Do G1, com informações do pe360graus.com
Manoel Salustiano Soares – o Mestre Salu – morreu de arritmia cardíaca
provocada pela doença de Chagas por volta das 7h30 deste domingo (31), no
Pronto-socorro Cardiológico de Pernambuco (Procape). O artista estava com 62
anos.
O velório acontece na Casa da Rabeca, em Olinda, espaço onde mestre Salu
tocava e levava diversos representantes da cultura popular. O enterro será
na próxima segunda-feira (1º de setembro), no cemitério Morada da Paz, em
Paulista. O horário do sepultamento ainda não foi decidido.
Considerado um dos precursores do manguebeat - e mestre de nomes como
Siba, Antônio Nóbrega e Chico Science - ele foi um dos grandes responsáveis
pela preservação de manifestações culturais da Zona da Mata, como ciranda,
coco, maracatu e caboclinho.
Mestre Salu nasceu em Aliança, na Zona da Mata de Pernambuco, no dia 12
de novembro de 1945. Foi um dos maiores dançadores de cavalo-marinho da
região, interpretando diversos personagens. Ele deixou quatro
discos gravados: "Sonho da rabeca", "As três gerações", "Cavalo-marinho", e
"Mestre Salu e a sua rabeca encantada".
Salu é considerado uma das maiores autoridades em cultura popular no
Estado. Ele foi o criador do maracatu Piaba de Ouro, um dos mais premiados
do carnaval de Pernambuco.
Seu pai, João Salustiano, foi quem o ensinou a fazer e a tocar a rabeca.
Além dos instrumentos, o artista também confeccionava os bichos do
bumba-meu-boi, além das máscaras do cavalo-marinho, feitas de couro de bode
ou de boi; e os mamulengos de mulungu.
'Ponta de lança'
"Salu era para a gente como se fosse uma ponta de lança", diz o
guitarrista Lúcio Maia, da Nação Zumbi. "Ele tocou a vida inteira o Piaba de
Ouro, um bloco tradicional pernambucano, elevou muito as tradições e teve o
prazer de viver de sua arte, assim como Lia de Itamaracá e Dona Selma."
"Salu foi muito respeitado por tudo o que ele fez, e com certeza vai
fazer muita falta. Ele era como um ícone, um ponto de referência musical e
filosófico."
'Embaixador'
"Mestre Salu foi muito importante em Pernambuco porque ele foi um dos
primeiros a estabelecer uma ponte entre a cultura da Mata Norte e os órgãos
do poder público", diz o rabequista Siba, criador do grupo Mestre Ambrósio.
"Mais do que isso, ele conseguiu firmar um nome."
"Salu esteve presente nos anos 90 e fez um link com os músicos da minha
geração e a de Chico Science", diz o músico. "Ele foi o primeiro grande
embaixador da Mata Norte."
Títulos
Em 1965, Salustiano foi agraciado com o título de doutor honoris causa
pela Universidade Federal de Pernambuco e já percorreu, com a sua arte, a
maioria dos estados brasileiros, além de países como a Bolívia, Cuba, França
e Estados Unidos.
Recebeu ainda, em 1990, o título de "reconhecido saber" concedido pelo
Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e o de comendador da Ordem do
Mérito Cultural, em 2001, pelo então presidente da República Fernando
Henrique Cardoso.