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Os meninos cresceram

20/08/2008

 

 

Creusa, personagem de Priscila Fantin em Orquestra dos Meninos
 

Maestro Mozart Vieira se sente aliviado com o filme que conta sua trajetória na banda de São Caetano

Renato Mota
Especial para o JC

Certas pessoas passam a vida inteira tentando provar sua inocência, que não são responsáveis pelos crimes que são acusados. Algumas conseguem, através da Justiça, mas mesmo assim carregam durante todas as suas vidas o peso da acusação. Porém, a partir de novembro, um homem ficará mais aliviado: o maestro pernambucano Mozart Vieira. A redenção do músico virá através do filme Orquestra de Meninos, dirigido por Paulo Thiago (Triste fim de Policarpo Quaresma, Jorge, um brasileiro, Bossa nova, entre outros), que entra em cartaz no dia 7 de novembro. A obra é baseada na história do maestro, mas especificamente no período mais difícil da vida de Mozart.

Desde 1978, quando tinha 15 anos, o músico une arte e trabalho social, na cidade de São Caetano, distante 160 quilômetros do Recife. Fundou a Banda Sinfônica do Agreste, mais conhecida como Meninos de São Caetano, que tirou várias crianças do trabalho infantil na lavoura para que se tornassem músicos profissionais. Por causa disso, e de toda a atenção que chamou, tornou-se uma pessoa mal vista pelos poderosos da região, que envolveram seu nome num caso de seqüestro e até pedofilia, em meados de 1995.

Graças à intervenção do arcebispo emérito do Recife e Olinda, D. Hélder Câmara, que alertou a classe artística nacional para o fato, Mozart foi inocentado na Justiça. Entretanto, de acordo com o próprio maestro, muita gente ainda desconfia dele. “Se não fosse esse filme, eu levaria essa mancha para o meu túmulo”, afirma. A esposa, Creusa Mendonça Vieira, destaca que “o que vai ser visto na tela poderá esclarecer tudo que aconteceu, para muitas pessoas”.

Paulo Thiago ressalta que o filme é uma obra de ficção, não um documentário. “Algumas coisas que estão no roteiro não aconteceram exatamente da mesma forma na vida real. Isso acontece por uma questão de adaptação, o que não tira a força da história”, explica o diretor do filme. De acordo com Mozart, embora parte da história tenha sido recontada, as pessoas envolvidas concordaram com a forma que foram retratadas. “Todos os envolvidos foram ouvidos, tanto da orquestra quanto as pessoas que não tinham simpatia por ela. O filme está bem embasado”, garante.

A produção já tem cinco anos, das primeira conversas de Paulo Thiago e Mozart até a pós-produção. Mas a vontade de transformar a história dos Meninos de São Caetano em filme é muito mais antiga. “Paulo me contou que desde o começo dos anos 90 ele se interessou pela nossa orquestra. Mas por causa das acusações em 95 ele decidiu adiar, temendo que achassem que ele queria fazer sensacionalismo”, lembra Mozart. Em 2000, quando o diretor telefonou para a casa do músico, interessado em fazer uma obra baseada em sua vida, foi difícil ligar realidade e ficção. “Pensei que era trote... um cara da importância dele, ligando para a minha casa, para fazer um filme sobre mim. Não acreditei”, lembra o maestro.

Para o papel de Mozart, foi escalado o ator Murilo Rosa, que impressionou o músico. “Não dei dicas sobre como me interpretar, foi o contrário. Quando nos encontramos ele sabia tudo sobre a minha vida, é um profissional muito sério e dedicado”, afirma. Creusa será representada por Priscila Fantim e Othon Bastos completa o elenco, mais do que aprovado pelos “protagonistas”. “Fomos para Sergipe, onde tudo foi filmado, para conhecer a equipe e fiquei espantado com a dedicação de todos”, conta Mozart.

A campanha de divulgação começa só em outubro, mas o filme já teve algumas exibições prévias, inclusive para o maestro. “Em alguns momentos foi surreal ver minha vida retratada daquela forma, mas toda a obra é muito boa, desde o roteiro até a edição, com destaque para a trilha sonora do Quinteto Villa-Lobos”, destaca o músico.

ESPERANÇA

Além de representar uma limpeza na alma do fundador da Banda Sinfônica do Agreste, o filme Orquestra de Meninos pode servir também para ajudar os próprios componentes do grupo. Segundo Mozart, a Fundação Música e Vida, do qual a banda faz parte, sobrevive sem nenhuma ajuda das esferas públicas, seja municipal, estadual ou federal. “O que nos faz manter as portas abertas são as doações que recebemos, especialmente de duas instituições da França”, explica.

A Banda de São Caetano, como quer ser chamada a orquestra - “afinal não tem mais nenhum menino lá, todos cresceram”, como explica o maestro – é convidada para mais eventos fora de Pernambuco do que em seu estado natal. “Iremos para São Paulo nos próximos dias e esperamos que o filme abra ainda mais portas. É uma pena que toquemos tão pouco aqui, até nos inscrevemos para o Festival de Inverno de Garanhuns, mas não fomos selecionados”, conta Mozart.

(© JC Online)

 


Ponte para a música
 

DALWTON MOURA
Repórter

A banda George Belasco & O Cão Andaluz, atração de hoje a partir de 12h no Centro Cultural Banco do Nordeste, é um dos grupos que tocam na integração do Festival Rock Cordel com a Feira da Música (Foto: Divulgação)

De hoje a sábado acontece em Fortaleza a 7a. Feira da Música, com 78 atrações de 19 estados. Jornalistas e produtores do exterior também participam, na articulação da música independente brasileira

Em agosto, já é de lei. O público de Fortaleza ganha a oportunidade de conferir uma maratona de shows, com entrada franca e um vasto panorama da produção musical independente - do Ceará e da maioria dos estados brasileiros. A lista de atrações, que nesta edição da Feira da Música contabiliza mais de 80 shows e um total de 120 atividades abertas ao público, deixa entrever o crescimento do evento, ao longo destes sete anos. O que começou tendo como principais chamarizes shows de artistas mais próximos do grande público e exposição de instrumentos e equipamentos musicais se tornou um evento com foco no fomento aos independentes. As cenas musicais locais se tornaram o principal atrativo da feira, hoje reconhecida como espaço de intercâmbio e articulações entre diversos entes de uma cadeia produtiva que se redesenha com grande velocidade.

Para ampliar essa conexão além-fronteiras, a feira recebe pelo segundo ano consecutivo um grupo de produtores musicais, jornalistas e representantes de selos e circuitos de shows vindos de diversos países. A idéia é levar mais longe a ponte que o evento vem ajudando a construir, entre os cenários local, regional e nacional, ampliando-a para o mercado externo. Mais do que uma expectativa, algo que já é realidade para muitos grupos e artistas, que vem sendo beneficiados pelo novo olhar sobre a música brasileira vindo do exterior – incluindo espaço para os independentes, bem além dos nomes de há muito consagrados do samba e da bossa nova.

Ano passado, vários artistas cearenses tiveram oportunidade de ´vender seu peixe´ a representantes de países como França, Inglaterra e Estados Unidos. Agora, o projeto ´Imagem & Comprador´, tocado pela Brasil Música & Artes (BM&A) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (APEX Brasil), inclui Fortaleza, através da feira, em seu calendário de itinerância por seis estados. Antecedendo a rodada de negócios e a apresentação dos trabalhos musicais - pelos artistas ou por seus produtores, pré-cadastrados através do site da feira -, David McLoughlin e Michel Nicolau, representantes da BM&A, fazem um seminário aberto ao público, amanhã, às 16h, no auditório do Centro de Negócios do Sebrae (onde também acontece a feira propriamente dita, com os estandes dos diversos expositores), dentro da programação do VII Encontro Internacional da Música, integrado ao evento.

O encontro reserva uma larga programação de debates e oficinas, privilegiando o eixo desse intercâmbio, mas também se espalhando por temas diversos. Hoje, a partir das 14h, acontecem os painéis ´Mapa da mina´ (mapeamento dos festivais), ´Formas de financiamento para empreendimentos culturais´ (com representantes de BNB, do BNDES e da Prefeitura de Fortaleza) e ´Editais de Incentivo à Cultura´, com representantes das secretarias de Cultura municipal e estadual, além do Ministério da Cultura.

CONVIDADOS

COMPRADORES INTERNACIONAIS

Brent Grulke - SXSW (EUA)
John Bissell - trilhas sonoras (EUA)
Olivier Lacourt - Vice-presidente do Bureau de Exportação (França)
Mel Puljic/Mondo Music - produtor de shows (Milton Nascimento, Jorge Ben) (EUA)
Neil Mowat - branding - Troca Brahma (Reino Unido)
Gene de Souza - Rhythm Foundation (EUA)

MÍDIA INTERNACIONAL

Tracy Mann (EUA)
Jody Gillett (Reino Unido)
Alex Robinson - jornalista - Songlines, Travel Magazines e New York Times (Reino Unido)
Jim Carroll- jornalista - The Irish Times (Irlanda)

(© Diário do Nordeste)


VÍDEO

Orquestra dos Meninos - Trailer

 

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


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