão (Ernani Moraes) e Clarabela (Bianca Byington), que possuem um relacionamento aberto e vivem tentando o outro casal a cair no pecado. Três demônios fazem de tudo para que eles se rendam à tentação, enquanto dois santos tentam intervir. Jesus observa e avalia tudo.

"Suassuna foi feliz, pois a peça mergulha nas raízes, no teatro medieval brasileiro", comenta Neves, que incentivou o elenco a criar e manipular mamulengos utilizados em cena. Buscou também inspiração no teatro de cordel. "Isso facilitou nossas falas, pois a peça é inteiramente em forma de versos", conta Bianca Byington. "João criou um grande caldeirão, que permitiu ao elenco se familiarizar com o texto."

Os atores, aliás, se surpreenderam com a modernidade da trama. "Afinal, fala de casamento aberto e do ócio criativo, além de criticar a corrupção e a ganância", observou Guilherme Piva. "É uma espécie de vaudeville moderno."

Serviço
Farsa da Boa Preguiça. 120 min. Livre. Sesc Vila Mariana (608 lug.). R. Pelotas, 141, telefone 5080-3000. 6.ª e sáb., 21 h; dom., 18 h. R$ 5 a R$ 20. Até 19/7

(© Estadão)


"Farsa" de Suassuna é montada em SP

João das Neves, cofundador do Grupo Opinião, dirige a encenação da peça "A Farsa da Boa Preguiça"

DA REPORTAGEM LOCAL

O homem brasileiro, em suas várias máscaras, nunca sai de cena no teatro do diretor e dramaturgo João das Neves, 75, nome à frente da montagem de "A Farsa da Boa Preguiça" que estreia em São Paulo hoje, depois de boa acolhida no Rio.

No Grupo Opinião, ícone da resistência à ditadura militar que Neves ajudou a fundar, o protagonista era o sujeito às voltas com a repressão. No fim da década de 80, o diretor encenou a vida e morte de Chico Mendes e, pouco depois, a história dos índios Kaxinawá. Em 92, visitou o sertanejo melancólico de "Primeiras Estórias", e, três anos atrás, em "Besouro Cordão de Ouro", o universo da capoeira e suas raízes africanas.

Agora, Neves chega ao nordestino folgazão de Ariano Suassuna. "Tento refletir esse cadinho de possibilidades culturais que é o Brasil. Mas sei que apenas toquei a ponta do iceberg", diz.

Na peça, Joaquim Simão é um poeta de cordel que, refestelado em sua rede, brande a bandeira do ócio criativo.

Sua mulher, Nevinha, desperta o interesse do workaholic Aderaldo, que mantém um casamento aberto com Clarabela -esta, de olho em Simão. A montagem lança mão de mamulengos para multiplicar os personagens e reverenciar a fonte da história de Suassuna. (LUCAS NEVES)

A FARSA DA BOA PREGUIÇA

Quando: estreia hoje; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 18h; até 19/7
Onde: Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel. 0/xx/11/5080-3000)
Quanto: R$ 20
Classificação: livre

(© Folha de S. Paulo)


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