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Cícero Dias,
Viagem de Charrete (Aquarela sobre
cartão, 1928 |
A
viúva Raymonde e a filha Sylvia estão empenhadas em tornar o
pintor pernambucano mais presente na lembrança dos seus
conterrâneos
Olívia Mindêlo
oliviamindelo@jc.com.br
A Praça do Marco Zero vai ganhar, ainda este ano, uma
placa-monumento de vidro em referência ao autor do seu piso: o
pintor pernambucano Cícero Dias (1907- 2003). A Secretaria da
Fazenda, onde restam seis murais abstratos do modernista,
colocará em prática um projeto de abrir a instituição para
visitação pública das obras (ainda pouco conhecidas). Cerca de
20 litografias do artista serão doadas ao Governo do Estado,
para ficarem no município de Escada, onde Dias nasceu. E o que é
mais importante: o famoso painel Eu vi o mundo... Ele começava
no Recife, que pertence a um colecionador no Rio de Janeiro,
será conferido pela primeira vez (e ao vivo) em Pernambuco, no
mês de novembro, na ocasião da mostra comemorativa ao seu
centenário, celebrado em 2007.
Essas e outras novidades vieram na bagagem das francesas
Raymonde e Sylvia Dias, viúva e filha do pintor,
respectivamente, que estão de visita no Recife até a próxima
sexta, com a intenção de que o nome de Cícero Dias tenha a
devida valorização na cidade, sobretudo neste ano. “Cícero quase
não é citado no Recife. Eu queria, por exemplo, que o Marco Zero
se chamasse Praça Cícero Dias, mas isso é difícil. Gostaria,
pelo menos, que as pessoas soubessem que aquela obra
(Rosa-dos-ventos) foi feita por ele. Tenho um projeto para que,
no Terminal Marítimo, seja exibido um vídeo em que ele sobre a
obra”, revelou Sylvia Dias, em entrevista exclusiva ao JC.
Raymonde, que ainda não tinha vindo ao Recife neste ano do
centenário, não acredita ser Cícero Dias um pintor esquecido em
sua terra natal, mas concorda com a filha que as obras são pouco
lembradas, sim, e que o Recife “não tem organização para
mostrá-las ao público, sobretudo aos turistas”.
Ela confirmou que trouxe as litogravuras para serem doadas a
Escada, embora ainda não saiba a data para entregá-las. Está
dependendo da agenda do governador Eduardo Campos. Tudo indica
que a doação oficial seja feita ainda esta semana, no Museu do
Estado.
O museu, aliás, é o local que vai sediar, em novembro, a
grande exposição dos 100 anos do artista, um dos mais
importantes do País. A mostra deverá reunir obras de
colecionadores brasileiros, sobretudo pernambucanos. A
curadoria, contudo, ainda está fechando a lista das telas – por
enquanto aguarda que os proprietários também se pronunciem para
colaborar com essa produção. É provável que alguns dos 50
desenhos em nanquim dos anos 20, inéditos no Brasil, sejam
incluídos na exposição. Mas a viúva ainda não garantiu nada
sobre isso.
Também não confirmou se vai doar uma estante de livros,
artigos e outras publicações que pertenceuao marido à Academia
Pernambucana de Letras (APL). É que a instituição revelou, em
primeira mão, mais uma novidade: está organizando um espaço
dedicado ao pintor, que deve ser inaugurado ainda este ano,
quando abrir as portas de seu próprio museu, na sede dos
Aflitos.