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TEA: o teatro de Caruaru

28/07/2008

 

 

Divulgação

 

Argemiro Pascoal e Arary Marrocos fomentam a cena teatral caruaruense há 46 anos, quando fundaram o Teatro Experimental de Arte (TEA)

Por Leidson Ferraz

Argemiro envolveu-se com a arte cênica ainda em Bezerros. Em 1948, foi convidado a ser “ponto” no Grupo de Teatro Carlos Gomes, cuja função era “soprar” as falas para o elenco, numa época em que os atores não decoravam os textos por completo. Em 1951, mudou-se para Caruaru, exatamente quando o Grupo Intermunicipal de Comédias reunia gente da alta sociedade para, em experiências efêmeras, mergulhar no mundo artístico. De origem mais simples, ele preferiu esperar um outro momento para dedicar-se definitivamente aos palcos. Isso aconteceu em 1956, quando fundou, junto a companheiros como Wilson Feitosa, Cosme Soares, Creuza Soares e Antônio Medeiros, o Teatro de Amadores de Caruaru (TAC).

Segundo o historiador Joel Pontes, sob direção de Luiz Mendonça, este grupo revigorou a cena no interior pernambucano, especialmente pelas escolhas dramatúrgicas. Obras de Gianfrancesco Guarnieri, Joracy Camargo e Isaac Gondim Filho figuravam em seu repertório. No carnaval de 1960, através de um amigo integrante do TAC, Ararê Marrocos, Argemiro conheceu Arary, jovem que também tinha tendências à arte, pois, desde que se mudou para a capital do Agreste, com 12 anos de idade, costumava declamar poesias, incentivada pelo então diretor do Colégio de Caruaru, Luiz Pessoa. Bastou um ano de namoro para o casamento acontecer. Em fevereiro de 1962, nascia Fábio Pascoal, fruto dessa união que já dura quase meio século.

Formado em Contabilidade, Argemiro passou a dividir-se entre os números e a arte. Aos poucos, trouxe a esposa, pedagoga, para junto de suas duas atividades. Por incrível que pareça, o casal, até hoje, consegue conciliar mundos tão distintos. Mas a grande reviravolta na vida deles aconteceu em julho de 1962, quando Caruaru recebeu o I Festival de Teatro de Estudantes do Nordeste, evento que contou com o crítico de teatro Joel Pontes, atuante no Recife, mas natural da cidade, como um dos coordenadores. Diante dos vários espetáculos convidados, das oficinas e palestras oferecidas, ficou evidente a defasagem da produção cênica caruaruense. E dessa constatação de que o teatro local precisava ser menos empírico, Joel foi o primeiro a propor intercambiar uma série de oficinas junto a professores do Recife.

Nascia assim, no dia 16 de julho daquele ano, como “grupo de estudo”, o Movimento Teatral Renovador que, pouco depois, diante da existência de um partido político homônimo em terras gaúchas, seria rebatizado de Teatro Experimental de Arte (TEA). No nome da equipe, o significado do experimentar-se, com uma boa dose de ousadia. A partir daí, o teatro em Caruaru nunca mais foi o mesmo. Nada de apenas decorar um texto, repetir marcas já esperadas, e subir ao palco quase sem consistência interpretativa. A proposta era ler várias obras do teatro universal, conhecer e estudar autores, discutir melhor cada elemento da cena e, acima de tudo, valorizar a cultura do país. Gratuitamente, ao longo dos anos, vários professores se dispuseram a contribuir com esse aprimoramento no TEA: Clênio Wanderley, Isaac e Estephania Gondim, Walter Estevão, Luiz Maurício Carvalheira, Romildo Moreira, Didha Pereira, José Manoel.

Nesses 46 anos de trajetória ininterrupta, mais de 50 espetáculos foram encenados, de clássicos como Antígona, de Sófocles, ou A via sacra, de Ghéon, a textos mais experimentais como Feira de Caruaru, estréia do caruaruense Vital Santos como dramaturgo, a Ratos de esgoto, do baiano Vieira Neto. Diante de uma inegável dificuldade em decorar falas, Argemiro Pascoal, de ator, decidiu arriscar-se na direção, depois, lançou-se à dramaturgia. “Sempre preferi estar nos bastidores”, diz, entre sorrisos. Em 1975 conseguiu levar à cena um de seus textos, O testamento, com boa recepção. Com mais de 15 peças escritas, algumas ainda inéditas como Um país chamado Caruaru e O retirante, Argemiro passou a ser o autor e diretor mais presente na história do TEA.

Leidson Ferraz é ator, jornalista e pesquisador teatral.

(© Continente Multicultural)

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