O Instituto Ricardo Brennand (IRB), na Várzea, no Recife, comemora, hoje,
seis anos de existência com a aquisição de mais duas telas de Frans Post
(1612-1680), que retratou os anos do príncipe Maurício de Nassau em
Pernambuco quando ele esteve à frente do Brasil Holandês. E as duas obras
transformam o empresário Ricardo Brennand, 81 anos, no dono da maior coleção
privada ou pública das obras do artista. Hoje, o IRB tem 20 Frans Post,
dezoito em exposição permanente e dois na reserva técnica. Os novos quadros
são conhecidos como Engenho (1661) e Paisagem de Várzea (da mesma época, mas
não datado).
O fato, porém, provoca desabafo do empresário do ramo do cimento e da
energia, admirador do patrimônio artístico que conseguiu reunir: “Estou
pronto para morrer”. Mas ele mesmo se adianta para explicar o inesperado
anúncio: “Por que eu preciso de mais? Recife tem agora vinte Frans Post. Não
sei se é um motivo para se bater palmas, mas seria um motivo para eu me
orgulhar. Mas como eu sou uma pessoa simples, não tenho orgulho do que faço.
Nada fiz para mim, isso aqui é uma fundação. E a missão, agora, está
encerrada”, diz.
E, em tom de desafio, Brennand ainda provoca: “Quantos são os que, ao
longo de uma vida, puderam fazer uma fundação como essa? Ela não foi feita
para o enriquecimento de uma família, nem de seus filhos e netos. Isso aqui
enriquece é o Estado”, garante.
O IRB, porém, tem outros números para comemorar: já são mais de um milhão
(1.010.000) de visitantes, entre eles 300 mil alunos de escolas municipais e
estaduais e o anúncio de que a área construída do instituto poderá ganhar,
nos próximos anos, mais terreno e novos edifícios, além do Castelo São João
(exposição permanente de armas brancas, armaduras medievais e telas de
pintores românticos) e da Pinacoteca (com quadros, tapeçarias e peças de
madeira, cerâmica, cobre e uma biblioteca com livros raros e sobre período
holandês), além de uma reserva técnica e galpão para a restauração e criação
de peças. Segundo o historiador Leonardo Dantas Silva, que dá assessoria ao
instituto, o IRB já está entre os dez museus mais visitados do País.
O IRB tem, também, dois novos quadros em exposição – Praça São Marcos e
Entrada do grande canal com a Igreja de Santa Maria da Saúde –, obras do
italiano Giovanni Antonio Caval, mais conhecido como El Canalleto
(1697-1768), que pertencem a um genro americano do empresário e que
permanecerão em exposição permanente.
O empresário não revela quanto custou os novos quadros de Post, nem o
valor total do investimento até agora com a construção, compra de obras de
arte e manutenção do IRB, que já tem 70 funcionários. “Está querendo saber
demais”, desconversa, bem-humorado, quando questionado. Só revela que há
dois anos persegue os dois quadros de Frans Post, o que o levou duas vezes à
Holanda apenas para convencer os antigos proprietários. “Sou um colecionador
contumaz, persigo o que desejo”, justifica, mas diz que dá também por
concluída a sua perseguição por novos aquisições.
As duas telas de Post já pertenceram a um pernambucano, Joaquim de Souza
Leão, o primeiro embaixador do Brasil na Holanda, que arrematou as obras por
400 mil marcos em 1933. Mas elas estiveram expostas apenas uma vez e no Rio
de Janeiro. Uma curiosidade: desde o século 18, as duas telas caminham
sempre juntas por terem praticamente o mesmo tamanho, conta Leonardo Dantas.
Ricardo Brennand dá seu recado final: o IRB precisa ser profissionalizado
com um patrocínio forte para se transformar em padrão nacional. “Já estou
conversando com instituições financeiras do Sudeste”, revela.
“Profissionalizado, não sei se o IRB estaria como está ou mais desenvolvido
e com mais investimento. Do jeito que está, sofre com os males de uma
família”.