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Na veia de Simone corre o amor feliz

28/08/2009

 

 

Foto: Divulgação
A cantora Simone, na foto com Zélia Duncan

Cantora quer muito passar mensagem de esperança neste novo trabalho que tem até música sua, Vale a Pena Tentar

Roberta Penafort, RIO

"Talvez eu te proponha a coisa certa/ No caso a questão é se tentar/ Mas sempre que eu deixei a porta aberta/ Você veio correndo pra fechar." Composta em 1976, Vale a Pena Tentar tem letra de Hermínio Bello de Carvalho e música de Simone - em quase 40 anos de carreira, é a segunda vez que a cantora baiana grava uma composição própria. À época uma resposta ao sucesso de Roberto Carlos Proposta (Eu te proponho/ Nós nos amarmos/ Nos entregarmos), a canção entrou em Na Veia (Biscoito Fino), seu novo CD, em que ela faz questão de cantar "um amor pra cima".

"Os tempos não pedem mais tristeza nem abandono. Eu queria, através da música, passar alegria e esperança", justifica Simone, que encomendou músicas a Erasmo Carlos (Migalhas e Hóstia, essa com Marcos Valle), Martinho da Vila (Na Minha Veia, com Zé Catimba) e Adriana Calcanhotto (Certas Noites, com Dé Palmeira, e Definição de Moça, sobre poema de Ferreira Gullar) com essa perspectiva do "amor feliz".

"As músicas foram chegando de tal maneira que parecia que elas se conheciam, que queriam se juntar", acredita. De Paulinho da Viola e Elton Medeiros, Simone escolheu um samba na mesma linha, Ame. Outras regravações são Geraldinos e Arquibaldos, de Gonzaguinha, e Deixa Eu Te Amar, o sucesso de Agepê de 25 anos atrás. Bem pra Você, inédita de Marina Lima e Dé Palmeira, é das suas preferidas.

Vale a Pena Tentar Simone já havia cantado em show com Hermínio, o companheiro e incentivador desde os anos 70, mas resistia a gravar - em 1982, ela havia registrado Merecimento, parceria sua com Abel Silva, que, neste CD, aliás, comparece com Pagando pra Ver (dele e de Nonato Luís).

"Eu sempre tive muito pudor em colocar qualquer música minha. Mas um dia eu peguei o violão e cantei para o Rodolfo (Stroeter, do grupo Pau Brasil, produtor do CD) e a Kati (diretora da Biscoito Fino) e eles disseram: ?Você tá maluca de não gravar isso!?" Em 76, depois de pronta, a música chegou a ser mandada para Roberto Carlos - "disseram que ele gravou, mas não saiu".

Sou Eu, parceria de Chico Buarque e Ivan Lins, quase entrou no CD de Simone. Mas acabou sendo dada a Diogo Nogueira, que a gravou, com Chico, no disco que lançou há dois meses, Tô Fazendo a Minha Parte. O compositor justificou que o samba era mais apropriado para um cantor do que uma cantora. Simone prefere não comentar.

Já sobre a proximidade dos 60 anos, data a ser comemorada no próximo Natal (ela nasceu a 25 de dezembro, em Salvador), ela não tem problemas de discorrer. Corpo enxuto, pele boa, ex-jogadora de basquete e formada em Educação Física, Simone se sente "sexygenária". "Mas não sou nenhum espetáculo... E esse disco fez aumentar meus cabelos brancos. Tinha que sair a minha cara, e saiu."

(© Estadão)

 

 


Simone

Cantora lança disco de inéditas depois de cinco anos, grava compositores antigos e dá vez à nova geração

José Teles
teles@jc.com.br

Na veia (Biscoito Fino) é o novo disco de Simone, o primeiro de inéditas em cinco anos. Por telefone, a cantora concedeu entrevista ao JC, na qual comenta não apenas o seu trabalho, como o panorama da MPB em geral. “Na verdade, depois que lancei o Baiana da gema (com participação de Ivan Lins), teve o DVD e a turnê que durou dois anos. Este meu disco de inéditas estava previsto para o ano passado, mas surgiu o trabalho com Zélia, e ele acabou ficando pra agora. O mais interessante é que o último disco de novas canções dela também tem cinco anos, e agora lançamos juntas também. Zélia veio com Pelo sabor do gesto e eu com Na veia”.

Simone começou a carreira discográfica em meados dos anos 70, quando o rádio era o veículo fundamental para divulgação de música popular, as pessoas consumiam muito discos (foi o início de uma época de vacas gordíssimas para o artista brasileiro) e, vale lembrar, sem a praga da pirataria. Simone garante que o atual quadro da indústria nada tem a ver com este hiato de disco novo: “De maneira alguma. Minha vontade de lançar está vinculada ao que eu quero cantar e quando quero. Respeito muito meu tempo, sou intérprete e preciso de canções. Sem contar que as músicas precisam amadurecer em mim, e isso pode levar um certo tempo, ou não. É muito relativo”.

Em Na veia, a cantora regrava alguns dos autores que interpretou nos anos 70, entre estes Abel Silva e Gonzaguinha, mas grava também gente ainda pouco conhecida, como o caso de Paulo Padilha, e não faz distinção de nova e velha geração de autores: “Não se pode comparar, são coisas distintas. Cada safra de compositores está muito vinculada ao seu tempo, ao contexto da época. É claro que me sinto orgulhosa de ter começado num período que tinha Caetano, Chico, Ivan, Bituca, Gonzaguinha, Roberto e Erasmo, Francis etc.... Isso é um luxo. Mas atualmente temos compositores maravilhosos, diferentes dos que eu citei, com outra cara, outra abordagem. Enfim, diferentes e livres de comparação”.

Entre os compostores que destaca da atual safra estão Zé de Riba, Zeca Baleiro, Lenine, Adriana Calcanhotto, Samuel Rosa e o citado Paulo Padilha. Mas pela primeira vez ela grava o veterano Erasmo Carlos (sem o parceiro Roberto Carlos. Da dupla ela já gravou várias composições): “Quando eu comecei a pensar neste disco, liguei pra alguns compositores e pedi canções, e meu querido Erasmo foi um deles. Ele não só atendeu ao meu pedido, como mandou duas. Já tinha gravado o Erasmo meninão, e agora este outro mais denso... Não tive dúvida: gravei as duas!”, conta Simone. Uma das duas, Hóstia, Erasmo compôs com Marcos Valle.

No repertório aparece a Simone compositora bissexta, numa parceria com Hermínio Bello de Carvalho, em Vale a pena tentar: “Minhas composições eu não mostro pra ninguém, nem pra mim (risos). No caso desta com Hermínio, de 76, fiz a melodia e um esboço da ideia da letra, que era uma resposta à Proposta, do Roberto. Depois a entreguei pro Hermínio resolver algumas passagens da letra e só agora me liberei pra gravar. Como estou me reaproximando do violão, pode ser que venham algumas coisas por aí”.

SEM ARREPENDIMENTO

A poucos meses de fazer 60 anos (completa em dezembro), a baiana de Salvador, que aos 16 anos trocou sua terra pela paulista São Caetano do Sul (daí nunca ter participado de grupos ou movimentos, e sempre esteve mais para Milton Nascimento do que para Caetano Veloso), está muito bem, com voz de timbre mais grave, uma das mais pessoais da MPB, num disco de ritmos variados, com arranjos simples e bem desenhados, bastante radiofônico. No entanto muita gente ainda vê nela a cantora que nos anos 80 emplacou alguns sucessos dos popularescos Sullivan & Massadas ou José Augusto.

Simone não se esquiva de comentar esta fase de sua trajetória, e até reafirma que voltaria a gravar estes autores: “Não só eu gravei, como quase todo mundo. Como eu disse, é uma coisa da época. Naquele momento se gravava isso, era a estética da época. Mas o tempo passou, as coisas mudaram... Como não me arrependo de nada que fiz, gravaria de novo sim”, desafia.

Na veia é um disco bem pra cima, embora quase todas as faixas tenham o amor como tema principal, parece o pique de quem está chegando a uma idade emblemática para a maioria das pessoas: “Sem dúvida, estou no meu age como pessoa. E este disco reflete o meu momento, tanto que quando liguei para os compositores pedindo canções, já dei o recado: quero fazer um disco feliz, de amor e feliz. São tantas as barbaridades e mazelas que se vê ao redor, que quis cantar o oposto. Estou num momento sereno, bem comigo e com a idade que tenho. E a sonoridade limpa, clean do disco reflete tudo isso”. define a cantora.

Embora grave tantos grande compositores como Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil, dos anos 90 até agora o maior sucesso de Simone, foi uma versão para Happy Xmas (War is over), de Lennon e Yoko que foi rebatizada de Então é Natal. A versão foi lançada num álbum intitulado 25 de dezembro (data do seu aniversário), cujo repertório é todo de canções natalinas (incluindo Jesus Cristo, de Roberto e Erasmo). O disco vendeu muito bem, mesmo num país que não tem tradição no formato. Porém Simone descarta a possibilidade de repetir o trabalho, algo tão comum nos EUA, que Bob Dylan anunciou que irá lançar este ano seu primeiro álbum natalino: “Não, aquele já é definitivo”.

(© JC Online)


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