"O dono do mar" estréia nesta sexta-feira em seis cidades.
Sarney esteve na pré-estréia do filme em São Paulo.
Estréia nesta sexta-feira (03), o filme “O dono do mar”,
adaptação do livro homônimo escrito pelo senador José Sarney
(PMDB-AP). Dirigido por Odoryco Mendes, o filme retrata a
vida do pescador Antão Cristório, vivido pelo ator Jackyson
Costa, no litoral maranhense, em uma mistura de fantasia e
realidade.
“Eu comecei a escrever um conto e me empolguei com a
história. Passei três anos pesquisando as histórias, a
linguagem e a vida dos pescadores”, explica Sarney, antes da
pré-estréia do filme, em São Paulo, que contou com a
presença do governador do estado, José Serra.
O filme vai estrear em 15 salas de cinema de quatro capitais
– São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador – Campinas
e Santos. Com um orçamento de R$ 500 mil para a
distribuição, “O dono do mar” não estreou antes para escapar
da concorrência das grandes produções americanas.
“Não adianta lançar ‘O dono do mar’ junto com
‘Homem-Aranha’. Todo mundo vai ver ‘Homem-Aranha’. A porrada
que o cinema enlatado dá no cinema nacional é muito grande”,
afirma Mendes, que fez o filme em 2001, mas só conseguiu
finalizar este ano.
Segundo o diretor, “os efeitos especiais levaram dois anos
para serem feitos e foram jogados fora várias vezes”,
ajudando o orçamento do filme a ficar em R$ 5 milhões. “Mas
eu queria que os efeitos tivessem a ver com o universo dos
pescadores.”
Mendes diz não temer possíveis críticas pelo fato de adaptar
um livro escrito por um político. “Sou filho de comunista.
Então me revesti de todo o preconceito na hora de ler. Mas é
difícil ler esse tipo de livro e não querer adaptar para o
cinema. E até esse preconceito ajuda a vender. O importante
é falar do filme.”
Isadora Ribeiro, que faz a personagem Maria das Águas, uma
prostituta que vive na aldeia dos pescadores, já tinha lido
outro livro de Sarney, “Saraminda”, e gostou do estilo
“Gabriel Garcia Márquez” de “O dono do mar”.
Mulher de Cristório no filme, seu primeiro trabalho no
cinema, Daniela Escobar disse que gostou do livro. “A gente
sempre desconfia dos presidentes. Mas li o livro e achei
muito bom, muito bem escrito.”
Pepita Rodriguez compartilha da opinião da companheira de
elenco. “Amei o texto, amei o livro. É um autor maravilhoso.
Fiquei emocionada. Me senti ignorante por não ter lido os
outros livros dele”, disse a mãe do ator Dado Dolabella, que
vive a feiticeira Geminiana no filme.
As três atrizes - e ainda Paula Franco e Regiane Alves,
que também estão no filme - protagonizam cenas de sexo com o
personagem Antão Cristório. Samara Felippo, que fez uma
pequena participação como Quertide, um amor do passado de
Cristório, também aparece em cenas picantes com o ator.
Após ver seu livro nas telas, Sarney deu seu veredicto sobre
a adaptação. "Fizeram um bom trabalho, mas a linguagem é
diferente."
(©
G1)
Brasileiro "O Dono do Mar"
mistura fantasia e realidade
SÃO PAULO (Reuters) - A cultura
maranhense ganha as telas do cinema no longa "O Dono do Mar", que estréia no
país na sexta-feira. Com roteiro baseado no romance homônimo do ex-presidente
José Sarney, o filme tem direção de Odorico Mendes e conta no elenco com Jackson
Costa ("O Vestido"), Daniela Escobar ("Jogo Subterrâneo") e Regiane Alves ("Zuzu
Angel").
Publicado em 1995 -- quinze
anos depois de Sarney ter entrado para a Academia Brasileira de Letras --, "O
Dono do Mar" é uma combinação entre realismo e fantasia, típica da literatura
latino-americana. Na tela do cinema, o diretor Odorico Mendes ressalta essa
característica, contando com o apoio da paisagem do litoral do Maranhão.
O personagem central é Antão
Cristório (Costa), um pescador que desde pequeno aprendeu a conhecer o mar e
suas armadilhas. Há alguns anos, perdeu seu filho Jerumenho, vítima da vingança
de um marido traído.
O pescador agora está sem
perspectiva de futuro. Ele tinha intenção de que seu filho assumisse o seu posto
tanto na pesca quanto como conhecedor dos segredos do mar. Sem se preocupar mais
com o futuro, Antão passa a viver de seu passado.
Recordando suas experiências no
mar, ele pensa nas pescarias, nas lendas sobre navios fantasmas e assombrações,
que sempre o fascinaram. Tudo isso torna-se a fuga do pescador de seu cotidiano
infeliz.
O primeiro grande amor do
personagem foi raptado por piocos, que são entidades míticas que moram nos
mangues. Esses seres sequestram virgens e as devolvem depois de se tornarem
mulheres. Antão passa a perseguir esses seres obsessivamente para vingar a sua
amada.
Tempos mais tarde, o pescador
se casa com Camborina (Daniela), depois de sequestrá-la da casa dos pais. Junto
com ela, leva a irmã da moça, Germana (Regiane). As duas são muito diferentes.
Enquanto uma é forte e decidida, a outra é frágil. No entanto, combinam em uma
coisa: passam a dividir o mesmo homem.
Para recriar as tradições da
cultura maranhense, o filme contou com consultoria de Zelinda Lima, uma
pesquisadora especialista no assunto. Já a trilha sonora foi composta pelo
renomado músico de vanguarda Gilberto Mendes.
(Por Alysson Oliveira, do
Cineweb)
(©
Reuters)
"O Dono do Mar" é adaptação constrangedora
da obra de Sarney
Universo de realismo mágico do romance
ganha tradução artificial, com estética próxima à de um comercial sobre as
belezas litorâneas maranhenses
CRÍTICO DA FOLHA
A os olhos de quem ainda lê, as adaptações
literárias para o cinema quase sempre são vistas como traições ou insuficientes.
Por mais que a narrativa seja um elemento comum às duas artes, a literatura
oferece no texto um estímulo à imaginação, enquanto o filme traduz palavras em
imagens e, desse modo, já limita parcialmente o esforço de imaginar.
Quando se trata de um texto cuja maior riqueza
consiste na mistura do realismo com o imaginário, sua tradução para o cinema
quase nunca é feliz. É o caso, por exemplo, das tentativas sempre frustradas do
experiente Ruy Guerra com suas adaptações da obra de Gabriel García Márquez.
A infelicidade se repete, em escala ampliada,
na versão que Odorico Mendes realizou de "O Dono do Mar", romance de José
Sarney.
O que Sarney propõe ao se aventurar no
universo do realismo mágico ganha, no filme, uma imagem constrangedora de
efeitos especiais computadorizados. De resto, todo o percurso existencial do
pescador Cristório, suas paixões profundas pelas mulheres e pelo mar,
transformam-se em cartões-postais de cenários turísticos e em cenas sensuais de
gosto um tanto duvidoso.
A subserviência ao texto faz mal ao cinema de
Odorico Mendes. Em vez de buscar ver com olhos de cineasta e reconstituir o
poético com suas próprias ferramentas, o diretor se perde numa busca por uma
beleza sem nuances, uma estética pronta que se crê bem-sucedida apenas na bem
cuidada fotografia de Fabio Cabral.
Da sensação geral de artificialidade só escapa
o trabalho de Jackyson Costa, ator que aproveita a oportunidade como
protagonista para dar intensidade a um personagem ao mesmo tempo físico e
psicológico.
Já do grupo de atrizes, pouca coisa se exige
em cena além de exibir a sensualidade de suas curvas. A impressão do conjunto é
a de um comercial sobre as belezas do litoral maranhense, uma propaganda que
poderia ter lá seus encantos se não durasse quase duas horas.
(CSC)
O DONO DO MAR
Direção: Odorico Mendes
Produção: Brasil, 2005
Com: Jackyson Costa, Samara Felippo, Daniela Escobar e Pepita Rodriguez
Onde: em cartaz no Interlar Aricanduva, Anália Franco e circuito
Avaliação: ruim
(©
Folha de S. Paulo) |