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O cineasta pernambucano Cláudio Assis está no
especial |
Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil
RIO - O cinema brasileiro está sendo mapeado e vai parar na TV. O Canal
Brasil vem registrando, desde março, entrevistas com mais de 50 cineastas,
de diversas gerações, que dissecam suas principais obras para a atriz
Guilhermina Guinle. Com direção de Pedro Flores da Cunha, da produtora
Girassol, e roteiro de Daniel Chaia, a série Destino Brasil Cinema
tem estreia prevista para 2 de outubro, com episódios semanais, cada um
focando na produção de um determinado estado. A programação vai percorrer 13
capitais brasileiras e conduzir o espectador às locações onde foi produzido
cada filme. O primeiro episódio destaca o Rio de Janeiro, estrelando dos
veteranos Cacá Diegues, José Joffily e Rosane Svartman aos combos Nós do
Morro e Cachaça Cinema Clube. Em seu depoimento, o diretor de Bye bye
Brasil, alagoano que fez carreira no Rio, de cara se inclui fora de
qualquer limitação regional e destaca a universalidade do cinema brasileiro.
– Não existe um estilo carioca de fazer filme ou um estilo paulista de
fazer filme – decreta Cacá Diegues. – O meu mestre, o mestre da minha
geração, o cara que começou isso tudo, era um paulista, o Nelson Pereira dos
Santos, que veio filmar no Rio. O cinema brasileiro não depende só de uma
cidade nem de uma cultura. É um cinema, antes de tudo, muito diverso.
O pernambucano Claudio Assis (Amarelo manga, Baixio das bestas)
é o destaque do episódio da série sobre Recife. Apesar de 100% de sua obra
ter sido rodada em seu estado natal, o diretor faz coro com Cacá sobre o
aspecto cosmopolita da produção nacional e garante que não faz questão de
supervalorizar a locação em seus filmes.
– Não me preocupo com pontos turísticos. Os cenários têm que ser apenas
necessários para o cotidiano dos personagens – define. – O público pode
deixar-se levar tanto para o local exato onde foi realizada a produção
quanto para qualquer outro que sua imaginação permita.
Cacá devolve:
– Claro que cada cidade tem uma personalidade, mas que só deve aparecer
no filme se você fizer um filme fiel à cidade que você está filmando.
Cada diretor gravou em dias e locais diferentes pelo Brasil, variando
entre teatros, salas de cinema, livrarias, no Viaduto do Chá, no Forte de
Copacabana, na sede do Nós do Morro ou mesmo em suas próprias casas, mas os
assuntos se cruzavam e, na edição final de Destino Brasil Cinema, vez
ou outra aparecem diálogos de bate pronto entre os cineastas.
Diretores adiantam projetos
Além de passar a carreira a limpo e filosofar sobre seu ofício, os
diretores adiantam na série seus próximos projetos. De Cuiabá, Joel Pizzini
(Enigma de um dia, 500 almas) anuncia um filme sobre Ney
Matogrosso.
– Vai se chamar Olho nu e sai no segundo semestre – conta. – Foi
mágico trabalhar e estreitar os laços com Ney. Já o conhecia desde a
produção do meu longa de estreia, Caramujo-flor (1988), sobre a
poesia de Manoel de Barros, no qual ele participou com depoimentos.
Diretor de Vingança, recentemente exibido na mostra Panorama do
Festival de Berlim, o gaúcho Paulo Pons também está cheio de novas ideias na
cabeça.
– Fiz este filme com pouco dinheiro, apenas R$ 120 mil – lembra. – Ter
ido a Berlim foi fundamental, mesmo sendo na mostra não competitiva. As
pessoas não têm noção das portas que se abrem num evento como este. Lá, não
acreditaram que fiz um filme com tão pouco. Disse na hora: “Me dá o dinheiro
que eu te mostro”. Eles toparam, e assim estou produzindo Quiet land,
que será rodado no Brasil.
Claudio Assis celebra o início da produção de seu interrompido A febre
do rato, e explica que nem todos vão gostar do que vem por aí.
– Tive de deixá-lo de lado para priorizar o Baixio das bestas –
conta. – Não dava para me dedicar a dois projetos. Já consegui captar os
recursos e estou fazendo a seleção de elenco para começar a rodar em
setembro. Como é minha característica, será um filme para incomodar. Quero
fazer as pessoas refletirem. Não quero cinema para muitos, não quero agradar
a todos.
Fazendo o meio-de-campo com esses cineastas, Guilhermina Guinle, que já
atuou em dois filmes, Inesquecível (2007) e Sexo com amor?
(2008), desfruta um gostinho de estreia com a série Destino Brasil cinema.
Assume o posto de apresentadora pela primeira vez, mas garante que desde
pequena já tinha vocação para a coisa.
– Minha família me comparava a Marília Gabriela – brinca. – Sou muito
curiosa, era a única que tinha coragem de fazer aquelas perguntas que
ninguém faria.
(Colaborou Carolina Leal)