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Bispo do Rosário, a arte agora aberta ao diálogo

10/07/2009

 

 

 
No seu centenário, mostra carioca Beleza coloca obras criadas durante sua longa reclusão em contato com a produção contemporânea de outros 19 artistas

Roberta Pennafort, RIO

Sua data de nascimento causa dúvidas, mas é com base naquela que consta dos registros da Marinha, na qual serviu de 1925 a 1933, que está sendo celebrado o centenário de Arthur Bispo do Rosário. Estes dizem que o sergipano, que iria revelar-se expoente da arte contemporânea brasileira, nasceu em 14 de maio de 1909, na pequena cidade de Japaratuba.

Trinta anos depois, diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, ele chegaria à Colônia Juliano Moreira, na zona oeste do Rio, na qual viveu por cinco décadas e criou obras reconhecidas internacionalmente, que já estiveram em exposições na Europa, EUA e Japão. Uma pequena parte delas está exposta desde o mês passado no Museu Bispo do Rosário de Arte Contemporânea, aberto no hoje chamado Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira (que atende apenas a pacientes em crise, sem interná-los).

A mostra Beleza, realizada com recursos do Prêmio Avon de Cultura de Vida de 2008, tem também trabalhos de outros 19 artistas, homens, brasileiros e estrangeiros, pacientes psiquiátricos ou não, de oito países. Ao lado das instalações, vídeos e quadros, que trazem a visão dos artistas sobre a beleza da natureza, da cultura pop, da mulher e da sabedoria, não consta quem é são e quem não é. "Na racionalidade contemporânea, não há espaço para esse tipo de classificação. Isso ficou datado", explica Ricardo Aquino, diretor do museu. "O que já se chamou de arte psicótica, louca, ou, para Nise da Silveira (psiquiatra pioneira no uso de pintura e escultura no tratamento psiquiátrico), arte do inconsciente, o que nos Estados Unidos se chama de folk art, de negros, loucos e índios, estamos chamando aqui simplesmente de arte", informa o diretor.

Instalado num bonito prédio modernista dos anos 1950, o museu, inaugurado em 1982 (tem o nome de Bispo do Rosário desde 2000), é mantido pela prefeitura e se localiza a cerca de 40 quilômetros do Rio, no bairro de Jacarepaguá.

Por ficar fora do eixo centro-zona sul, é pouco conhecido. O que é uma pena, pois se trata de um espaço bem cuidado e bem-intencionado - além de guardar o acervo de Bispo, oferece, por intermédio de sua Escola Livre de Artes Visuais, cursos de fotografia, vídeo, música, desenho e expressão corporal. Tudo gratuitamente, e disponível à comunidade pobre do entorno.

Aberta ao público até 18 de setembro, de terça a domingo, das 10 às 17 horas, Beleza tem sido visitada principalmente por alunos de escolas públicas, que lotam as três galerias e se impressionam com as diferentes mídias com que se deparam.

O português radicado no Rio Artur Barrio, o videoartista norte-americano Bill Viola e o peruano Fernando Bryce estão entre os artistas representados na primeira galeria, antigo refeitório da colônia.

A ideia é que a produção atual dialogue com a arte marginal de Bispo, que ocupa uma das galerias do terceiro andar. Lá estão alguns de seus famosos estandartes, que ele confeccionava com lençóis de sua cama na colônia e bordava, em grande parte, com a linha azul de seu uniforme de interno. Assim, escrevia nomes de pessoas, países e línguas, e desenhava mapas, bandeiras, objetos.

Até morrer, ele guardava tudo em celas de que dispunha na colônia. Para lá, mais especificamente para o pavilhão dos pacientes agitados e agressivos, havia sido levado em 1939, após uma breve passagem pelo Hospital Nacional dos Alienados, na Urca - o mesmo que abrigou o escritor Lima Barreto em 1919. Bispo havia chegado ao Rio provavelmente entre 1925 e 1926, quando ingressou na Escola de Aprendizes da Marinha. Não se sabe muito de sua vida nesta época, somente que se tornou pugilista e chegou a ser campeão brasileiro de boxe pela Marinha, na categoria peso leve.

O museu (www.museubispodorosario.com.br), localizado na Estrada Rodrigues Caldas, 3.400, Jacarepaguá, tel. 11 2446-6628, tem entre seus propósitos mostrar aos brasileiros a grandeza de Bispo do Rosário. "Se a gente pegasse os grandes artistas, poetas e músicos e os internasse, sairiam as mesmas obras. Assim como o Bispo as criaria também se não fosse esquizofrênico-paranoico", garante o diretor.

(© Estadão)


Exposição em Jacarepaguá homenageia 100 anos de Arthur Bispo do Rosário

Abre nesta segunda feira a exposição "Beleza", no Museu Bispo do Rosário, localizado no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que comemora o centenário de Arthur Bispo do Rosário. A mostra ocupa as três galerias do museus, reunindo obras de 20 artistas do sexo masculino nacionais e internacionais.

A exposição tem como eixo central a obra de Arthur Bispo do Rosário "Preciso destas palavras - escrita" que revela, através do personagem principal "Clovis", o homem comum como centro do universo, com seu mundo sob controle, que é exercido pela palavra escrita e bordada. De forma geral a mostra trata do universo masculino e das questões inerentes ao fazer artístico, implícito nas relações masculinas de poder. "Beleza" visa estabelecer uma ligação e diálogo entre a obra do Bispo e as produções artísticas atuais e para isso tem uma galeria dedicada apenas a ele, onde os estandartes do artista estão expostos.

Não apenas admiradores da arte estão convidados a visitar o museu, visitas agendadas e guiadas também são bem vindas. O museu fica na Estrada Rodrigues Caldas, 3.400, na Taquara. Informações pelo telefone: (21) 2446-6628. 

(© SRZD)


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MUSEU BISPO DO ROSÁRIO

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