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 Mamam de Recife abre as portas para a arte da periferia

 

 

 

Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (Mamam)
 

MARIA EDUARDA BELÉM
Colaboração para o UOL, de Recife


 
A arte que vem dos subúrbios recifenses é o tema da exposição "Estética da Periferia: Diálogos Urgentes", em cartaz no Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (Mamam), até 23 de setembro. Com curadoria do cenógrafo paranaense Gringo Cardia e do designer pernambucano h.d. Mabuse, a exposição é fruto de uma pesquisa desenvolvida por uma equipe de profissionais que em dois meses subiram morros, percorreram becos e ruas movimentadas, e esquadrinharam a cidade com um olhar voltado para a produção artística desenvolvida em suas bordas. Após o término da mostra, o Mamam fecha para reforma, com implantação de um projeto de acessibilidade, que deverá terminar até o final do ano.

 
Ricardo Tchêras / UOL
Estrutura feita de latas de refrigerante é o centro de um grande labirinto feito de grades e tapumes improvisados no Mamam
 
 

A mostra procurou fazer um recorte da estética dos subúrbios recifenses e foi um sucesso de público: "Tivemos uma visitação muito boa, em apenas um mês passaram por aqui cerca de 3.000 pessoas, o que é um número muito acima do normal", conta Tereza Neuma, coordenadora do departamento educativo do museu. "Além disso, o público é diferente do que geralmente vem ao Mamam. O pessoal da periferia está vindo e a idéia é fazer com que essas pessoas continuem a freqüentar o museu, mesmo em outras exposições. O nosso diálogo urgente é criar uma relação entre a produção da periferia e a arte contemporânea", finaliza. Além da mostra, são realizados todos os domingos eventos ligados ao tema da exposição, como passeios ciclísticos pela periferia que terminam em sessões de grafitagem, apresentações de grupos de b-boys e b-girls, exibições de curta metragens, oficinas com rádios comunitárias e desfiles de moda.

Dividida conceitualmente em quatro áreas (design, arquitetura, artes visuais e moda/comportamento), a exposição ocupa os três pisos do museu com trabalhos de diversos artistas populares e reúne um acervo que inclui fotografias, vídeos, esculturas, pinturas e roupas. A mostra tem um caráter cumulativo, pois além do material produzido sobre Recife está presente também parte da versão carioca do projeto, que aconteceu em julho de 2005, no Centro Cultural Correios no Rio de Janeiro.

O salão principal do térreo foi inteiramente ocupado por uma intervenção dos grafiteiros da Rede de Resistência Solidária, coordenados pelo grafiteiro Galo, com uma pintura nas quatro paredes do local, que também tem caixas de som que reproduzem a programação da rádio comunitária Alto Falante, do Alto Zé do Pinho. Ainda no térreo, num ambiente atrás das escadarias, uma profusão de carrocinhas de ambulantes - iguais às que circulam por toda a cidade vendendo raspa-raspa (uma espécie de sorvete), CDs piratas e pipoca - estão cercadas por placas de bar do famoso letrista Juca Maxixe, uma série de fotografias com flagrantes dos ambulantes em seu ambiente de trabalho, a rua, e um enorme grafite, com referências de xilogravura, assinado pelo grafiteiro Derlon. As escadas do museu também foram usadas como suporte, reproduzindo desde mosaicos encontrados em escadarias do Morro da Conceição até as coloridas colagens que decoram a subida de um famoso prostíbulo portuário: o Bar do Grego.

Mosaico Tridimensional e labirinto reciclável

Moda e comportamento misturam-se à arquitetura no primeiro andar. Em uma das salas, uma inversão de escala provoca um efeito curioso, com painéis fotográficos que agigantam as figuras de jovens, enquanto dezenas de fotos de Josivan Rodrigues cobrem as faces de pequenos cubos com pedaços de fachadas, portões, muros e casas da cidade, formando uma espécie de mosaico tridimensional. Na sala ao lado, elementos de construção como grades e tapumes compõem um labirinto, que em seu centro apresenta um enorme miolo feito com latas de refrigerante. Ao redor da área da escada, manequins expõem, além de peças de moda de rua, modelos do estilista Eduardo Ferreira.

 

Ricardo Tchêras / UOL
O grafite é destaque na exposição, com diversas obras como a de Derlon
 
 
No último andar, casais dançando ao som de guarachas, son e outros ritmos caribenhos recebem o público em uma projeção sonorizada, que exibe fotografias de um dos bailes mais famosos da periferia: a noite cubana do clube Bela Vista. No salão menor, estão concentradas peças de diversos artistas locais, como as surreais usinas de plástico de Orlando, os curiosos cachorros de Jacaré, as luminárias de garrafas pet de Socorro Cantanhêde e as minuciosas reproduções de casas de palafita de Elisângela Nascimento, entre outros trabalhos.

No salão principal, calças da grife carioca Gang misturam-se às botas feitas pelo Seu Jaime Sapateiro, famoso por calçar os pés das rebolativas moças das bandas de brega locais, num espaço que reproduz o camarim de uma das mais famosas do gênero, o Vício Louco. Mais à frente, é possível ainda se aconchegar em cadeiras de praia num ambiente cenográfico que traz a praia de Brasília Teimosa para dentro do museu, com toalhas estampadas com onças e beldades desnudas estendidas, jacarés e golfinhos infláveis e, ao fundo, as fotos de ensaio que a fotógrafa Bárbara Wagner fez dos freqüentadores do local.

A Brasília Teimosa de Bárbara Wagner

Durante um ano a fotógrafa Bárbara Wagner freqüentou as areias de Brasília Teimosa, na periferia de Recife, ocupadas em todos os domingos de sol por famílias inteiras da comunidade local, e fez registros fotográficos dos banhistas. Mesclando sua experiência de fotojornalismo com técnicas de iluminação de estúdio, seus retratos captaram não só o estilo marcante e colorido dessas pessoas, como também seu espírito orgulhoso e irreverente: "É um trabalho que atinge pessoas de diferentes meios, de bagagem cultural diversa", diz Bárbara. O resultado do trabalho rendeu mais de 2.000 fotografias e transformou-se na exposição "Brasília Teimosa", que além de participar da exposição "Estética da Periferia" no Recife, também está em cartaz na Caixa Cultural Sé, em São Paulo, até outubro de 2007, e depois segue para o Rio de Janeiro e Brasília.

Estética da Periferia: Diálogos Urgentes
QUANDO: até 23/9 (de terça à domingo)
ONDE: Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães - MAMAM (Rua da Aurora, 265, Boa Vista, Recife - PE. Informações: 81 - 3232 1694)
QUANTO: Grátis


Brasília Teimosa
QUANDO: até 21/10
ONDE: Caixa Cultural Sé (Praça da Sé, 111, São Paulo-SP. Informações: 11 3321-4400)
QUANTO: Grátis

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