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Olhar renovador sobre a Tropicália e suas influências

18/07/2008

 

 

Foto: Leo Caobelli/Folha Imagem

Tom Zé será homenageado e cantará músicas do período no Sesc Pompéia
 

Série Era Iluminada reúne Tom Zé, Lucas Santtana, Roberta Sá e Júpiter Maçã

Lauro Lisboa Garcia

Além do cinqüentenário oficial da bossa nova, outra efeméride musical relevante de 2008 é o aniversário de 40 anos do disco Tropicália ou Panis et Circencis. São em torno desse movimento os shows de hoje a domingo da série Era Iluminada, do Sesc Pompéia, que já passou pela bossa, a jovem guarda e outras manifestações sonoras brasileiras.

O LP que reunia Caetano Veloso, Gilberto Gil, Mutantes, Gal Costa, Nara Leão, Tom Zé, Rogério Duprat e Torquato Neto foi lançado em julho de 1968. Estabelecendo-se como manifesto libertário, o tropicalismo, como a bossa dez anos antes, mexeu com os costumes da juventude. O elenco da Era Iluminada é exemplar de como sua caldeira ainda ferve em espírito inovador.

Lucas Santtana tem o ímpeto criativo de um Tom Zé, Flávio Basso (mais conhecido pelo codinome Júpiter Maçã de sua banda) tem muito de Caetano e Mutantes, a voz de Roberta Sá é tão marcante hoje quanto foi a de Gal. Isaar representa a modernidade pernambucana pós-mangue beat. A banda inclui Curumin, Astronauta Pingüim e Regis Damasceno (do Cidadão Instigado). Tom Zé em pessoa é grande influência para essa geração, ao mesmo tempo que absorve as inovações, sempre rejuvenescendo sua música provocativa.

O roteiro tem clássicos do disco-manifesto (Baby, Parque Industrial, Panis et Circencis, Tropicália), mas vai além, pelo cancioneiro de seus criadores e dos que afinam com a idéia de tropicalização (misturando o moderno e o tradicional), como Jards Macalé, Jorge Mautner, Jorge Ben e Júpiter Maçã. Na função de Duprat, Santtana montou a banda, o repertório e assina a direção musical do show. Sua primeira decisão foi não copiar os arranjos originais, mas ''fazer versões das músicas atualizando com essa geração. Fiz os arranjos muito baseado no conceito do mash-up'', diz. Mas em vez de juntar dois ou três gravações para montar uma terceira coisa, eles vão fazer tudo ao vivo, ligando Jorge Ben a Bo Diddley, Macalé a Santi White, do Santo Gold, novidade nova-iorquina. Isto é neotropicalismo, isto é muito natural.

Serviço

Era Iluminada - Tropicália. Sesc Pompéia (344 lug.). R. Clélia, 93, 3871-7000. Hoje e amanhã, 21h; dom., 18h. R$ 6 a R$ 24

(© Estadão)


Shows em SP fazem "mash-up" da tropicália

Luciana Whitaker/Folha Imagem

A cantora Roberta Sá interpreta
canções da Tropicália com Tom Zé

Tom Zé se une a Roberta Sá, Júpiter Maçã e outros em releitura do movimento dos anos 60

Sob direção musical de Lucas Santtana, artistas dão novas interpretações a "Parque Industrial", "Ando Meio Desligado" e outras


RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Tom Zé mandou retocar o céu de anil e requentar o sorriso antes de usar, e, conforme dita a lembrança do músico baiano, o júri do programa Flávio Cavalcanti decretou que aquilo não era música.

Era 1968, e "aquilo" tinha o nome de "Parque Industrial", faixa do LP "Tom Zé" que não só era música como hoje, um clássico do movimento tropicalista, encerra os shows em homenagem ao gênero na sexta edição da "Era Iluminada". Até domingo, o Sesc Pompéia, em São Paulo, recebe Tom Zé e também os mais jovens Roberta Sá, Flávio Basso (Júpiter Maçã), Isaar e Lucas Santtana, numa celebração que busca "atualizar" o repertório que revolucionou a cultura nacional.

"A idéia não é fazer cover, e sim dialogar com o que foi feito de lá para cá, numa espécie de "mash-up'", diz Santtana, cantor, compositor e diretor musical do show. Experimentar sobre as experimentações tropicalistas inclui jogar uma base à Bo Diddley (pioneiro do rock) em "País Tropical", de Jorge Ben Jor, e reler "Negra Melodia", de Jards Macalé e Waly Salomão, "numa onda [da cantora americana] Santogold". Uma e outra são interpretadas no show por, respectivamente, Júpiter Maçã e Isaar. A seleção sobre o palco, justifica Santtana, levou em conta critérios como influências do gênero na obra dos artistas (caso de Júpiter) e a mistura do regional com o moderno (Isaar). Roberta Sá, "representante da tradição de cantoras iniciada com Gal Costa", canta "Baby" (Caetano Veloso) e outras famosas em vozes femininas.

Quase ao fim, Tom Zé sobe para interpretar músicas próprias como "2001" (dele com Rita Lee) e "Nave Maria". Esta última, de 1984, é posterior ao movimento, como outras no show, mas o baiano não as considera fora de contexto: "Veja, eu fazia o que fazia sem saber se era tropicalismo. Um dia, ele veio com seu telhado proteger minha lavoura. Daí, foi embora, e continuei fazendo o que fazia antes".

ERA ILUMINADA - TROPICÁLIA
Quando: hoje e sáb., 21h; dom., 18h
Onde: Sesc Pompéia - teatro (r. Clélia, 93, tel. 0/xx/11/3871-7700)
Classificação indicativa: não recomendado para menores de 12 anos
Quanto: R$ 6 a R$ 24

(© Folha de S. Paulo)

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