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 "Tropicália" revive o Brasil dos anos 60

 

Hélio Oiticica, Delirium Ambulatorium (Mitos Vadios), 1978
 

Com ênfase nas artes plásticas, mostra no Rio vai além do movimento musical

Exposição no MAM-RJ traz 250 obras, capas de livros e discos, poemas-objeto, cartazes de cinema e vestidos da época

MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Depois de passar por Chicago, Londres, Berlim e Nova York, chega hoje ao Museu de Arte Moderna do Rio a mostra "Tropicália - Uma Revolução na Cultura Brasileira".

Não é apenas de uma exposição sobre o movimento musical de 1968 que teve Caetano Veloso e Gilberto Gil em sua linha de frente. Embora o tropicalismo, em sentido estrito, seja o mote da mostra, ela traz um significativo conjunto da arte brasileira que antecedeu e envolveu o movimento.

Na realidade, "Tropicália" é o nome de uma instalação do artista carioca Hélio Oiticica (1937-1980), exibida na mostra "Nova Objetividade Brasileira", em 1967, que serviu de título à célebre canção de Caetano Veloso. Ela poderá ser revista no MAM, atestando que muitas das questões que animaram o movimento musical já estavam sendo formuladas nas artes plásticas -assim como havia movimentações análogas em outras áreas.

É esse "espírito de época" que a exposição pretende mostrar, com cerca de 250 obras, das quais 20 não foram exibidas no exterior. Os trabalhos que se integraram à versão carioca são de nomes que, ao lado de Oiticica, formulador do conceito, participaram da "Nova Objetividade" -entre eles, Lygia Clark, Ivan Serpa, Antonio Dias e Rubens Gerchman.

A mostra, além de obras de arte, inclui cartazes de cinema, capas de discos e livros, roupas, projetos arquitetônicos e poemas-objeto. "Acho que a tropicália é mais um momento que um movimento", diz Christopher Dunn, um dos principais colaboradores do curador argentino Carlos Basualdo, responsável pelo projeto. "Não se pode entender o movimento musical sem suas ligações e sua convivência com as artes plásticas, o teatro e o cinema", diz Dunn, crítico, brasilianista e professor da Universidade Tulane, nos EUA.

Ele assina um texto do volumoso catálogo da mostra (Cosacnaify, R$ 120), que será lançado hoje, com ensaios de Celso Favaretto, Ivana Bentes e Hermano Vianna, entre outros, sob organização de Basualdo.

Embora criticada por alguns como um lance de marketing, a mostra, que recebeu críticas entusiasmadas no exterior, é uma oportunidade rara para um mergulho numa fase da cultura brasileira que tem merecido renovado reconhecimento internacional.

Embora o tropicalismo seja um movimento dos anos 60, ele se inscreve numa renovação do projeto modernista brasileiro que ganha corpo a partir da década de 50. Na música, na pintura, na arquitetura, no design, o Brasil viveu naqueles anos um momento de efervescência e felicidade criativa. Outras mostras em torno dessa produção, num leque que vai dos anos 50 aos 70, estão programadas para breve.

Mostra de 1967

Artistas que participaram da "Nova Objetividade", como Carlos Zilio, 62, e Nelson Leirner, 75, frisam a importância histórica da mostra de 67. "De certa forma, as experiências já marcantes da exposição "Opinião 65", que a antecedeu, desaguaram na "Nova Objetividade".

Não se pode esquecer que "Tropicália" gerou uma grande repercussão", diz Zilio. Zilio destaca a vontade de Oiticica em contar na mostra com a presença de nomes ligados à arte construtiva, da fase anterior, como o pintor Waldemar Cordeiro (1925-1973) e o poeta Ferreira Gullar.
"Houve uma integração", diz Leirner, um dos artistas do Grupo Rex, de São Paulo, em geral ligado às correntes de arte pop e aos happenings.

O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da organização da mostra

TROPICÁLIA - UMA REVOLUÇÃO NA CULTURA BRASILEIRA
Quando:
de ter. a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., das 12h às 19h; até 30/9
Onde: MAM-RJ (av. Infante D. Henrique, 85, Rio, tel. 0/xx/21/2240-4944)
Quanto: R$ 2 a R$ 5

(© Folha de S. Paulo)

 

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