Creusa, personagem de Priscila Fantin em Orquestra dos
Meninos
Maestro Mozart
Vieira se sente aliviado com o filme que conta sua trajetória na banda de
São Caetano
Renato Mota Especial para o JC
Certas pessoas
passam a vida inteira tentando provar sua inocência, que não são
responsáveis pelos crimes que são acusados. Algumas conseguem, através da
Justiça, mas mesmo assim carregam durante todas as suas vidas o peso da
acusação. Porém, a partir de novembro, um homem ficará mais aliviado: o
maestro pernambucano Mozart Vieira. A redenção do músico virá através do
filme Orquestra de Meninos, dirigido por Paulo Thiago (Triste fim de
Policarpo Quaresma, Jorge, um brasileiro, Bossa nova, entre outros), que
entra em cartaz no dia 7 de novembro. A obra é baseada na história do
maestro, mas especificamente no período mais difícil da vida de Mozart.
Desde 1978,
quando tinha 15 anos, o músico une arte e trabalho social, na cidade de São
Caetano, distante 160 quilômetros do Recife. Fundou a Banda Sinfônica do
Agreste, mais conhecida como Meninos de São Caetano, que tirou várias
crianças do trabalho infantil na lavoura para que se tornassem músicos
profissionais. Por causa disso, e de toda a atenção que chamou, tornou-se
uma pessoa mal vista pelos poderosos da região, que envolveram seu nome num
caso de seqüestro e até pedofilia, em meados de 1995.
Graças à
intervenção do arcebispo emérito do Recife e Olinda, D. Hélder Câmara, que
alertou a classe artística nacional para o fato, Mozart foi inocentado na
Justiça. Entretanto, de acordo com o próprio maestro, muita gente ainda
desconfia dele. “Se não fosse esse filme, eu levaria essa mancha para o meu
túmulo”, afirma. A esposa, Creusa Mendonça Vieira, destaca que “o que vai
ser visto na tela poderá esclarecer tudo que aconteceu, para muitas
pessoas”.
Paulo Thiago
ressalta que o filme é uma obra de ficção, não um documentário. “Algumas
coisas que estão no roteiro não aconteceram exatamente da mesma forma na
vida real. Isso acontece por uma questão de adaptação, o que não tira a
força da história”, explica o diretor do filme. De acordo com Mozart, embora
parte da história tenha sido recontada, as pessoas envolvidas concordaram
com a forma que foram retratadas. “Todos os envolvidos foram ouvidos, tanto
da orquestra quanto as pessoas que não tinham simpatia por ela. O filme está
bem embasado”, garante.
A produção já
tem cinco anos, das primeira conversas de Paulo Thiago e Mozart até a
pós-produção. Mas a vontade de transformar a história dos Meninos de São
Caetano em filme é muito mais antiga. “Paulo me contou que desde o começo
dos anos 90 ele se interessou pela nossa orquestra. Mas por causa das
acusações em 95 ele decidiu adiar, temendo que achassem que ele queria fazer
sensacionalismo”, lembra Mozart. Em 2000, quando o diretor telefonou para a
casa do músico, interessado em fazer uma obra baseada em sua vida, foi
difícil ligar realidade e ficção. “Pensei que era trote... um cara da
importância dele, ligando para a minha casa, para fazer um filme sobre mim.
Não acreditei”, lembra o maestro.
Para o papel
de Mozart, foi escalado o ator Murilo Rosa, que impressionou o músico. “Não
dei dicas sobre como me interpretar, foi o contrário. Quando nos encontramos
ele sabia tudo sobre a minha vida, é um profissional muito sério e
dedicado”, afirma. Creusa será representada por Priscila Fantim e Othon
Bastos completa o elenco, mais do que aprovado pelos “protagonistas”. “Fomos
para Sergipe, onde tudo foi filmado, para conhecer a equipe e fiquei
espantado com a dedicação de todos”, conta Mozart.
A campanha de
divulgação começa só em outubro, mas o filme já teve algumas exibições
prévias, inclusive para o maestro. “Em alguns momentos foi surreal ver minha
vida retratada daquela forma, mas toda a obra é muito boa, desde o roteiro
até a edição, com destaque para a trilha sonora do Quinteto Villa-Lobos”,
destaca o músico.
ESPERANÇA
Além de
representar uma limpeza na alma do fundador da Banda Sinfônica do Agreste, o
filme Orquestra de Meninos pode servir também para ajudar os próprios
componentes do grupo. Segundo Mozart, a Fundação Música e Vida, do qual a
banda faz parte, sobrevive sem nenhuma ajuda das esferas públicas, seja
municipal, estadual ou federal. “O que nos faz manter as portas abertas são
as doações que recebemos, especialmente de duas instituições da França”,
explica.
A Banda de
São Caetano, como quer ser chamada a orquestra - “afinal não tem mais nenhum
menino lá, todos cresceram”, como explica o maestro – é convidada para mais
eventos fora de Pernambuco do que em seu estado natal. “Iremos para São
Paulo nos próximos dias e esperamos que o filme abra ainda mais portas. É
uma pena que toquemos tão pouco aqui, até nos inscrevemos para o Festival de
Inverno de Garanhuns, mas não fomos selecionados”, conta Mozart.
A banda George Belasco & O Cão Andaluz, atração de hoje a partir de 12h
no Centro Cultural Banco do Nordeste, é um dos grupos que tocam na
integração do Festival Rock Cordel com a Feira da Música (Foto:
Divulgação)
De hoje a sábado acontece em Fortaleza a 7a. Feira da Música, com 78
atrações de 19 estados. Jornalistas e produtores do exterior também
participam, na articulação da música independente brasileira
Em agosto, já é de lei. O público de Fortaleza ganha a oportunidade de
conferir uma maratona de shows, com entrada franca e um vasto panorama da
produção musical independente - do Ceará e da maioria dos estados
brasileiros. A lista de atrações, que nesta edição da Feira da Música
contabiliza mais de 80 shows e um total de 120 atividades abertas ao
público, deixa entrever o crescimento do evento, ao longo destes sete anos.
O que começou tendo como principais chamarizes shows de artistas mais
próximos do grande público e exposição de instrumentos e equipamentos
musicais se tornou um evento com foco no fomento aos independentes. As cenas
musicais locais se tornaram o principal atrativo da feira, hoje reconhecida
como espaço de intercâmbio e articulações entre diversos entes de uma cadeia
produtiva que se redesenha com grande velocidade.
Para ampliar essa conexão além-fronteiras, a feira recebe pelo segundo ano
consecutivo um grupo de produtores musicais, jornalistas e representantes de
selos e circuitos de shows vindos de diversos países. A idéia é levar mais
longe a ponte que o evento vem ajudando a construir, entre os cenários
local, regional e nacional, ampliando-a para o mercado externo. Mais do que
uma expectativa, algo que já é realidade para muitos grupos e artistas, que
vem sendo beneficiados pelo novo olhar sobre a música brasileira vindo do
exterior – incluindo espaço para os independentes, bem além dos nomes de há
muito consagrados do samba e da bossa nova.
Ano passado, vários artistas cearenses tiveram oportunidade de ´vender seu
peixe´ a representantes de países como França, Inglaterra e Estados Unidos.
Agora, o projeto ´Imagem & Comprador´, tocado pela Brasil Música & Artes
(BM&A) e pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos
(APEX Brasil), inclui Fortaleza, através da feira, em seu calendário de
itinerância por seis estados. Antecedendo a rodada de negócios e a
apresentação dos trabalhos musicais - pelos artistas ou por seus produtores,
pré-cadastrados através do site da feira -, David McLoughlin e Michel
Nicolau, representantes da BM&A, fazem um seminário aberto ao público,
amanhã, às 16h, no auditório do Centro de Negócios do Sebrae (onde também
acontece a feira propriamente dita, com os estandes dos diversos
expositores), dentro da programação do VII Encontro Internacional da Música,
integrado ao evento.
O encontro reserva uma larga programação de debates e oficinas,
privilegiando o eixo desse intercâmbio, mas também se espalhando por temas
diversos. Hoje, a partir das 14h, acontecem os painéis ´Mapa da mina´
(mapeamento dos festivais), ´Formas de financiamento para empreendimentos
culturais´ (com representantes de BNB, do BNDES e da Prefeitura de
Fortaleza) e ´Editais de Incentivo à Cultura´, com representantes das
secretarias de Cultura municipal e estadual, além do Ministério da Cultura.
CONVIDADOS
COMPRADORES INTERNACIONAIS
Brent Grulke - SXSW (EUA)
John Bissell - trilhas sonoras (EUA)
Olivier Lacourt - Vice-presidente do Bureau de Exportação (França)
Mel Puljic/Mondo Music - produtor de shows (Milton Nascimento, Jorge Ben)
(EUA)
Neil Mowat - branding - Troca Brahma (Reino Unido)
Gene de Souza - Rhythm Foundation (EUA)
MÍDIA INTERNACIONAL
Tracy Mann (EUA)
Jody Gillett (Reino Unido)
Alex Robinson - jornalista - Songlines, Travel Magazines e New York Times
(Reino Unido)
Jim Carroll- jornalista - The Irish Times (Irlanda)