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 Olinda troca carnaval por eruditos bem populares

 

 

 

Divulgação

Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos em encontro histórico
 

4. ª edição da mostra de música reúne Egberto Gismonti, Antonio Meneses e Yamandú Costa

Lívia Deodato, do Estadão

OLINDA - Um carnaval fora de época em Olinda. Só que no lugar do frevo, música clássica com forte tempero popular. Assim foram os cinco dias da 4.ª edição da Mostra Internacional de Música em Olinda (MIMO), que teve fim no domingo, 9. "É maravilhoso poder provocar a mesma ansiedade que a população sente quando é carnaval", disse Lu Araújo, diretora geral e artística do evento.

Exemplo disso são Caio Azevedo, de 20 anos, Samantha Reis, de 23, Fernanda Mateus, de 23, e Maria Socorro, de 22, que chegaram três horas antes da distribuição dos ingressos gratuitos para o show de encerramento do MIMO , de Hamilton de Holanda e Yamandú Costa. "Vi um show de Yamandú no teatro da UFPE e gostei muito. Queríamos também ter visto o Egberto (Gismonti), mas não conseguimos ingressos. Os cambistas queriam nos vender por R$ 20. Preferimos assistir à Camerata Petrobras na Igreja de São Bento, que também foi maravilhoso", contam. 

Opções de altíssimo nível não faltaram. As 21 atrações, entre Antonio Meneses e Celina Szrvinsk, João Donato e Paulo Moura, Czezh Chamber Solists e Isaac Karabtchevsky, foram divididas pelas igrejas históricas, o Convento de São Francisco (o convento franciscano mais antigo do Brasil), o Seminário de Olinda e o Coreto da Praça do Carmo, onde o Grupo de Metais da Orquestra Petrobras Sinfônica fez o público voltar ao início do século 20 ao som de maxixes e chorinhos na manhã de domingo. 

"Vassourinhas", o frevo mais famoso nascido no coração de Olinda pôs todo mundo para dançar e quase suplicar para que não deixassem a praça, de tanto que pediram bis.  

Yamandú e Hamilton fizeram as 600 pessoas presentes na Igreja da Sé, além das mais de 200 que ficaram do lado de fora, mas que puderam apreciar o show pelo telão, não piscarem os olhos, num silêncio absoluto. A grande estrela da MIMO resolveu dar uma canja junto à dupla para abrilhantar ainda mais a apresentação: Naná Vasconcelos, no improviso, subiu ao palco e emocionou tocando "As Pastorinhas", de Noel Rosa e João de Barro que contou com o coro do público ao fundo. De arrepiar. 

O percussionista pernambucano de 63 anos se apresentou no primeiro dia da mostra, quarta-feira, ao lado de Egberto Gismonti para mostrar, depois de exatos 30 anos, o antológico álbum "Dança das Cabeças". E ainda topou o convite do violoncelista americano Eugene Friesen para se apresentar ao seu lado na Igreja de São Pedro no sábado. "Sou fã do Naná, tenho vários álbuns dele. Foi uma honra conhecê-lo pessoalmente e ainda mais por ele ter topado tocar comigo", afirmou Friesen.

"Eu acredito nessa união entre o popular e o erudito. São extremos sons que celebram a diferença, enriquecem a música. Eu disse extremos sons, não extrema-unção, viu?", brincou o sempre bem-humorado e transcendental Naná, numa alusão religiosa.

A surpresa do festival ficou por conta de Vitor Araújo, de apenas 18 anos. O jovem não só toca piano, como sobe nele. E esquece, por um momento, que o instrumento é de percussão, tocando suas cordas. Seus vídeos no YouTube já viraram uma febre e ele já coleciona uma polêmica por "inventar demais" sobre composições alheias. Vai gravar um DVD no fim do ano no Teatro Santa Isabel, de Recife, com composições próprias. Uma delas, que apresentou no Convento de São Francisco no sábado, traz embutida a simplicidade e a capacidade de atingir o coração.

"Digo sempre que não sou eu quem está tocando." Quem é? "Boa pergunta. Ainda não sei responder." O povo de Pernambuco agradece a tudo o que viu e não vê a hora de chegar a próxima MIMO, no ano que vem.

(© Estadão)


Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos, encontro histórico

Músicos tocam juntos no 4.º Mimo, em Olinda, após 30 anos do antológico disco 'Dança das Cabeças'

Livia Deodato, do Estadão

OLINDA - A Igreja da Sé, fundada no século 16, foi palco de mais uma noite mágica, na 4.ª edição da Mostra Internacional de Música em Olinda. O multiinstrumentista fluminense Egberto Gismonti e o percussionista pernambucano Naná Vasconcelos voltaram a apresentar, depois de 30 anos, do antológico disco Dança das Cabeças, lançado em 1977, na noite de quinta-feira, 6. Abriram com Águas Luminosas, e continuaram, sobre ricos improvisos, com Aquarela, a música homônima ao álbum e a sensacional Gongo, onde Naná deu a base à flauta de bambu de Gismonti 'xaxando' sobre uma areia fina. "É um momento de celebração, de mostrar um Brasil que o Brasil não conhece", disse Naná dentro da sacristia que serviu de camarim, logo após o show. " Dança das Cabeças é despretensioso. É um trabalho de honestidade, de liberdade e de amizade. E isso faz muito bem ao coração, não acha?"

A irmã Adélia Miranda, da Congregação Beneditina Missionárias de Tutzing, fez questão de cumprimentá-los após o espetáculo. Ela mora bem perto da Igreja da Sé e sempre comparece aos concertos da Mimo, desde a primeira edição em 2004. "O concerto foi espetacular, me senti enlevada. Gosto muito de Gismonti, ele tem uma expressão musical muito forte, que toca a alma da gente", disse, emocionada. O concerto seguiu-se com um solo improvisado no violão de Egberto e outro de Naná no berimbau. Pra deixar todo mundo boquiaberto e com os olhos vidrados. "Se um álbum que foi gravado há 30 anos continua sendo divertido, então é porque o nosso trabalho valeu a pena", declarou Gismonti.

Uakti 

Os mineiros do Uakti também se apresentaram na quinta, 6, às 18h30, dentro da Igreja de N. S. da Graça. Eles mostraram um apanhado de canções de seus álbuns, como Águas da Amazônia (1999) e Oiapok Xui (2005), utilizando seus intrumentos peculiaresque vão desde marimbas de vidro a tambores de PVC. Se por um lado a acústica da igreja onde se apresentaram é perfeita, por outro a visibilidade é péssima: para conseguir enxergar a performance dos músicos instalados num palco baixo em frente ao altar, o público era obrigado a brincar de 'vivo ou morto'...  

Os interessados em conhecer mais sobre a história e técnica do grupo fundado no fim da década de 70 puderam participar na manhã desta sexta-feira, 7, de um workshop gratuito - e aí assim conhecerem de perto o funcionamento da Iarra, uma espécie de violoncelo, e da Torre, largo tubo de PVC giratório que, quando tocado com um arco, produz um som mágico.  

Programação de hoje

A programação desta sexta-feira continua intensa com o violino de Jerzy Milewski e o piano de Aleida Schweitzer, às 16h, no Convento de São Francisco; Carlos Prazeres, assistente de Isaac Karabtchevsky regendo a Camerata Petrobras na Igreja do Rosário, às 1830; uma homenagem a Ariano Suassuna e seu Movimento Armorial por Inez Viana e Grupo Gesta no Seminário de Olinda, às 18h30; e termina com os instrumentistas Czech Chamber Solists, da Filarmônica de Brno, na Igreja da Sé, às 20h30. Amanhã tem João Donato e Paulo Moura no Seminário de Olinda, às 18h30, e domingo, Hamilton de Holanda e Yamandú Costa na Igreja da Sé, às 20h30, entre tantas outras atrações.  

Curso de regência

Por falar no maestro Karabtchevsky, ele foi convidado especialmente pelo festival para oferecer um curso de regência inédito no Brasil - e gratuito, como o restante de todas as outras atividades. Os alunos tiveram a rara oportunidade reger 86 integrantes de uma orquestra profissional, a Petrobras Sinfônica, do Rio, durante três dias. Amanhã, às 11 horas, seis dos 12 regentes selecionados (de um total de 147 inscritos) vão apresentar o resultado do curso na Igreja da Sé. "Creio que estamos estabelecendo um marco no País graças à Mimo. Queremos transformar esse festival em uma referência para os regentes de todo o mundo", afirmou o maestro.  

Os japoneses Koichiro Kanno, de 36 anos, e Nabuaki Nakata, de 32, são prova disso. Conheceram Karabtchevsky há três anos na Itália, durante um outro curso de regência. "Fiquei impressionado com sua música e sua técnica para conduzir uma orquestra", disse Nakata, considerado pelo maestro um talento nato a ser burilado. "Desde então, nós o acompanhamos anualmente e quando surgiu a oportunidade de vir ao Brasil não pensei duas vezes. Não tem preço."

(© Estadão, 07.09.2007)


Mostra Internacional de Música agita Olinda

Violoncelista pernambucano Antonio Meneses e da pianista goiana Celina Szrvinsk abrem a programação da 4ª edição

Livia Deodato

Olinda - Seiscentas pessoas se emocionaram com o concerto do violoncelista pernambucano Antonio Meneses e da pianista goiana Celina Szrvinsk nesta quinta-feira dentro da Igreja da Sé, o ponto mais alto da encantadora cidade de Olinda, em Pernambuco. Os músicos foram responsáveis pela noite de abertura dos concertos da 4.ª edição da Mostra Internacional de Música em Olinda, a MIMO, que vai até domingo e ainda contará com a presença de Egberto Gismonti e Naná Vasconcelos hoje (6), João Donato e Paulo Moura no sábado e Hamilton de Holanda e Yamandú Costa no domingo, entre tantas outras atrações de peso.

As Bachianas Brasileiras n° 2 e n° 5, de Heitor Villa-Lobos, foram as primeiras obras executadas por Meneses e Celina na apresentação de ontem, que teve início pouco depois das 20h30, o horário marcado. Escrita para orquestra de câmara, a de n° 2, composta pelos movimentos Prelúdio ( O Canto do Capadócio), Ária (O Canto da Nossa Terra), Dança (Lembrança do Sertão) e Tocata (O Trenzinho Caipira), contou com uma breve, porém muito elucidativa e bem-humorada, explicação de Meneses. "A Tocata descreve uma viagem de trem feita durante a juventude de Villa-Lobos. Vocês poderão ouvir as curvas e os freios desse trem. Espero que vocês tenham prazer em ouvir tudo isso." E poderia ser diferente? O talento e a técnica dos músicos aliada à escolha primorosa do repertório não deixaram crianças, jovens e idosos, de diferentes classes sociais, desgrudarem os olhos, os ouvidos e a alma desse concerto.  

A apresentação seguiu-se com Toada, música composta pelo organista e cravista mineiro Calimerio Soares especialmente para ao duo. De fortes contrastes, a peça foi construída em forma aproximada de ária (A-B-A, sendo A movimentos mais lentos e B mais desenvolvido). "Tenho a impressão que Calimerio se inspirou um pouquinho em Bach para escrever Toada", disse Meneses ao público, antes de exibir seu virtuosismo no cello. A Sonata n° 1, de Camargo Guarnieri, três peças para violoncelo e piano em mi bemol menor, lá menor e dó sustenido menor da francesa Nadia Boulanger, e a Sonata n° 3 do tcheco Bohuslav Martinu completaram a rica escolha de obras que só deixou a Igreja da Sé ainda mais cheia de vida. Por coincidência, três dos compositores selecionados para integrar o repertório do duo são 'aniversariantes', além do próprio Meneses, que completou 50 anos no último dia 23: há 120 anos nascia Villa-Lobos e Nadia Boulanger, e há 100, Guarnieri.  

Os calorosos aplausos do público fizeram Meneses e Celina voltarem para mais dois bis. Executaram a sinuosa Dança Espanhola, de Joacquin Nin, e O Canto do Cisne Negro, de Villa-Lobos, aquecendo a noite que começou chuvosa e terminou cheia de estrelas.  

No Espaço Petrobras MIMO, ponto de encontro entre músicos e público, instalado no Mercado da Ribeira, o gaitista José Staneck e o violonista Caio Cezar receberam diversos músicos amigos, entre o violoncelista americano Eugene Friesen (vencedor de dois Grammy, em 1994 e 1995) e a violinista Ana de Oliveira, para animar o fim da tarde de ontem e aquecer os motores do festival em grande estilo. Começaram a apresentação ao som de Choro Negro, de Paulinho da Viola e Fernando Costa, passando por Ponteio, de Edu Lobo, Libertango, de Astor Piazzolla, Lamento e Rosa, de Pixinguinha e Noites Cariocas , de Jacob do Bandolim. Quando o bandolinista Marco Cesar subiu ao palco ao lado da dupla para puxar Minha Ciranda, de Capiba, uma orquestra de frevo passava pela rua em frente ao espaço. "Isso só poderia acontecer em Olinda mesmo!"

A mostra, que tem como maior patrocinadora a Petrobras e teve investimento de R$ 1 milhão, ainda conta com a Etapa Educativa, programa destinado à troca de experiências entre os músicos convidados e alunos interessados no aperfeiçoamento das técnicas em cordas dedilhadas e friccionadas, madeiras e metais. Nesta sexta-feira, às 11 horas, um concerto resultante desse trabalho será apresentado no Convento de São Francisco. "Essa pode ser a estréia de uma orquestra brasileira permanente de cordas dedilhadas, composta por instrumentos populares como cavaquinho, bandolim e viola, e que prestigiará prioritariamente nossos compositores contemporâneos", disse o músico Caio Cezar, um dos coordenadores da Etapa Educativa e fundador do projeto Acariocamerata, no Rio.

Os ingressos para todas 21 atrações da MIMO são gratuitas. A programação completa pode ser acessada no site www.mimo.art.br

(© Estadão, 07.09.2007)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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