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 Em novo filme, Eduardo Coutinho mistura o real com o encenado

 

Eduardo Coutinho

Reuters/Brasil Online

GRAMADO (Reuters) - Documentarista mais consagrado do Brasil, Eduardo Coutinho, de 74 anos, recebeu uma homenagem inédita no 35. Festival de Cinema de Gramado -o novo troféu Kikito de Cristal, por sua carreira- e exibiu em primeira mão, na noite de sexta-feira, seu mais recente filme, "Jogo de Cena", no qual busca romper fronteiras entre documentário e ficção.

Conhecido por um estilo que procura a maior naturalidade possível dos entrevistados, visível em seus premiados trabalhos anteriores, "Santo Forte" (1999), "Edifício Master" (2002) e o clássico "Cabra Marcado para Morrer" (1985), neste novo filme ele se reencontrou com o começo de sua carreira em mais de um sentido. Iniciando-se como cineasta com a ficção "O Homem que Comprou o Mundo" (1967), Coutinho voltou a escalar atores num trabalho, coisa que faz pela primeira vez num documentário.

Uma das atrizes é Marília Pêra, que estreou no cinema justamente em "O Homem que Comprou o Mundo". Marília, Fernanda Torres e Andréa Beltrão são as três atrizes famosas que o diretor convocou para recriar em cena algumas histórias reais de mulheres. São todas mulheres, aliás, as personagens de "Jogo de Cena", alternando depoimentos reais e as recriações das atrizes.

Como algumas não são famosas, isto faz com que o espectador se pergunte o tempo todo qual é o depoimento real, qual o encenado, o que só se descobre no final, com algumas surpresas. Também as atrizes fogem às vezes do script e contam coisas pessoais.

Esse jogo que busca romper fronteiras entre documentário e ficção é justamente o que interessa a Coutinho, como explicou em entrevista à Reuters: "Minha intenção é essa mistura entre o real e o encenado, até porque é tão teatral quanto sincero tanto aquilo que é bem dito quanto o depoimento verdadeiro".

As mulheres que aparecem no filme foram selecionadas a partir de anúncios publicados em jornais. Oitenta e três mulheres compareceram dispostas a contar suas histórias de vida, como pedia o anúncio. Depois de um processo preliminar de entrevistas, método habitual de Coutinho e sua equipe, restaram 20 personagens. Na tela, o número de histórias caiu para menos de metade. A escolha dependeu mais da capacidade de narração de cada entrevistada do que propriamente dos fatos de sua vida.

Coutinho explicou que utilizou unicamente mulheres porque "os homens falam menos, choram menos e escondem mais seus fracassos. As mulheres contam histórias extraordinárias".

Para interpretar seus papéis, as atrizes receberam versões editadas dos depoimentos em DVD e também o conteúdo integral deles, por escrito. A partir desse material, tinham liberdade de encontrar uma forma de interpretar diante da câmera. Tanto as atrizes quanto as mulheres anônimas falam a Coutinho no cenário único de um teatro.

Embora insista que não dirige ninguém -"sou mestre em não dirigir as pessoas"- Coutinho foi desmentido amistosamente por Marília Pêra, também presente em Gramado. "Ele diz que não dirige, mas dirigiu, porque impôs suas condições. Disse que não poderíamos imitar, nem criticar nossas personagens", explicou a atriz.

Marília, aliás, subverteu a dinâmica esperada pelo diretor quando não decorou as falas de sua personagem, Sarita, cortando trechos e criando uma nova ordem. "Tirei o tapete dele", divertiu-se ela.

A atriz, que filmou "Jogo de Cena" dividindo-se numa agenda apertadíssima, que na época incluía a novela "Cobras e Lagartos" e a peça teatral "Madame Chanel", garantiu ter gostado do resultado do filme. Mas afirmou: "Sarita é muito mais interessante do que eu".

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

(© O Globo)

 

 

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