Eugênia Bezerra
Milena Times
Pernambuco
celebra 10 anos de Dia Estadual do Maracatu hoje. A data, instituída em
dezembro de 1997, marca o nascimento do lendário Mestre Luiz de França do
Maracatu Leão Coroado, eleito Patrimônio Vivo de Pernambuco pela Fundação do
Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Para comemorar a
data, haverá um cortejo de maracatus, com concentração em frente à
Prefeitura de Olinda, às 16h, além do Folclore na Vila 2008, organizado pelo
Maracatu Nação Maracambuco.
Promovido
pela Prefeitura de Olinda, junto com o grupo Cultural Maracatudo Camaleão e
a Associação dos Maracatus de Olinda, o cortejo na cidade alta vai contar
com o batuque dos grupos Leão Coroado, Estrela Brilhante de Igarassu, Porto
Rico e Baque de Luanda. Já na sede do Maracambuco, localizada na Avenida
Presidente Kenedy, 1228, a 7ª edição do Folclore na Vila trará apresentações
dos grupos Capoeira Firenze, Balé Afro Raízes e Na Corda Bamba, às 18h.
Uma das mais
antigas tradições da cultura popular do Estado, o maracatu também pode virar
Patrimônio Imaterial Nacional. Depois do frevo e da Feira de Caruaru, a
Fundarpe entregou ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
(Iphan), em março deste ano, a solicitação de inclusão de mais quatro
manifestações: o cavalo-marinho, o caboclinho, o maracatu rural e o maracatu
nação.
Sem prazo
certo para a aprovação do título de registro, o maracatu vive o seu melhor
momento. Nas décadas de 1950 e 1960, o maracatu nação obteve certa aceitação
social, como componente da nossa tradição africana, reforçando o mito da
democracia racial. O maracatu rural, por outro lado, era considerado uma
descaracterização do modelo tradicional, chegando a ser a ser proibido de
desfilar na passarela oficial no Carnaval de 1976. Se até os anos 80 não
mais que sete grupos desfilavam, atualmente existem mais de 30 grupos de
maracatus nação filiados à Federação Carnavalesca e pelo menos 20 disputaram
o concurso de agremiações nos últimos anos.
O resgate do
maracatu começou com o Balé Popular do Recife, que o estilizou e ó levou em
seus espetáculos a vários países, e depois com o Maracatu Nação Pernambuco,
incorporando integrantes da classe média. Valorizado pela mesma sociedade
que o rejeitava, a visibilidade e o sucesso do maracatu é, em grande parte,
resultado de seu resgate pelo movimento Mangue Beat, nos anos 90, tendo como
principal lanceiro Chico Science com a Nação Zumbi. Quase equivalente ao
frevo em termos de símbolo da nossa cultura, o maracatu ressuscitou e saiu
do purismo da tradição, sendo abraçado por diversas vertentes.
Além dos
mangueboys, artistas como o músico Siba Veloso e Mestre Salu, entre outros,
fizeram o maracatu ser (re)conhecido pelo Brasil e chegar aos ouvidos de um
público que, há poucos anos, não se imaginaria dançando um ritmo como esse.
O maracatu
tornou-se influência para bandas de outros estados, como a Maracatu Vigna
Vulgaris (CE) e para a formação de diversos grupos fora das fronteiras
pernambucanas, como o Rio Maracatu (RJ), o Maracatu Lua Nova (MG) e o Bloco
de Pedra (SP). Até em outros países já surgiram grupos formados por músicos
que se encantaram com o som das alfaias, como é o caso do Maracatu New York
e o Nation Beat (EUA) e Block Vomit (da Escócia).
O registro
mais remoto sobre o maracatu data de 1711 e fala de uma apresentação
artística que compreendia teatro, música e dança. Atualmente, o maracatu
tradicional pode ser dividido em duas manifestações culturais diferentes, de
acordo não apenas com o ritmo, mas também com a indumentária. O maracatu de
baque virado ou maracatu nação tem origem nas congadas, manifestação
permitida pelos senhores de escravos aos negros, que a elegiam seus reis e
rainhas. Já o maracatu de baque solto ou rural, se distingue pela ausência
do rei, sendo seu personagem mais emblemático o caboclo de lança.
(©
JC Online)