Foto: Pierre Verger/Reprodução DP |
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Mestre Vitalino
elevou seus bonecos de barro à categoria de arte respeitada por
intelectuais e artistas
Pedro Henrique Marins
pedromarins.pe@diariosassociados.com.br
Antes de Vitalino Pereira dos Santos, um homem simples, ingênuo e
determinado, não se podia falar em arte
popular propriamente dita no Brasil. Existiam diversas manifestações
culturais, muitas delas autênticas e com potencial artístico, mas que não
tinham o reconhecimento formal e o respeito que mereciam. Nem esse
caruaruense analfabeto que teve sua trajetória bruscamente interrompida por
uma varíola, em 1963 e, que completaria 100 anos nesta sexta-feira, tinha
noção do que estava fazendo quando foi descoberto pelo artista plástico
recifense Augusto Rodrigues, em 1946. A partir de então, desenvolveu-se toda
uma cadeia produtiva de arte popular responsável pela geração de emprego e
renda que sustenta milhares de famílias no país.
Vitalino contribuiu para que a arte popular fosse aceita pelos intelectuais.
Quando constituída de elementos criativos originais e não apenas meras
reproduções feitas em série. Nestas condições, como ele bem apresentava,
otrabalho deixava de ser classificado como artesanato. Passava do estágio de
peças ornamentais utilitárias ou brinquedo de criança, como foram criadas
inicialmente, para o campo da arte figurativa de fato. "Meu pai foi
original, contou a história da sua gente através do barro. Ele fez mais de
118 peças diferentes", lembra Manuel Pereira dos Santos, o Manuel Vitalino,
de 74 anos, o segundo filho do mestre e um dos primeiros seguidores.
O ápice desta construção foi o respeito e a admiração do maior pintor do
século 20, Pablo Picasso, que tinha um Cangaceiro, de Vitalino, em local de
destaque na sua casa. Hoje, a arte do caruaruense pode ser encontrada no Rio
de Janeiro, no Recife, em Caruaru, no Museu do Louvre, em Paris (França) e
em Viena (Áustria), entre outros (leia quadro).
Toda atmosfera artística que revelou Vitalino para o Brasil e o mundo foi
respaldada por nomes como os poetas Manuel Bandeira e Joaquim Cardozo e os
escritores João Condé e Gilberto Freyre. Manuel Bandeira lembrou no livro
Flauta de papel, em 1957, que os admiradores da arte moderna despertaram
para Vitalino com a mesma atenção que davam às telas de Picasso e as
deformações expressionistas de Portinari. Quanto à técnica, sentenciou: "A
simplificação plástica valia as de Lipschitz", atestou Bandeira, numa
referência ao matemático alemão Rudolf Otto Lipschitz (1832 - 1903).
A elevação do status da arte do povo é consequência do processo
histórico-cultural ligado às premissas do Movimento Modernista de 1922 e do
Movimento Regionalista do Recife, iniciado em 1923 no Recife. A ideia de uma
arte com raízes nacionais, que inspirou Mário de Andrade, Tarsila do Amaral
e Vicente do Rêgo Monteiro, encontrou mais sentido após as "revelações" de
Vitalino.
Para a diretora do Museu de Arte Popular Brasileira, Angela Mascelani,
"Vitalino fez jus à fama de mestre, sendo autêntico mediador, pois permitiu
que os mundos erudito e popular, até então distantes, se encontrassem". Com
suas obras, Vitalino e seus herdeiros, cerca de 400 pessoas só no Alto do
Moura, em Caruaru, revelam mais uma face deste Brasil rústico e miscigenado,
que fugindo da seca se espalhou por todas as regiões e colaborou para a
construção nacional.
O mestre personificou as imagens que serviriam para traduzir os sentimentos
e a alma dos sertanejos nos versos de Patativa do Assaré,- outro centenário
em 2009 -, que em A triste partida, cantada por Luiz Gonzaga, parece ter
musicado as peças Volta da roça e os Os retirantes, de Vitalino.
Onde achar Vitalino
O acervo do Mestre Vitalino está dividido por vários museus do Brasil e
exterior.
Em Caruaru
Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo
Praça Cel José de Vasconcelos, 100, Centro. Fone: (81) 3721 3957
Casa-Museu Mestre Vitalino
Rua Mestre Vitalino, s/n, Alto do Moura. Fone: (81) 3725 0805
No Recife
Museu do Homem do Nordeste
Av. 17 de Agosto, 2.187, Casa Forte. Fone: (81) 3073 6340
Museu de Arte Popular
Pátio de São Pedro, casas 45 e 49, São José. Fone: (81) 3232 2492
No Rio de Janeiro
Casa do Pontal - Museu de Arte Popular Brasileira
Estrada do Pontal, 3.295, Recreio dos Bandeirantes. Fone: (21) 2490
3278
Museu do Folclore Edison Carneiro
Rua do Catete, 179, Catete. Fone: (21) 2285 0441
Museu da Chácara do Céu
Rua Murtinho Nobre,93, Santa Teresa. Fone: (21) 2224 8981
Museu Nacional de Belas Artes
Avenida Rio Branco, 199, Centro. Fone: (21) 2262 6067
Depoimentos
"Aqueles que entrarem nesta sala, livres de conceitos
prejulgados ou com o espírito cuidadosamente desprovido dos símbolos e
expressões nele criados pelo automatismo da memória, verão que as formas
puras da beleza nem sempre repousam nas terras altas da ciência e da
sabedoria dos grandes artistas, mas descem, como pássaros divinos, sobre a
igualdade dos homens comuns."
Poeta Joaquim Cardozo, na apresentação da primeira exposição de
Vitalino no Rio, em 1947, marco da "descoberta" do artista.
"Esses calunguinhas de barro, hoje tão admirados pelos
estrangeiros que nos visitam e que os apreciadores da arte moderna admitem
nas mesas e nas vitrines de seus livingrooms ao lado das cerâmicas de
Picasso e na companhia das deformações expressionistas de Portinari,
começaram a ser efeitos para servirem de paliteiros ou brinquedos infantis.
(#) Já tive muitas dessas figurinhas em minha casa. (#) Sei que elas eram
realmente obras de arte, especialmente certo papagaiozinho naquela atitude
jujuru de quem está bolandopara acertar uma digna do anedotário da espécie.
A simplificação plástica valia as de Lipschitz# (Rudolf Otto Sigismund
Lipschitz (1832- 1903), matemático alemão.
Poeta Manuel Bandeira, no livro Flauta de papel, de 1957
"Eu, em 1952, estou em Paris e me encontro com Francisco
Matarazzo, que organizava a segunda Bienal de São Paulo. Chegamos a Paris e
a segunda mulher de Picasso dava uma recepção. Pois bem, aí tinha muitos
brasileiros eu me lembro, Guilherme Figueiredo, Vinícius de Moraes, Cícero
Dias# Uma casa maravilhosa, cheia de quadros de Picasso, e eu, muito
curioso, saio assim pra ver. Aí chego numa sala, eu vejo um facho de luz,
uma coluna, com um objeto, uma escultura. Eu vou#é uma escultura do Mestre
Vitalino. No meio daquele esplendor do maior pintor do século (XX)... eu
vejo esse pedaço do barro de Caruaru. Tenho de ficar emocionado...
Escritor João Condé em depoimento para Paulino Cabral de Mello
no livro Vitalino sem barro: o homem. Fundação Assis
Chateaubriand/Ministério da Cultura, 1995.
A escritora Raquel de Queiroz identificou como sendo um cangaceiro a peça de
Vitalino, em artigo na revista Visão quando da morte do caruaruense em 1963.
"O início da descoberta das artes populares pelas elites
intelectuais, consequência de um processo histórico cultural ligado à
filosofia do Movimento Modernista de 1922 e do Movimento Regionalista do
Recife, iniciado em 1923. Trata-se de recuperar, para a norma erudita,
aqueles aspectos da realidade brasileira que constituem a cultura popular, e
que até hoje representam para a elaboração do nativismo um repertório
extraordinário vigor e riqueza"
Lélia Coelho Frota, autora do livro Mestre Vitalino, editora
Massangana, 1986.
(©
Diário de Pernambuco)
Como espectador privilegiado da obra do Mestre Vitalino, o premiado escultor
Abelardo da Hora, de 84 anos, analisa a técnica apurada que o caruaruense
usava mesmo sem ter consciência plena que estava fazendo escola na arte da
cerâmica. Quando Vitalino foi "descoberto" em 1946, Abelardo concluía seus
ensinamentos artísticos a Francisco Brennand, que se tornaria uma autoridade
das artes plásticas. Nesta época, Abelardo ajudou o sociólogo Gilberto
Freyre a entender o surgimento daquele novo ícone da cultura nordestina, que
em cada estatueta retratava as alegrias e tristezas do seu povo. Com rara
habilidade, quase dialogando com o barro. "Era uma espécie de encosto
(risos). Ele (Vitalino) tinha um caboclo bom do lado dele, que é uma coisa
maravilhosa.", afirmou Abelardo, referindo-se ao processo de construção das
peças pelo mestre do barro. Confira a entrevista concedida a Pedro Henrique
Marins.
Entrevista // Abelardo da Hora
O que representa Vitalino na passagem do artesanato para categoria
de arte reconhecida pelos intelectuais?
Eu acho que Vitalino era um artista inato. E inclusive um ceramista
que soube mais do que ninguém interpretar o ambiente da vida rural e
cultural onde ele vivia, vendendo suas estatuetas de cerâmica na Feira de
Caruaru. Ele tinha uma maneira especial de elaborar seu trabalho como
verdadeiro mestre, como um escultor. Ele merece todas as homenagens porque é
um representante autêntico do que há de melhor na arte popular brasileira.
O que tornava Vitalino diferente, especial?
A maneira como ele fazia aquele rolinho de barro e desenhava
exatamente os volumes em terceira dimensão no ar. Desenhava aquilo de
maneira harmônica e contribuindo para uma visão nova da escultura cerâmica.
Ele foi um verdadeiro mestre por ter o respeito pela matéria com que
trabalhava e a intimidade que ele conseguiu criar e adquirir no trabalho que
ele fazia com a argila. Ele se misturou de tal forma com o espírito do barro
daquilo que poderia expressar, que usou de maneira maravilhosa como um
mestre.
Vitalino foi um intérprete da sua gente?
Ele não foi só um ceramista popular, ele foi um escultor. Vitalino
foi um escultor da cerâmica popular e interpretou a vida da sua gente
naqueles trabalhos de cerâmica a caminho da feira, os casamentos, as bandas
de pife, os retirantes. Finalmente a vida da gente com que ele convivia
diariamente e de maneira riquíssima do ponto de vista estético. Aquele
trabalho de Vitalino é um exemplo não só para os ceramistas mas para todo o
artista. Porque ele era um mestre.
Antes mesmo de Augusto Rodrigues "descobrir" Vitalino o sociólogo
Gilberto Freyre já se interessava pelo trabalho dele.
Uma vez, conversando com Gilberto Freyre ele me perguntou porque
que Vitalino se destacava de uma maneira tão espetacular. E eu disse a ele
que era o respeito e a intimidade que ele tinha com o barro. E como ele
sabia respeitar os limites do barro. Você quase que não vê nenhum especto de
retoque nas escultura de Vitalino.
Quase como um sopro divino...
Vem aquela coisa, exatamente. Era uma espécie de um encosto
(risos). Ele tinha um caboclo bom do lado dele, que é uma coisa maravilhosa.
E com quase todo artista é assim. Está trabalhando, tem uma inspiração, faz
e não sabe porque fez. Nós fazemos uma coisa que vem naturalmente e expressa
aquilo com uma naturalidade que depois nós mesmos nos espantamos. E eu fiz
isso. Essa é que era a realidade. Vitalino era um mestre e merece todas
estas homenagens que estão fazendo a ele. Porque enriquece toda a cultura
popular, Caruaru, Pernambuco e o Brasil.
Ele tinha a consciência do limite do barro e, por isso, sabia
explorar o material da melhor maneira possível.
Porque ele tinha o saber e a intimidade com o barro, respeitava
aquilo que fez e desenhava no espaço e não no papel. Ele fazia coisas
belíssimas apresentando todas as manifestações da vida que o cercava.Ele
mantinha uma espécie de diálogo com o barro... Diálogo permanente com o
barro dizendo e mostrando o que o povo que ele estava interpretando tinha e
merecia ser dito.
Os resultados das feiras nacionais de arte popular e artesanato têm
a marca de Vitalino?
Grande parte desta festa maravilhosa que é a Fenearte se deve a
Vitalino. Esssa é a verdade, porque ele plantou uma raiz maravilhosa na
cultura pernambucana que foi a cerâmica popular lá em Caruaru.
O senhor esteve com Vitalino. Como se deu este encontro?
Ele era um homem simples, natural, uma figura maravilhosa. Como
toda figura boa, notável, respeitável é sempre assim sem frescura. Conversei
com ele uma vez e disse exatamente isso a ele, que tudo aquilo que ele
estava fazendo é porque ele tinha o respeito e fazia e amava a sua criação e
ficava do jeito que ele queria. E ele disse é exatamente isto.
Vitalino ainda criava histórias misturando a realidade e seu mundo
de sonho, idealizável.
Era uma coisa maravilhosa porque inclusive ele vivia num meio
simples e criativo demais. Eu estou fazendo agora uma retrospectiva minha
(começou em Brasília na semana passada) que intitulei Amor e solidariedade.
Eu dedico o amor a mulher porque é a coisa mais bela e sem ela não existe
vida. E a solidariedade eu dedico ao povo. Ora cantando a criatividade
popular, quando eu faço as danças brasileiras de carnaval. E também
protestando contras as injustiças que se faz contra o povo. Na minha linha
expressionista meto o "cacete" contra as injustiças sociais.
De certa forma Vitalino foi um representante desse povo injustiçado
do interior?
Exatamente ele representa tudo isto. Quando ele faz os retirantes à
maneira dele, o pessoal caçando, os caçadores, ele retrata a realidade do
seu povo.
(©
Diário de Pernambuco)
Centenário
Vitalino: mestre do barro é eternizado
Pedro Romero
Do Jornal do
Commercio
CARUARU – Se vivo estivesse, Vitalino Pereira dos Santos, mais conhecido
como Mestre Vitalino, completaria nesta sexta-feira 100 anos de idade. O
artesão que marcou a história da arte da cerâmica figurativa no Brasil,
morreu de varíola em fevereiro de 1963. A festa de aniversário do seu
centenário de nascimento promete ser digna de sua obra, que se eterniza nas
gerações de artesãos do Alto do Moura, onde o artista morou, criou os filhos
e deixou discípulos. A programação inclui homenagens, shows e inauguração de
estátua do artesão em tamanho real.
As comemorações começam às 15h, no palhoção montado no Alto do Moura para os
festejos juninos. O local será transformado numa espécie de auditório para
lançamento de selo dos Correios e de medalha feita pela Casa do Moeda do
Brasil. Logo após, haverá apresentações de grupos culturais e shows
musicais.
Um dos momentos altos da festa será a apresentação da I Orquestra de
Pífanos, que reunirá 50 músicos de 12 bandas de pífanos de Caruaru e será
regida pelo maestro Mozart Vieira. “É uma honra e um desafio grande. Já regi
orquestras na Europa, com mais de 300 pessoas, mas por ser desta região,
esta orquestra inédita está me dando muito prazer”, diz Mozart Vieira.
Em vez das tradicionais camisas quadriculadas, os músicos usarão ternos, com
direito à gravata borboleta. A homenagem se justifica também porque Vitalino
tocou pífano em várias bandas. Dono de grande talento musical, o artista
aprendeu a tocar desde cedo e com 15 anos montou sua própria banda, a
Zabumba Vitalino. Alguns dos instrumentos utilizados por ele podem ser
vistos na Casa Museu do Alto do Moura.
O maior presente que Vitalino vai ganhar será uma estátua sua em tamanho
real. A peça foi produzida em concreto pelo artista plástico Demetrio
Albuquerque e ficará no espaço da Casa Museu. Os visitantes poderão
interagir, tirando fotos ao lado da imagem do artista. “Ela retrata Vitalino
de pernas cruzadas, como costumava trabalhar. A imagem mostra o artesão em
sua fase de maturidade”, conta Demetrio.
CORTEJO
Por volta das 17h haverá cortejo pelas ruas do Alto do Moura com 26 grupos
culturais de várias cidades do Estado, entre eles o Maracatu Estrela
Brilhante, o Homem da Meia-Noite e o bloco carnavalesco Madeira do
Rosarinho.
A programação prossegue à noite, com a reestreia da peça O alto das sete
luas de barro, espetáculo premiado de Vital Santos, que conta a história do
Mestre Vitalino. A apresentação também marca a reforma do Teatro João Lyra
Filho, que ganhou nova estrutura. As comemorações do centenário de Vitalino
terminam no Parque de Eventos Luiz Gonzaga, com shows de Petrúcio Amorim,
Valdir Santos, Elifas Júnior e Geraldinho Lins. A festa também marca o
encerramento oficial do São João de Caruaru, que começou no dia 30 de maio.
“Este será um momento que ficará marcado na história, sendo Vitalino uma das
figuras mais importantes para a cultura e a arte da cidade”, destaca o
presidente da Fundação de Cultura de Caruaru, José Pereira. Além do Alto do
Moura, peças e muito da história de vida de Vitalino podem ser encontrados
no Museu do Barro, no Parque de Eventos Luiz Gonzaga, Centro, onde existe
uma sala dedicada ao artista.
(©
JC Online)
Atualização em 13.07.2009:
Homenagem recorda novenas de Vitalino
Primeira Orquestra de Pífanos do Brasil animou o dia do centenário, que
teve também a peça de teatro O auto das sete luas de barro
Pedro Henrique Marins
Severino, filho do mestre, agradeceu pela
família e lembrou que Vitalino, pela sua história, deu um presente a
Caruaru. Foto: Roberto Franca/Divulgação |
Todo o ambiente cultural que marca Caruaru, nos meios populares com várias
tradições juninas e a sua feira, e a
memória erudita dos conterrâneos Álvaro Lins, Austregésilo de Atayde e de
João Condé, celebraram ontem os 100 anos de Vitalino Pereira dos Santos, o
Mestre Vitalino. O primeiro ato da festa não poderia deixar de ter a marca
da pluralidade. Cantores de baião, xote e arrasta-pé, repentistas, bandas de
pífanos, poetas, bacamarteiros e trios de forró reuniram-se, à meia-noite,
no Arraial Vitalino, no centro da cidade, para festejar o aniversariante.
Apesar da ausência física do homenageado, o clima de alegria contagiante e
participativo lembrou as novenas que o mestre guiava tocando pífano no Alto
do Moura. "Até parece que ele está aqui", afirmaram integrantes da Primeira
Orquestra de Pífanos do Brasil.
Criada no início de junho pela Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru como
mais uma homenagem ao ceramista, a orquestra deu o tom das festividades ao
longo do dia de ontem. Regida pelo maestro Mozart Vieira, da Banda Sinfônica
dos Meninos de São Caetano, 50 instrumentistas das 12 bandas de pífanos
emocionaram os familiares e amigos de Vitalino, autoridades e turistas no
Alto do Moura. O governador Eduardo Campos (PSB) convidou o grupo para se
apresentar no projeto Pernambuco conhece Pernambuco. Em nome dos Vitalino,
Severino agradeceu. "Meu pai, pela sua história, deu um grande presente a
Caruaru e fez por onde merecer esta festa", afirmou.
A marca da interculturalidade se manteve com o desfile promovido pela
Fundarpe de 30 grupos folclóricos como o maracatu Piaba de Ouro, orquestra
de frevo, conjuntos de caboclinhos sete flechas, trios de forró e na
companhia de 18 bonecos gigantes do carnaval de Olinda, representando
personagens da cultura pernambucana inclusive como Vitalino, Chico Science,
Dominguinhos e Luiz Gonzaga.
Os Correios lançaram um selo pelo centenário do artesão e a Casa da Moeda
entregou três exemplares de uma medalha especialque ficarão com a família, a
Prefeitura de Caruaru e o governo do estado. Em seguida, foi inaugurada ao
lado da casa museu uma estátua em tamanho real de Vitalino criando arte, do
escultor Demétrio Albuquerque.
À noite, as comemorações ocorreram em Caruaru com a peça O auto das sete
luas de barro no Teatro João Lyra Filho, que acaba de ser reformado, e o
forró do encerramento do São João de Caruaru, que também homenageou Vitalino
e teve duração recorde de 42 dias. Um dos destaques foi o cantor e
compositor caruaruense Petrúcio Amorim, que cantou Deus do barro, que ele
fez em memória ao mestre.
Comemoração continua
- A Fundação de Cultura de Caruaru programou para o centenário uma grande
exposição que não ficou pronta e teve que ser transferida para setembro.
Foram encomendadas 100 peças da temática de Vitalino, sendo a metade
modeladas pelos familiares do mestre do barro e as outras 50 por outros
artesãos. Antes de chegar a Caruaru, ela será instalada no Festival de
Inverno de Garanhuns, entre 16 e 25 de julho.
- A exposição A arte do barro e o olhar da arte/ Vitalino e Verger, que está
instalada no Espaço Cultural Banco Real, no bairro do Recife, até 8 de
agosto, será levada para Caruaru em setembro. A mostra é um ensaio
fotográfico feito por Pierre Verger, em 1947, em Caruaru. Em 109 fotos,
pode-se constatar todo o processo produtivo e criativo de Vitalino, desde a
preparação do barro, passando pela queima das peças e pintura de parte
delas. É possível conferir ainda a modelagem passo a passo de um boi, a mais
tradicional peça de Vitalino. A abertura deve ocorrer junto com a exposição
das 100 peças sobre Vitalino.
- O espaço Arraial Vitalino, que funciona desde o final de maio na antiga
estação ferroviária de Caruaru, com exposição de fotos e peças de Vitalino
será mantido até dezembro. A Fundação de Cultura e Turismo pretende
desenvolver um trabalho pedagógico levando as crianças da rede municipal
para conhecer mais a história do artesão.
- A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) também promoverá, em setembro, uma
exposição para celebrar o centenário de Vitalino, tendo como referência o
acervo do Museu do Homem do Nordeste. Haverá ainda o lançamento de um
catálogo das obras do artista. A instituição ainda prepara um livro infantil
em quadrinhos destacando a infância do artista, a partir do acervo da
Diretoria de Documentação da Fundaj.
- Os filhos e netos de Vitalino fazem demonstrações de modelagem em barro em
escolas e instituições. Sem programação definida. Para conferir onde
acompanhar uma destas oficinas através dos telefones: (81) 3725-0805 e (81)
3722-0309.
- Em setembro de 2010 deve acontecer em Salvador (BA) uma exposição para
marcar os 70 anos de arte de Manuel Vitalino, o segundo filho do mestre, que
começou a trabalhar com cinco anos. Será na Fundação Pierre Verger. Em
seguida, o evento deve vir para o Recife.
(©
Diário de Pernambuco)
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