Luiz Gonzaga, na foto com o jornalista cearense Assis
Ângelo, autor do Dicionário Gonzagueano
Será inaugurado
hoje o Memorial Luiz Gonzaga, construído com a intenção de ser um centro de
pesquisa e documentação da obra do cantor e compositor de Exu
José Teles
Antes tarde do
que nunca. Finalmente, Luiz Gonzaga, DNA não apenas da música nordestina,
mas da MPB como um todo, terá uma homenagem, no Recife, à altura da sua
grandeza, com a inauguração hoje, às 19h, no Pátio de São Pedro, do Memorial
Luiz Gonzaga. Uma inauguração que acontece no dia em que se completam 19
anos da morte do Rei do Baião. O acervo do memorial divide-se entre
documentos (recortes de jornais, fotografias, cartazes, etc), e a coleção de
discos lançados por Luiz Gonzaga em mais de 40 anos de carreira. Num
arrojado projeto expográfico da arquiteta Cátia Avelar, montado na casa 35,
do Pátio, pretende-se que o memorial vá bem além de uma amostra gonzagueana:
“O acervo não é composto de peças, como num museu, é muito mais documental,
porque o memorial foi construído com a intenção de ser ser um centro de
pesquisa e documentação, aberto para estudantes, pesquisadores, e também
para os admiradores da obra de Luiz Gonzaga, explica Leda Dias, que o
gerenciará.
Parte do
acervo iconográfico, material de imprensa e os discos foram preservados
graças a paixão que nutria pela arte de Gonzagão um ex-vigia do Grupo
Votorantin, o colecionador e pesquisador Mávio de Holanda. Este acervo foi
comprado pela prefeitura do Recife que atendeu à insistência do produtor e
“cutucador” da memória pernambucana, Anselmo Alves. Foi ele, inclusive, quem
idealizou o Memorial Luiz Gonzaga, como aponta a gerente do novo centro
gonzagueano, Leda Dias: “Anselmo foi quem pensou este projeto, por isto
vamos até prestar uma homenagem a ele na inauguração do memorial”. Anselmo
Alves, que tem estado à frente de vários projetos referentes não apenas a
Gonzagão, mas à cultura nordestina de maneira geral, confessa que o caminho
foi longo para chegar à conclusão desta obra: “Há nove anos que eu luto por
isto, indo de porta em porta, até que a prefeitura atual abraçou a minha
idéia. Agora, a missão deste memorial é tentar fazer com que as pessoas
passem a ver Gonzaga sob uma ótica moderna”.
Por ótica
moderna, Anselmo quer dizer que a caudalosa obra de Luiz Gonzaga não seja
apenas reverenciada, mas estudada, analisada: “Tem toda uma indústria que
vive de Luiz Gonzaga, gente que vive cantando sempre as mesmas músicas, como
também acontece com Jackson do Pandeiro. O repertório de Luiz Gonzaga é
gigantesco, no memorial este repertório dele vai estar praticamente todo
disponível, este pessoal poderá agora aprender outras músicas” alfineta
Anselmo, lembrando que a inauguração do memorial contará com a rara presença
de Rosinha, a filha de Luiz Gonzaga, que depois de muitos anos afastada da
obra, e da própria família do pai, pela primeira vez comparecerá a um evento
deste tipo: “Rosinha foi uma presença forte na vida de Gonzaga, está em
capas de LPs dele e, depois que casou, foi se afastando de tudo relacionado
a ele. Agora se reconciliou com a memória de Gonzagão”.
Leda Dias
contabiliza cerca de duas mil peças na casa: “Além da coleção de Mávio de
Holanda, a gente conseguiu bastante material com o pessoal do Parque Aza
Branca. A coleção de recortes de Mávio é grande, mas se concentra num
período mais recente, anos 70 e 80. Conseguimos no Aza Branca os álbuns de
recortes do próprio Luiz Gonzaga, que contêm quatro décadas do que saiu na
imprensa sobre ele, quer dizer é toda a história de Gonzagão. Estes álbuns
foram digitalizados e vão estar disponíveis para pesquisas. A intenção é, em
breve, disponibilizarmos todas as peças para consulta num site, que ainda
está em construção”, diz a gerente do memorial (o endereço do memorial:
www.recife.pe.gov.br/mlg/). As atividades do Memorial Luiz Gonzaga não serão
limitadas às pesquisas ou estudos, ali também haverá debates, oficinas e
cursos. “Começaremos com um curso intensivo de sanfona de oito baixos,
ministrado por Luizinho Calixto, que terá um mês de duração Escolhemos o
oito baixos porque está em extinção, pouca gente se interessa por ele, que é
o instrumento-mestre do forró, da música de Luiz Gonzaga, continua Leda
Dias. As inscrições para o curso de oito baixos vão de 6 a 14 de agosto. O
memorial funcionará de segunda à sexta das 9 às 17h.
Enquanto
isso, o idealizador do Memorial Luiz Gonzaga, o serratalhadense Anselmo
Alves, aponta sua metralhadora giratória para as famigeradas bandas: “Para
mim o memorial é um contraponto a esta fuleiragem music que está aí. Porém,
a minha missão de lutar para preservar a memória de Gonzaga termina por
aqui, vou partir para outra. Fiz um artigo que foi bem comentado, chamado
Quero meu sertão de volta, sei que fui romântico, porque a coisa não tem
mais volta, e eu não quero virar herói”.
Aproximadamente
1700 peças do acervo do Memorial Luiz Gonzaga vieram da coleção que a
prefeitura do Recife teve o bom senso de adquirir de Mávio Holanda, 56,
funcionário do Grupo Votorantim, hoje aposentado. Nascido em Catende, o amor
de Mávio pela música de Luiz Gonzaga teve início quando ele era criança. Aos
23 anos, no Recife, já trabalhando, ele passou a colecionar tudo o que se
referisse ao ídolo: “Andei muito, pesquisei muito. Viajei para tudo que foi
canto atrás de capas, de discos”, conta Mávio, que foi até ao próprio rei do
Baião para aumentar sua coleção: “Estive com ele em Exu algumas vezes, numa
delas Gonzaga me deu um disco raro”.
Nessas idas e
vindas, ele amealhou para sua coleção até música que Luiz Gonzaga nunca
gravou, e só cantou nos programas de rádios que apresentava nas emissoras
cariocas. “Isto estava em áudio, tirado de programas como No mundo do baião,
com coisas inéditas. O que ele gravou eu consegui praticamente tudo, 80 Lps,
quase todos os 78 rotações”. Para ter tempo para esta peregrinação ele
confessa que teve ajuda da empresa na qual trabalhava: “Foi a Votorantim que
patrocinou a minha primeira exposição sobre Luiz Gonzaga”, diz Mávio que se
desfez de sua preciosa coleção, mas apenas dos originais: “Todas as músicas
passei para CD, copiei as capas todas, e tenho ainda caixas de fotos. Com
isto continuo fazendo exposição, como a que vai estar no Nosso Quintal
amanhã (hoje), em San Martin”. A razão de ele ter se desfeito de um acervo
que ocupou 33 anos de sua vida foi a falta de espaço. A casa em que morava
em Caixa D’água, Olinda, foi sendo tomada aos poucos pelo material, até que
não cabia mais Mávio e a família: “Construí um espaço no quintal, mas acabou
enchendo de material, aí o jeito foi sair de casa e ir morar na casa da
sogra, que fica em frente. Mas a coisa está se repetindo. Recomecei a
coleção num quarto, que já encheu, e o material está espalhando-se por esta
outra casa”. (JT)
Está marcada para este sábado (02), às 19h, a inauguração do novo espaço
cultural do Recife, o Memorial Luiz Gonzaga (MLG). O espaço, que vai funcionar
no Pátio de São Pedro, casa 35, apresentará uma visão renovada sobre a obra do
grande mestre que revolucionou a música popular brasileira nas décadas de 40 e
50, do século XX, e contribuiu para a formação da noção de nordestinidade no
cenário cultural brasileiro.
O Memorial é um centro de pesquisa e documentação, onde a população terá, pela
primeira vez no Estado, a possibilidade de pesquisar a discografia e o universo
do Rei do Baião. Na solenidade de inauguração será mostrado um moderno projeto
expográfico, que contará com a exibição de vídeos e documentários sobre a vida e
obra de Luiz Gonzaga, em um grande telão LCD. A expectativa é que compareçam ao
evento diversos artistas e amantes da obra do artista. Na ocasião, será
oferecido um coquetel.
Espaço - Equipamento cultural da Prefeitura do Recife (PCR), o
MLG é um centro de memória e pesquisa, que oferecerá informações provenientes de
seu acervo físico e projeto expográfico, além de ser, também, um centro receptor
e difusor do conhecimento produzido sobre a obra do cantor e compositor. O MLG
pretende estabelecer ligações e convênios com instituições afins, utilizando os
recursos da tecnologia da informação com perfil dinâmico e propositivo. O espaço
já abre suas portas oferecendo, em sua programação, um curso intensivo de
sanfona de 8 baixos, ministrado por um dos grandes mestres do instrumento,
Luizinho Calixto.
O acervo atual do MLG foi constituído com a aquisição da Coleção de Mávio
Holanda, formada por discos raros de 78 rpm, LongPlays, CDs, fotos, impressos,
álbuns de recortes, vídeos e arquivos de áudio em formato MP3. Também consta do
acervo uma coleção singular de documentos cedidos para replicação pelo Parque
Aza Branca, construído pelo Mestre do Araripe, na cidade de Exu. O MLG proporá,
também, cursos, palestras e outras atividades.
Luiz Gonzaga - Representante maior da música popular
nordestina, Luiz Gonzaga interferiu definitivamente na trajetória da música
brasileira ao introduzir os ritmos do sertão do Nordeste - toadas, xotes,
xamegos, baiões, xaxados, marchinhas, emboladas. Ao reencontrar-se com suas
raízes musicais, ajudou a formar a identidade nordestina no imaginário do
Brasil, imprimindo ao acordeom das valsas e tangos uma nova musicalidade. Então,
como sanfona, o instrumento adquiriu nova personalidade. Na sua busca obstinada
pela essência sertaneja, Luiz Gonzaga encontrou, nos arquivos da memória, os
instrumentos musicais para compor uma orquestração diferenciada, com o sotaque
de sua terra, criando o primeiro trio de sanfona, zabumba e triângulo. Na
vestimenta dos cangaceiros e vaqueiros, Gonzaga encontrou sua personalidade
estética. Sua influência não pode ser mensurada. É a tradução musical da própria
alma nordestina para sempre inscrita no cenário cultural do País.
Serviço Memorial Luiz Gonzaga
Onde: Pátio de São Pedro, Casa 35, no Bairro de São José
Informações: 3232.2965 e 3232.2955 /
mlgonzaga@recife.pe.gov.br
Atendimento ao público: de segunda a sexta-feira, das 9h às 17h