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Recife anuncia homenageados do Carnaval 2009

09/09/2008

 

 

O Galo da Madrugada, em 2004. Bloco foi fundado por Enéas Freire

Os três homenageados do Carnaval Multicultural do Recife em 2009 são Enéas Freire, criador do maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada, o artista plástico Cícero Dias e o compositor caruarense Carlos Fernando. Os nomes foram anunciados pela Prefeitura do Recife. "Com esses três homenageados estamos contemplando a multiculturalidade do Recife. Estamos associando quem compôs o Carnaval, quem pintou o Carnaval e quem organizou o maior bloco do mundo", disse o prefeito João Paulo. 

O genro de Enéas Freire, Rômulo Menezes, representou a família do carnavalesco: "A homenagem envaidece muito a nós, familiares, e a todos que fazem parte do Galo da Madrugada, que não é só o maior bloco do mundo, mas também o mais democrático". O produtor cultural Carlos Fernando creditou a homenagem ao CD 100 anos de frevo - é de perder os sapatos, que produziu no ano passado. "Meu trabalho não é genial, mas teria que um dia ser reconhecido. O prêmio TIM [que conquistou com o CD do frevo] foi uma glória total para mim", afirmou.

Também estavam presentes na ocasião o secretário de Cultura, Roberto Peixe; o secretário de Turismo, Samuel Oliveira; o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Fernando Duarte, e a secretária de Gestão Estratégica e Comunicação Social, Lygia Falcão.

(© JC Online)

 


Veja quem são os homenageados

 
ENÉAS FREIRE

Enéas Alves Freire, conhecido por Neinha, nasceu no Recife, no dia 2 de dezembro de 1921, no Pátio do Terço, bairro de São José. Foi o sétimo e último filho do casal Enéas Garcia Freire e Bernardina de Lima Alves.
 
O Pátio do Terço já era um pólo de animação do carnaval do Recife. Ainda criança, Enéas mudou-se para a rua Padre Floriano, onde morou até em 1946. Naquela época, a Padre Floriano também já era um pólo de animação do Carnaval do bairro de São José e do Recife. Desta forma, podemos dizer que Enéas cresceu "brincando Carnaval".
 
Na casa de número 43 da rua Padre Floriano, E´néas e alguns amigos fundaram, em 1978, o maior bloco da terra: O Galo da Madrugada. Em 1995, a agremiação entrou para o Livro dos Recordes como o maior Bloco de Carnaval do Mundo.
 
No entanto, a carreira do carnavalesco começou em 1938, quando fundou sua primeira agremiação: a troça Papagaio Louro. Era o início de uma grande jornada dedicada ao Carnaval e à cultura popular do Recife.
 
Enéas era casado com Maria do Carmo Travassos Freire, D. Carminha. O casal teve quatro filhos: José Mauro, Antônio Carlos, Ana Nery e Gustavo Henrique Travassos Freire, todos grandes foliões, como seus pais.
 
No ano de 1949, Enéas participou, junto com vários amigos, da fundação da Escola de Samba Estudantes de São José. Nos carnavais das décadas de 40 e 50, formou vários grupos mascarados e fantasiados de palhaços, que se destacavam pela beleza das fantasias, especialmente das máscaras e coletes.
 
Já nas décadas de 50 e 60, comandou o Carnaval da rua Padre Floriano, com o irmão Cláudio Freire, tornando aquela rua um dos melhores e mais animados pólos do carnaval de rua do bairro de São José e do Recife.
 
Profissionalmente, Enéas sempre atuou de maneira autônoma, como corretor de seguros e imóveis e representante de madeiras do sul do País. Em novembro de 1977, surgiu a idéia de criar um bloco carnavalesco, do bairro de São José, que tocasse exclusivamente frevos e outros ritmos originais e tradicionais de nosso carnaval.
 
Foi assim que, no dia 24 de janeiro de 1978, junto com seus filhos, genro e amigos, fundou o Clube das Máscaras o galo da Madrugada, que realizou o primeiro desfile já no carnaval de 1978, então com 75 participantes.
 
O objetivo do bloco era que, às 8h da manhã, os participantes já estivessem nas ruas do Centro do Recife brincando o carnaval junto aos comerciários e comerciantes que estavam abrindo suas lojas para iniciar o "trabalho" no sábado de Carnaval.
 
No ano de 1981, Enéas criou o Baile dos Estandartes, que foi realizado no Clube Português do Recife por 13 anos consecutivos. Nos anos 80 e 90 realizou o desfile de Banho à Fantasia de Papel, na Avenida Boa Viagem. Em 1983 realizou um Carnaval especial no bairro de São José, transformando o local em um imenso Palco Carnavalesco.
 
Em 1984 teve a coragem de inovar e colocar as Orquestras de Frevo em Trios Elétricos, para melhor atender aos milhares de foliões que já acompanhavam o Galo da Madrugada. Em 1984 fundou o Bloco das Ilusões, em conjunto com sua esposa, diretores do Galo da Madrugada e outros amigos.
 
Em 2007, ano do Centenário do Frevo, Enéas Freire foi homenageado no desfile da "Escola de Samba Mangueira", do Rio de Janeiro, que levou o Recife para a Marquês de Sapucaí. Ele morreu em junho deste este ano.
 
CÍCERO DIAS

Artista plástico, considerado um dos pioneiros do modernismo no Brasil, Cícero Dias nasceu no dia 5 de março de 1907, no Engenho Jundiá, município de Escada, Zona da Mata de Pernambuco.
 
Da cidade natal, veio para o Recife, se mudando para o Rio de Janeiro em 1925, para estudar arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes. Foi no Rio que Cícero Dias estreou profissionalmente, expondo seus trabalhos pela primeira vez.
 
Simpatizante do Partido Comunista, ele foi perseguido em 1937, quando Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. Era chamado pelas autoridades pernambucanas como "o artista que pinta retratos de Lênin a pedido de estudantes esquerdistas" e, por várias vezes, seu atelier no Recife foi invadido por tropas policiais. Foi por isso que ele decidiu viver em Paris.
 
Desde que deixou Pernambuco, vinha anualmente ao Recife rever amigos e "preservar as raízes". Durante a Segunda Guerra Mundial, depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha nazista e a Itália fascista, ele foi preso na cidade alemã de Baden-Baden. No grupo, estava também o escritor Guimarães Rosa.
 
O motivo da prisão foi apenas o fato de ser brasileiro. Em seguida, numa ação diplomática, o grupo foi trocado por espiões nazistas que se encontravam presos no Brasil.
 
Libertado, Dias seguiu para Portugal. No dia 27 de maio de 1998 foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito da França, maior honraria concedida pelo Estado francês.
 
Autor do primeiro mural abstrato da América Latina, feito em 1948 no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, Cícero Dias fez grandes amigos na Europa. Ente eles, o pintor espanhol Pablo Picasso.
 
Autor de uma obra universal, exposta em centenas de países, Dias nunca negou suas origens. Uma de suas principais obras no Recife é a Rosa dos Ventos.
 
Fincada no ponto de origem da capital pernambucana, no Marco Zero, a obra faz parte do principal projeto artístico de Cícero Dias: Eu vi o Mundo... Ele começava no Recife.
 
O painel, concluído no ano 2000, foi a maneira encontrada pelo autor para descrever a origem do mundo a partir do Recife, utilizando elementos astrológicos, geométricos e intimistas. Cícero Dias morreu em janeiro de 2003.
 
CARLOS FERNANDO

Carlos Fernando nasceu em Caruaru, mas há trinta anos vive no Rio de Janeiro. Ainda na década de 60, começou suas atividades artísticas como ator, no Teatro Amador de Caruaru.
 
Veio morar no Recife em 1962 para trabalhar no Movimento de Cultura Popular (MCP), fundado por Abelardo da Hora, e localizado no Sítio da Trindade. Nessa época participou de espetáculos teatrais nas periferias recifenses e em circo.
 
O MCP, entretanto, foi dissolvido pelo golpe militar de 1964. Dez anos depois, uma mudança daria início a sua carreira como compositor.
 
Carlos chegou ao Rio de Janeiro em 1974, onde começou a fazer parcerias musicais com Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Geraldo Amaral e outros. Foi produtor e compositor da série Asas da América Frevo, ainda nas décadas de 1970 e 1980.
 
Em seu currículo, mais de 150 músicas se tornaram sucessos. Entre elas, canções inesquecíveis como Banho de Cheiro e Canta Coração, na voz de Elba Ramalho; Noites Olindenses, interpretado por Caetano Veloso; Forrozear, gravada por Gilberto Gil; e Sou Eu o Teu Amor, uma homenagem a Cacho de Côco, interpretada por Gilberto Gil e Jackson do Pandeiro.
 
Recentemente, Carlos produziu e dirigiu o CD duplo 100 anos de frevo – é de perder o sapato, lançado durante o projeto 100 Anos do Frevo, quando o ritmo recebeu do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o título de Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro.

(© PE 360 Graus)

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