27/08/2008
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Antonio Bandeira (1922-1967)
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Exposição na Pinakotheke São Paulo destaca peculiaridades do artista
JULIANA NADIN
DO GUIA DA FOLHA
No frescor de seus 20 e poucos anos, Antonio Bandeira (1922-1967) costumava
exibir seu belo corpo nu em um bar undergound de Paris para ganhar alguns
trocados. Sujeito de personalidade forte, o artista plástico, nascido em
1922, em Fortaleza, chegou a Paris em 1946 graças a uma bolsa para estudar
na Escola Superior de Belas Artes e logo se tornou um dos nomes seminais do
abstracionismo informal (ou lírico) brasileiro.
Um grande panorama de suas pinturas, compostas muitas vezes por nervosas
linhas coloridas, está exposto desde ontem na Pinakotheke São Paulo, em
mostra que pretende apresentar ao público facetas e peculiaridades do
artista que ultrapassam seus quadros. As 40 peças, entre desenhos, gravuras,
monotipias, objetos pessoais, fotografias, roupas e poemas, foram
selecionadas pelo curador e diretor da Pinakotheke Max Perlingeiro:
"Bandeira tinha uma busca incessante pelo suporte.
Ele pesquisou muito para conseguir rugosidade e textura", diz. Além de
sua obra plástica, a mostra traz romance autobiográfico nunca publicado, de
1962, "Árvore da Infância", que poderá ser lido em uma tela sensível ao
toque. Dez poemas escritos pelo cearense, cujos temas transitam por sua
infância, pela natureza e pelo feminino, também estão expostos. Organizada
de maneira cronológica, a individual conduz o espectador pela vida de
Antonio Bandeira.
As
pinturas realizadas em Fortaleza e no Rio, de 1940 a 1946, antes de sua ida
à Europa, marcam sua fase figurativa, na qual representa paisagens e
naturezas-mortas. Nesse momento, mais precisamente em 1944, ele funda a
Sociedade Cearense de Belas Artes, com artistas como Inimá de Paula, Aldemir
Martins e João Maria Siqueira. Na França do pós-guerra, convive com o
fotógrafo e pintor alemão Alfred Otto Wolfgang Schulze, e sua arte muda
bruscamente para a abstração informal, que não exige obrigatoriedades
lineares.
No Brasil artistas se influenciam diretamente pelo estilo. "Os
abstracionistas brasileiros tinham profundo respeito por ele. Já os
figurativistas daqui sentiam repulsa. Di Cavalcanti era totalmente contra a
abstração e chegou a brigar com Portinari por ele ter ficado em cima do muro
nesta questão", revela o curador da exposição.
ANTONIO BANDEIRA (1922-1967)
Quando: seg. a sex., 10h às 20h; sáb. 10 às 16h; até 10/10
Onde: Pinakotheke São Paulo (r. Ministro Nelson Hungria, 200, tel.
0/xx/ 11/3758-5202
Quanto: entrada franca
Classificação indicativa: livre
(©
Folha de S. Paulo)
Retratos íntimos de Bandeira
Quarenta anos depois de sua morte, Antônio Bandeira é destaque no
Festival UFC de Cultura.
Dellano Rios
Repórter
A
homenagem havia sido prometida para o final do ano passado, marca exata
dos 40 anos de morte do pintor cearense Antônio Bandeira (1922 - 1967).
Ainda necessária, a exposição em homenagem ao artista - “Bandeira
Quarenta” - abre hoje, no Museu de Arte da UFC (Mauc). Ela integra a
programação do Festival UFC de Cultura: Ecos de 68, que começa hoje e se
estende até a sexta-feira.
Completando a homenagem, será lançado o livro “Bandeira: verso e traço”.
O livro compila material inédito e apresenta um Antônio Bandeira pouco
conhecido - o poeta e o desenhista. Nele, estão reunidos cerca 50 poemas
de autoria do artista, além de desenhos que revelam um lado mais
figurativo e lírico da arte de Bandeira. O livro será distribuído
gratuitamente para bibliotecas, escolas e centros de pesquisa.
Em “Bandeira Quarenta”, duas direções são tomadas: a retrospectiva, com
exposições do Bandeira “clássico”, das obras abstratas; e as
“descobertas”, em imagens raras do pintor. Os trabalhos da exposição
fazem parte do acervo Mauc - muitos deles foram doadas pelo próprio
artista ao Museu da UFC, no começo da década de 1960. Ao lado deste
acervo, estarão fotografias inéditas, em algumas de suas passagens pela
Capital quando já era um artista renomado. As imagens capturam o artista
na intimidade, imerso na paisagem ensolarada do Ceará.
O livro também trilha o caminho do ineditismo. A organização dos poemas
ficou a cargo da escritora Ângela Gutiérrez, doutora em Letras pela UFMG
e professora do Departamento de Literatura da UFC. É dela também o texto
de apresentação dos versos. Nele, ela resgata a história destes poemas,
de sua redação manuscrita a formatação em livro.
Os desenhos de Antônio Bandeira receberam um tratamento semelhante. Nilo
Firmeza, o Estrigas, faz um balanço da importância do artista, em um
ensaio breve. A interpretação de Estrigas - amigo pessoal de Bandeira -
se destaca pela precisão (apresenta os “pontos luminosos” da trajetória
do artista, ilustrando as transformações de sua estética).
Arte da escrita
O material publicado em “Bandeira: verso e traço” data da década de 1940
e hoje faz parte do acervo de Cleide dos Santos, sobrinha de Antônio
Bandeira. “Quando meu tio faleceu, o que era dele foi dividido entre os
familiares. Os poemas ficaram no espólio de minha mãe”, explica Cleide.
A sobrinha de Bandeira afirma que a intenção do livro é divulgar a
criação do artista.
“O Bandeira gostava muito de escrever. Eu via isso quando ele nos
visitava, na casa dos meus avós, onde fui criada. Ele escrevia muitas
cartas para a família. Com a poesia, era uma coisa do momento. De
repente, ele tinha vontade de escrever, pegava uma folha e escrevia de
uma vez”, relembra.
Cleide dos Santos disse que existem planos de divulgar outras obras do
artista. Entre eles, “A árvore da infância”, romance
semi-autobiográfico, escrito por Antônio Bandeira na década de 1940.
Revolucionário aos quarenta
Ano-constelação. Assim o escritor mexicano Carlos Fuentes
definiu 1968. A seu livro sobre o tema deu o sugestivo nome de “Los 68”
(aqui, “Em 1968), destacando o caráter plural daquele ano fértil em
ações e idéias no sentido de uma ruptura com a velha ordem. A juventude
foi a grande protagonista. Na Europa, o movimento estudantil entrou em
ebulição e contagiou outros grupos políticos; com o trio sexo, drogas e
rock’n’roll, a contracultura norte-americana questionava a Guerra Fria;
e no Brasil, o regime militar tentava sufocar manifestações culturais e
políticas que não se submetessem ao ufanismo desenvolvimentista.
Exibir vestígios, apontar continuidades e promover resgates do que se
tentou silenciar são objetivos que sintetizam o Festival UFC de Cultura.
Com o tema “Ecos de 68”, o evento abre o espaço para as artes e debates
sobre a efervescência política da época e a herança que deixou para o
mundo contemporâneo. O Festival começa hoje e segue até o final da
semana, reproduzindo à risca a riqueza da diversidade do famoso “ano que
não acabou”.
Para além de 1968
A semana de atividades da UFC propõe uma releitura desta década. Com a
intenção de instigar a reflexão entre as novas gerações, o evento
destaca as movimentações ocorridas no Ceará, sem perder de vista as
agitações país a fora. A programação de abertura do Festival dá uma boa
idéia de sua diversidade.
O elogiado show “Onde brilham os olhos seus”, baseado no disco homônimo,
primeiro trabalho solo de Fernanda Takai (vocalista do Pato Fu),
confirma as atrações musicais como um dos destaques do Festival. Além
dela, Otto, Cidadão Instigado, Cabruêra e o maracatu Vigna Vulgaris se
apresentações no festival.
Na apresentação, Takai deve voltar mais dez anos no tempo, para o ano de
1958, nas origens da Bossa Nova. O show, todo composto por canções de
Nara Leão (1942 - 1989), acontece às 20h30, na Concha Acústica, ao lado
do prédio da reitoria.
Um pouco antes, às 16 horas, no auditório da reitoria, o seminário “Ecos
de 68: cultura e política” será aberto com uma conferência do sociólogo
Marcelo Ridenti (Unicamp). Nela, o pesquisador falará da relação entres
movimentos artísticos e políticos brasileiro durante o período militar.
Além do show e do seminário, acontece no Mauc a abertura da exposição
“Bandeira Quarenta”, em homenagem ao artista plástico.
O Festival, que ocupará os diversos equipamentos culturais da UFC,
pretende retomar o pólo cultural do bairro Benfica e se fixar no
calendário cultural da instituição e da cidade. “A idéia é que ele seja
a apoteose de um ano de produção cultural na Universidade”, diz Paulo
Mamede, coordenador de Comunicação Social e Marketing Institucional da
UFC.
(©
Diário do Nordeste, 26/05/2008)
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Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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