Notícias
Capoeira vira Patrimônio Cultural brasileiro

16/07/2008

 

 

Foto: Luciano da Mata/Ag. A Tarde/AE

Capoeira se tornou, nesta terça-feira (15), o mais novo patrimônio cultural brasileiro
 

Em um Palácio Rio Branco cercado por aproximadamente 20 grupos de capoeira da Bahia, do Rio e de Pernambuco, no centro de Salvador, o Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) acolheu por unanimidade, na tarde desta terça (15), o pedido de registro da capoeira como Patrimônio Cultural brasileiro, feito pelo Ministério da Cultura. É o ponto alto de uma história repleta de altos e baixos. "Não se pode esquecer que a prática foi, por muitos anos, considerada crime pelo Código Penal", lembra a historiadora e capoeirista Adriana Albert Dias. "Hoje, é um símbolo nacional espalhado pelo mundo."

Os registros mais antigos da capoeira vêm do século 18. Era praticada por escravos, sobretudo os vindos de Angola. O esporte-dança foi considerado crime até o fim da década de 1930. Só a partir de lá começou a alçar a fama, hoje estendida a cerca de 150 países. Agora, passa a ser um dos 14 Patrimônios Culturais do país, junto com o frevo, o samba carioca e o ofício das baianas de acarajé, entre outros.

"Se hoje a manifestação é legitimada como um dos principais símbolos da cultura brasileira, foi por muito sacrifício, em especial dos mais antigos", conta o historiador e pesquisador do tema Frede Abreu. "Hoje, a maioria deles está em má situação financeira." Na prática, a elevação da capoeira a Patrimônio Cultural prevê, além da inscrição, como Bens Culturais de Natureza Imaterial, do Ofício dos Mestres de Capoeira no Livro de Saberes e da Roda de Capoeira no Livro das Formas de Expressão, a criação de um plano de previdência especial para os "velhos mestres". Gente como Francisco de Assis, o mestre Gigante, de 84 anos. "Preciso muito dessa ajuda", diz Assis, que já participou de rodas de capoeira com os lendários mestres Bimba e Pastinha, ícones da expansão da atividade.

Para o presidente do Iphan, Luiz Fernando de Almeida, o reconhecimento é um passo para que se estabeleçam "políticas públicas concretas" para a atividade. As próximas medidas para a preservação da capoeira, além do plano especial de previdência, de acordo com ele, são o estabelecimento de um programa de incentivo da atividade no mundo e a criação de um Centro Nacional de Referência da Capoeira, com sede em Salvador. "Vamos transformar a cidade em uma espécie de Meca da capoeira", afirma. (Tiago Décimo)

(© UOL Viagem)


Ê, camará, a capoeira é patrimônio cultural!

Margarida Neide/Agência A Tarde

A aprovação do registro como patrimônio cultural garante proteção e reconhecimento do saber

Vitor Carmezim, do A Tarde

“O pontapé da capoeira é um aperto de mão”, já diz a letra de um canto conhecido entre os capoeiristas. Na tarde desta terça-feira, 15, o pontapé de mestres e alunos de capoeira de Salvador e outros lugares do País foi certeiro e atingiu em cheio um objetivo há muito buscado: o reconhecimento.

E atingiu como um aperto de mão que uniu a história à criatividade e perseverança populares. O Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) reuniu-se no Palácio Rio Branco, na Praça Municipal, e aprovou a proposta de registro da capoeira como patrimônio cultural do Brasil.  

A decisão alça a dança / luta / jogo / esporte – como queiram – a um patamar importante para a preservação daquela que é uma das mais representativas heranças do povo negro para a formação da cultura da Bahia e do Brasil. Com o registro, cabe ao governo, a partir de agora, elaborar projetos e políticas públicas que envolvam ações necessárias para a continuidade das rodas de capoeira e a valorização dos mestres, responsáveis diretos pela perpetuação dos ensinamentos que têm em mestre Bimba e mestre Pastinha seus maiores expoentes.

Os mestres atuais, também ligados a uma corrente de aprendizado que vem daqueles, sorriem quando o assunto é a aprovação do registro, mas fazem ressalvas quando se trata da execução prática de ações. “Espero que não fiquem no papel os planos para a capoeira a partir desta decisão tão importante. Veio em um bom momento, já que no exterior tem gente muito interessada em se apropriar de uma bem que é nosso”, afirma mestre Boa Gente, há 40 anos no gingado das rodas de capoeira.

Mestre Curió, 71 anos, um dos mais reconhecidos da atualidade, conta as dificuldades que passa para poder disseminar os ensinamentos. “Nós sofremos muito preconceito nos aeroportos mundo afora. Os estrangeiros nos valorizam muito mais do que o governo brasileiro. Espero que, com essa decisão, isso mude”, diz.

150 países – O governador Jaques Wagner, presente na cerimônia, também destacou a importância de valorizar os mestres. “Não houve nenhuma grande empresa ou instituição que foi a divulgadora oficial da capoeira. Isso foi um trabalho passo-a-passo dos mestres, legalizado pela vontade das pessoas. Hoje, a capoeira está em mais de 150 países”, afirmou. Na mesma sintonia, o capoeirista Cafuné, aluno de mestre Bimba, arrematou: “A capoeira foi o maior embaixador do Brasil no mundo todo”.

O ministro interino da cultura, Juca Ferreira, que foi homenageado dentro de uma roda de capoeiristas com uma charge em que aparece ao lado do ministro Gilberto Gil, disse que o passo do reconhecimento aproxima a sociedade da democracia racial, valorizando uma manifestação tipicamente negra, mas que hoje já tem dimensões internacionais. “O passo agora é garantir que os mestres possam ter os seus saberes reconhecidos e repassá-los em escolas e universidades Brasil afora”, afirmou.

O plano de salvaguarda da capoeira inclui o reconhecimento do notório saber dos mestres e planos de previdência especial para os mais velhos; um programa de incentivo no mundo; a criação de um centro nacional de referência da capoeira e outras ações. “O registro significa o reconhecimento da diversidade do patrimônio histórico brasileiro e também uma reparação desta prática, que foi perseguida em anos anteriores pelo próprio Estado”, afirmou o presidente do Iphan, Luiz Fernando Almeida.

(© A Tarde)

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind