Notícias
Raimundo Fagner lança CD de inéditas, Uma canção no rádio

10/07/2009

 

 

Fagner garante que fez disco para tocar em rádios de norte a sul do Brasil

Ailton Magioli - EM Cultura

A escolha de um produtor jovem (Clemente Magalhães, indicado por Marcelo Froes) não foi em vão. Preparando-se para comemorar 60 anos em outubro, Raimundo Fagner lança o CD Uma canção no rádio, com o qual flerta com sonoridades contemporâneas, paralelamente às eternas canções nas quais se tornou um especialista. “Quis mudar de timbre, ao mesmo tempo em que buscava gente que estava trabalhando com coisas mais atuais”, justifica o cantor cearense, que, além de um tango eletrônico (Muito amor, de São Beto, que ele já havia gravado em 2001 e regravado, ao vivo, no disco Me leve), aventura-se no rap (Martelo, de Oliveira do Ceará, que ganhou novos versos e vocais de Gabriel, o Pensador). No novo disco, volta a compor com Zeca Baleiro (a faixa que batiza o CD, que tem por subtítulo Filme antigo e, curiosamente, é aberta na voz do parceiro convidado), além de estrear dobradinha com Chico César (Farinha comer).

De Fortaleza, o álbum anterior, mais denso, feito sob o clima de perdas familiares, ao novo lançamento, Fagner não esconde que vem passando por mudanças. “A vida dá para a gente chances de superar as perdas, com calma, paciência, consciência e ajuda”, afirma. “Caí de cabeça naquilo que eu mais gosto de fazer”, resume o cantor, salientando que Uma canção no rádio representa bem os momentos que ele viveu, além do que vive atualmente, mais suave. O sugestivo título do CD é a deixa para saber a relação de Raimundo Fagner com o veículo. “Além de ser dono de rádio, eu toco bastante no Brasil inteiro, apesar de eu não escutar muito”, garante o artista.

“Os novos veículos de comunicação estão aí, mas o rádio continua sendo o mais importante”, detecta o cantor. Ele salienta que, mesmo cheio de vícios (o jabá entre outros tantos), o rádio não se vai recusar a tocar aquilo que o público quer ouvir. Bem segmentado, Uma canção no rádio, de acordo com o cantor, tem chances de circular muito bem pelo dial. A começar de Sonetos, de Domer, cujo curioso batismo de Domervil, segundo recorda Fagner, acabou gerando o novo pseudônimo para evitar que o compositor maranhense fosse confundido com nome de remédio. “Descobri uma fita de Domer há anos, de quem gravei Certeza, em 2001. Agora ele me mandou essa, mais romântica, que já está tocando no rádio”, comemora. “Há também Me dá meu coração, de Accioly Neto, e Flor de mamulengo, de Luiz Fidélis, que já estão tocando muito no Nordeste, onde eu estou fazendo shows”, comenta.

DUAS LINHAS

“São as minhas duas linhas de trabalho: a coisa do Nordeste, mais ritmada, e a romântica. O próprio tango que abre o disco contribui para torná-lo mais radiofônico”, reconhece o cantor. Originalmente, a militante Martelo, de Oliveira do Ceará, era um baião. “Depois ele fez uma leitura dela mais cancioneira, que eu não gostei. Pedi para ser uma coisa mais alegre, até para contrapor com o discurso, que é pesado. Finalmente, ela caiu nesse formato, que acabou se adequando ao rap do Gabriel, o Pensador”, explica Fagner. A despeito do discurso que diz que o rap é a negação da canção, Fagner garante que ele não vai morrer nunca. “Qualquer música pode ser boa, desde que tenha conteúdo”, ensina.

Depois de se tornar parceiro de Zeca Baleiro exatamente pela qualidade poética do compositor, ele garante que o paraibano Chico César, com quem estreia parceria neste disco, se iguala ao maranhense. “Chico é um poeta maravilhoso, ele fez uma letra profunda para Comer farinha, de quem tem conhecimento da causa.”, antecipa. Parceiro inaugural de carreira, Fausto Nilo assina com ele a balada A voz do silêncio.

(© UAI)

 


Um gogó a serviço de um cérebro

Fagner funde brilho e simplicidade no recente CD Uma Canção no Rádio

José Nêumanne

Enquanto outros astros do cancioneiro brasileiro se afundam na mesmice e relançam veles êxitos em roupagem nova (nem tanto!) ou se escondem da inspiração em outras formas da expressão, Raimundo Fagner lança o CD Uma Canção no Rádio para instigar, provocar, agradar e, ao mesmo tempo, mostrar que um ídolo popular não se equilibra apenas em cordas vocais, mas também em neurônios. Recentemente, ele tinha trazido a lume um poeta maior de suas plagas, ao musicar versos do também cearense Francisco Carvalho, cujo talento supera em muito o desconhecimento de sua obra além de Fortaleza, deixando claro que não se pode medir mérito literário só pelo reconhecimento. E não faz muito tempo assim que ele gravou um CD em total parceria com um colega compositor e intérprete, o maranhense Zeca Baleiro, mostrando que estilos singulares podem bem se compor ao se complementarem.

A safra 2009 da cepa de Fagner faz ressurgir a mesma parceria em versos, melodia e voz na faixa que dá título e nobreza ao disco. Esta pode ser definida sem favor nenhum como antológica, juntando-se ao que há de mais precioso e especial na história de nosso cancioneiro amoroso: Uma Canção no Rádio (Filme Antigo) destaca-se pelo brilho e pela simplicidade, provando que uma coisa tem tudo a ver com a outra. "Penso, rio, sofro, choro, deixo a vida pra depois"; "tenho um coração raso de razão" ou "que o céu me roube a luz, mas me reste a voz na noite calada" são versos que atingem o ápice da qualidade no topo da lírica brasileira. Não se pense, contudo, que o novo CD de Fagner se limita a este ponto culminante, pois, na verdade, não se trata de uma obra de altos e baixos, mas, ao contrário, de uma produção que prova que compensa um gogó de ouro recorrer a um cérebro de igual estofo.

O mesmo Fagner que mostrou ao público que lhe pede bis intermináveis para Noturno e Canteiros com quantos acordes se canta a Espanha de Rafael Alberti e que pôs o biscoito fino de Ferreira Gullar à mesa da plebe agora traz de seu garimpo particular de artistas desconhecidos prontos para a fama mais um que tem tudo para ocupar lugar de destaque na indústria fonográfica brasileira - hoje anêmica em talentos promissores. Oliveira do Ceará, humilde servente que assina três faixas no CD do astro, aborda numa delas, Martelo (parceria com Adamor e Gabriel o Pensador, que participa da gravação), a indignação e a estupefação da Nação inteira pelo contexto em que todos nós - do palco e da plateia - estamos inseridos.

O regional nordestino, é claro, faz-se presente na sapeca Flor do Mamulengo, de Luiz Fidélis ("me apaixonei por um boneco e ele ?neco? de se apaixonar"), e, sobretudo, em Me Dá Meu Coração, clássico do pernambucano Accioly Neto, cuja obra mais uma vez ressuscita na voz do "almuadem" (cantor de orações no Islã) de Orós. Desta vez com o auxílio luxuoso da sonoridade de Clemente Magalhães, Leo Fernandes, Cláudio Bezz, Alexandre Prol e Rick de La Torre, do Núcleo Criativo Corredor 5: estes meninos do Rio contribuem de forma decisiva para a unidade, a qualidade e a novidade do som do CD de Fagner.

José Nêumanne, jornalista e escritor, é editorialista do Jornal da Tarde

(© Estadão)


SITE

FAGNER Site Oficial

FAGNER (Fundação Social Raimundo Fagner)

FAGNER (Amigos de Fagner)

 

VÍDEO

 

  Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)


powered by FreeFind