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João Câmara de trás pra frente

03/09/2008

 

 

Foto: Divulgação

O artista paraibano, radicado em Olinda, João Câmara
 

Coleção Portfólio Brasil debruça-se sobre obra do artista paraibano-pernambucano e facilita acesso a seu universo

Olívia Mindêlo

Conhecer o passado estético de um artista pode ser uma das chaves para acessá-lo no presente. É por isso que, ao fazer um apanhado cronológico da trajetória pictórica de João Câmara, o novo título da coleção Portfólio Brasil (J.J. Carol Editora/SP) nos ensina a caminhar melhor pelas criações deste que é tido como um dos artistas mais aclamados de Pernambuco – Estado onde o pintor paraibano sedimentou vida e obra. Com 120 páginas coloridas, ilustradas por reproduções de trabalhos datados de 1960 a 2008, a publicação tem lançamento oficial na noite de hoje, em evento para convidados, na Reserva Técnica do artista, no Recife. Posteriormente, será vendida nas principais livrarias da cidade ou no site da editora (www.colecaoportfoliobrasil.com.br).

Não há luxo na publicação, como costuma acontecer com os livros de arte. Também não há uma identidade visual à altura do trabalho de Câmara, cuja obra, aliás, já ganhou um apanhado editorial muito mais bem-cuidado, a partir das séries Dez casos de amor, Duas cidades e Cenas da vida brasileira. A publicação da trilogia foi, aliás, premiada. Mas não há esse mérito gráfico no título da J.J. Carol Editora. A própria capa, que não é dura, está longe de ser atraente, tamanha a enxurrada de informações visuais.

O mérito do livro tem natureza didática, ao se debruçar sobre a tarefa de fazer o público iniciante, principalmente, ter acesso a um extenso universo pictórico, esmiuçado segundo a evolução da linguagem de Câmara. Nesse sentido, foram reproduzidos 190 trabalhos, entre gravuras, desenhos, objetos, painéis e, sobretudo, pinturas, que ajudam o leitor-espectador a adentrar no “jogo” do artista, percorrendo mais de 40 anos do seu ofício artístico. Até mesmo os olhares iniciados podem utilizá-lo como fonte de referência, tamanho o significado das obras que o livro reúne para entender o legado do artista, assim como a sua versatilidade.

O caráter didático do título é reforçado ainda por um texto curto e claro, assinado por Weydson Barros de Leal, crítico de outros artistas consagrados do Estado, como Francisco Brennand e Corbiniano Lins. Página a página, o leitor é convidado a ir se familiarizando, sem muito esforço, pela linguagem de Câmara, cujo trabalho nasce de um forte apuro intelectual, de uma mente extremamente culta. A análise da obra é esmiuçada fase a fase, em ordem cronológica. Cada uma delas traz uma característica dominante, amarrada por temas figurativos por excelência – com uma ou outra exceção –, visto que as buscas de Câmara têm como foco as questões essencialmente humanas.

No fim, há uma tradução em inglês da apreciação crítica de Weydson.

PERCURSOS

Quando começou a pintar, na década de 1960, João Câmara apresentava em sua obra uma forte influência da arte moderna e até mesmo do movimento impressionista do século 19, como atesta a primeira imagem do livro, reprodução do óleo sobre tela intitulado Derby (1960) – referência clara a Monet e Van Gogh. Isso se deve, como lembra o crítico, à sua formação acadêmica na Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Pernambuco, na época. A mudança, tanto de temas quanto de opções estéticas, se deu gradualmente, principalmente a partir da segunda metade da década de 1960, momento em que já anunciava uma assinatura própria.

“É nesta década de (19)60 que o repertório de seus personagens – mesmo que em pedaços de corpos que se completam para a narrativa – parece ajustar-se a uma estética que na década seguinte assumirá um traço definitivo”, escreve Weydson Barros de Leal, que lembra a preocupação do artista em romper, na época, com o modelo político-social vigente, através de uma verve irônica e mordaz.

“A partir dos anos (19)80, um personagem, até então pouco presente na crônica política e social de João Câmara, vem à boca-da-cena para tornar-se uma constante em sua pintura. A mulher, como núcleo de órbita de tudo, assume um papel definitivo para o enredo camariano”, continua o crítico. A figura feminina, aliás, é uma das marcas do artista, que não a coloca num pedestal inatingível, do contrário, sua mulher é sedutora porque humana.

No livro, há ainda imagens da citada trilogia do artista, que perpassa várias décadas de sua produção, assim como reproduções da sua série literária inédita e ainda em construção, baseada em livros que marcaram a vida e o olhar de Câmara para sempre.

» Lançamento do livro João Câmara (Coleção Portfólio Brasil/J.J. Carol Editora), hoje, na Reserva Técnica do artista, nas Graças – só para convidados. Preço médio do livro: R$ 59.

 

(© JC Online)

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