Pintora pernambucana
ganha hoje, na galeria Rodrigues, mostra individual carregada por um imaginário
nordestino
Olívia Mindêlo
oliviamindelo@jc.com.br
O século 20 foi para Pernambuco o século da pintura. Grandes nomes nasceram e
produziram aqui nesse período – Vicente do Rego Monteiro, Cícero Dias, João
Câmara, só para citar alguns medalhões. A pintora Lenira Regueira é uma cria da
época e, apesar de ter começado tarde a praticar a arte dos pincéis (na década
de 60, com quase 50 anos,), possui uma produção sólida, sintonizada com a
vocação local. Aluna de Murillo la Greca, Lula Cardoso Ayres e do catalão
Queralt Prat, a quem credita o seu maior aprendizado, ela comemora 90 anos no
próximo mês, em plena atividade. Apesar de preferir evitar o assunto, a
Rodrigues Galeria de Arte, com a qual trabalha há quase três décadas, no
Torreão, inaugura hoje, às 20h, uma exposição inteira dedicada às suas telas.
“Pintar é viver”, disse ontem a artista, angustiada por estar há 15 dias
ausente de seu ateliê, cuidando da produção dessa individual. “Mas a gente tem
que mostrar o que faz, não é?”, continuou a pintora, em conversa tão agradável e
simpática quanto suas obras. A expo contempla 30 de seus quadros, de diferentes
tamanhos e períodos. Quanto ao estilo, ela se mantém fiel ao caminho pelo qual
enveredou há mais de 20 anos: “o do folclore”. Em outras palavras, o do universo
da cultura popular nordestina, caro não só ao seu imaginário de pernambucana,
como também ao trabalho de inúmeros artistas brasileiros, nordestinos,
preocupados na busca e valorização da tal brasilidade.
No entanto, até mais do que o tema, é a forma que a torna uma artista
peculiar: é delicada no traço e colorida na imaginação. Não por acaso a
exposição chama-se O imaginário lírico de Lenira. Suas figuras, sejam brincantes
de roda ou meninas solitárias, carregam uma aura de simplicidade e inocência de
criança. E não é à toa: ela nasceu e foi criada em Serinhaém, no Litoral Sul,
vindo posteriormente morar no Recife, onde estudou na Escola de Belas Artes da
Universidade Federal de Pernambuco.
“Eu estudei na escola, mas fui aprender mesmo a pintar com Queralt, grande
artista e meu amigo”, contou. “Fui influenciada por ele nas cores, mas a
temática é diferente. Ele é mais surrealista, gosta das figuras flutuantes. Eu
não, quero ver tudo no chão”, revelou a pintora, que no ano passado dividiu as
salas da Rodrigues com o mestre de Barcelona. Na individual que abre hoje na
galeria, o visitante confere esses pontos de encontro num conjunto de obras
(óleo/eucatex sobre tela) que passeia tanto por paisagens bucólicas
pernambucanas quanto por manifestações populares. O Carnaval, o maracatu, o
bumba-meu-boi. As brincadeiras de roda do interior, o circo. Tudo isso povoa o
mundo lírico de Lenira Regueira, cuja obra agrada tanto colecionadores de arte
quanto o olhar singelo do apreciador comum.
Para os convidados que forem hoje ao vernissagem, a galeria Rodrigues sorteia
um quadro da pintora.
» O imaginário lírico de Lenira, abertura hoje, às 20h, na Rodrigues
Galeria de Arte – Av. Othon Paraíso, 430, Torreão. Visitação: segunda a sexta,
de 10h às 12h, e 14h às 18h. Sábados, 9h30 às 15h. Informações: 3241-3358.