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Na era da música digital, Fagner aposta no rádio

24/07/2009

 

 

Foto: Gazeta do Povo
Em novo CD, Fagner ironiza esquemas de jabá e diz ter sido "moeda de troca"
 
Ricardo Schott

Quando a música popular brasileira vivia um caso de amor com as ondas radiofônicas, Raimundo Fagner era um menino crescendo em Orós, interior do Ceará – época em que chegou a participar de concursos para cantores infantis em Fortaleza. A mitologia do "cantor de rádio" é algo bastante forte para o intérprete de músicas como Noturno e Revelação até hoje. Tanto que fez questão de homenagear o veículo que mudou sua vida em seu 31º disco, Uma canção no rádio (Som Livre). Mesmo que reconheça a necessidade de uns puxões de orelha em quem controla as peças da máquina.

– O disco e a música-título (feita por ele com Zeca Baleiro) homenageiam as ondas do rádio, os radialistas. Talvez para os donos das emissoras seja uma homenagem menos indicada – ironiza o cantor, que reconhece ainda não ter conversado sobre o assunto jabá com a gravadora que escolheu para lançar o novo disco. – Nunca falei. De modo geral, sempre soube que eu era moeda de troca em rádios e programas de TV, não é de hoje isso. Mas mesmo com o jabá, quem manda no rádio é o ouvinte. Trata-se de um segmento importante e que está depauperado hoje. E sempre toquei muito. Sempre quis fazer música popular, para todo mundo cantar, mesmo quando fiz discos mais anticomerciais..

Entre Ceará e Rio

Apesar do título do disco, na era do mp3, sugerir algo até retrô, Uma canção no rádio é marcado pela busca de renovação – o que inclui uma sonoridade mais dançante em algumas faixas, uma balada de inspiração beatle (A voz do silêncio, feita com o antigo parceiro Fausto Nilo) e uma mudança nos quadros. Músicos de pegada mais pop, como Dadi (baixo) e Adal Fonseca (bateria) passaram pelo estúdio Corredor 5, no Leblon, onde parte das bases foram gravadas. E para onde Fagner foi levado pelo pesquisador musical Marcelo Fróes, que o apresentou a Clemente Magalhães, dono do estúdio e produtor de Uma canção no rádio.

– Ele participou do projeto Álbum branco (com versões do célebre disco dos Beatles) e me pediu para apresentar um dos produtores novos com os quais havia trabalhado. Quando o levei no Corredor 5, ele já foi logo gravando uma demo – diz Fróes, que pretende ter o cantor cearense no projeto Beatles 69, com mais regravações do quarteto de Liverpool, a sair este ano. – Botamos o Fagner para cantar The long and winding road.

Clemente foi responsável por outro sinal de mudança no repertório: colocou Gabriel O Pensador para fazer um rap em Martelo, espécie de reggae-forró com letra de protesto contra a violência. Algo que Fagner diz ter feito pouco.

– Achamos que ele seria ótimo para passar o clima de violência e de impunidade que o Brasil está vivendo. Quisemos colocar uma visão mais formal e outra mais "na lata" sobre o assunto, bem diferente – afirma o cantor, que percebia a necessidade de novidades em seu som há algum tempo. – Encontrei uma turma muito boa junto com o Clemente, tanto que gravava os vocais no meu estúdio em Fortaleza e mandava para eles completarem as bases no Corredor 5.

Além de retornar com parcerias antigas e de iniciar uma nova associação com Chico César (com quem fez Farinha comer), o cantor lançou em Uma canção no rádio o compositor Oliveira do Ceará. Aos 52 anos, estreia na discografia de Fagner dividindo Martelo com Gabriel e apresentando duas composições próprias, Amor infinito e Regra do amor. Seu debute solo pode virar a próxima produção de Fagner, que pretende lançá-lo. Até isso acontecer, trabalha como servente numa faculdade no Ceará.

– Antes tinha tido poucas músicas gravadas. Falcão, o humorista, ficou com uma – diz Oliveira, que agora espera ser descoberto por outros cantores da MPB – Vamos ver o que acontece agora depois do disco do Fagner. Por enquanto já foi ótimo ser gravado por um ídolo meu.

Entre Fortaleza (2007) e seu disco novo, o cantor ainda lançou a versão DVD do álbum ao vivo que lançou em 2000, e que saiu pela Sony Music. Houve a possibilidade de Fagner voltar a lançar discos inéditos pela gravadora que marcou sua carreira, mas as negociações não o satisfizeram e ele permaneceu na Som Livre, que durante anos trabalhou músicas suas nas trilhas sonoras das novelas globais. O cantor espera que, como no passado, o novo disco renda mais hits para a sua carreira, o que não aconteceu no CD anterior.

– Tive uma perda de família quando fiz Fortaleza, era um momento melancólico da minha vida, saiu um disco para baixo – admite. – Também não forcei a barra para que tudo desse certo com ele.

Apesar da fama de brigão e de ser um artista de declarações polêmicas, Fagner dá a entender que hoje, perto dos 60 anos, que completa dia 13 de outubro, poucas coisas podem irritá-lo. Seu lado de militante da música, desenvolvido em encontros de artistas pelo Brasil afora, por exemplo, está aposentado temporariamente.

– Eu estou sempre ligado, mas hoje só me meto quando a coisa é séria. – afirma o cantor, dando uma pista do que o afastou. – O grande problema é que tem muito artista consciente no Brasil que não sabe fazer as coisas. E ainda tem o pessoal que é inconsciente mesmo, que é inútil. São os que aceitam qualquer migalha.

(© JB Online)

 


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