Pedro Henrique França, da
Agência Estado
SÃO
PAULO - Convidado para ser ministro da Cultura no primeiro
mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Gilberto Gil
deu um tempo na carreira musical para se dedicar ao inédito
trabalho político, depois de tantas décadas voltadas
exclusivamente para a música popular brasileira, no melhor
estilo "paz e amor". Com a reeleição de Lula, Gilberto Gil se
manteve no cargo, mas conseguiu, felizmente, conciliar mais sua
agenda para que voltasse ao público. Não foi possível conciliar
os primeiros quatro anos de ministério (da Cultura) com o
trabalho de compositor. "No período, não compus uma canção
sequer, mas do final de 2006 pra cá já tem saído boas músicas
novas", conta Gil, em entrevista à Agência Estado.
Pois ele está de volta - e para a música. Após passar por palcos
europeus e estrear no Rio de Janeiro no último final de semana,
o cantor e compositor se apresenta em São Paulo, hoje e amanhã,
dias 16 e 17, no Citibank Hall, com seu projeto Banda Larga.
Trata-se de uma liberação total para flashes e gravações, algo
inédito num País em que antes de qualquer apresentação sempre
vem aquela voz gravada vetando qualquer tipo de registro, mesmo
sabendo que na era dos celulares e das máquinas digitais muitos
burlam esta regra.
Para Gil, a iniciativa do show surgiu como uma conseqüência
natural dos tempos atuais, onde o avanço tecnológico ocorre numa
velocidade sem precedentes. "Essa iniciativa surgiu como uma
conseqüência natural de uma mudança de curso no mundo, ou seja,
a convergência tecnológica e seus desdobramentos
político-culturais. Não sou eu quem está propondo esse momento.
O show Banda Larga talvez reflita um pouco esse processo,
trazendo-o para o campo das artes", avalia.
Em Banda Larga, o cantor incita as pessoas a registrarem o show
e enviarem fotos e vídeos para o seu site. Só da sua última
apresentação, no Rio, Gil recebeu 75 fotos. "Número superior ao
de qualquer país europeu por onde passamos", relata ele. "Por se
tratar de um projeto novo, um tanto inédito, as avaliações mais
precisas só serão possíveis mais adiante. Não sou um
especialista em estatísticas da internet, mas perto do fim da
turnê européia a média diária de visitas ao blog era de 1.500
pessoas. De page views ao dia chegava a 7.500. No Rio, a
surpresa foi melhor ainda",
acrescenta.
Para dimensionar melhor a questão tecnológica, o cantor recorre,
na entrevista, a divagações complexas e extensas, algo bem no
estilo de seu colega Caetano Veloso. "Mitos e riscos à parte, o
fato é que a expansão das novas tecnologias audiovisuais nos
aproxima cada vez mais dessa dimensão panóptica da vida social,
não necessariamente pelo ângulo negativo do totalitarismo de um
estado que tudo vê e tudo vigia, mas das possibilidades
positivas de interação, intercomunicabilidade e sociabilidade
que dispositivos desse tipo podem proporcionar", diz.
Numa época onde artistas e anônimos tem que estar atento a
qualquer descuido, antes que chegue em segundos ao Youtube, Gil
considera que vivemos um momento em que uma entidade onipresente
nos cerca por uma virgília permanente, "de tudo e de todos". "É
um conceito sociológico associado ao controle abrangente dos
coletivos modernos via meios tecnológicos. Está ligado, entre
outros contextos, aos riscos de uma sociedade submetida a um
totalitarismo informacional", comenta.
Filosofias à parte sobre o mundo
contemporâneo e a tecnologia que o cerceia, Gil deve mostrar
todo seu swing tão adorado pelos jovens ainda conectados à MPB.
Ao público paulistano, ele mostrará quatro canções inéditas, a
exemplo de Banda Larga Cordel e Não Grude Não.
Mas os fãs podem ficar tranqüilos: Gil não deixará de lado os
bons clássicos de sua carreira, ?com arranjos um pouco
modificados?, segundo ele.
Imerso na Web 2.0, não tão novidade para alguém que já compôs a
famosa Pela Internet, jingle publicitário criado para
um banco e que acabou entrando no seu repertório, Gil deve
registrar ainda este ano algo no formato internético que vem
propagando com Banda Larga. "Certamente vou lançar um CD com
todos os outros formatos sugeridos pelo trabalho, como Web 2.0,
que o projeto Banda Larga vem propondo. Pretendo gravar o novo
trabalho baseado nesse momento em outubro, para lançamento no
início de 2008", revela.
Gilberto Gil. Citibank Hall. Av. dos Jamaris, 213. Quinta
(16), às 21h30, e sexta-feira (17), às 22h. Ingressos: de R$ 70
a R$ 140. Informações: (11) 6846-6040.