Notícias
Pernambuco perde o artista plástico Zuleno

14/07/2008

 

 

Foto: Arte Maior Galeria

Obra de Zuleno


O artista plástico pernambucano Zuleno Ferreira da Veiga Pessoa morreu, na madrugada desta segunda-feira (14). Zuleno, como era conhecido no País, foi um dos artistas pernambucanos mais conceituados da atualidade e a sua obra, segundo o próprio artista, tinha o objetivo de deixar o mundo mais fraterno. Procurada pela reportagem, a família preferiu não se pronunciar sobre a causa da morte.

Natural de Pesqueira, no Agreste do Estado, o pintor completaria, em agosto, 93 anos. Tímido e discreto, Zuleno fazia questão de produzir diariamente, numa vitalidade proporcional à vontade de permanecer “trancado” em sua residência-estúdio, localizada no bairro de Monsenhor Fabrício, no Recife.

Para o galerista Sérgio Oliveira, da Arte Maior Galeria, escritório com que Zuleno trabalhava há mais de 28 anos, com a morte do artista, perde Pernambuco, perde o Brasil. "Juntamente com Reynaldo Fonseca e João Câmara, Zuleno possuia um estilo bem próprio. É uma perda muito grande para nós", lamenta.

O enterro do corpo de Zuleno será realizado às 16h, no Cemitério de Santo Amaro, no Recife.
 

(© JC Online)


Zuleno Pessoa, por Leonardo Dantas Silva

Dentre os artistas plásticos de Pernambuco, um, em especial, se destaca pelo sentido espiritual de sua obra, cujas imagens captadas pelos olhos de quem as contempla vai, por vezes, ecoar no mais profundo dos sentimentos, levando o expectador a meditação e ao devaneio.

Zuleno da Veiga Pessoa, pernambucano de Pesqueira, nascido em 2 de agosto de 1915, consegue com a sua forma de ser, ao longo desses noventa anos, mexer com as emoções mais recônditas de qualquer descrente. Desde o tempo em que era ilustrador do Jornal do Commercio do Recife, entre os anos de 1950 a 1970, ele já mostrava em seus pequeninos bicos de pena, publicados no Suplemento Cultural e mesmo em outras secções, o dedo de gigante do artista dos nossos dias.

Somente ele conseguia transmitir com as suas imagens a emoção de um poema, o sentimento de uma crônica, ou o retratar de uma época, transformando os suplementos dos domingos em verdadeiros álbuns de arte, ainda no tempo da clicheria de Lauro Telles. Quando da inauguração do novo prédio da Televisão Jornal do Commercio, na Rua do Lima, Zuleno, atendendo solicitação do jornalista F. Pessoa de Queiroz veio pintar grandes painéis que passaram a decorar os vários ambientes, passando depois a produzir outros quadros para as salas da diretoria no edifício sede da Rua do Imperador.

Continuou servindo à redação e ao comercial por vários anos, até que, no final dos anos sessenta, veio a ser convidado pelos organizadores de um calendário da Pirelli, a participar da publicação que reunia nomes consagrados nas artes plásticas, a exemplo de Lula Cardozo Ayres e Di Cavalcanti. A partir de então se familiarizou com os pincéis e as tintas, utilizando-se do esmalte industrial, técnica admirada até pelos mais entendidos, vindo a se consagrar, em 1979, com o convite de Pietro Maria Bardi para uma individual no Museu de Arte de São Paulo – MASP, naquele ano. A partir de então, passou a receber comentários elogiosos da crítica especializada do país, tornando suas obras presentes nos catálogos de conhecidas galerias do Rio de Janeiro e São Paulo.

Os quadros de Zuleno são, em suas diversas fases, formados por figuras femininas esguias, mais parecendo transplantadas de suntuosos salões do século XIX; casario característico do bairro recifense de São José; cavaleiros magros e longilíneos, como que transplantados das telas de Goya; imagens cubistas, como que inspiradas na obra de Vicente do Rego Monteiro; velhos portões e personagens diáfanas como se fossem “assombrações do Recife antigo”, lembrando as crônicas de Gilberto Freyre ilustradas por Lula Cardozo Ayres; figuras de passistas e de rodas dos terreiros de Xangô, se contrapondo com imagens de São Francisco de Assis, cercadas de peixes e de pássaros, e a presença constante do Cristo com os seus seguidores. Trata-se de uma obra madura, cheia de originais criações, traços de colorido singular obtidos, por vezes, com tintas industriais e automotivas.

Este é o Zuleno Pessoa, tão leve como uma pluma no ar; tão enigmático como o Santo de Assis; traduzindo nos seus quadros ensinamentos aprendidos nos Evangelhos ou mesmo personagens que habitam os seus devaneios.

Zuleno consegue elaborar, com a sua ótica de vida e o amor construído ao lado de sua Julieta, uma galeria de figuras que saem dos seus pincéis como se estivesse surgindo de antológicos contos de fadas.

(© SL Comunicação & Marketing)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind