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Até Pablo Picasso aplaudiu

10/07/2009

 

 

Foto: Pierre Verger/Reprodução DP

Mestre Vitalino elevou seus bonecos de barro à categoria de arte respeitada por intelectuais e artistas

Pedro Henrique Marins
pedromarins.pe@diariosassociados.com.br

Antes de Vitalino Pereira dos Santos, um homem simples, ingênuo e determinado, não se podia falar em arte popular propriamente dita no Brasil. Existiam diversas manifestações culturais, muitas delas autênticas e com potencial artístico, mas que não tinham o reconhecimento formal e o respeito que mereciam. Nem esse caruaruense analfabeto que teve sua trajetória bruscamente interrompida por uma varíola, em 1963 e, que completaria 100 anos nesta sexta-feira, tinha noção do que estava fazendo quando foi descoberto pelo artista plástico recifense Augusto Rodrigues, em 1946. A partir de então, desenvolveu-se toda uma cadeia produtiva de arte popular responsável pela geração de emprego e renda que sustenta milhares de famílias no país.

Vitalino contribuiu para que a arte popular fosse aceita pelos intelectuais. Quando constituída de elementos criativos originais e não apenas meras reproduções feitas em série. Nestas condições, como ele bem apresentava, otrabalho deixava de ser classificado como artesanato. Passava do estágio de peças ornamentais utilitárias ou brinquedo de criança, como foram criadas inicialmente, para o campo da arte figurativa de fato. "Meu pai foi original, contou a história da sua gente através do barro. Ele fez mais de 118 peças diferentes", lembra Manuel Pereira dos Santos, o Manuel Vitalino, de 74 anos, o segundo filho do mestre e um dos primeiros seguidores.

O ápice desta construção foi o respeito e a admiração do maior pintor do século 20, Pablo Picasso, que tinha um Cangaceiro, de Vitalino, em local de destaque na sua casa. Hoje, a arte do caruaruense pode ser encontrada no Rio de Janeiro, no Recife, em Caruaru, no Museu do Louvre, em Paris (França) e em Viena (Áustria), entre outros (leia quadro).

Toda atmosfera artística que revelou Vitalino para o Brasil e o mundo foi respaldada por nomes como os poetas Manuel Bandeira e Joaquim Cardozo e os escritores João Condé e Gilberto Freyre. Manuel Bandeira lembrou no livro Flauta de papel, em 1957, que os admiradores da arte moderna despertaram para Vitalino com a mesma atenção que davam às telas de Picasso e as deformações expressionistas de Portinari. Quanto à técnica, sentenciou: "A simplificação plástica valia as de Lipschitz", atestou Bandeira, numa referência ao matemático alemão Rudolf Otto Lipschitz (1832 - 1903).

A elevação do status da arte do povo é consequência do processo histórico-cultural ligado às premissas do Movimento Modernista de 1922 e do Movimento Regionalista do Recife, iniciado em 1923 no Recife. A ideia de uma arte com raízes nacionais, que inspirou Mário de Andrade, Tarsila do Amaral e Vicente do Rêgo Monteiro, encontrou mais sentido após as "revelações" de Vitalino.

Para a diretora do Museu de Arte Popular Brasileira, Angela Mascelani, "Vitalino fez jus à fama de mestre, sendo autêntico mediador, pois permitiu que os mundos erudito e popular, até então distantes, se encontrassem". Com suas obras, Vitalino e seus herdeiros, cerca de 400 pessoas só no Alto do Moura, em Caruaru, revelam mais uma face deste Brasil rústico e miscigenado, que fugindo da seca se espalhou por todas as regiões e colaborou para a construção nacional.

O mestre personificou as imagens que serviriam para traduzir os sentimentos e a alma dos sertanejos nos versos de Patativa do Assaré,- outro centenário em 2009 -, que em A triste partida, cantada por Luiz Gonzaga, parece ter musicado as peças Volta da roça e os Os retirantes, de Vitalino.

Onde achar Vitalino

O acervo do Mestre Vitalino está dividido por vários museus do Brasil e exterior.

Em Caruaru

Museu do Barro - Espaço Zé Caboclo

Praça Cel José de Vasconcelos, 100, Centro. Fone: (81) 3721 3957

Casa-Museu Mestre Vitalino

Rua Mestre Vitalino, s/n, Alto do Moura. Fone: (81) 3725 0805

No Recife

Museu do Homem do Nordeste

Av. 17 de Agosto, 2.187, Casa Forte. Fone: (81) 3073 6340

Museu de Arte Popular

Pátio de São Pedro, casas 45 e 49, São José. Fone: (81) 3232 2492

No Rio de Janeiro

Casa do Pontal - Museu de Arte Popular Brasileira

Estrada do Pontal, 3.295, Recreio dos Bandeirantes. Fone: (21) 2490 3278

Museu do Folclore Edison Carneiro

Rua do Catete, 179, Catete. Fone: (21) 2285 0441

Museu da Chácara do Céu

Rua Murtinho Nobre,93, Santa Teresa. Fone: (21) 2224 8981

Museu Nacional de Belas Artes

Avenida Rio Branco, 199, Centro. Fone: (21) 2262 6067

Depoimentos

"Aqueles que entrarem nesta sala, livres de conceitos prejulgados ou com o espírito cuidadosamente desprovido dos símbolos e expressões nele criados pelo automatismo da memória, verão que as formas puras da beleza nem sempre repousam nas terras altas da ciência e da sabedoria dos grandes artistas, mas descem, como pássaros divinos, sobre a igualdade dos homens comuns."

Poeta Joaquim Cardozo, na apresentação da primeira exposição de Vitalino no Rio, em 1947, marco da "descoberta" do artista.

"Esses calunguinhas de barro, hoje tão admirados pelos estrangeiros que nos visitam e que os apreciadores da arte moderna admitem nas mesas e nas vitrines de seus livingrooms ao lado das cerâmicas de Picasso e na companhia das deformações expressionistas de Portinari, começaram a ser efeitos para servirem de paliteiros ou brinquedos infantis. (#) Já tive muitas dessas figurinhas em minha casa. (#) Sei que elas eram realmente obras de arte, especialmente certo papagaiozinho naquela atitude jujuru de quem está bolandopara acertar uma digna do anedotário da espécie. A simplificação plástica valia as de Lipschitz# (Rudolf Otto Sigismund Lipschitz (1832- 1903), matemático alemão.

Poeta Manuel Bandeira, no livro Flauta de papel, de 1957

"Eu, em 1952, estou em Paris e me encontro com Francisco Matarazzo, que organizava a segunda Bienal de São Paulo. Chegamos a Paris e a segunda mulher de Picasso dava uma recepção. Pois bem, aí tinha muitos brasileiros eu me lembro, Guilherme Figueiredo, Vinícius de Moraes, Cícero Dias# Uma casa maravilhosa, cheia de quadros de Picasso, e eu, muito curioso, saio assim pra ver. Aí chego numa sala, eu vejo um facho de luz, uma coluna, com um objeto, uma escultura. Eu vou#é uma escultura do Mestre Vitalino. No meio daquele esplendor do maior pintor do século (XX)... eu vejo esse pedaço do barro de Caruaru. Tenho de ficar emocionado...

Escritor João Condé em depoimento para Paulino Cabral de Mello no livro Vitalino sem barro: o homem. Fundação Assis Chateaubriand/Ministério da Cultura, 1995.

A escritora Raquel de Queiroz identificou como sendo um cangaceiro a peça de Vitalino, em artigo na revista Visão quando da morte do caruaruense em 1963.

"O início da descoberta das artes populares pelas elites intelectuais, consequência de um processo histórico cultural ligado à filosofia do Movimento Modernista de 1922 e do Movimento Regionalista do Recife, iniciado em 1923. Trata-se de recuperar, para a norma erudita, aqueles aspectos da realidade brasileira que constituem a cultura popular, e que até hoje representam para a elaboração do nativismo um repertório extraordinário vigor e riqueza"

Lélia Coelho Frota, autora do livro Mestre Vitalino, editora Massangana, 1986.

(© Diário de Pernambuco)

 


Intérprete de seu povo

Escultor Abelardo da Hora analisa a técnica apurada do Mestre Vitalino

Como espectador privilegiado da obra do Mestre Vitalino, o premiado escultor Abelardo da Hora, de 84 anos, analisa a técnica apurada que o caruaruense usava mesmo sem ter consciência plena que estava fazendo escola na arte da cerâmica. Quando Vitalino foi "descoberto" em 1946, Abelardo concluía seus ensinamentos artísticos a Francisco Brennand, que se tornaria uma autoridade das artes plásticas. Nesta época, Abelardo ajudou o sociólogo Gilberto Freyre a entender o surgimento daquele novo ícone da cultura nordestina, que em cada estatueta retratava as alegrias e tristezas do seu povo. Com rara habilidade, quase dialogando com o barro. "Era uma espécie de encosto (risos). Ele (Vitalino) tinha um caboclo bom do lado dele, que é uma coisa maravilhosa.", afirmou Abelardo, referindo-se ao processo de construção das peças pelo mestre do barro. Confira a entrevista concedida a Pedro Henrique Marins.

Entrevista // Abelardo da Hora

O que representa Vitalino na passagem do artesanato para categoria de arte reconhecida pelos intelectuais?

Eu acho que Vitalino era um artista inato. E inclusive um ceramista que soube mais do que ninguém interpretar o ambiente da vida rural e cultural onde ele vivia, vendendo suas estatuetas de cerâmica na Feira de Caruaru. Ele tinha uma maneira especial de elaborar seu trabalho como verdadeiro mestre, como um escultor. Ele merece todas as homenagens porque é um representante autêntico do que há de melhor na arte popular brasileira.

O que tornava Vitalino diferente, especial?

A maneira como ele fazia aquele rolinho de barro e desenhava exatamente os volumes em terceira dimensão no ar. Desenhava aquilo de maneira harmônica e contribuindo para uma visão nova da escultura cerâmica. Ele foi um verdadeiro mestre por ter o respeito pela matéria com que trabalhava e a intimidade que ele conseguiu criar e adquirir no trabalho que ele fazia com a argila. Ele se misturou de tal forma com o espírito do barro daquilo que poderia expressar, que usou de maneira maravilhosa como um mestre.

Vitalino foi um intérprete da sua gente?

Ele não foi só um ceramista popular, ele foi um escultor. Vitalino foi um escultor da cerâmica popular e interpretou a vida da sua gente naqueles trabalhos de cerâmica a caminho da feira, os casamentos, as bandas de pife, os retirantes. Finalmente a vida da gente com que ele convivia diariamente e de maneira riquíssima do ponto de vista estético. Aquele trabalho de Vitalino é um exemplo não só para os ceramistas mas para todo o artista. Porque ele era um mestre.

Antes mesmo de Augusto Rodrigues "descobrir" Vitalino o sociólogo Gilberto Freyre já se interessava pelo trabalho dele.

Uma vez, conversando com Gilberto Freyre ele me perguntou porque que Vitalino se destacava de uma maneira tão espetacular. E eu disse a ele que era o respeito e a intimidade que ele tinha com o barro. E como ele sabia respeitar os limites do barro. Você quase que não vê nenhum especto de retoque nas escultura de Vitalino.

Quase como um sopro divino...

Vem aquela coisa, exatamente. Era uma espécie de um encosto (risos). Ele tinha um caboclo bom do lado dele, que é uma coisa maravilhosa. E com quase todo artista é assim. Está trabalhando, tem uma inspiração, faz e não sabe porque fez. Nós fazemos uma coisa que vem naturalmente e expressa aquilo com uma naturalidade que depois nós mesmos nos espantamos. E eu fiz isso. Essa é que era a realidade. Vitalino era um mestre e merece todas estas homenagens que estão fazendo a ele. Porque enriquece toda a cultura popular, Caruaru, Pernambuco e o Brasil.

Ele tinha a consciência do limite do barro e, por isso, sabia explorar o material da melhor maneira possível.

Porque ele tinha o saber e a intimidade com o barro, respeitava aquilo que fez e desenhava no espaço e não no papel. Ele fazia coisas belíssimas apresentando todas as manifestações da vida que o cercava.Ele mantinha uma espécie de diálogo com o barro... Diálogo permanente com o barro dizendo e mostrando o que o povo que ele estava interpretando tinha e merecia ser dito.

Os resultados das feiras nacionais de arte popular e artesanato têm a marca de Vitalino?

Grande parte desta festa maravilhosa que é a Fenearte se deve a Vitalino. Esssa é a verdade, porque ele plantou uma raiz maravilhosa na cultura pernambucana que foi a cerâmica popular lá em Caruaru.

O senhor esteve com Vitalino. Como se deu este encontro?

Ele era um homem simples, natural, uma figura maravilhosa. Como toda figura boa, notável, respeitável é sempre assim sem frescura. Conversei com ele uma vez e disse exatamente isso a ele, que tudo aquilo que ele estava fazendo é porque ele tinha o respeito e fazia e amava a sua criação e ficava do jeito que ele queria. E ele disse é exatamente isto.

Vitalino ainda criava histórias misturando a realidade e seu mundo de sonho, idealizável.

Era uma coisa maravilhosa porque inclusive ele vivia num meio simples e criativo demais. Eu estou fazendo agora uma retrospectiva minha (começou em Brasília na semana passada) que intitulei Amor e solidariedade. Eu dedico o amor a mulher porque é a coisa mais bela e sem ela não existe vida. E a solidariedade eu dedico ao povo. Ora cantando a criatividade popular, quando eu faço as danças brasileiras de carnaval. E também protestando contras as injustiças que se faz contra o povo. Na minha linha expressionista meto o "cacete" contra as injustiças sociais.

De certa forma Vitalino foi um representante desse povo injustiçado do interior?

Exatamente ele representa tudo isto. Quando ele faz os retirantes à maneira dele, o pessoal caçando, os caçadores, ele retrata a realidade do seu povo.

(© Diário de Pernambuco)


Centenário

Vitalino: mestre do barro é eternizado

Pedro Romero
Do Jornal do Commercio

CARUARU – Se vivo estivesse, Vitalino Pereira dos Santos, mais conhecido como Mestre Vitalino, completaria nesta sexta-feira 100 anos de idade. O artesão que marcou a história da arte da cerâmica figurativa no Brasil, morreu de varíola em fevereiro de 1963. A festa de aniversário do seu centenário de nascimento promete ser digna de sua obra, que se eterniza nas gerações de artesãos do Alto do Moura, onde o artista morou, criou os filhos e deixou discípulos. A programação inclui homenagens, shows e inauguração de estátua do artesão em tamanho real.

As comemorações começam às 15h, no palhoção montado no Alto do Moura para os festejos juninos. O local será transformado numa espécie de auditório para lançamento de selo dos Correios e de medalha feita pela Casa do Moeda do Brasil. Logo após, haverá apresentações de grupos culturais e shows musicais.

Um dos momentos altos da festa será a apresentação da I Orquestra de Pífanos, que reunirá 50 músicos de 12 bandas de pífanos de Caruaru e será regida pelo maestro Mozart Vieira. “É uma honra e um desafio grande. Já regi orquestras na Europa, com mais de 300 pessoas, mas por ser desta região, esta orquestra inédita está me dando muito prazer”, diz Mozart Vieira.

Em vez das tradicionais camisas quadriculadas, os músicos usarão ternos, com direito à gravata borboleta. A homenagem se justifica também porque Vitalino tocou pífano em várias bandas. Dono de grande talento musical, o artista aprendeu a tocar desde cedo e com 15 anos montou sua própria banda, a Zabumba Vitalino. Alguns dos instrumentos utilizados por ele podem ser vistos na Casa Museu do Alto do Moura.

O maior presente que Vitalino vai ganhar será uma estátua sua em tamanho real. A peça foi produzida em concreto pelo artista plástico Demetrio Albuquerque e ficará no espaço da Casa Museu. Os visitantes poderão interagir, tirando fotos ao lado da imagem do artista. “Ela retrata Vitalino de pernas cruzadas, como costumava trabalhar. A imagem mostra o artesão em sua fase de maturidade”, conta Demetrio.

CORTEJO

Por volta das 17h haverá cortejo pelas ruas do Alto do Moura com 26 grupos culturais de várias cidades do Estado, entre eles o Maracatu Estrela Brilhante, o Homem da Meia-Noite e o bloco carnavalesco Madeira do Rosarinho.

A programação prossegue à noite, com a reestreia da peça O alto das sete luas de barro, espetáculo premiado de Vital Santos, que conta a história do Mestre Vitalino. A apresentação também marca a reforma do Teatro João Lyra Filho, que ganhou nova estrutura. As comemorações do centenário de Vitalino terminam no Parque de Eventos Luiz Gonzaga, com shows de Petrúcio Amorim, Valdir Santos, Elifas Júnior e Geraldinho Lins. A festa também marca o encerramento oficial do São João de Caruaru, que começou no dia 30 de maio.

“Este será um momento que ficará marcado na história, sendo Vitalino uma das figuras mais importantes para a cultura e a arte da cidade”, destaca o presidente da Fundação de Cultura de Caruaru, José Pereira. Além do Alto do Moura, peças e muito da história de vida de Vitalino podem ser encontrados no Museu do Barro, no Parque de Eventos Luiz Gonzaga, Centro, onde existe uma sala dedicada ao artista.

(© JC Online)


Atualização em 13.07.2009:

Homenagem recorda novenas de Vitalino

Primeira Orquestra de Pífanos do Brasil animou o dia do centenário, que teve também a peça de teatro O auto das sete luas de barro

Pedro Henrique Marins


Severino, filho do mestre, agradeceu pela família e lembrou que Vitalino, pela sua história, deu um presente a Caruaru. Foto: Roberto Franca/Divulgação

Todo o ambiente cultural que marca Caruaru, nos meios populares com várias tradições juninas e a sua feira, e a memória erudita dos conterrâneos Álvaro Lins, Austregésilo de Atayde e de João Condé, celebraram ontem os 100 anos de Vitalino Pereira dos Santos, o Mestre Vitalino. O primeiro ato da festa não poderia deixar de ter a marca da pluralidade. Cantores de baião, xote e arrasta-pé, repentistas, bandas de pífanos, poetas, bacamarteiros e trios de forró reuniram-se, à meia-noite, no Arraial Vitalino, no centro da cidade, para festejar o aniversariante. Apesar da ausência física do homenageado, o clima de alegria contagiante e participativo lembrou as novenas que o mestre guiava tocando pífano no Alto do Moura. "Até parece que ele está aqui", afirmaram integrantes da Primeira Orquestra de Pífanos do Brasil.

Criada no início de junho pela Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru como mais uma homenagem ao ceramista, a orquestra deu o tom das festividades ao longo do dia de ontem. Regida pelo maestro Mozart Vieira, da Banda Sinfônica dos Meninos de São Caetano, 50 instrumentistas das 12 bandas de pífanos emocionaram os familiares e amigos de Vitalino, autoridades e turistas no Alto do Moura. O governador Eduardo Campos (PSB) convidou o grupo para se apresentar no projeto Pernambuco conhece Pernambuco. Em nome dos Vitalino, Severino agradeceu. "Meu pai, pela sua história, deu um grande presente a Caruaru e fez por onde merecer esta festa", afirmou.

A marca da interculturalidade se manteve com o desfile promovido pela Fundarpe de 30 grupos folclóricos como o maracatu Piaba de Ouro, orquestra de frevo, conjuntos de caboclinhos sete flechas, trios de forró e na companhia de 18 bonecos gigantes do carnaval de Olinda, representando personagens da cultura pernambucana inclusive como Vitalino, Chico Science, Dominguinhos e Luiz Gonzaga.

Os Correios lançaram um selo pelo centenário do artesão e a Casa da Moeda entregou três exemplares de uma medalha especialque ficarão com a família, a Prefeitura de Caruaru e o governo do estado. Em seguida, foi inaugurada ao lado da casa museu uma estátua em tamanho real de Vitalino criando arte, do escultor Demétrio Albuquerque.

À noite, as comemorações ocorreram em Caruaru com a peça O auto das sete luas de barro no Teatro João Lyra Filho, que acaba de ser reformado, e o forró do encerramento do São João de Caruaru, que também homenageou Vitalino e teve duração recorde de 42 dias. Um dos destaques foi o cantor e compositor caruaruense Petrúcio Amorim, que cantou Deus do barro, que ele fez em memória ao mestre.

Comemoração continua

- A Fundação de Cultura de Caruaru programou para o centenário uma grande exposição que não ficou pronta e teve que ser transferida para setembro. Foram encomendadas 100 peças da temática de Vitalino, sendo a metade modeladas pelos familiares do mestre do barro e as outras 50 por outros artesãos. Antes de chegar a Caruaru, ela será instalada no Festival de Inverno de Garanhuns, entre 16 e 25 de julho.

- A exposição A arte do barro e o olhar da arte/ Vitalino e Verger, que está instalada no Espaço Cultural Banco Real, no bairro do Recife, até 8 de agosto, será levada para Caruaru em setembro. A mostra é um ensaio fotográfico feito por Pierre Verger, em 1947, em Caruaru. Em 109 fotos, pode-se constatar todo o processo produtivo e criativo de Vitalino, desde a preparação do barro, passando pela queima das peças e pintura de parte delas. É possível conferir ainda a modelagem passo a passo de um boi, a mais tradicional peça de Vitalino. A abertura deve ocorrer junto com a exposição das 100 peças sobre Vitalino.

- O espaço Arraial Vitalino, que funciona desde o final de maio na antiga estação ferroviária de Caruaru, com exposição de fotos e peças de Vitalino será mantido até dezembro. A Fundação de Cultura e Turismo pretende desenvolver um trabalho pedagógico levando as crianças da rede municipal para conhecer mais a história do artesão.

- A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) também promoverá, em setembro, uma exposição para celebrar o centenário de Vitalino, tendo como referência o acervo do Museu do Homem do Nordeste. Haverá ainda o lançamento de um catálogo das obras do artista. A instituição ainda prepara um livro infantil em quadrinhos destacando a infância do artista, a partir do acervo da Diretoria de Documentação da Fundaj.

- Os filhos e netos de Vitalino fazem demonstrações de modelagem em barro em escolas e instituições. Sem programação definida. Para conferir onde acompanhar uma destas oficinas através dos telefones: (81) 3725-0805 e (81) 3722-0309.

- Em setembro de 2010 deve acontecer em Salvador (BA) uma exposição para marcar os 70 anos de arte de Manuel Vitalino, o segundo filho do mestre, que começou a trabalhar com cinco anos. Será na Fundação Pierre Verger. Em seguida, o evento deve vir para o Recife.

(© Diário de Pernambuco)


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