Documentário é lançado em comemoração ao
centenário de dona Canô, mãe da cantora e de Caetano Veloso
Neusa
Barbosa, do Cineweb
SÃO PAULO - Conhecido por ficções de circulação
internacional como Casa de Areia (2005) e Eu Tu Eles
(2000), o diretor carioca Andrucha Waddington volta ao documentário
em Pedrinha de Aruanda - Maria Bethânia. Em 2002, ele já
havia explorado o gênero em Viva São João, que registrava
as presenças de Gilberto Gil, Dominguinhos, Alceu Valença e outros.
Pedrinha de Aruanda...
entra em circuito nacional nesta sexta-feira, 14, em homenagem ao
centenário de dona Canô, mãe da cantora e de Caetano Veloso, que
será comemorado no próximo dia 16. Duas semanas depois, o filme
será lançado em DVD, tendo como extra o média-metragem Bethânia
Bem de Perto. Trata-se de outro documentário, dirigido em 1966
por Julio Bressane e Eduardo Escorel, mostrando a cantora baiana em
início de carreira, recém-chegada ao Rio de Janeiro, onde veio
substituir Nara Leão no show Opinião.
Filmado em apenas quatro dias, Pedrinha de Aruanda... tem
como ponto de partida o sexagésimo aniversário da cantora, em junho
de 2006. Bethânia é vista em sua intimidade, muitas vezes na casa de
sua família, em Santo Amaro da Purificação (BA), onde ela passou a
infância e a adolescência.
Bethânia canta várias vezes ao lado do irmão, Caetano Veloso, da
mãe, de sobrinhos e amigos, numa descontração bem diferente dos
palcos, onde a cantora é conhecida pelo rigor de sua preparação. Um
dos pontos altos é uma seresta na varanda da casa familiar, onde
Bethânia e os familiares, dona Canô inclusive, interpretam Gente
Humilde, Felicidade e A Tristeza do Jeca.
Outro momento raro de espontaneidade passa-se numa viagem de carro,
entre Salvador e Santo Amaro, à noite. O motorista é Caetano Veloso,
conversando animadamente com Bethânia sobre o passado e suas
recordações da infância, tendo como única testemunha o diretor
Andrucha e sua câmera, no banco de trás.
Da comemoração do aniversário de Bethânia, ficam alguns momentos de
um show que fez na Concha Acústica de Salvador e a missa em sua
homenagem, já em Santo Amaro. Em sua cidade natal, Bethânia explora
a pé roteiros que percorria quando criança.
Esta naturalidade da cantora diante da câmera é o grande diferencial
deste documentário em comparação com outro trabalho sobre ela feito
há dois anos, Maria Bethânia - Música é Perfume, do suíço
Georges Gachot. Naquele filme, a intérprete mostrou-se bem mais
solene e distante. Este documentário também foi lançado em DVD no
Brasil.
(©
Estadão)
Crítica/cinema/"Maria Bethânia -
Pedrinha de Aruanda"
Filme cresce quando mergulha na família
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Em "Maria Bethânia -Pedrinha de Aruanda", Andrucha Waddington
combina dois aspectos relevantes de sua trajetória: o papel de
constante documentarista dos Doces Bárbaros -em sua fase recente- e
a sensibilidade toda especial para captar o universo feminino,
tônica de seus filmes de ficção.
Nos últimos anos, Waddington já filmou o
reencontro de Gil, Gal, Caetano e Bethânia em "Outros (Doces)
Bárbaros" e acompanhou uma turnê de Gil em "Viva São João!". Agora,
dedica-se a Maria Bethânia neste documentário realizado no ano
passado, quando a cantora comemorou 60 anos de vida e 40 de
trajetória profissional.
Não é coincidência, no entanto, que o filme tenha
chegado aos cinemas dois dias antes do aniversário de cem anos de
Dona Canô, mãe de Bethânia e de Caetano, celebrado amanhã.
No fundo, é Dona Canô a estrela de "Pedrinha de
Aruanda". De alguma forma, este filme traduz, em cinema, as palavras
de Milton Nascimento na canção "A Feminina Voz do Cantor" ("Minha
mãe que falou / Minha voz vem da mulher / Minha voz veio de lá, de
quem me gerou").
Depois de registrar Bethânia em seus rituais
preparatórios para o show e acompanhar uma missa em sua homenagem, o
filme ganha corpo quando abandona a face pública da cantora e
mergulha na intimidade de sua família. É quando vislumbramos um
pouco da origem da voz de Bethânia e de Caetano.
Uma viagem de carro até Santo Amaro da
Purificação, com Caetano ao volante e Bethânia na carona, serve de
transição entre esses dois momentos do filme -o primeiro de caráter
mais "oficial", o segundo, totalmente intimista.
Sarau no quintal
Com a sensibilidade que lhe é habitual, Waddington
filma um jantar e um pequeno sarau no quintal da casa de Dona Canô,
em que Bethânia e Caetano dividem com sua mãe, parentes e amigos
algumas canções do passado. Entre uma e outra revelação (não
gostavam da voz de Bethânia no colégio, porque a consideravam grossa
demais) e a leitura de alguns textos de Fernando Pessoa e Mario
Quintana por Bethânia, é nesse pequeno registro musical que o filme
se justifica por inteiro.
MARIA BETHÂNIA - PEDRINHA DE ARUANDA
Direção: Andrucha Waddington
Produção: Brasil, 2007
Com: Maria Bethânia, Caetano Veloso
Onde: em cartaz nos cines Reserva Cultural, Unibanco Arteplex
e circuito
Avaliação: bom
(©
Folha de S. Paulo)