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Teca Calazans lança novo disco no Recife
 

Teca Calazans lança no Teatro Santa Isabel novo disco com temas de duas gerações do ensino do violão brasileiro

Marcos Toledo
mtoledo@jc.com.br

Para a cantora Teca Calazans parece que foi ontem (há uns dois anos, mais precisamente, segundo seu sentimento) que ela se apresentou pela última vez no Recife, no Teatro Santa Isabel. Na verdade, foi em 2003 que a artista trouxe o show Alma de tupi (do CD homônimo, de 2000). Quatro anos depois, a também compositora traz seu novo trabalho, Impressões sobre Maurício Carrilho & Meira (CPC-Umes, 2007), para o mesmo palco, desta vez apenas como intérprete da música de duas referências do violão brasileiro. Um deles pernambucano, o professor dos mestres Jayme Tomás Florence (Meira), o outro, carioca, contudo, de grande afinidade com a música do Estado.

Vale aqui duas observações sobre esse momento da carreira de Teca Calazans, capixaba hoje radicada em Paris, mas que tem boa parte de sua trajetória ligada a Pernambuco, onde chegou aos 12 anos, após breve passagem por Minas Gerais e Bahia. A primeira é a relação com o Estado, laços que lhe dão a sensação de nunca estar distante e confundir a noção do tempo. “Os laços são os mesmos (de outrora). Praticamente sou pernambucana. Não nasci em Pernambuco por acaso. Tudo o que sei aprendi em Pernambuco”, afirmou ontem a artista, em entrevista por telefone, enquanto viajava de Maceió (onde se apresentou no domingo) para Porto de Galinhas.

A segunda observação é quanto ao repertório de seu novo disco, um primoroso álbum de 12 faixas dedicado à interpretação de temas dos violonistas Meira (este, em diversas parcerias) e Maurício Carrilho (com letras de Paulo César Pinheiro). Trata-se de outra característica marcante na vida artística da cantora, que em quatro décadas de discografia dividiu seu (também expressivo) repertório autoral com releituras de grandes momentos da música brasileira, de Heitor Villa-Lobos a Chico Buarque, Caetano Veloso, Paulinho da Viola e Alceu Valença, passando por Noel Rosa, Sinhô, Pixinguinha, Jararaca, Cartola e Tom Jobim. Sem contar, claro, as manifestações populares, de Pernambuco e das pesquisas de Mário de Andrade. Tudo isso e muito mais está presente em sua extensa discografia, experiência que não apenas lhe credencia a realizar um trabalho de tão excelente bom gosto quanto qualidade, e que ao mesmo tempo passa para o ouvinte um sentimento ímpar de naturalidade.

Apesar de viver há quase duas décadas fora do País, em Impressões... Teca transmite a brasilidade de um artista que viveu a época de ouro da música brasileira e que hoje poderia estar sendo venerado em disputadas apresentações diárias no bairro da Lapa, no Rio de Janeiro. Vide os sambas Quimera, Sentimento impreciso e É bom cantar (os três da dupla Carrilho & Pinheiro), Molambo – clássico que faz qualquer platéia cantar junto –, Amor impossível e Aperto de mão (Meira & Augusto Mesquita, esta última com Dino 7 Cordas). “Todo ano venho ao Brasil. Moro lá (na França) há 17 anos, mas tudo o que faço é brasileiro”, afirma Teca com propriedade.

À riqueza do ritmo mais tradicional do País, acrescente a beleza de valsas como Canção do amor distante e Lágrima (Carrilho & Pinheiro), e Fatal desilusão (Meira & Marçal Motta) e Quando a saudade apertar (Meira & Paulo Leonel Azevedo). A última faixa é um bônus, o choro Migalhas de amor, de Jacob do Bandolim, com letra mais recente de Fernando Brant.

(© JC Online)


CD sintetiza lições de quase um século do violão brasileiro

O repertório de sambas e valsas de Meira (e parceiros) e Maurício Carrilho (com Paulo César Pinheiro) faz do álbum Impressões sobre Maurício Carrilho e Meira, da cantora Teca Calazans, uma viagem de idas e vindas, ao passado e ao presente, que tem como principal ligação a criação da música como ela deve ser feita – de maneira unicamente respeitosa – e que, em acordo com o histórico dos autores, vale como uma lição. No disco, o antigo se funde em harmonia com o novo graças à produção musical e aos arranjos de Carrilho, que concedem unidade à obra.

Natural de Paudalho, Jayme Tomás Florence, Meira (1909-1982), mudou-se para o Rio de Janeiro em 1928, onde se projetou como um dos principais instrumentistas da época de ouro da música popular brasileira. Reconhecido também como professor, iniciou no violão artistas como Baden Powell, Raphael Rabello e o próprio Maurício Carrilho. Foi o professor dos mestres. Carrilho, talento precoce (desde adolescente acompanhava o tio Altamiro Carrilho em shows), revelou igual aptidão para a docência, sendo fundador, ao lado do bandolinista Pedro Aragão e da cavaquinista Luciana Rabello, da Escola Portátil de Música.

Hoje, no Recife, Teca Calazans, acompanhada de Carrilho e Aragão (em duo de violão), retransmite essa lição, que é a própria escola do violão brasileiro, em repertório de belas canções de um trabalho inspirado, que faz jus ao melhor da MPB de todos os tempos.

» Lançamento do disco Impressões sobre Maurício Carrilho e Meira, de Teca Calazans – hoje, às 20h, no Teatro Santa Isabel (Praça da República, s/nº, Santo Antônio. Informações: 3423-3186). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia), CD: R$ 20

(© JC Online)

 

 

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