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Novo Curador da Bienal quer arte política

22/07/2009

 

 

Novo Curador da Bienal, Moacir Dos Anjos
 
Evento, que deve ocorrer entre setembro e outubro de 2010, terá ainda outros cinco nomes para o projeto curatorial

"Um tema costuma constranger as obras", diz Moacir Dos Anjos, explicando que a 29ª terá uma "plataforma discursiva"

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Política, sem a institucionalização de um museu ou o afã pelo novo de uma feira de arte. Em síntese, essas são as linhas gerais que vão direcionar a organização da 29ª Bienal de São Paulo, segundo o curador Moacir dos Anjos, anunciado hoje pelo presidente da Fundação Bienal, Heitor Martins, conforme a Folha havia adiantado.

De Londres, via Skype, o pernambucano Dos Anjos, 46, explicou o projeto inicial que irá conduzir a preparação da mostra, ainda sem data de abertura definida, mas que deve ocorrer em fins de setembro ou começo de outubro do próximo ano. "O Moacir é o coordenador do grupo curatorial, outros cinco nomes ainda devem ser incluídos, três deles estrangeiros. O conceito de equipe é importante para marcar um pluralismo de visões", afirmou ontem Martins, na sede da Fundação Bienal. Os demais curadores serão anunciados em agosto.

A 29ª Bienal não terá um tema específico, mas será organizada como uma "plataforma discursiva", disse Dos Anjos. "Um tema costuma constranger as obras a um ponto específico e por seu tamanho." De acordo com o projeto apresentado pelo curador, isso significa que "o aspecto central dessa plataforma será o reconhecimento do caráter ambíguo que a arte exibe desde que se viu liberta de sua função de meramente representar o mundo".

O curador trabalha a exposição com um título ainda provisório, "Há sempre um copo de mar para um homem navegar", verso do poeta alagoano Jorge de Lima. "Vamos dar ênfase à arte como produtora de uma visão de mundo que, em potência, pode transformar a realidade", disse o curador, ao explicar o caráter político da mostra.

Ao preparar o projeto da 29ª Bienal, Dos Anjos falou que teve em mente outras mostras, com as quais pretende dialogar: "Não sou ingênuo ou arrogante para achar que vou inventar a roda. A Documenta 11, de 2002, a última Bienal de Sydney, e a 24ª e 27ª Bienais de SP são as mostras que tive em mente para elaborar o projeto."

Sobre a Documenta 11, Dos Anjos ressaltou a mescla entre os vínculos estabelecidos da arte feita no presente com a produção do passado, o que deve ocorrer também na 29ª Bienal. Outro viés importante da exposição, também segundo o curador, será seu caráter experimental, que foi lembrado a partir da concepção do crítico Mário Pedrosa em sua famosa formulação "a arte é o exercício experimental da liberdade".

A produção brasileira também será fortalecida, sem ser organizada em gueto. "Pretendo romper com a leitura crítica dominante que a arte política brasileira ocorreu só nos anos 1960 e 70."

Segundo Martins, a exposição deve custar cerca de R$ 25 milhões, além de R$ 5 milhões para o setor educativo. O curador volta amanhã para Recife. Ele não terá residência permanente em São Paulo.

(© Folha de S. Paulo)

 


Moacir assume a Bienal SP

Fundação anunciou o crítico e curador pernambucano Moacir dos Anjos para o desafio de organizar edição de 2010

O economista e crítico pernambucano Moacir dos Anjos, 45 anos, é o curador da 29ª Bienal de Arte de São Paulo, prevista para estrear entre setembro e outubro de 2010. A mostra tem como título provisório Há sempre um copo de mar para um homem navegar, verso extraído de Invenção de Orfeu, do poeta alagoano Jorge de Lima. Ex-diretor do Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam) de 2001 a 2006, ele começou sua trajetória dentro das artes na Fundação Joaquim Nabuco, na década de 90. Atualmente, está em Londres, finalizando um pós-doutorado sobre as relações entre o local-regional e o global-universal na arte contemporânea. Ele volta da capital inglesa esta semana e deve assumir o posto imediatamente. A notícia foi divulgada oficialmente ontem, pela Fundação Bienal de São Paulo, organizadora do evento.

O primeiro convite para coordenar uma das maiores exposições do mundo chega para o crítico como uma prova de fogo. A Fundação Bienal atravessa uma crise sem precedentes, que desembocou em críticas de todos os tipos para a 28ª edição da mostra – apelidada de “Bienal do Vazio”, vista por apenas 162 mil pessoas. O curador terá dois desafios simultaneamanente: produzir uma Bienal em pouco mais de um ano e estabelecer um formato viável para uma megaexposição de arte contemporânea, devolvendo-lhe a credibilidade.

META AMBICIOSA

Moacir dos Anjos participou ontem de videoconferência sobre seus planos para a Bienal de São Paulo. Ele apresentou metas ambiciosas dentro do seu empenho em resgatar a relevância da mostra “Nosso objetivo tem que ser o máximo possível, atingir um milhão de pessoas”.

Essa marca que quase foi alcançada pela edição de 2004 (917 mil visitantes), mas que desde então vem caindo (em 2006, foram 535 mil visitantes), apesar de ter se tornado gratuita há três anos. “Temos que elaborar formas de atrair o público mostrando que a Bienal não é lugar de cultura de massa, mas tampouco é elitista. A arte contemporânea tem a capacidade de falar das coisas da vida cotidiana, o que possibilita que seja entendida por todos”.

A 29ª Bienal não terá um tema, mas uma plataforma, como nas duas edições anteriores. “A intenção é enfatizar a natureza política da arte enquanto algo que possui autonomia. A plataforma pretende reafirmar a potência da arte, seu poder de reconfigurar visões de mundo”.

Para o curador, apesar da grave crise institucional na Fundação, do grande número de bienais no mundo e dos debates sobre o esgotamento do formato, há um lugar importante a ser ocupado pela Bienal de São Paulo, “não apenas por sua história, mas por ser realizada no Brasil, um dos principais centros de produção artística mundial”.

O custo previsto para a realização da 29ª Bienal é de R$ 25 milhões. Mais R$ 5 milhões serão investidos no programa de arte educação. Segundo Martins, serão necessários ainda R$ 10 milhões para custeio de despesas e saneamento de dívidas. Ele também tenciona captar recursos para reformar o prédio criado por Niemeyer.

ARTE INVISÍVEL

Dentro desse escopo, Moacir dos Anjos, que vai se dividir entre Recife e São Paulo, afirma que a mostra, com participação de 100 a 150 artistas e terá a arte brasileira como presença importante, permeando toda a exposição. “É possível dizer que será uma mostra de arte brasileira invisível”, diz o coordenador, que pretende “pensar a história recente da produção nacional pelo viés que une política e estética”.

Artistas e curadores pernambucanos que já trabalharam com Moacir dos Anjos não têm dúvidas a respeito da sua capacidade de levar o projeto adiante. Para a crítica e curadora de arte Cristiana Tejo, o título de curador da Bienal de São Paulo é um dos maiores reconhecimentos dentro da área, não apenas no Brasil, mas também no contexto internacional. “Há muitas pessoas no mundo que gostariam de ocupar esse lugar. Apesar das dificuldades que enfrenta, a Bienal é um espaço de projeção internacional para artistas e pensadores da arte”, ressalta.

Cristiana acredita que a crise em torno da Bienal não atinge tanto a mostra quanto a Fundação Bienal. “A instituição tem vários problemas de administração. O desgaste evidenciou que ela não é tão sólida quanto se pensava. Não tem raízes. Seu papel é o produtora de eventos, mas não é assim que se constrói uma bienal.” A curadora explica que uma exposição desta grandeza precisa de tempo e de verba assegurada para acontecer. Para ela, as falhas que vieram à tona na última edição tiveram o papel importante de tornar pública a crise.

A Fundação Bienal trocou várias peças-chave envolvidas na realização da exposição, inclusive o presidente da diretoria-executiva, elegendo Heitor Martins para o cargo. Graduado em administração pública pela FGV-SP, e com mestrado de administração de empresas na Universidade de Michigan, espera-se que ele consiga imprimir um perfil administrativo mais profissional. “Vejo esse mea culpa da Fundação como algo positivo. Pelo que percebi do novo presidente, acredito que ele e Moacir consigam trabalhar bem em conjunto. Um projeto curatorial é reflexo das pretensões do presidente. É preciso ter clareza da relevância dessa função”, completa Cristiana Tejo.

(© JC Online)


Pernambucanos comemoram a escolha do curador

O artista plástico José Patrício, que já participou de edições anteriores da Bienal e trabalhou com Moacir dos Anjos na Fundaj, comemora a notícia da nomeação. “Ele chega a esse cargo merecidamente, porque é um curador muito comprometido com o resultado do trabalho, não com outras questões paralelas, que às vezes atrapalham o desenvolvimento de um projeto como este. Ele tem condições de fazer um trabalho excelente”, reforça Patrício. O artista acrescenta que Moacir tem um diferencial em relação a outros curadores brasileiros: “Ele teve sua formação cultural no Recife, mas é um cidadão do mundo, com um olhar amplo. É a primeira vez que alguém cuja carreira foi construída fora do eixo Rio-São Paulo assume esse cargo”.

“Fico muito feliz, pelo reconhecimento de seu trabalho extremamente sério e competente. Moacir hoje é um nome nacional inquestionável, com trânsito internacional. Ele está altamente preparado para realizar uma Bienal”, afirma o artista plástico Gil Vicente, que participou, em 2002, da 25ª edição da Bienal. Gil não teme que a crise tire o brilho da atuação do curador pernambucano. “Se ele aceitou o convite, sabe o que vai fazer e terá condições de dar prosseguimento ao desafio de encontrar novos modelos para exposições do estilo das bienais”, pontua.

Outro artista local que comemora a indicação é Rodrigo Braga. “Moacir ajudou bastante a construir o nosso meio de arte contemporânea em Pernambuco. Ele promoveu várias boas exposições de artistas de outros Estados, e nos possibilitou adquirir esse conhecimento e proporcionou que nomes daqui participassem de exposições em outros lugares, fazendo a arte circular”, diz Rodrigo.

(© JC Online)


 

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