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João Gilberto faz tributo a Caymmi em show no Rio

27/08/2008

 

 

Foto: Wilton Júnior/AE

João era só sorrisos na volta ao Rio
 

Apresentação no Teatro Municipal contou com 'Você Já Foi à Bahia?' e 'Rosa Morena'

Lauro Lisboa Garcia, de O Estado de S. Paulo

RIO - Depois da passagem triunfal de Caetano Veloso e Roberto Carlos na sexta-feira, nada melhor para coroar a programação do que João Gilberto, no domingo, 24, no Teatro Municipal, dentro do mesmo projeto Itaúbrasil, para celebrar os 50 anos da Bossa Nova. O show teve um tributo a Dorival Caymmi, morto no sábado retrasado, com três clássicos - Você Já Foi à Bahia?, Doralice e Rosa Morena. Mais para o fim, no bis, voltou a abordar o conterrâneo: "Vocês me dão licença de cantar uma música de Dorival Caymmi que talvez não conheçam muito." E mandou Você Não Sabe Amar.

Acorreu ao show de João, que começou com 54 minutos de atraso, um número de gente de música bem maior que no do encontro de Roberto e Caetano. O cantor baiano, aliás, era um dos convidados. Compareceram também Gilberto Gil, Francis e Olivia Hime, Olivia Byington, Sérgio Ricardo, Adriana Calcanhotto, Jaques Morelenbaum, Moraes Moreira, Davi Moraes, Galvão, Carlinhos Brown, Roberta Sá, Moreno Veloso e Pedro Sá, entre outros.

Muitos deles nunca tinham visto João tocar ao vivo e, mais do que fãs ou curiosos, entre eles havia devotos. "João pra mim é um acontecimento perpétuo. Já está aqui no cerebelo", exultava Caetano, ao final da apresentação. "É sempre maravilhoso. É muita filigrana, os melismas de Rosa Morena e Samba do Avião, que ele faz muito sutilmente, mas que hoje fez com um pouco mais de exibição mesmo", observou Gil, ressaltando ainda as qualidades de "grande garimpeiro dos aluviões da música de todas as épocas".

Algumas canções do repertório de São Paulo - basicamente os clássicos da Bossa Nova de Tom Jobim e parceiros - coincidiram no roteiro carioca, mas é claro que foi tudo diferente. Quebrando um jejum de 14 anos sem se apresentar no Rio, ele fez lindas homenagens à cidade com Samba do Avião e Sinfonia do Rio de Janeiro (ambas de Tom, a segunda em parceria com Billy Blanco). Até a tão esgarçada Wave ressurgiu como se estivesse levantando fresquinha do mar, levada por uma prazerosa brisa de verão. Outra que deixou os fãs em êxtase foi o bem-humorado samba 13 de Ouro (Marino Pinto/Herivelto Martins).

A platéia conseguiu segurar o impulso de cantar junto até Desafinado. Mas quando veio Chega de Saudade não resistiu e começou a acompanhá-lo baixinho. João adorou o "sussurrinho" de "vai, minha tristeza" e convidou: "Vamos fazer de novo." Mas foi com Garota de Ipanema que ele provocou êxtase geral.

(© Estadão)


Crítica/show

No Rio, João Gilberto aplaude e pede bis

Acompanhado pela platéia em "Chega de Saudade", músico surpreende ao solicitar novo "sussurro" e diz: "Não quero mais ir embora!'

Rafael Andrade/Folha Imagem

O músico, no Teatro Municipal do Rio, aplaude o público; "Vamos fazer de novo?', pede, ao fim de "Chega de Saudade"
 

RUY CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

Com 55 minutos de atraso (ninguém reclamou), João Gilberto entrou no palco do Teatro Municipal do Rio, na noite de domingo, e selou um pacto de amor com a platéia carioca, para a qual não cantava desde 1994. Foi longamente aplaudido em todos os 30 sambas e canções que desfiou durante uma hora e 20 minutos, repetindo boa parte do repertório que apresentara em São Paulo na semana anterior. Mas, quase ao fim, deu-se uma surpresa.

Ao começar "Chega de Saudade", de Tom e Vinicius, foi acompanhado à meia-voz pela platéia. Sabendo-se que ele não gosta de interferências externas enquanto canta, alguns gelaram -como João Gilberto iria reagir? Pois ele levou o samba até o fim. Quando terminou, fez uma pausa e disse, sorrindo: "Gostei desse sussurro. Vamos fazer de novo?". E puxou um novo "Chega de Saudade", com a letra inteira sendo cantada duas vezes pelo público, e ele, com ar de grande satisfação, acompanhando-o ao violão e aos contracantos.

Ao aplaudir a platéia, exclamou: "Só tem um problema. Não quero mais ir embora!". Então, arregaçou a manga do braço direito, como se os trabalhos fossem começar ali. Atacou de "Garota de Ipanema", da qual o público também participou, e fechou com um "O Pato" cheio de quebradas diferentes, vocalizes e truques de conjuntos vocais.

Só então saiu do palco. Foi aplaudido por cinco minutos, mas não voltou. Tudo bem. Os sorrisos nos rostos, nas escadarias do Municipal, eram a prova de que todos tinham caído no visgo do sedutor.

Mas, no começo, houve quem temesse pelo pior. João Gilberto entrou cantando ainda mais baixo que de costume, como se não soubesse o que esperar daquela noite. Foi assim nos três Caymmis com que abriu o recital ("Você Já Foi à Bahia?", "Doralice" e "Rosa Morena") e na pequena jóia "Treze de Ouro", de Herivelto Martins e Marino Pinto, criada pelos Anjos do Inferno em 1949. Mas o público mostrou que estava ao seu lado, apurando os ouvidos e se esforçando para não respirar, ofegar ou ter crises de asma. Em "Meditação", de Tom e Newton Mendonça, e "Preconceito", de Wilson Batista e Marino Pinto, o volume parecia restabelecido. Com "Samba do Avião", só de Tom, já estávamos em velocidade de cruzeiro.

Então, a inesperada delícia: sua interpretação de dois movimentos da "Sinfonia do Rio de Janeiro", de Billy Blanco e Jobim, cantados originalmente, em 1954, por Dick Farney e Nora Ney. São conhecidos registros particulares por João Gilberto dessa antecessora direta da bossa nova, mas ele nunca a gravou comercialmente. O ciclo Jobim, com vários parceiros, continuou com "Ligia", "Caminhos Cruzados", "Desafinado", "Corcovado" e, mais impressionante, um "Retrato em Branco e Preto" em que ele exibiu seus incríveis foles de 77 anos, sustentando as frases longuíssimas e mortíferas.

Vendo-o ao vivo, é fácil entender por que ele se diz um "cantor de sambas". Foi com indisfarçável prazer que se entregou a "Isto Aqui, o que É?", de Ary Barroso, "Não Vou Pra Casa", de Antonio Almeida e Roberto Roberti, e "Tim-tim por Tim", de Geraldo Jacques e Haroldo Barbosa. Nesta, lembrou-se dos Cariocas, que a lançaram, e os chamou de "professores de música do Brasil". Citou seus nomes um por um e perguntou, "Cadê Os Cariocas?". Não por acaso, dois deles, Badeco e Quartera, integrantes originais do conjunto, quase chorando, estavam nos camarotes, misturados às celebridades, estas ignoradas pelo público diante do astro maior.

Avaliação: ótimo

(© Folha de S. Paulo)


João é todo sorrisos na volta ao Rio

Cantor deixa em êxtase público que lotou o Teatro Municipal no domingo

Lauro Lisboa Garcia

Muita gente do meio musical reclama da escassez de espaço para boa música no Rio, da infra-estrutura e acústica de algumas casas, da falta de interesse por novidades e do comportamento do público carioca e tal. Mas o que se viu neste fim de semana foi algo redentor. Depois da passagem triunfal de Caetano Veloso e Roberto Carlos na sexta-feira, nada melhor para coroar a programação do que João Gilberto, anteontem, no Teatro Municipal, dentro do mesmo projeto Itaúbrasil, para celebrar os 50 anos da bossa nova.

Acorreu ao show de João, que começou com 54 minutos de atraso, um número de gente de música bem maior que no do encontro de Roberto e Caetano. O cantor baiano, aliás, era um dos convidados. Compareceram também Gilberto Gil, Francis e Olivia Hime, Olivia Byington, Sérgio Ricardo, Adriana Calcanhotto, Jaques Morelenbaum, Moraes Moreira, Davi Moraes, Galvão, Carlinhos Brown, Roberta Sá, Moreno Veloso e Pedro Sá, entre outros.

Muitos deles nunca tinham visto João tocar ao vivo e, mais do que fãs ou curiosos, entre eles havia devotos. "João pra mim é um acontecimento perpétuo. Já está aqui no cerebelo", exultava Caetano, ao final da apresentação. "É sempre maravilhoso. É muita filigrana, os melismas de Rosa Morena e Samba do Avião, que ele faz muito sutilmente, mas que hoje fez com um pouco mais de exibição mesmo", observou Gil, ressaltando ainda as qualidades de "grande garimpeiro dos aluviões da música de todas as épocas".

Sérgio Ricardo, de quem João sempre cantou músicas "nas intimidades", diz que ficou surpreso quando o cantor incluiu O Nosso Olhar no roteiro de São Paulo, e repetiria anteontem com resultado ainda mais bonito. "Foi muito surpreendente o fato de ele cantar uma música minha, porque não é muito o estilo dele. Mas tudo o que ele faz tem sempre uma mágica."

Pedro Sá, guitarrista da banda de Caetano, conta que chegou às 3 horas da manhã do dia em que se abriram as vendas de ingressos (que se acabaram três horas depois). "Aí tinha um cara na fila que tinha um ingresso sobrando para o show de Caetano e Roberto. Dei muita sorte."

"É uma viagem em que João leva a gente sempre para um lugar muito bom", definiu Moraes Moreira. "E por tudo que eu conheço dele, posso dizer que esse show de hoje foi muito especial." Seu jovem filho Davi Moraes, "graças a Deus", viu João pela quarta vez: "É sempre como se fosse a primeira vez. Ele está cantando do jeito maravilhoso que a gente conhece, é sempre emocionante demais."

Pois a "viagem" começou com um lindo tributo a Dorival Caymmi, morto no sábado retrasado, com três clássicos - Você Já Foi à Bahia?, que cantou duas vezes seguidas, variando o andamento, Doralice e Rosa Morena - na seqüência. "Dorival Caymmi, vocês sabem", disse João ao terminar a primeira. Para os bons entendedores, bastou. Melhor demonstração de respeito do que o silêncio, pela memória do supremo baiano que prenunciou a bossa de João, só mesmo ele cantando.

Mais para o fim, no bis, voltou a abordar o conterrâneo: "Vocês me dão licença de cantar uma música de Dorival Caymmi que talvez não conheçam muito." E mandou outra pedrada: Você Não Sabe Amar. Algumas canções do repertório de São Paulo - basicamente os clássicos da bossa nova de Tom Jobim e parceiros - coincidiram no roteiro carioca, mas é claro que foi tudo diferente. E até mais caloroso. Quebrando um jejum de 14 anos sem se apresentar no Rio, ele fez lindas homenagens à cidade com Samba do Avião e Sinfonia do Rio de Janeiro (ambas de Tom, a segunda em parceria com Billy Blanco).

Samba do Avião foi um momento especial. João repetiu cinco vezes a letra, trocando e suprimindo palavras, numa versão diferente da outra, como se estivesse depurando-a até encontrar o ponto exato. Fez até um belo solo instrumental, que poderia ser mais longo, de tão interessante que foi, para se notar a dinâmica de seus acordes. A Sinfonia caiu como um bálsamo em sua louvação a Copacabana.

Até a tão esgarçada Wave ressurgiu como se estivesse levantando fresquinha do mar, levada por uma prazerosa brisa de verão. Foi uma daquelas interpretações que superam todas as outras já feitas da canção, incluindo as do próprio João. O mesmo pode-se dizer da italiana Estate.

Outra que deixou os fãs em êxtase foi o bem-humorado samba 13 de Ouro (Marino Pinto/Herivelto Martins), com que ele já tinha surpreendido o público paulistano. Para Caetano foi um dos destaques do show. Não conhecia "aquela da macumbeira", como também foi novidade para ele e todo mundo um trecho de uma composição de Severino Filho, que nem João lembrou direito da letra (e pediu desculpas por isso). Foi num dos dois momentos em que exaltou as qualidades dos Cariocas, "grande conjunto vocal", e os homenageou cantando só a parte final de Tim Tim por Tim Tim, deixando um sabor de "quero mais".

Sem tapete no palco, sem beber uma gota de água sequer nem precisar afinar muito as cordas do violão, como aconteceu no primeiro show no Auditório Ibirapuera, João, do alto de seus 77 anos, ainda impressiona não só pela vitalidade, mas pelas nuances criativas de interpretação e harmonias inesperadas.

O show começou um tanto estranho. João parecia rouco, com a voz cansada, e se atrapalhou um pouco com a letra de Doralice. Mas a partir de Meditação (Tom Jobim/Newton Mendonça), inserindo pausas e onomatopéias, já com a voz mais aquecida, o show deslanchou. Já no bis, ele dá uma leve derrapada no verso final de Da Cor do Pecado, mas em vez da seriedade com que conduzia Doralice, desta vez ele se divertiu com o deslize, e o público mais ainda.

Este foi um dos vários momentos de um João sorridente, como em Disse Alguém (versão do standard americano All of Me), buliçoso no remelexo de Isto Aqui o Que É? (Ary Barroso), De Conversa em Conversa (Lúcio Alves/Haroldo Barbosa) e Não Vou pra Casa (Antônio Almeida/Roberto Roberti). Teve Lígia, sem ele pronunciar de novo o nome da musa de Tom Jobim, e outras passagens de grande delicadeza poética como Chove Lá Fora (Tito Madi), Caminhos Cruzados (Tom Jobim/Newton Mendonça) e Sinfonia do Rio de Janeiro, das mais encantadoras do concerto.


A platéia conseguiu segurar o impulso de cantar junto até Desafinado. Mas quando veio Chega de Saudade não resistiu e começou a acompanhá-lo baixinho. João adorou o "sussurrinho" de "vai, minha tristeza" e convidou: "Vamos fazer de novo." E toca outra vez, sem cantar, só fazendo de vez em quando um contracanto discreto para o vocal da platéia.

De Tom em Tom, antes de Garota de Ipanema disse que não queria mais ir embora, e arregaçou a manga direita da camisa e do paletó, para mais um êxtase geral. E não é que ele até atendeu ao pedido de uma fã e mandou ver O Pato no fim? "Cadê vocês?", convocou na hora de fazer "qüem qüem". Pela ovação final, o público do teatro lotado queria mais e mais. Não teve, mas voltou pra casa com um sorriso tão grande quanto o de João.

(© Estadão)


João Gilberto compensa atraso e faz bis com 10 músicas

Fotos: Eduardo Nicolau/AE

Cantor se desculpou por atraso, homenageou dono do hotel Maksoud Plaza e mandou um "São Paulo, I love you"

Jotabê Medeiros, Lauro Lisboa Garcia e Livia Deodato

SÃO PAULO - João Gilberto foi generoso com o público paulista que foi assistir ao seu concorrido show na noite desta quinta-feira, 14, no Auditório Ibirapuera. Sem fazer nenhuma reclamação do som ou do ar-condicionado, o cantor e violonista ícone da Bossa Nova compensou o longo atraso de mais de uma hora e meia do início da apresentação com um bis de 10 músicas. Foram 30 canções ao todo. A última delas, Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinícius de Morais. João pediu desculpas pelo atraso e se justificou com o cansaço da viagem de volta de Nova York, onde esteve recentemente. O pedido de desculpas foi aceito com aplausos.

Um momento inusitado do show foi a homenagem que fez a Henry Maksoud, dono do Hotel Maksoud Plaza. "Ele inventou um hotel... é o castelo da hospitalidade. É tão lindo, aquela varanda...", divagou o baiano, que volta a se apresentar nesta sexta-feira, 15, no Auditório Ibirapuera. 

Às 21h45 - 45 minutos após o horário marcado para começar o show de João Gilberto - o crítico musical Zuza Homem de Mello foi ao microfone do auditório do Ibirapuera e disse: "como vocês podem imaginar, vamos ter de esperar mais um pouquinho. O timing do artista é o seu violão. O que eu posso dizer é que o avião já decolou, já aterrissou e ele já está a caminho."  

 A expectativa do público era grande - e da imprensa ainda maior. Passava das 22 horas, quando alguns repórteres e cerca de 25 fotógrafos começaram a se aglomerar na entrada lateral do Auditório Ibirapuera, cujo acesso é voltado para a Avenida Pedro Álvares Cabral. Onde estaria João Gilberto?

 Às 22h10, a equipe do Auditório Ibirapuera veio pedir organização para a imprensa: que se formasse uma fila lateral para não atrapalhar a entrada de João Gilberto. Dois minutos depois e lá estava ele descendo do carro, cabisbaixo, sem dar uma palavra. E um mundo de fotógrafos disputando centenas de flashes. 

Monique Gardenberg, da Dueto, a produtora do show de João Gilberto, justificou o  atraso. Informou à reportagem que o cantor havia desembargado e já estava próximo do  Parque Ibirapuera. "É o tempo dele, não há a menor maneira de contrariar", disse. Já no elevador do prédio, ela confirmou. "Agora está tudo bem. "Perguntada por que a cadeira que o artista iria usar no show ainda não estava no palco, disse: "Ele quer testar antes." 

Lá fora, havia uma certa confusão com gente chorando porque seus nomes não estavam   na lista de convidados do cantor. É que João Gilberto mandou avisar por meio da imprensa que queria ter na platéia amigos de São Paulo que ele há muito tempo não via. Muitos vieram. Um deles foi Álvaro de Moya, jornalista, escritor, produtor, ilustrador e diretor de cinema e televisão, que trabalhou com o cantor na TV Excelsior nos anos 60.  Moya lembrou de quando o recebia no programa e se divertiu muito numa ocasião em que João e Orlando Silva (a quem ele imitava no início da carreira) se encontraram no programa. "Bibi Ferreira pediu para João imitar Orlando e ele imitou."

O poeta Galvão, dos Novos Baianos, foi outro desses convidados e trouxe sua banda. "Não falei com ele esses dias, porque quando está perto de fazer show, é muito difícil encontrar João", disse. Galvão é um dos privilegiados a freqüentar a intimidade do pai da bossa nova. "Ele toca pra mim no apartamento, estou acostumado a vê-lo trabalhando nas canções, mas mesmo assim, toda vez que vou a show dele, sempre tem uma surpresa." No hall do Auditório figuravam ilustres, como Manuel Pires da Costa, presidente da Bienal, Roberto Civita, presidente do Grupo Abril, o publicitário Nizan Guanaes, o ator Wagner Moura e o produtor Nelson Motta. 

A expectativa pela apresentação de João Gilberto se seguiu até o último minuto. Quando a voz pré-gravada de uma locutora pediu "por favor, ocupem seus lugares", o público que esperava havia mais de uma hora explodiu em gargalhada. O show estava previsto para começar às 21 horas. 

Depois de uma breve apresentação de Homem de Melo, João Gilberto entrou no palco às 22h37, trazendo seu violão, bastante aplaudido. Sentou-se na cadeira de madeira que os contra-regras haviam trazido dez minutos antes, junto com um apoio para os pés, os dois microfones e um banquinho onde acomodaram uma toalha, uma garrafa de água e um copo. 

Desculpas

O cantor começou o show às 22h38 pedindo desculpas pelo longo atraso. "Vocês me desculpem o atraso. Dizem que eu atraso, mas não atraso, não. É que tive de fazer uma viagem anteontem e cheguei atrasado", justificou. "Vocês me desculpem", repetiu. Em seguida, abriu o roteiro de canções com o clássico Aos Pés da Cruz, de Marino Pinto e Zé da Zilda. Perto do fim da música, para espanto geral, entrou o sinal sonoro de desligamento de um computador, provavelmente aquele utilizado antes para exibir a programação da casa.  

E quem disse que show de João não tem surpresa? Pois foi o que aconteceu na segunda música, quando interpretou um bem-humorado e desconhecido samba que fala de uma "nega macumbeira" que "tem um 13 de ouro pendurado no pescoço" e "se vê um gato preto dá doce pra Cosme e Damião". 

O primeiro clássico da bossa nova veio em seguida, Wave, de Tom Jobim. Foi quando surgiram projeções de imagens caleidoscópicas no telão ao fundo, algo não muito comum nos shows de João, que em seguida cantou Caminhos Cruzados (também de Jobim, com Newton Mendonça). Ao final da canção, agradeceu: "Obrigado. São Paulo, I love you." 

Antes de interpretar Doralice, de Dorival Caymmi (a mais aplaudida até então), foi que João teceu loas a Henry Maksoud, elogiando o "castelo de hospitalidade" que é o hotel. "É tão lindo, aquela varanda." E continuou: "Me desculpem vocês, um beijo, Henry." Explicou também que a pulseira no punho esquerdo não era um enfeite, mas "um bracelete astrológico". Houve comentários de que o atraso não foi por conta de viagem nenhuma, mas que ele estava jantando com Maksoud no hotel. 

De todo modo, a espera compensou. Entre outros clássicos, ele ainda cantou Rosa Morena (Dorival Caymmi) e Desafinado (Tom Jobim/Vinicius de Moraes). Após 20 músicas, João Gilberto deixou o palco, mas retornou para o bis, presenteando o público com mais 10 canções e finalizando a apresentação, à 0h05, com Garota de Ipanema.

(© Estadão)

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