Notícias
Flip: Manuel Bandeira sob a (nova) ótica de Edson Nery

03/07/2009

 

 

O poeta pernambucano Manuel Bandeira

Bolívar Torres

PARATY - Um artista polifônico, que experimentou todos os estilos poéticos. Assim é Manuel Bandeira na visão do documentalista e pesquisador Edson Nery da Fonseca, que disseca sua vida e sua obra em Alumbramentos e perplexidades. No ano em que a Flip homenageia o poeta pernambucano, o livro ganha uma nova reedição, com lançamento previsto para sexta-feira, na Casa Jornal do Brasil. O título remete a duas palavras significativas da cosmovisão banderiana, que traduzem sua posição diante da doença, da existência e das campanhas na vida pública do país.

– Manuel Bandeira é o mais completo poeta brasileiro – afirma Fonseca. – Foi ao mesmo tempo romântico, parnasiano, simbolista, modernista e concretista. Além de tudo, foi um grande tradutor e prosador, escreveu ensaios de muita erudição. Expressou em seus poemas sentimentos diferentes e contraditórios, como alegria e tristeza, felicidade e infelicidade, euforia e melancolia, misticismo e erotismo, crença a descrença. Passeou por diversos gêneros, desde baladas, rondós e redondilhas a madrigais e sonetos, elegias, noturnos, canções e acalantos.

Fonseca descobriu Bandeira por intermédio de Gilberto Freyre, quando este pediu ao conterrâneo para que participasse de uma coletânea de autores nordestinos (na qual entraria um dos poemas mais famosos de Bandeira, Evocação ao Recife). Mais tarde, em 1946, quando foi estudar no Rio, visitou o poeta para que lhe explicasse o significado de alguns poemas mais herméticos. Durante muitos anos, continuaram trocando correspondência. Algumas destas cartas são reproduzidas em Alumbramentos e perplexidades.

No livro, que vem acompanhado por um CD com poemas lidos pelo próprio Fonseca, o pesquisador analisa a familiaridade de Bandeira com o epigrama – uma composição poética curta (geralmente quadrilhas) muitas vezes usadas para a sátira. Participativo (apoiou, por exemplo, a candidatura do Brigadeiro Eduardo Gomes à presidência da República) e combativo, costumava escrever epigramas para seus desafetos.

– Como poeta, foi engajado, mas também lírico – observa Fonseca. – Apesar de tuberculoso, conseguiu sobreviver mais de 80 anos, participando sempre da vida política do Brasil.

A pesquisa de Fonseca resultou numa contribuição inédita. Levantando todas as músicas inspiradas em Bandeira, concluiu que se trata do poeta mais musicado no mundo.

– Seus poemas foram musicados por diversos compositores, como Radamés Gnatalli e Villa-Lobos – diz Fonseca. – Com Villa-Lobos, tentou até criar uma canção brasileira para comemorar aniversário, para que não se cantasse aquela horrorosa versão de Parabéns para você. Era uma canção muito bonita, mas lembro de ver pilhas e pilhas da gravação apodrecendo. Foi muito mal divulgado.

Em relação às parcerias com Villa-Lobos, Bandeira costumava dizer que não sabia exatamente qual era a contribuição de cada artista nas obras. Ambos realizaram ainda uma canção de Natal, que também teve consequências negativas.

– O Partido Comunista acusou Bandeira de ter feito a música para receber uma comitiva americana, o que é um absurdo. Ele ficou muito chateado e nunca mais falou com nenhum artista do partido.  

(© JB Online)


Diversidade cultural inspira a Flip

Em sua sétima edição, evento, que começa hoje, reúne críticos, cineastas, artistas plásticos, músicos e, claro, escritores

Ubiratan Brasil

O número de escritores diminuiu (de 41 do ano passado para 34) e o orçamento previsto (R$ 5,9 milhões, captados por meio de leis de renúncia fiscal) foi fechado à custa de muito suor, por conta da crise econômica mundial - há um mês, nem todos os patrocinadores haviam confirmado sua participação. Mesmo assim, a 7ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, começa hoje com a imagem intacta: continua como o principal evento de literatura do País, tanto pela qualidade de programação como pelo interesse de público.

"O propósito sempre foi o de buscar a diversificação, evitando que a Flip se transformasse em uma reunião de acadêmicos", comenta Flávio Moura, curador do evento desde o ano passado, justificando a eclética programação deste ano - além de figuras renomadas da literatura (como o professor Davi Arrigucci Jr., que faz hoje a conferência de abertura sobre Manuel Bandeira, ou o português António Lobo Antunes), também estarão na Tenda dos Autores quadrinistas (como o premiado Rafael Grampá), cineasta (Domingos Oliveira), biólogo evolucionista (Richard Dawkins), artista plástico (Sophie Calle), crítico de arte (Catherine Millet) e jornalistas (Gay Talese, Zuenir Ventura).

A diversidade, no entender de Moura, se justifica pelo fato de que a literatura não serve como único parâmetro como medida do valor da produção de conhecimento atual. Nesse raciocínio, justifica-se, portanto, a volta do músico, cantor e escritor Chico Buarque de Holanda que, neste ano, lançou o romance Leite Derramado (Companhia das Letras), e cuja mesa, ao lado do escritor e colunista do Caderno 2 Milton Hatoum, transformou-se na mais disputada do evento.

Assim, evitando ser um evento congelado no tempo e fechado, a Flip inspira-se na atualidade para conseguir uma conexão mais imediata com seu público. Os 20 anos do massacre da Praça da Paz Celestial, na China, por exemplo, motiva a obra Pequim em Coma (Record), de Ma Jian.

O crescimento da Flip é um dos assuntos recorrentes a cada edição. A primeira, realizada em 2003, ocupou a Casa de Cultura de Paraty. A capacidade para 178 espectadores, no entanto, logo se revelou pequena, solucionada no ano seguinte com a construção da Tenda dos Autores que, desde então, se mantém com uma média de 550 assentos. "E, para garantir o conforto do público e também dos convidados, esse número não cresce, apesar da procura ser cada vez maior", explica Moura.

A solução foi diversificar o entorno, ou seja, incrementar os eventos paralelos que, inicialmente tímidos, agora ocupam posição de destaque durante os cinco dias literários. É o caso da programação do Flip-Etc. que, neste ano, passa a se chamar Flip - Casa da Cultura. A partir de amanhã, o tradicional espaço de Paraty será ocupado por importantes discussões como a do centenário de morte de Euclides da Cunha, mesa promovida pelo Estado (leia abaixo).

Também lá, o público terá a chance de conversar com franceses como David Foekinos e Ollivier Pourriol (amanhã). Ou ainda acompanhar discussões sobre o cinema, como no encontro de Pedro Buarque de Holanda com Rita Buzzar ou no debate sobre o papel dos roteiristas na atualidade, eventos programado para sexta-feira.

O trabalho com as crianças continua ativo na Flipinha, que desenvolve uma programação educativa na formação de leitores - neste ano, Ruth Rocha comemora seus 40 anos de carreira em atividades com seu público infantil. E, para saciar aqueles leitores intermediários, que já deixaram a infância mas ainda não atingiram a maturidade, foi criada a FlipZona, com oficinas de produção e edição de áudio e vídeo, caracterização teatral, entre outros eventos.

Para o próximo ano, alguns patrocinadores prometem aumentar sua ação. Como o Itaú que, depois da fusão com o Unibanco, tornou-se também incentivador - pelo seu projeto Itaubrasil, vai distribuir gratuitamente, via online, mais de 30 obras literárias que já caíram em domínio público.

(© Estadão, 01.07.2009)


SITE

MANUEL BANDEIRA - 120 ANOS

MANUEL BANDEIRA (Releituras)

 

Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind