Crítica/"A Pedra do Reino"
CRÍTICO DA FOLHA
"Lavoura Arcaica" (2001) foi recebido como uma das mais promissoras
estréias do cinema brasileiro. O que acontecia não só porque Luiz Fernando
Carvalho chegava dominando a técnica mas, sobretudo, porque o filme parecia
feito com o coração. Talvez seja ridículo falar assim, talvez soe melhor se
se falar de autoria. "A Pedra do Reino" não dá a impressão de ter despertado
a paixão do diretor. Já o desafio de fazer uma minissérie para a TV fugindo
dos clichês parece interessante.
A série fracassou na TV. Mas seu defeito não há de ser o cinema que vai
consertar, pois estamos diante de um híbrido, que não consegue mais ser TV,
mas não a desmente. É filmado basicamente em planos próximos e em
campo/contracampo. Ao mesmo tempo, sua iluminação deve ter se dado mal na
TV.
Mais complicada é a questão narrativa colocada pelo filme.
Em sua primeira hora, estamos diante de um conjunto quase incompreensível
de imagens e discursos que remetem ao teatro, ao circo, ao Renascimento, à
cavalaria, ao Estado Novo, a d. Sebastião ressuscitado etc. A narrativa
descontínua corresponde bem a esse acúmulo de elementos heterogêneos.
Depois, eles mesmos se encontrarão no longo diálogo entre Quaderna, o
protagonista, e o juiz.
E Quaderna é a súmula desse universo, na medida em que é o ficcionista. É
aquele que rebate o realismo (fantástico, se se quiser) do juiz com um
imaginário que lembra uma obra surrealista. Quanto ao filme, se no início
evoca Glauber Rocha, mais tarde é Fellini e seu universo circense que
parecem servir de referência. E Rogério Sganzerla já notava em Fellini um
"surrealismo caipira".
Em "A Pedra do Reino", se consegue feitos como a bela composição de
Irandhir Santos como Quaderna, Carvalho permite que o rebuscado da
mise-en-scène se sobreponha ao que o filme sugere de mais interessante: a
hipótese de uma ficção se fazendo sob nossos olhos. (IA)
A PEDRA DO REINO
Direção: Luiz Fernando Carvalho
Produção: Brasil, 2007
Com: Irandhir Santos, Cacá Carvalho
Quando: em cartaz de hoje ao dia 6/9 no Frei Caneca Unibanco Arteplex
e Moviecom Penha
Avaliação: ruim
(©
Folha de S. Paulo)