Por Leidson
Ferraz
Argemiro envolveu-se com a arte cênica ainda em Bezerros. Em 1948,
foi convidado a ser “ponto” no Grupo de Teatro Carlos Gomes, cuja
função era “soprar” as falas para o elenco, numa época em que os
atores não decoravam os textos por completo. Em 1951, mudou-se para
Caruaru, exatamente quando o Grupo Intermunicipal de Comédias reunia
gente da alta sociedade para, em experiências efêmeras, mergulhar no
mundo artístico. De origem mais simples, ele preferiu esperar um
outro momento para dedicar-se definitivamente aos palcos. Isso
aconteceu em 1956, quando fundou, junto a companheiros como Wilson
Feitosa, Cosme Soares, Creuza Soares e Antônio Medeiros, o Teatro de
Amadores de Caruaru (TAC).
Segundo o historiador Joel Pontes, sob direção de Luiz Mendonça,
este grupo revigorou a cena no interior pernambucano, especialmente
pelas escolhas dramatúrgicas. Obras de Gianfrancesco Guarnieri,
Joracy Camargo e Isaac Gondim Filho figuravam em seu repertório. No
carnaval de 1960, através de um amigo integrante do TAC, Ararê
Marrocos, Argemiro conheceu Arary, jovem que também tinha tendências
à arte, pois, desde que se mudou para a capital do Agreste, com 12
anos de idade, costumava declamar poesias, incentivada pelo então
diretor do Colégio de Caruaru, Luiz Pessoa. Bastou um ano de namoro
para o casamento acontecer. Em fevereiro de 1962, nascia Fábio
Pascoal, fruto dessa união que já dura quase meio século.
Formado em Contabilidade, Argemiro passou a dividir-se entre os
números e a arte. Aos poucos, trouxe a esposa, pedagoga, para junto
de suas duas atividades. Por incrível que pareça, o casal, até hoje,
consegue conciliar mundos tão distintos. Mas a grande reviravolta na
vida deles aconteceu em julho de 1962, quando Caruaru recebeu o I
Festival de Teatro de Estudantes do Nordeste, evento que contou com
o crítico de teatro Joel Pontes, atuante no Recife, mas natural da
cidade, como um dos coordenadores. Diante dos vários espetáculos
convidados, das oficinas e palestras oferecidas, ficou evidente a
defasagem da produção cênica caruaruense. E dessa constatação de que
o teatro local precisava ser menos empírico, Joel foi o primeiro a
propor intercambiar uma série de oficinas junto a professores do
Recife.
Nascia assim, no dia 16 de julho daquele ano, como “grupo de
estudo”, o Movimento Teatral Renovador que, pouco depois, diante da
existência de um partido político homônimo em terras gaúchas, seria
rebatizado de Teatro Experimental de Arte (TEA). No nome da equipe,
o significado do experimentar-se, com uma boa dose de ousadia. A
partir daí, o teatro em Caruaru nunca mais foi o mesmo. Nada de
apenas decorar um texto, repetir marcas já esperadas, e subir ao
palco quase sem consistência interpretativa. A proposta era ler
várias obras do teatro universal, conhecer e estudar autores,
discutir melhor cada elemento da cena e, acima de tudo, valorizar a
cultura do país. Gratuitamente, ao longo dos anos, vários
professores se dispuseram a contribuir com esse aprimoramento no
TEA: Clênio Wanderley, Isaac e Estephania Gondim, Walter Estevão,
Luiz Maurício Carvalheira, Romildo Moreira, Didha Pereira, José
Manoel.
Nesses
46 anos de trajetória ininterrupta, mais de 50 espetáculos foram
encenados, de clássicos como Antígona, de Sófocles, ou A via sacra,
de Ghéon, a textos mais experimentais como Feira de Caruaru, estréia
do caruaruense Vital Santos como dramaturgo, a Ratos de esgoto, do
baiano Vieira Neto. Diante de uma inegável dificuldade em decorar
falas, Argemiro Pascoal, de ator, decidiu arriscar-se na direção,
depois, lançou-se à dramaturgia. “Sempre preferi estar nos
bastidores”, diz, entre sorrisos. Em 1975 conseguiu levar à cena um
de seus textos, O testamento, com boa recepção. Com mais de 15 peças
escritas, algumas ainda inéditas como Um país chamado Caruaru e O
retirante, Argemiro passou a ser o autor e diretor mais presente na
história do TEA.
Leidson Ferraz
é ator, jornalista e pesquisador teatral.
(© Continente
Multicultural)