01/09/2009
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Obra do Mestre Vitalino
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É no Museu da Chácara do Céu, no Rio, que estão expostas
50 esculturas do artista pernambucano
Roberta Pennafort, RIO
Em 1950, o colecionador Raymundo Castro Maya adquiriu
obras de Mestre Vitalino (1909- 1963), o artista popular pernambucano
hoje conhecido nacionalmente. À época, no entanto, não era assim. Castro
Maya mandou intermediários a Alto do Moura, em Caruaru, por reconhecer
nessas peças a qualidade que o Brasil viria a atestar mais tarde. Até o
fim de novembro, o público carioca poderá ver no Museu da Chácara do
Céu, em Santa Teresa, no Rio, parte dessa coleção.
O museu foi residência de Castro Maya - um dos fundadores do MAM
carioca, em 58 - e hoje tem o segundo conjunto mais representativo de
Vitalino das instituições do Rio (perde para o Museu do Pontal, dedicado
exclusivamente à arte popular), segundo a curadora da exposição Peças de
Novidade: O Mundo de Mestre Vitalino, Anna Paola Baptista.
A mostra celebra o centenário de nascimento de Vitalino. São 50
esculturas de barro, das 72 que Castro Maya comprou. Tudo leva a crer
que o colecionador tenha se interessado pelos bonecos do pernambucano
por tê-los visto, no Rio, em 47, na 1ª Exposição de Cerâmica
Pernambucana.
A arte de Vitalino se tornou icônica. Passados 46 anos de sua morte, é
impossível não ver figuras como as dele em feiras de artesanato Nordeste
afora. São imagens de sertanejos que tiram leite da vaca e saem para a
roça com a enxada. Retirantes com trouxas na cabeça, em fila ordenada
por altura. Muitos cavalos, bois e bodes. "É um trabalho rústico e
também sofisticado", diz Anna Paola.
O cenário rural em que Vitalino Pereira dos Santos nasceu e viveu toda a
vida (só chegou a conhecer Rio, São Paulo e Brasília nos anos 60, quando
recebeu homenagens) está bem representado em suas "peças de novidade"
(denominação do próprio para as obras), assim como sua experiência em
Caruaru - foi na feira na cidade que ele foi "descoberto".
As representações do dentista, do barbeiro, do costureiro e do parque de
diversões entram neste outro recorte feito pela curadora. Numa terceira
parte, algumas figuras transgressoras: os cangaceiros, o ladrão de
galinha. Vitalino aprendeu a moldar o barro menino, com as sobras que
sua mãe, que fazia utensílios domésticos para vender na feira, lhe dava
para brincar.
Quem puder levar lupa sairá ganhando, pois é impressionante a riqueza de
detalhes. A onça morde o homem e o sangue escorre em tinta vermelha. Na
roupa por que passa a agulha da máquina de costura, veem-se até os
pequenos pontinhos deixados por ela.
O museu fica na Rua Murtinho Nobre, 93. A exposição está aberta
diariamente, exceto às terças, das 12 às 17 h.
(©
Estadão)
Exposições fazem homenagem ao ceramista Mestre Vitalino
Ana Carolina Morett
RIO - Vitalino Pereira dos Santos (1909-1963) teve sua primeira
experiência na arte ainda criança, quando modelava brinquedos com as sobras
do barro usado por sua mãe na produção de utensílios domésticos, vendidos na
feira de Caruaru. Por volta dos 20 anos, ele começou a reproduzir
personagens e cenas do cotidiano nordestino. Com o passar tempo, a obra do
pernambucano ganhou destaque, gerando diversos seguidores. Agora, os
cariocas podem conferir de perto este universo de Mestre Vitalino, já que
duas mostras estão abertas em homenagem ao artista que completaria cem anos
em 2009.
Em Santa Teresa, o Museu da Chácara do Céu recebe a exposição "Peças de
novidade: o mundo de Mestre Vitalino", com 50 esculturas do acervo dos
Museus Castro Maya. Em Laranjeiras, a Galeria Pé de Boi apresenta "Boi nos
ares", que reúne 150 obras de Manuel Eudócio, único remanescente da geração
de Vitalino. De acordo com Paola Baptista, curadora da mostra da Chácara do
Céu, a abertura das duas exposições no mesmo dia é uma feliz coincidência, e
reforça a importância do artista popular.
- Mestre Vitalino foi o primeiro artesão da cerâmica a ter o real
destaque no país, e até internacional. Ele foi pioneiro em retratar cenas
cotidianas utilizando esse material, o que ele chamava de peças de novidade,
e deixou muitos seguidores, inclusive Manuel Eudócio - diz Paola.
Dividida em três elementos - a enxada, o fuzil e o relógio - a mostra
"Peças de novidade" apresenta diferentes universos abordados por Vitalino,
que morreu aos 53 anos, vítima de varíola.
- A exposição é dividida por temas. A enxada representa o universo rural,
em que vivia o artista; o relógio engloba o mundo urbano, que Vitalino
conheceu na feira de Caruaru; já o fuzil mostra uma questão de transgressão
da lei, com os cangaceiros - explica a curadora.
Já na retrospectiva de Manuel Eudócio, o público vai encontrar
personagens retratados com humor. Ele retira personagens da cultura popular
de seu contexto tradicional e os recria em novos ambientes. Em uma de suas
obras, por exemplo, Lampião e Maria Bonita andam de bicicleta. Em outra, um
casal de noivos deixa a tradicional carroça para andar em cima de uma
girafa.
'Peças de novidade: o mundo de Mestre Vitalino' -
Museu da Chácara do Céu. Murtinho Nobre 93, Santa Teresa. Tel: 3970-1126.
Diariamente, exceto terças, das 12h às 17h. R$ 2, grátis às quartas.
'Boi nos ares' - Galeria Pé de Boi. Rua Ipiranga 55,
Laranjeiras. Tel: 2285 4395. Seg a sex, das 10h às 19; sáb, das 10h às 13h.
(©
O Globo)
Terceira edição de “O Reinado
da Lua” chega ao público sob o signo da emoção
Obra de Manuel Eudócio
RECIFE - Mais do que um encontro em torno de mais uma
publicação sobre arte. A noite da última sexta-feira (28) no Museu de Arte
Popular (MAP), no Pátio de São Pedro, foi marcada pela reunião de gerações
de artistas e pelo reencontro entre as pesquisadoras Silvia Rodrigues
Coimbra, Flávia Martins e Maria Letícia Duarte, com os personagens que há
trinta anos, haviam entrevistado. O evento foi prestigiado por alguns
artistas retratados na publicação, como Maria Amélia, Seu Nuca e Seu
Zezinho, todos de Tracunhém e ainda Luiz Antônio e Odete de Caruaru, assim
como os filhos daqueles que já faleceram, como Horácio e Socorro Rodrigues,
filhos de Zé Caboclo, de Caruaru. Estiveram presentes ainda o Diretor de
Gestão de Equipamentos Culturais, Beto Rezende e o Diretor do Pátio de São
Pedro, Fernando Augusto.
No livro, que para ser reeditado teve o apoio da Prefeitura do Recife e BNB,
as três autoras fazem um registro fotográfico e entrevistas com mais de cem
escultores populares, de todo o Nordeste. Lá estão eternizados nomes,
imagens e depoimentos como o de Ana das Carrancas, a já falecida escultora
de Petrolina, que na época da pesquisa, tinha 54 anos e dizia sentir-se uma
menina. “O livro é um registro bibliográfico, retratando a arte dos
escultores e seus discursos. Nunca pretendemos fazer estudos sociológicos ou
estatísticos”, explica Flávia Martins.
Quem também teve seu discursos registrado pela publicação Manuel Vitalino,
filho do Mestre do Alto do Moura de Caruaru. Seu Manuel esteve presente no
evento de relançamento de “O Reinado da Lua” e distraiu-se observando o
acervo do MAP. Observou obras do pai, além de suas próprias. Conversou com
admiradores da sua arte, tirou fotos e comentou sobre a publicação: “Este
livro é uma obra de arte também. Além de bonito, deixa tudo documentado, o
que é muito bom, porque o que sai só no jornal ou na rádio o povo esquece. E
as novas gerações precisam conhecer o que os mais velhos faziam para da
continuidade”.
A noite foi emocionante ainda para Mauricéia Henriques, filha de Zé
Henriques, que também teve sua obra eternizada pelo livro. Mauricéia, que
também é artista do Alto do Moura, estava feliz em ver a obra do seu pai
exposta no MAP e relembrada pelo relançamento da obra cujo exemplar da
primeira edição está guardado na casa de sua família: “Quando soube que
iam imprimir de novo, fiquei muito feliz, chega me arrepiei. Todos na minha
família comemoraram”.
(©
Agência Brasileira de Notícias)
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Com relação a este tema, saiba mais (arquivo NordesteWeb)
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