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A união do violino com a rabeca

06/08/2008

 

 

Nicolas Krassik, na Lapa
 

Violinista francês de formação erudita, Nicolas Krassik demonstra a sua paixão pelo forró num disco inteiramente dedicado ao gênero

José Teles

O parisiense Nicolas Krassik, 37 anos, até 2001 conhecia de MPB o trivial variado: samba e bossa nova. Um ano antes, ele veio ao Brasil. Identificou-se tanto com a cultura brasileira que resolveu morar no País. De volta a Paris, vendeu tudo o que possuía: casa, carro, e mudou-se para o Rio, trazendo apenas uma mala com roupas, objetos pessoais e um laptop.

Passou a freqüentar os bares da Lapa. Aos poucos, o músico foi se entrosando com a cena musical carioca, e logo estava participando de disco e turnês de alguns dos mais conhecidos artistas do País: Yamandú Costa, Beth Carvalho, Marisa Monte, Carlos Malta, Hamilton de Holanda, Zé da Velha, Silvério Pontes. Tarimba para tocar com este pessoal ele trouxe na bagagem.

Krassik formou-se em violino clássico no Conservatório Nacional da Região d’Aubervilliers (um curso que começou aos cinco anos, e teve 14 anos de duração). Em seguida fez um ano de jazz no Centro de Formação Musical de Paris, o que o capacitou a tocar com músicos como Didier Lockwood e Michel Petrucciani: “O que eu queria era tocar jazz e funk, achava que o jazz me ajudaria a fazer isto pelos estudos de improvisação”, diz.

A música nordestina foi apresentada a ele pelo CD As canções de Eu, tu eles, com Gilberto Gil: “Comprei o disco por acaso, no aeroporto quando voltava para a França. Foi o meu primeiro contato com a música nordestina, que agora é um amor de longa data. Decidi vir ao Nordeste conhecer o Recife, Olinda, Nazaré da Mata. Tocando com Zé Menezes (o violonista cearense) foi até Fortaleza. Cada vez mais encantado com a música da região, o violinista erudito conheceu a rabeca. Teve aulas com dois mestres: Luiz Paixão e o alagoano Nelson da Rabeca: “Passei a me interessar muito pelo forró, pesquisei a obra de Dominguinhos, Sivuca, tenho escutado também discos da Orquestra de Cordas Dedilhadas, Orquestra e Quinteto Armorial. É uma música para mim diferente, modal, moura, mas não totalmente estranha, porque no leste europeu tem algumas coisas semelhantes, inclusive com sanfona”, diz Krassik, em entrevista por telefone.

Ele está divulgando o CD Nicolas Krassik e Cordestinos (Rob Digital). O grupo Cordestino tem como formação básica Marcos Moletta (rabeca), Guto Wirti (contrabaixo acústico), Carlos César (percussão) e Chris Mourão (zabumba e triângulo). Ao longo do disco surgem as participações de Yamandú Costa e Hamilton de Holanda. O resultado é uma sofisticada e inusitada versão de forró de câmera, que Nicolas Krassik gostaria de apresentar no Nordeste: “Não tenho nenhum show agendado aí, mas tenho curiosidade de mostrar o trabalho, para saber como o pessoal da região vai receber nossa leitura da música nordestina”.

A exceção de Opinião, de Zé Kéti, aqui só forró do bom, alguns autorais, os demais assinados por Dominguinhos, Camarão, Sivuca e Glória Gadelha, Hermeto Pascoal e Sivuca. Ao mesmo tempo de câmera e dançável, este casamento da rabeca com o violino. Nicolas Krassik e Cordestinos, é sofisticado, tem tempero jazzístico, sem deixar de ser acessível. Um disco na medida.

» Preço: R$ 23,50

(© JC Online)

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