Quando se fala em Grupo Corpo, companhia de dança fundada em 1975 em Belo Horizonte, é impossível não lembrar do universo brejeiro e multicolorido dos folguedos populares. Pois a alegria e a sensualidade que são marcas registradas do grupo liderado por Rodrigo Pederneiras ficaram de lado na nova coreografia - "Breu" - criada a partir da trilha sonora composta pelo pernambucano Lenine. Nos 40 minutos de espetáculo, o Grupo Corpo vai falar da violência dos dias atuais.
Para tanto, o palco reveste-se de preto no cenário criado Paulo Pederneiras. Linóleo negro recobre o chão, enquanto as paredes são forradas de 1800 placas de fibra de vidro negras e brilhantes. O brilho e a geometria inspiram os figurinos criados por Freusa Zechmeister. Malhas inteiriças em branco o preto dividem ao meio o corpo dos bailarinos: na frente, estampas geométricas variadas, enquanto as costas estão totalmente cobertas de preto.
Do breu, a primeira imagem que toma forma é de devastação. Tombados no chão, os corpos dos bailarinos estão inertes. À inércia inicial será seguida de uma virulenta, angulosa e demolidora partitura de movimentos. A cena divide-se entre a brutalidade do agressor e o suplício da vítima. Quedas bruscas e a dificuldade em se reerguer condenam os corpos ao chão, onde para se mover é necessário usar a pélvis, os pulsos, os cotovelos, os joelhos, os tornozelos e os calcanhares.
Quando Rodrigo Pederneiras convidou Lenine para compor a trilha, há cerca de dois anos, fez apenas duas recomendações. A primeira foi: "Eu preciso de 40 a 50 minutos de trilha". E, a segunda: "Divirta-se". O instrumentista, cantor e compositor pernambucano teve total liberdade para criar, em seis meses, a música de "Breu", que levou Rodrigo Pederneiras a eleger como tema do balé a violência e a barbárie dos dias atuais.
Com um pé na tradição musical do Nordeste brasileiro e outro na modernidade, a música criada por Lenine combina timbres, samplers, efeitos, citações e estilos, na construção de uma babel sonora, concebida como uma peça única, de oito movimentos, onde têm lugar o caboclinho e o hard rock; o corne inglês e o derbak (instrumento árabe de percussão); a bateria do ex-Sepultura Iggor Cavalera e a flauta medieval francesa occitane de Claude Sicre, líder do grupo Fabulous Trobadors, de Toulouse.
Lenine homenageia duas expressões da cultura musical de seu estado natal. Em "Briga de cachorro grande", faz alusão a um clássico dos ternos de pífanos imortalizado pela Banda de Pífanos de Caruaru, "A briga do cachorro com a onça". Em "Secular", o músico presta um tributo aos 100 anos de frevo, recheando o tema com excertos de frevos famosos. A faixa conta com participação da Spok Frevo Orquestra, do Recife, e tem a tradicional batida da caixa do frevo substituída pela bateria de Cavalera.
Grupo Corpo - Breu - De 1º. a 5 de agosto e de 8 a 12 de agosto (quarta, quinta, sexta e sábado, às 21h, domingo às 18h), no Teatro Alfa. Endereço: R. Bento Branco de Andrade Filho, 722 - Santo Amaro - 11.5693.4000. Preços: Setor 1: R$ 80,00 - Setor 2: R$ 80,00 - Setor 3: R$ 60,00 - Setor 4: R$ 30,00