No seu centenário, mostra carioca Beleza coloca obras criadas durante
sua longa reclusão em contato com a produção contemporânea de outros 19
artistas
Roberta Pennafort, RIO Sua data de nascimento causa dúvidas, mas é com base naquela que consta
dos registros da Marinha, na qual serviu de 1925 a 1933, que está sendo
celebrado o centenário de Arthur Bispo do Rosário. Estes dizem que o
sergipano, que iria revelar-se expoente da arte contemporânea
brasileira, nasceu em 14 de maio de 1909, na pequena cidade de
Japaratuba.
Trinta anos depois, diagnosticado como esquizofrênico-paranoico, ele
chegaria à Colônia Juliano Moreira, na zona oeste do Rio, na qual viveu
por cinco décadas e criou obras reconhecidas internacionalmente, que já
estiveram em exposições na Europa, EUA e Japão. Uma pequena parte delas
está exposta desde o mês passado no Museu Bispo do Rosário de Arte
Contemporânea, aberto no hoje chamado Instituto Municipal de Assistência
à Saúde Juliano Moreira (que atende apenas a pacientes em crise, sem
interná-los).
A mostra Beleza, realizada com recursos do Prêmio Avon de Cultura de
Vida de 2008, tem também trabalhos de outros 19 artistas, homens,
brasileiros e estrangeiros, pacientes psiquiátricos ou não, de oito
países. Ao lado das instalações, vídeos e quadros, que trazem a visão
dos artistas sobre a beleza da natureza, da cultura pop, da mulher e da
sabedoria, não consta quem é são e quem não é. "Na racionalidade
contemporânea, não há espaço para esse tipo de classificação. Isso ficou
datado", explica Ricardo Aquino, diretor do museu. "O que já se chamou
de arte psicótica, louca, ou, para Nise da Silveira (psiquiatra pioneira
no uso de pintura e escultura no tratamento psiquiátrico), arte do
inconsciente, o que nos Estados Unidos se chama de folk art, de negros,
loucos e índios, estamos chamando aqui simplesmente de arte", informa o
diretor.
Instalado num bonito prédio modernista dos anos 1950, o museu,
inaugurado em 1982 (tem o nome de Bispo do Rosário desde 2000), é
mantido pela prefeitura e se localiza a cerca de 40 quilômetros do Rio,
no bairro de Jacarepaguá.
Por ficar fora do eixo centro-zona sul, é pouco conhecido. O que é uma
pena, pois se trata de um espaço bem cuidado e bem-intencionado - além
de guardar o acervo de Bispo, oferece, por intermédio de sua Escola
Livre de Artes Visuais, cursos de fotografia, vídeo, música, desenho e
expressão corporal. Tudo gratuitamente, e disponível à comunidade pobre
do entorno.
Aberta ao público até 18 de setembro, de terça a domingo, das 10 às 17
horas, Beleza tem sido visitada principalmente por alunos de escolas
públicas, que lotam as três galerias e se impressionam com as diferentes
mídias com que se deparam.
O português radicado no Rio Artur Barrio, o videoartista norte-americano
Bill Viola e o peruano Fernando Bryce estão entre os artistas
representados na primeira galeria, antigo refeitório da colônia.
A ideia é que a produção atual dialogue com a arte marginal de Bispo,
que ocupa uma das galerias do terceiro andar. Lá estão alguns de seus
famosos estandartes, que ele confeccionava com lençóis de sua cama na
colônia e bordava, em grande parte, com a linha azul de seu uniforme de
interno. Assim, escrevia nomes de pessoas, países e línguas, e desenhava
mapas, bandeiras, objetos.
Até morrer, ele guardava tudo em celas de que dispunha na colônia. Para
lá, mais especificamente para o pavilhão dos pacientes agitados e
agressivos, havia sido levado em 1939, após uma breve passagem pelo
Hospital Nacional dos Alienados, na Urca - o mesmo que abrigou o
escritor Lima Barreto em 1919. Bispo havia chegado ao Rio provavelmente
entre 1925 e 1926, quando ingressou na Escola de Aprendizes da Marinha.
Não se sabe muito de sua vida nesta época, somente que se tornou
pugilista e chegou a ser campeão brasileiro de boxe pela Marinha, na
categoria peso leve.
O museu (www.museubispodorosario.com.br), localizado na Estrada
Rodrigues Caldas, 3.400, Jacarepaguá, tel. 11 2446-6628, tem entre seus
propósitos mostrar aos brasileiros a grandeza de Bispo do Rosário. "Se a
gente pegasse os grandes artistas, poetas e músicos e os internasse,
sairiam as mesmas obras. Assim como o Bispo as criaria também se não
fosse esquizofrênico-paranoico", garante o diretor.
(©
Estadão)
Exposição em Jacarepaguá homenageia 100 anos de Arthur Bispo do Rosário
Abre nesta segunda feira a exposição "Beleza", no Museu Bispo do
Rosário, localizado no Instituto Municipal de Assistência à Saúde Juliano
Moreira, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, que comemora o centenário de Arthur
Bispo do Rosário. A mostra ocupa as três galerias do museus, reunindo obras de
20 artistas do sexo masculino nacionais e internacionais.
A exposição tem como eixo central a obra de Arthur Bispo do Rosário "Preciso
destas palavras - escrita" que revela, através do personagem principal "Clovis",
o homem comum como centro do universo, com seu mundo sob controle, que é
exercido pela palavra escrita e bordada. De forma geral a mostra trata do
universo masculino e das questões inerentes ao fazer artístico, implícito nas
relações masculinas de poder. "Beleza" visa estabelecer uma ligação e diálogo
entre a obra do Bispo e as produções artísticas atuais e para isso tem uma
galeria dedicada apenas a ele, onde os estandartes do artista estão expostos.
Não apenas admiradores da arte estão convidados a visitar o museu, visitas
agendadas e guiadas também são bem vindas. O museu fica na Estrada Rodrigues
Caldas, 3.400, na Taquara. Informações pelo telefone: (21) 2446-6628.
(©
SRZD)
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