Com ênfase nas artes plásticas, mostra no Rio vai além do movimento musical
Exposição no MAM-RJ traz 250 obras, capas de livros e discos, poemas-objeto,
cartazes de cinema e vestidos da época
MARIO GIOIA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Depois de passar por Chicago, Londres, Berlim e Nova York, chega hoje ao Museu
de Arte Moderna do Rio a mostra "Tropicália - Uma Revolução na Cultura
Brasileira".
Não é apenas de uma exposição sobre o movimento musical de 1968 que teve
Caetano Veloso e Gilberto Gil em sua linha de frente. Embora o tropicalismo, em
sentido estrito, seja o mote da mostra, ela traz um significativo conjunto da
arte brasileira que antecedeu e envolveu o movimento.
Na realidade, "Tropicália" é o nome de uma instalação do artista carioca
Hélio Oiticica (1937-1980), exibida na mostra "Nova Objetividade Brasileira", em
1967, que serviu de título à célebre canção de Caetano Veloso. Ela poderá ser
revista no MAM, atestando que muitas das questões que animaram o movimento
musical já estavam sendo formuladas nas artes plásticas -assim como havia
movimentações análogas em outras áreas.
É esse "espírito de época" que a exposição pretende mostrar, com cerca de 250
obras, das quais 20 não foram exibidas no exterior. Os trabalhos que se
integraram à versão carioca são de nomes que, ao lado de Oiticica, formulador do
conceito, participaram da "Nova Objetividade" -entre eles, Lygia Clark, Ivan
Serpa, Antonio Dias e Rubens Gerchman.
A mostra, além de obras de arte, inclui cartazes de cinema, capas de discos e
livros, roupas, projetos arquitetônicos e poemas-objeto. "Acho que a tropicália
é mais um momento que um movimento", diz Christopher Dunn, um dos principais
colaboradores do curador argentino Carlos Basualdo, responsável pelo projeto.
"Não se pode entender o movimento musical sem suas ligações e sua convivência
com as artes plásticas, o teatro e o cinema", diz Dunn, crítico, brasilianista e
professor da Universidade Tulane, nos EUA.
Ele assina um texto do volumoso catálogo da mostra (Cosacnaify, R$ 120), que
será lançado hoje, com ensaios de Celso Favaretto, Ivana Bentes e Hermano
Vianna, entre outros, sob organização de Basualdo.
Embora criticada por alguns como um lance de marketing, a mostra, que recebeu
críticas entusiasmadas no exterior, é uma oportunidade rara para um mergulho
numa fase da cultura brasileira que tem merecido renovado reconhecimento
internacional.
Embora o tropicalismo seja um movimento dos anos 60, ele se inscreve numa
renovação do projeto modernista brasileiro que ganha corpo a partir da década de
50. Na música, na pintura, na arquitetura, no design, o Brasil viveu naqueles
anos um momento de efervescência e felicidade criativa. Outras mostras em torno
dessa produção, num leque que vai dos anos 50 aos 70, estão programadas para
breve.
Mostra de 1967
Artistas que participaram da "Nova Objetividade", como Carlos Zilio, 62, e
Nelson Leirner, 75, frisam a importância histórica da mostra de 67. "De certa
forma, as experiências já marcantes da exposição "Opinião 65", que a antecedeu,
desaguaram na "Nova Objetividade".
Não se pode esquecer que "Tropicália" gerou uma grande repercussão", diz
Zilio. Zilio destaca a vontade de Oiticica em contar na mostra com a presença de
nomes ligados à arte construtiva, da fase anterior, como o pintor Waldemar
Cordeiro (1925-1973) e o poeta Ferreira Gullar.
"Houve uma integração", diz Leirner, um dos artistas do Grupo Rex, de São Paulo,
em geral ligado às correntes de arte pop e aos happenings.
O jornalista MARIO GIOIA viajou a convite da organização da
mostraTROPICÁLIA - UMA REVOLUÇÃO NA CULTURA
BRASILEIRA
Quando: de ter. a sex., das 12h às 18h; sáb. e dom., das 12h às 19h; até
30/9
Onde: MAM-RJ (av. Infante D. Henrique, 85, Rio, tel. 0/xx/21/2240-4944)
Quanto: R$ 2 a R$ 5