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O Galo da Madrugada, em 2004. Bloco foi fundado por Enéas
Freire |
Os três homenageados do
Carnaval Multicultural do Recife em 2009 são Enéas Freire, criador do
maior bloco carnavalesco do mundo, o Galo da Madrugada, o artista
plástico Cícero Dias e o compositor caruarense Carlos Fernando. Os nomes
foram anunciados pela Prefeitura do Recife. "Com esses três homenageados
estamos contemplando a multiculturalidade do Recife. Estamos associando
quem compôs o Carnaval, quem pintou o Carnaval e quem organizou o maior
bloco do mundo", disse o prefeito João Paulo.
O genro de Enéas Freire, Rômulo Menezes, representou a família do
carnavalesco: "A homenagem envaidece muito a nós, familiares, e a todos
que fazem parte do Galo da Madrugada, que não é só o maior bloco do
mundo, mas também o mais democrático". O produtor cultural Carlos
Fernando creditou a homenagem ao CD 100 anos de frevo - é de perder os
sapatos, que produziu no ano passado. "Meu trabalho não é genial, mas
teria que um dia ser reconhecido. O prêmio TIM [que conquistou com o CD
do frevo] foi uma glória total para mim", afirmou.
Também estavam presentes na ocasião o secretário de Cultura, Roberto
Peixe; o secretário de Turismo, Samuel Oliveira; o presidente da
Fundação de Cultura Cidade do Recife, Fernando Duarte, e a secretária de
Gestão Estratégica e Comunicação Social, Lygia Falcão.
(©
JC Online)
ENÉAS FREIRE
Enéas
Alves Freire, conhecido por Neinha, nasceu no Recife, no dia 2 de
dezembro de 1921, no Pátio do Terço, bairro de São José. Foi o sétimo e
último filho do casal Enéas Garcia Freire e Bernardina de Lima Alves.
O Pátio do Terço já era um pólo de animação do carnaval
do Recife. Ainda criança, Enéas mudou-se para a rua Padre Floriano, onde
morou até em 1946. Naquela época, a Padre Floriano também já era um pólo
de animação do Carnaval do bairro de São José e do Recife. Desta forma,
podemos dizer que Enéas cresceu "brincando Carnaval".
Na casa de número 43 da rua Padre Floriano, E´néas e
alguns amigos fundaram, em 1978, o maior bloco da terra: O Galo da
Madrugada. Em 1995, a agremiação entrou para o Livro dos Recordes
como o maior Bloco de Carnaval do Mundo.
No entanto, a carreira do carnavalesco começou em 1938,
quando fundou sua primeira agremiação: a troça Papagaio Louro.
Era o início de uma grande jornada dedicada ao Carnaval e à cultura
popular do Recife.
Enéas era casado com Maria do Carmo Travassos Freire, D.
Carminha. O casal teve quatro filhos: José Mauro, Antônio Carlos, Ana
Nery e Gustavo Henrique Travassos Freire, todos grandes foliões, como
seus pais.
No ano de 1949, Enéas participou, junto com vários
amigos, da fundação da Escola de Samba Estudantes de São José.
Nos carnavais das décadas de 40 e 50, formou vários grupos mascarados e
fantasiados de palhaços, que se destacavam pela beleza das fantasias,
especialmente das máscaras e coletes.
Já nas décadas de 50 e 60, comandou o Carnaval da rua
Padre Floriano, com o irmão Cláudio Freire, tornando aquela rua um dos
melhores e mais animados pólos do carnaval de rua do bairro de São José
e do Recife.
Profissionalmente, Enéas sempre atuou de maneira
autônoma, como corretor de seguros e imóveis e representante de madeiras
do sul do País. Em novembro de 1977, surgiu a idéia de criar um bloco
carnavalesco, do bairro de São José, que tocasse exclusivamente frevos e
outros ritmos originais e tradicionais de nosso carnaval.
Foi assim que, no dia 24 de janeiro de 1978, junto com
seus filhos, genro e amigos, fundou o Clube das Máscaras o galo da
Madrugada, que realizou o primeiro desfile já no carnaval de 1978,
então com 75 participantes.
O objetivo do bloco era que, às 8h da manhã, os
participantes já estivessem nas ruas do Centro do Recife brincando o
carnaval junto aos comerciários e comerciantes que estavam abrindo suas
lojas para iniciar o "trabalho" no sábado de Carnaval.
No ano de 1981, Enéas criou o Baile dos Estandartes,
que foi realizado no Clube Português do Recife por 13 anos consecutivos.
Nos anos 80 e 90 realizou o desfile de Banho à Fantasia de Papel,
na Avenida Boa Viagem. Em 1983 realizou um Carnaval especial no bairro
de São José, transformando o local em um imenso Palco Carnavalesco.
Em 1984 teve a coragem de inovar e colocar as Orquestras
de Frevo em Trios Elétricos, para melhor atender aos milhares de foliões
que já acompanhavam o Galo da Madrugada. Em 1984 fundou o
Bloco das Ilusões, em conjunto com sua esposa, diretores do
Galo da Madrugada e outros amigos.
Em 2007, ano do Centenário do Frevo, Enéas Freire foi
homenageado no desfile da "Escola de Samba Mangueira", do Rio de
Janeiro, que levou o Recife para a Marquês de Sapucaí. Ele morreu em
junho deste este ano.
CÍCERO DIAS
Artista plástico, considerado um dos pioneiros do modernismo no Brasil,
Cícero Dias nasceu no dia 5 de março de 1907, no Engenho Jundiá,
município de Escada, Zona da Mata de Pernambuco.
Da cidade natal, veio para o Recife, se mudando para o
Rio de Janeiro em 1925, para estudar arquitetura na Escola Nacional de
Belas Artes. Foi no Rio que Cícero Dias estreou profissionalmente,
expondo seus trabalhos pela primeira vez.
Simpatizante do Partido Comunista, ele foi perseguido em
1937, quando Getúlio Vargas instalou a ditadura do Estado Novo. Era
chamado pelas autoridades pernambucanas como "o artista que pinta
retratos de Lênin a pedido de estudantes esquerdistas" e, por várias
vezes, seu atelier no Recife foi invadido por tropas policiais. Foi por
isso que ele decidiu viver em Paris.
Desde que deixou Pernambuco, vinha anualmente ao Recife
rever amigos e "preservar as raízes". Durante a Segunda Guerra Mundial,
depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Alemanha nazista
e a Itália fascista, ele foi preso na cidade alemã de Baden-Baden. No
grupo, estava também o escritor Guimarães Rosa.
O motivo da prisão foi apenas o fato de ser brasileiro.
Em seguida, numa ação diplomática, o grupo foi trocado por espiões
nazistas que se encontravam presos no Brasil.
Libertado, Dias seguiu para Portugal. No dia 27 de maio
de 1998 foi condecorado com a Ordem Nacional do Mérito da França, maior
honraria concedida pelo Estado francês.
Autor do primeiro mural abstrato da América Latina, feito
em 1948 no prédio da Secretaria da Fazenda de Pernambuco, Cícero Dias
fez grandes amigos na Europa. Ente eles, o pintor espanhol Pablo
Picasso.
Autor de uma obra universal, exposta em centenas de
países, Dias nunca negou suas origens. Uma de suas principais obras no
Recife é a Rosa dos Ventos.
Fincada no ponto de origem da capital pernambucana, no
Marco Zero, a obra faz parte do principal projeto artístico de Cícero
Dias: Eu vi o Mundo... Ele começava no Recife.
O painel, concluído no ano 2000, foi a maneira encontrada
pelo autor para descrever a origem do mundo a partir do Recife,
utilizando elementos astrológicos, geométricos e intimistas. Cícero Dias
morreu em janeiro de 2003.
CARLOS FERNANDO
Carlos Fernando nasceu em Caruaru, mas há trinta anos vive no Rio de
Janeiro. Ainda na década de 60, começou suas atividades artísticas como
ator, no Teatro Amador de Caruaru.
Veio morar no Recife em 1962 para trabalhar no Movimento
de Cultura Popular (MCP), fundado por Abelardo da Hora, e localizado no
Sítio da Trindade. Nessa época participou de espetáculos teatrais nas
periferias recifenses e em circo.
O MCP, entretanto, foi dissolvido pelo golpe militar de
1964. Dez anos depois, uma mudança daria início a sua carreira como
compositor.
Carlos chegou ao Rio de Janeiro em 1974, onde começou a
fazer parcerias musicais com Geraldo Azevedo, Alceu Valença, Geraldo
Amaral e outros. Foi produtor e compositor da série Asas da América
Frevo, ainda nas décadas de 1970 e 1980.
Em seu currículo, mais de 150 músicas se tornaram
sucessos. Entre elas, canções inesquecíveis como Banho de Cheiro
e Canta Coração, na voz de Elba Ramalho; Noites Olindenses,
interpretado por Caetano Veloso; Forrozear, gravada por
Gilberto Gil; e Sou Eu o Teu Amor, uma homenagem a Cacho de
Côco, interpretada por Gilberto Gil e Jackson do Pandeiro.
Recentemente, Carlos produziu e dirigiu o CD duplo
100 anos de frevo – é de perder o sapato, lançado durante o projeto
100 Anos do Frevo, quando o ritmo recebeu do Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) o título de Patrimônio
Cultural Imaterial Brasileiro.
(©
PE 360 Graus) |